Caminhos Cruzados. escrita por Little Owl


Capítulo 2
Adeus Vida.




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Passava a ultima hora folheando meu velho álbum de fotos, vendo e revendo momento felizes ao lado de Dillan e Mike, meu dois melhores amigos.




Em uma das fotos, nós estávamos todos sujos de tintas coloridas, isso foi a 2 anos, era um trabalho de artes que acabou virando a maior farra. Nas três fotos seguintes Dillan e Mike me carregavam para um rio, depois me jogavam nele e na terceira eles estavam nadando comigo, estávamos no sítio do avô de Mike, e isso foi a 5 anos. Em outra foto, estávamos em uma festa a fantasia, vestidos de prisioneiros, o que era uma piadinha nossa.





Meu sorriso deu lugar a lágrimas, que insistiam em cair.





– Rafaela, já arrumou suas coisas? - Meu pai perguntou abrindo a porta sem nem ao menos bater. - Quando terminar tome seus remédios.





Sem ao menos perceber que minhas emoções, rígido como uma pedra, ele continuou:





– Pare de enrolar e arrume suas coisas logo, nem você nem o dr. Finger, tem todo o tempo do mundo. - Sem um pingo de compaixão por mim ele se virou e saiu.





Ele nunca demonstrou que me amava, e estava claro que ele nunca concordou em me adotar, mas minha mãe sempre conseguia convence-lo.





E é claro que não repararia que eu já tinha arrumado minhas coisas. Minhas 2 malas estavam ao lado da meu armário, e minha bolça estava aberta no meio da cama. Coloquei meu álbum e meu celular na bolça, olhei em volta, eu estava esquecendo algo? em cima da estante vi minha maleta de remédios, abri e tomei um contra para minhas alucinações, outro para minha leve esquizofrenia, e mais um para minha paranoia. Engoli todos sem beber água.





Acho que devo comentar sobre minhas "doenças", eu vejo algumas coisas bem estranhas, tantas que já perdi as contas, coisas que deveriam estar apenas nos livros. E acabei cometendo o deslize de comentar o assunto com meus pais. O resultado foi consultas semanais a um psiquiatra, e remédios e mais remédios para minhas "alucinações".





Coloquei a maleta na minha bolça e fui até a sala de estar antes que meu pai me chamasse outra vez. Talita estava deitada no sofá assistindo tv.





Talita era a filha de verdade dos meus pais, depois que eles me adotaram, um mês depois minha mãe descobriu que estava grávida. E desde então virei um peso morto na vida de meu pai.





– fala doida. - Tata me cumprimentou piscando o olho esquerdo - papai vai te matar se você não estiver na garagem em 10 segundos.





Como não queria que ele ficasse mais nervoso comigo saí correndo para a porta da frente. Ele já estava tirando o carro. Olhei no relógio, era 10:25 AM, a consulta só era daqui a 30 minutos e até o consultório só demorava 10 minutos. Fiquei meio desconfiada mas acabei entrando no carro antes que perdesse a carona, porque, ( olha que coincidência! ) a pé até o consultório demorava 30 minutos.





Enquanto manobrava, meu pai disse:





– Rafaela, como a policia terminou de te interrogar e a investigar, eles decidiram que você deve estudar em um reformatório - isso mesmo, sem algo como "filha querida, como foi sua bela manhã de sábado?" ou uma frase que seria o minimo pai-normal-em-um momento-como-aquele: "querida, está pronta para mais um dia emocionante de interrogatórios?", mas meu pai era frio demais para falar essas coisas.





Voltando a prestar atenção ao que ele disse, calma aí! ele disse reformatório!?





– reformatório? tipo isolado do mundo? como uma prisão?





– Não se finja de idiota, você sabe o que é um reformatório, e seria como uma prisão sim. Aliás, tenho criado com todo o meu amor - ele tinha amor dentro dele? - um criminosa!




Não respondi, não gostava da ideia de ser atirada para fora de um carro em movimento. Eu não poderia negar o que ele estava dizendo, um dia ele teria de aceitar o que eu aprontava com Dillan e Mike. Oh, o Dillan e Mike! Pelo menos meu pai ainda não me mandou direto pra cadeia.


Ele não disse mais nada o caminho todo, quando chegamos, desci do carro e disse um tímido "tchau", e o observei indo embora. Ele não era autorizado a assistir a minhas sessões, mesmo que quisesse, ele precisava ir trabalhar.

Entrei no pequeno prédio e cumprimentei a atendente no saguão principal.

– Olá Rafaela, como vai? Jane está a sua espera. - ela me entregou um papel para que eu assinasse, quando terminei fui até o fim do corredor e bati na ultima porta.

– Jane? - Jane era o nome da minha psiquiatra. Quando a chamei ela me olhou com seus olhos cinzas.

Em sua cadeira, com um bloco de notas ela fez sinal para que eu entrasse.

– Como está hoje querida? - ela se levantou e pegando de uma pequena cafeteira, encheu 2 copos de café, me entregou um e voltou a sua cadeira. - Acha que consegue falar sobre a noite em que tudo aconteceu?

Jane conhecia todos os meus segredos, não pude esconder dela o que eu, Mike e Dillan fazíamos nas horas vagas, ela sabia das minhas "alucinações", mas ainda não sabia o que aconteceu na noite em que meus amigos se foram.

– Eu estava vigiando a loja enquanto eles pegavam o que podiam. - Fui contando a história sem esquecer de um detalhe.

Antes, quando eu era mais nova, comecei a roubar apenas para chamar a atenção de meu pai, mas quando eu cresci o motivo mudou, não me importava mais com o que meu pai pensava de mim, mas continuei roubando porque era legal, não consigo explicar.

– E então o sr. Gonçalves chegou, avisei a Mike, mas alguma coisa aconteceu, um grande barulho de vidro quebrando saiu da loja, e o sr. Gonçalves escutou e correu para entrar na loja e atirou em Dillan, que deveria estar mais perto da porta, não conseguir ver o que aconteceu depois, quando eu fui ver, Mike e o sr. Gonçalves estavam brigando e a arma estava caída no chão. Jane eu podia ter pego a arma, ela estava na minha frente. Mas eu não consegui, eu não consegui me mexer.

– Não acho que você seria capaz de usá-la, Rafaela, mas continue.

– Eu não consegui pegar a arma, então o sr. Gonçalves chegou até a arma e atirou em Mike. - Minha voz falhou e não consegui mais falar.

Depois de um longo silêncio, eu disse:

– Jane, meu pai quer me colocar em um reformatório. Ele não consegue nem me olhar. E eu não vou mais poder vir aqui. Estão me tirando tudo.

– Ah querida. - Ela me abraçou. Jane não era só minha psiquiatra, também era minha amiga.

– Mas você não vai se livrar de mim tão cedo, uma vez por mês ainda vai ter consultas comigo. - Ela afagou minha mão.

Ela era tão boa comigo, ela nunca disse nada aos meus pais o que eu dizia a ela.

– Meu pai e o juiz querem me colocar no reformatório o mais rápido possível, provavelmente eu vou amanhã. Ele fica do outro lado do estado.

– Querida, ainda temos meia hora, quer ir a padaria? comeremos uns donuts, e eu tenho um presente de despedida pra você.

Ela se levantou e abriu a gaveta de sua mesinha. De lá, tirou uma pequena caixinha.

– Esperava nunca precisar lhe dar um presente de despedida. - Ela me entregou a caixinha, era uma corrente de ouro e um pingente de um caduceu com asinhas, como o símbolo do deus grego Hermes, o deus dos ladrões.

Sorri.

– É tão lindo, obrigada Jane. Vou colocá-la agora. - tirei da caixinha e o coloquei no pescoço.

– Dizem que quando você conhece uma pessoa com um igual, essa pessoa vai ser muito especial pra você.

Depois se levantou.

– Aceita um Donut? Você precisa aproveitar ao máximo, afinal, não é fácil um reformatório.

Ela pegou minha mão e me levou até o saguão principal.

– Viviane, eu e a Rafaela vamos até a padaria comer uns Dunuts, quer alguma coisa?

– Não, obrigado Jane, eu estou de dieta.

Jane e Viviane tinham quase a mesma idade, por volta de 28 anos.

A padaria ficava do outro lado da rua, Jane pediu uma caixa com 6 donuts. Nos sentamos em umas das mesas na calçada. Comemos e conversamos por 20 minutos, eu realmente precisava aproveitar minha vida enquanto eu não estava "presa". E precisava parar, pelo menos por vinte minutos, de pensar em Mike e Dillan.

Mas meu tempo de folga acabou rápido, quando meu pai estacionou o carro na frente da padaria. Abracei Jane e me despedi.

– Eu preciso ir, tchau Jane, vou sentir tanto a sua falta.

– te desejo boa sorte. Te vejo mês que vem.

Peguei minha bolça e entrei no carro de meu pai. Sem dizer nada me levou direto para casa.

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Chegando em casa, subi até meu quarto e arrumei minhas ultimas coisas. Não sabia quando seria a próxima vez que voltaria para meu quarto. Ou a próxima vez que seria livre novamente.



























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