Caminhos Cruzados. escrita por Little Owl


Capítulo 11
Verdade


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me pela demora...
espero que esse capítulo compense.



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Fui até o meu armário pegar um dicionário, falei para o Scott e o Carlos irem na frente.

Antes de fechar o armário, dei uma olhada em volta, alguns alunos estavam com os armários abertos e pude ver o interior. Alguns estavam decorados das formas mais criativas que se possa imaginas, como as portas, outros tinham fotografias de famosos, pôsteres de artistas, fotos de familiares, e mais tudo que se possa imaginar, parece que mais ninguém tinha um armário cinza e sem graça. Olhei novamente para o meu, cinza, sem graça e com 5 livros e um caderno.

Ouvi algumas gargalhadas a alguns metros, olhei e lá estava Nicolas junto com um grupinho que se vestia estranhamente parecido. Aquele mesmo garoto da aula de português e a menina que tinha se sentado junto dele na sala, e o Guilherme, o garoto que tinha brincado de lutinha com Nicolas. E mais dois garotos, um parecido com Guilherme, com o mesmo tom de pele e o mesmo jeito de todos. E o outro, que se parecia muito com Nicolas, mas com o cabelo loiro.

– Então aquela é o novo mascote do Nico? - A garota disse ao Guilherme, provocando o Nicolas.

– Estão com inveja? - Nicolas rebateu.

– De você? Se os demônios o levassem, nem sentiria falta. Até agradeceria - Disse o garoto loiro, sorrindo. - Só quero saber quem ela é.

Como mais meias palavas murmuradas a eles, Nico se virou e veio em minha direção.

– Oi. - Ele disse, se apoiando no armário vizinho ao meu.

– Oi. - Eu disse, fechando meu armário e me virando para encará-lo.

– Quer conhecer algumas pessoas? - Ele disse.

– Depende, eu tenho escolha?

– Não. - Ele disse, pegando minha mão e me conduzindo até o grupinho. - Gente, essa é a Rafaela.

– Oi. - Disseram todos.

– Rafa, essa é a Bruna. - Nicolas apontou para a garota.

Bruna tinha o cabelo extremamente preto e usava um batom vermelho. Sua blusa preta tinha detalhes vermelhos, e sua pele era muito branca. Suas feições do rosto eram bem definidas, usando maquiagem como uma profissional. Seu olho era preto, e seus dentes eram perfeitos, ela tinha um piercing no nariz. Ela parecia ser uns poucos centímetros mais alta que eu.

Ah, eu tenho 1,65 de altura.

– Esse é o Kevin. - Nicolas apontou para o garoto ao lado dela, Ele tinha o cabelo preto liso e meio grande, raspado dos lados e com um topete do lado, estilo Zayn Malik. Um alargador preto e um piercing no lábio inferior. Usava uma regata preta com a estampa do Slipknot. Seu olho era preto e sua boca parecia ser naturalmente muito vermelha, e sua pele muito pálida. E uma barba negra por fazer.

– Esse é o John. - Ele apontou para o garoto loiro, que se destacava. John ainda tinha o mesmo estilo e jeito deles, mas de algum modo... diferente. Ele usava uma regata branca, com a estampa de notas musicais. Seu cabelo meio grande estava despenteado, mas ainda estava bonito. Ele tinha uma expressão meio ameaçadora e confiante e ao mesmo tempo, gentil e fofa. Tinha os olhos muito azuis.

– Esse é o Guilherme. - Ele tinha a pele muito negra, tinha os cabelos raspados e uma cicatriz que ia do pé da orelha direita, até o queixo. Ele usava uma jaqueta de couro preta e um alargador na orelha esquerda. E um soco inglês pendurado no pescoço.

– E o Marcos. - Tinha o mesmo tom de pele do Guilherme, usava dreads no cabelo, que estavam presos com um lenço vermelho. Usava uma blusa preta sem estampa e sem mangas. E tinha tatuagens pelo corpo todo. Ele parecia mais severo que os outros, sem um sorriso no rosto.

– Rafaela desenha muito bem. - Nicolas disse.

Olhei para ele ameaçadoramente. Como ele ousa dizer isso? não era para ninguém saber. As pessoas as vezes me irritam perguntando muitas coisas sobre isso e pedem para que eu desenhe para elas e eu prefiro que ninguém saiba.

– O que? Eu não desenho não. - Tentei disfarçar.

– Ah, não venha com humildade. Você praticamente desenhou uma foto em alta definição.

– Eu não... - Comecei a falar, mas o sinal tocou.

– Ela pode ir? - Nicolas perguntou a todos eles.

– Não, nós nem a conhecemos. - Marcos disse.

– É uma boa hora de conhecer. - Nicolas disse.

– Nicolas... - Marcos estava prestes a protestar mais quando John, o carinha loiro, interrompeu:

– Marcos, que isso? - John deu um passo a frente e colocou o braço sobre os ombros de Marcos. - Não vamos levá-la para nossa caverna secreta, só vamos ficar a toa em uma sala lá em baixo. Acho que se ela for, vai ser mais interessante, não era você que dizia que estava ficando enjoado da gente?

Marcos revirou os olhos e suspirou.

– Façam o que quiser, então. Mas vamos logo. - Depois se virou e foi embora pelo corredor, que estava quase vazio.

– Você quer ir, Rafa? - Nicolas perguntou.

– Para onde?

– Ah, vamos matar aula em uma sala qualquer lá em baixo.

– Ah, tudo bem.

Entrando em um armário de vassouras, Nicolas abriu um armário que se revelou sendo uma passagem secreta, uma escada que daria no subsolo.

– Seu cheiro é muito bom. - Bruna disse, sorrindo. Seus dentes eram extremamente brancos quase perfeitos, mas seus caninos eram de um jeito estranho, meio grandes.

– Bruna, não em disse outro dia que estava de dieta? - John perguntou.

E o sorriso dela aumentou mais ainda. Meio malicioso.

– Ora, o que tem o cheiro dela com minha dieta, só comentei que é muito bom. Que perfume você usa, querida?

– l'eau par kenzo. - Era um perfume que minha mãe me dava todo mês.

– É muito saboroso. - Ela disse, passando a língua nos dentes.

– Bruna, se controle. - Era o Kevin. Ele segurou o braço da Bruna, mas seus olhos estavam cravados em mim.

Os dois estavam a três pequenos passos de mim.

Bruna sorriu, e seus caninos pareceram estar grandes demais para uma pessoa normal.

Bruna então pulou em cima de mim, me derrubando no chão. Aconteceu rápido e eu não tive reação, senti algo como unhas aranhando meu braço e uma dor ardente, John e Nicolas gritaram e pularam para tirar Bruna de cima de mim, enquanto eu me debatia, tentando me defender das arranhadas.

No minuto seguinte, Bruna estava imobilizada por uma chave de braço a uns 5 metros de mim, John e Kevin a seguravam, e ela estava desesperada para escapar.

Alguém agarrou meu braço, e me fez levantar. Nicolas.

– Vamos. - Ele disse, me puchando pelo corredor e me fazendo andar. Viramos em outro corredor e ele me empurrou para dentro de uma das salas.

Estava escuro e não vi nada.

– O que foi aquilo? - Arfei.

– Foi culpa minha, eu... eu não deveria ter deixado você vir. - Nicolas abriu um armário no canto da sala e tirou de lá uma caixa de aluminio. - Deixa eu ver. - Ele pegou meu braço, que latejava, depois fez uma careta. Quatro profundos arranhões cortavam todo a parte superior do meu braço, deixando-o ensopado de sangue. Rasgou um pedaço de pano da blusa e limpou o sangue. Remecheu dentro da caixa de aluminio e tirou de lá um pote branco, de remédio ou pomada, talvez. - Olha, vai arder. - Abriu o pote e com dois dedos tirou um punhado de pomada prateada e passou por todo o arranhão do meu braço. Ardeu, foi como se ele tivesse colocado meu braço em uma grelha. Mas, enquanto eu olhava, os arranhões foram se fechando e se tornando apenas cicatrizes, logo não havia nada.

– O que...? - Tentei montar uma frase, mas parecia que nada mais fazia sentido.

– Fique quieta, ainda não terminou. - Ele pegou mais pomada e passou pelo meu pescoço e meu rosto. Eu mal havia notado, mas parecia que eu levei uma surra de com navalha no lugar de unhas.

– Por que... o que... O que aconteceu?

– Rafa... Tente não pensar no que aconteceu, em pouco tempo vai esquescer e não vai mais ser incomodada. - Ele disse, como se eu tivesse tropessado em uma pedra.

– Não. - Eu disse. - Me conte o que aconteceu. Coisas estranhas não são muita novidade para mim. Pare de tentar esconder. Me conte a verdade.

– Eu não posso. - Ele olhou nos meu olhos. - Sabe, não é que eu queira esconder de vocês, é que... eu não posso contar. Você contaria um segredo que não é seu para qualquer um? Um segredo de um amigo seu?

– Não é mais um segredo. Ela me atacou, ela... o que ela é?

– Sabe quando perguntei para você mais cedo? se você acreditava em coisas, coisas dos contos de fadas.

– Pare de enrolar. - Eu disse.

– Você precisa se lembrar dos contos de fadas, e dos mitos.

– Eu me lembro de todas essas histórias. - Eu disse.

– E se eu dissesse que elas existem? Se eu dissesse que todas as histórias são verdadeiras?

– Eu diria que... - Pensei um pouco. - Acreditaria.

– Quer mesmo saber a verdade? - Ele perguntou, devagar, pesando cada palavra. - Estaria pronta se eu lhe contasse que alguns personagens estão neste internato?Fiz um leve aceno com a cabeça.

– Você viu como os caninos da Bruna estavam para fora? - Ele perguntou, cuidadosamente.

– Vi.

– Você se lembra qual história se parece com ela? - Ele perguntou, seus olhos azuis brilhavam.

– Sim.

– Qual?

– Os vampiros. - Eu disse, quase com um sussurro.

– Bruna é uma vampira. - Seus examinaram minha reação. - Ela e Kevin. Mas antes eles eram como eu. Mas não como você. Eu pertenço a outro tipo de história. Referente à biblia.

Ele apontou uma cadeira, e me sentei nela.

– A Biblia diz que Lúcifer caiu quando se revoltou contra Deus. E todos os anjos seguidores de Lúcifer caíram junto. Os anjos caídos. Eles vagaram pela terra, e alguns seduziam mulheres humanas e estas lhe deram filhos. Uma nova espécie foi criada. O Nefilim. Crias de humanos e anjos caídos.

Acenei levemente com a cabeça, dizendo que entendi.

– Eu sou um Nefilim. Guilherme e Marcos também são.

Olhei para ele. Ele parecia tão normal. Mas de um jeito meio certo demais. Sem nenhuma imperfeição no rosto.

– Bruna e Kevin também eram Nefilim. Mas, um dia, encontraram uma gangue de vampiros e acabaram sendo mordidos e se transformaram. Bruna ainda não tem muito controle quando chega muito perto de um humano.

– E John? - Perguntei.

– Ele é um anjo caído. Mas ele não é mais do mau. Ele escolheu não fazer mais mau. Mas mesmo assim não conseguiu voltar ao céu.

– Tem mais alguém? - Perguntei.

– Tem. Quase metade dos alunos dessa escola não são humanos. Mas não se preocupe. Os alunos humanos estão protegidos e não serão atacados.

– É por isso que você e Carlos se odeiam?

– Sim, Carlos e o grupinho deles não são totalmente humanos, E nós nos odiamos porque ele sabe o que eu sou e não gosta nem um pouco, eles tecnicamente não deveriam saber que nós existimos. Mas não posso falar o que eles são, contar os segredos dos outros não é o meu forte.

Os olhos de Nicolas ficaram quase cinzendos enquanto ele falava do Carlos, mas quando terminou e me encarou, seus olhos voltaram ao azul como o do céu. Pensar que ele era filho de um anjo caído, de um demônio, parecia tão errado. Nicolas, mesmo com o aspecto meio sombrio, mostrava que na verdade era bom, seus olhos revelavam a bondade quando me olhava.

Mas por um momento não sabia dizer se ele era realmente bom.

– É melhor você ir para o seu dormitório. - Ele disse. - Não apareça à ultima aula, vá e fique na cama até amanhã, vai ser bom para você absorver tudo que eu lhe disse e para que seus ferimentos se curem.

– Eu não sei o caminho. - Eu disse, me lembrando de que ainda estávamos no meio do labirinto de corredores do subsolo.

Nicolas suspirou e se levantou.

– Vamos, eu te levo.

Me levantei e ele me conduziu pelo labirinto, não demorou muito e eu já estava na porta do meu quarto. Abri a porta e entrei, depois o encarei. Ele não deu um passo para dentro do quarto. Ficou parado do lado de fora, me encarando.

– Você está com medo? - Ele me perguntou.

– Não.

– Ainda vai querer me ver amanhã? - Ele perguntou, como se eu estivesse prestes a fugir.

– Só porque você não é humano? - Dei uma risadinha, como se fosse uma velha piada contada várias vezes. - Não é a primeira criatura não-humana que eu conheço, sabia?

Me curvei em sua direção e beijei sua bochecha.

Depois, ele foi em bora. Fechei então a porta e afundei na cama.


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Notas finais do capítulo

E aí? gostaram?