Only Unexpected escrita por Lenny Peters


Capítulo 3
Cerimônia de Escolha


Notas iniciais do capítulo

hmm, desculpe a demora, mas é que eu realmente não pude postar.
Agradeço à todos que leram e comentaram! Muito obrigada! Significa muito.
Espero que esteja bom, :S fiquei meio receosa sobre o cap



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Olhei o relógio e não havia passado nem dez minutos. Estranho.

 Mas acho que isso bata com o que Nathalie disse, minha divergência é algo a mais em meu cérebro, posso controlar as simulações. Pergunto-me se sou a única pessoa a possuir essa peculiaridade. Espero que não, e tenho medo de perguntar.

A voluntária deu-me um atestado, e posso mostrá-lo em casa para explicar o porquê de ter saído antes. Prefiro não mostrar, meus pais podem desconfiar de alguma coisa, e tenho medo do que possam fazer. Saí por uma porta afastada, onde não há quase na rua, olho para os lados; o dia parece ter parado. Não sinto o vento batendo em meu rosto, e tampouco ouço os pássaros que passam pela rua. Não há carros. Algum tipo de arrepio passa pela minha espinha e eu quase grito, preciso ir logo.

Ando pelas ruas cinzentas e pavimentadas e dou uma grande volta  pelas ruas até chegar ao meu bairro. Deve estar quase na hora de chegar da escola, e não deve demorar para que o ônibus traga Louise. Para falar a verdade, eu deveria voltar junto com ela, mas acho que já sabe  cuidar de si mesma.

Caminho até o pequeno degrau na frente da minha casa. As moradias na Franqueza não possuem aparência uniforme entre si. A única coisa de parecida que possuem são as telhas, que são sempre pretas. A minha casa é bastante ampla e sua pintura é de um tom meio creme texturizado, do qual não gosto muito.

Vejo uma pequena figura de cabeça negra caminhando pela calçada. Minha irmã, obviamente. Levanto e espero-a, enquanto dou leves chutes no gramado.

Levo a mão à porta e abro-a, Louise está bem  atrás de mim.

-O que houve com você?- ela pergunta, olhando para o teto. Uma de suas manias. Passo o indicador pela têmpora.

-Nada, apenas preferi vir andando. Desculpa se te deixei sozinha.

Ela faz um sinal de dispensa com a mão, sei o quanto  ela deseja ser independente, não duvido nada que esteja louca pra me agradecer. Vejo que ela fica contente com esta resposta, mas ainda está curiosa, quando vai perguntar-me algo eu digo:

-Acho melhor ir para seu quarto. – vejo que ela bufa, mas logo me obedece.

Caminho até o sofá marrom da sala e atiro-me nele.

O que eu vou fazer? O que eu faço? Por que isso não para?Quisera poder responder. Ou saber as respostas. E mesmo não sabendo-as, não vou complicar as coisas. Irei pelo caminho mais fácil, irei pelas rochas.

Acho que sempre quis isso, mas agora eu penso em outras possibilidades; e se eu entregar-me às chamas? O que aconteceria?

Se eu vivesse a vida pulando de trens e com meu corpo coberto de anéis de metal, eu seria mesmo feliz? Não sei responder. Tudo o que eu tinha em mente era deixar de ser quem sou e a partir de então projetar-me para o exterior. Ver apenas os outros, e não eu.

Levanto e vou para o meu quarto, onde passo os dedos na testa ao ver minha mochila caída no chão. Sento na minha cama, que ainda está desarrumada e baixo meu tronco, deitando-me. Queria poder fechar os olhos e tudo resolver-se por si só.

x-x-x-x-x-x

Alguns pequenos globos de luz  branca atravessam minhas pálpebras e tenho de abri-los. Deparo-me com uma figura alta e pálida ao lado de minha cama, que segura meu braço, quase apertando-o.

-Levanta, já está na hora do jantar. – eu levanto o indicador, para esperar. Subo meu tronco e levanto a cabeça, a luz está acesa. Eu já estava pronta para negar, dizer que estava cansada, mas minha barriga emite um som. Não estou em posição para negar agora.

-Estou indo.- digo para minha mãe. Ela me lança um olhar repreensivo  e sai logo do quarto.

Eu troquei minha roupa por uma mais confortável e fui para a cozinha uns minutos depois. Sento á mesa, olhando para baixo, Louise está sentada ao meu lado e nossos pais a nossa frente, ainda há uma cadeira vazia ao meu lado. Ultimamente eles têm tido o trabalho de retirá-la. Talvez saibam que haja outra sobressaliente a partir de amanhã. Ou talvez seja apenas preguiça de fazê-lo, de qualquer forma, eu não quero perguntar.

-Então, como foi seu dia?- perguntou Margareth, com o rosto apoiado nas mãos perto de seu prato, intocado. A produção de comida não está nada fácil, ninguém chegou a pronunciar estas palavras em voz alta, mas, temo que a Amizade venha tendo problemas. Não sei a situação das outras facções quanto a isso, mas pode ser que sejamos os únicos afetados.  Duvido dessa minha teoria, apesar de ser apenas uma suposição. Tento pensar que eles são pacíficos demais para deixar um desentendimento tão antigo afetar na distribuição dos alimentos.

Balanço a cabeça e sorrio.

-Foi bom.

-Ela voltou da escola andando. – diz Louise, mastigando seu aipim.

-Não fale de boca cheia.- eu cerro os dentes, e logo levo um olhar de advertência de meu pai. Aqui, somos  criados para acreditar que boas maneiras andam junto com a falsidade. Okay, de certa forma, talvez. Mas não acho quedessaforma. De qualquer maneira, não é estranho não notar a presença de meu pai. Ele é sempre tão quieto.

-E por quê?- minha mãe pergunta. Dou de ombros.

-Queria andar um pouco, e, além do mais, Louise precisa aprender a andar sozinha. Se cuidar, oras. Não vou frequentar a escola pra sempre. – mordo minha própria língua. Idiota, eu não deveria ter dito isso. –Quer dizer, após a cerimônia de escolha preciso realizar iniciação e...- não me dou o trabalho de continuar. Meus pais me encaram, e o único barulho que todos ouvimos são os talheres de minha irmã batendo no prato.

Olho para meu próprio e começo a comer. Nem presto atenção no sabor, ou na qualidade, que ultimamente têm sido praticamente os mesmos. Apenas o faço para poder olhar pra baixo a vontade, espero poder ter uma última noite pacífica. Apenas espero.

Acabo minha janta mais rápido  do que esperava, e logo saio da mesa. Ando sem olhar pra trás até meu quarto, entro e fecho a porta, bem rápido.

Deslizo até o chão, de costas para a porta gelada. Já vai acabar, não vou precisar mais  disso. Até que eu sinto a porta  mover-se levemente para dentro, e eu saio do caminho. Subo na cama e vejo meu pai entrar no quarto.

-Eu, eu... Já estava indo dormir. - eu gaguejo.

-Carlyn, me diga... Você já pensou em seus pais? Na sua família?- ah, não. Não quero ter de ouvir isso de novo. Sim pai, eu penso na minha família. Todos os dias. Mais do que deveria.

Ele está com as sobrancelhas curvadas, como se estivesse desculpando-se por algo. Mas eu sei o que vem a seguir.

Não lembro exatamente o que fiz de errado, mas acho que ele sabe. Ele sempre sabe. Deve estar muito óbvio o que vou fazer, e, por mais que não pareça, ele não quer que eu faça. Sei como deve ser doloroso ter perdido o primogênito, mas isso não é culpa minha. Que droga. E o pior é que é apenas comigo que ele faz isso.

-É para o seu próprio bem.- ele eleva a voz, e me empurra para o chão. Em seguida, pega o cinto da sua calça e o brande no ar, em seguida atingindo-me na lateral do corpo.

Uma ardência dolorida passa por todo o meu corpo e eu aperto os olhos. Antes que eu possa reagir de alguma forma, o couro negro de seu cinto bate em minhas pernas, e eu chuto o ar.

Coloco as mãos na altura do rosto, na mesma hora que são atingidas. Não posso nem imaginar se pegasse no olho, ter as mãos doloridas é o suficiente. Viro as costas das mãos para meus olhos e posso ver que estão vermelhas em quase toda a sua extensão, e sei que amanhã terei sérios problemas para segurar a faca. Meus olhos ardem com a dor, e eu arqueio quando o cinto de meu pai me atinge na barriga, e é mais forte que antes. A ardência em meus olhos transforma-se em lágrimas e pisco bastante.

-Acho que você entendeu. – ele diz, e ouço seus passos deixando o quarto.

Minha mão envolve minha barriga e um soluço escapa de minha garganta, amanhã é um novo dia.

x-x-x-x-x

-CARLY, CARLY, LEVANTA!- ouço  aquela voz anasalada gritando porta adentro de meu quarto.

Levanto e foco em seu rosto.

Quando eu havia ido para a cama? Não me lembro disso. Mas tudo bem.

Louise puxa minhas mãos, como se eu precisasse ser guiada.

-Loui, tudo bem. Eu já vou. Agora sai do meu quarto, obrigada.- empurro-a levemente até a porta e a fecho.

Abro meu armário e pego um vestido branco simples e um cardigã preto. Vou até o banheiro e tomo um banho bastante rápido, não quero pensar muito.  Saí rapidamente e fui para a sala, sentada no sofá. Louise aparece rapidamente e me chama, nossos pais que irão nos levar hoje.

Entramos no banco de trás do carro e fechamos a porta. Nossa mãe vira para trás e sorri, uma visão rara. Ela geralmente é tão séria, seus olhos verdes escuros transmitem confiança:

-Será um longo, longo dia. – e percebo o olhar que direciona á mim.  E também fiquei surpresa ao perceber que meu pai ainda não entrou no carro.

-Onde está papai?- pergunta minha irmãzinha.

-Ele foi ajudar com o início da Cerimônia de Escolha, lá no Eixo.

-Ah.- eu solto. Um pouco de alívio, mas também preocupação. Pelo o que eu sei não é o nosso ano de ajudar na Cerimônia, mas dou de ombros. Talvez tenha tido algum imprevisto.

Então minha Margareth liga o carro, e seguimos até que eu consiga ver o grande prédio que parece tocar o céu. O Eixo.

Saímos do carro e eu encaro aquela estrutura. É isso, é assim que vai ser. O Eixo parece ainda maior de perto, mas mesmo assim não me sinto assustada. Andamos  até o fim do primeiro andar da construção e pegamos um elevador, para o 20º andar.  O ambiente está um tanto escurecido, e minha mãe coloca a mão nas minhas costas até chegarmos perto do local para os jovens de dezesseis anos de cada facção. 

 Despeço-me de minha irmã e dou um abraço em minha mãe.

-Espero que faça uma escolha esperta.- ela diz, eu aperto os lábios. Ela nunca me considerou alguém esperta, não entendo o que quer dizer. a não ser que saiba de minha aptidão para a Erudição. Mas isso não é possível, afasto  o pensamento.

Vou para a fileira de cadeiras onde alguns dos adolescentes já estavam dispostos e me sentei bem ao lado de Adam. Ao redor de nossas cadeiras, alguns membros das facções estão em um semi-circulo ao nosso redor. Obviamente não vieram todos, mas  o lugar está lotado.

Quando todos os jovens chegam, as formalidades começam. O orador líder da abnegação começa a mencionar sobre a guerra, as condições que foram impostas, os sistemas das facções. Os que culpavam a covardia, fundaram  Audácia. Os que culpavam a agressividade, formaram a Amizade. Os que culpavam o egoísmo,formaram a Abnegação. Aqueles que culpavam a duplicidade formaram a Franqueza e os que culpavam a ignorância, a Erudição.

-Willow Stan!- ele chama o primeiro nome, uma garota da Audácia que escolhe permanecer na mesma facção. Ouço gritos vindos do setor da  Audácia.

Pergunto-me porque consideraria essa opção. Não sei, realmente.

Movo minha cabeça para cima, procurando ele por entre os audaciosos, é quase impossível que se possa ver qualquer coisa aqui.

Chamam mais nomes e eu apenas espero. Não há nada mais a fazer.

-Trent Marshall. –um garoto da Erudição derrama seu sangue sobre o vidro, e consigo sentir o desconforto e olhadas estranhas em minha pele. Espero que esse garoto seja bem vindo, pelo menos. Espero mesmo.

Bato meus polegares um no outro, não tenho muito o que fazer agora.

Olho para Adam, e considero começar um papo, mas ele parece concentrado demais.

-Gail Fray.- sinto um calafrio na espinha. Gail, ela precisa fazer o certo, espero o melhor dela.  Ela toma a faca para si, e passa pela mão em seguida vai ao recipiente com terra no interior, e o coloca ali dentro.

Sinto alívio, fico feliz por ela. Mesmo sendo considerada uma traidora agora, apenas fez o que deveria ser feito.

Após a prima de Taylor, ouço uns três nomes e em seguida, o meu.

Minhas pernas tremem, e preciso de um impulso para levantar. Meu amigo me dá um leve empurrãozinho nas costas. Queria poder agradecer depois, por tudo. Então ando até o palco e recebo a faca do líder de minha-talvez-futura-facção, um homem de olhos azuis escuros, do qual não consigo lembrar o nome. Que vergonha.  Ando até o centro dos recipientes, sem noção alguma de localização. Risco levemente minha palma com a faca, e sinto uma ardência inicial. Vejo uma gota escarlate brotar, e sigo até o recipiente de vidro mais próximo.

Viro minha palma para baixo e ouço o crepitar das chamas.

Ouço berros, uma comemoração.

Sento-me em uma cadeira e me mantenho imóvel. Mas ainda não acabou.

-Adam Johnson. – vejo meu amigo tomar a faca do homem da Abnegação. Vejo-o passar a arma em sua mão. Vejo-o caminhar entre os recipientes de vidro. Vejo-o ir para o recipiente com as brasas. Vejo-o derramando seu sangue nele, e o que vi foi um erro terrível.


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Notas finais do capítulo

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