Caminhos Cruzados. escrita por Little Owl


Capítulo 10
Procurando pistas.




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- Você pode me explicar o que foi tudo isso? - Perguntei ao Max, depois que minha cabeça esfriou um pouco. Eu estava sentada com ele em uma das mesas no pátio, e o vento gelado me acalmava. 

- Hã... na verdade eu não posso te contar nada. - Ele disse, me encarando. 

- Max, eu vi o Carlos e o Nicolas brigando com espadas, depois o Carlos disse que todos iriam morrer se ele ficasse parado. Não posso saber o motivo? 

- Não. - Foi tudo que ele disse. 

Ele só me olhou. E não me disse mais nada. 

- É isso? Vou ficar me remoendo de curiosidade? 

O sinal tocou. Não me mexi. 

- Seu professor de história vai pedir um trabalho sobre mitologia grega, melhor pesquisar sobre isso. - Ele disse, por fim. Depois se levantou. 

- Não fuja do assunto! - Me levantei também. 

- Rafaela, eu não posso te dizer nada. Faça uma pesquisa de história. 

E ele me deu as costas e foi embora. 

Fiquei parada. O que tem a ver mitologia grega? Maldito, ele só conseguiu fugir sem explicar nada. 

Me apressei e fui para o prédio das salas de aula, peguei o livro de inglês, português e italiano no meu armário e fui para a sala 14. 

A sala estava quase cheia, escolhi uma carteira vazia na fileira da porta, na frente de uma menina loira de óculos muito ocupada em ler seu livro. O professor passava pelas mesas cobrando uma lição passada. Alguns alunos me encaravam e cochichavam. Mas eu já estava acostumada a isso. 

Peguei meu caderno, um lápis e comecei um esboço de um personagem de um livro, a Daenerys das Cronicas de gelo e fogo. Todos me diziam que eu deveria ser desenhista. 

Estava concentrada no meu trabalho quando, tinha começado a fazer um dragão empoleirado no ombro dela, quando ouvi gargalhadas vindo da sala inteira. Levantei a cabeça e vi que todos estavam rindo de dois garotos caídos no chão. Um tinha a pele mais do que qualquer negro que já encontrei, o outro, era o Nicolas. Os dois gargalhavam no chão, junto com a sala inteira. O professor fingia não rir, mas seus olhos o denunciavam. 

- Nicolas e Guilherme, para os seus ligares, e fiquem quietos antes que eu adverta os dois. - O professor tentou parecer sério, mas tinha uma expressão corporal que dizia que sério é a ultima coisa que ele era. Ele tinha uns 24 anos e usava uma blusa vermelha, bermudas jeans, e all stars pretos de cano alto, tinha cabelo loiro e grande, e parecia atlético. 

Com um ultimo soco no ombro de Guilherme, Nicolas se levantou e atravessou a sala, indo se sentar bem na minha frente. O outro garoto se sentou em uma carteira no meio da sala. 

- Silêncio. - O professor pediu. - Abram o livro na  pagina 75. Vocês vão fazer um redação baseada nos pensamentos desse autor. Em folha separada, para entregar. 

Comecei a fazer. O texto contava sobre as drogas. 

- Foi você? - Nicolas perguntou, pegando alguma coisa na minha mesa. 

- O quê? - perguntei distraída, enquanto escrevia. 

- Esse desenho? Foi você que fez? 

Ele estava com meu caderno, folheando. 

- Ah, me dê isso! - Me estiquei para tentar pegar meu caderno. Senti meu rosto ficar vermelho. 

Minha reação fez ele rir e afastar meu bloco de perto de mim. 

- Façam a lição! - O professor gritou para a sala em bagunça. 

Nicolas riu ainda mais. Depois ele me devolveu meu caderno e eu o guardei na bolça. E voltei para a lição. 

- Você sempre faz isso? - Perguntei ao Nicolas, um tempo depois. 

Ele sorriu. 

- Você desenha bem. - Ele disse. 

Olhei para ele. Seria interessante desenha-lo, ele parecia ter algo de especial, ele era bonito, tinha uma pele sem acne, e uma barba por fazer, sua pele era clara e seus cabelos muito pretos. E seus olhos. Seus olhos eram de um azul intenso. E seu sorriso era debochado. Seu rosto parecia não ter defeitos. 

- Por que você e o Carlos brigaram? - perguntei. 

- Não é um assunto que eu possa dizer para qualquer um. - Ele respondeu enquanto escrevia. Seu sorriso tinha desaparecido. 

- Vocês brigaram na frente da escola inteira, acho que isso não é mais segredo. 

- Metade da escola acha que foi uma simples briguinha que tivemos por causa de uma garota. Não foi nada de mais, quem nunca brigou com tacos de basebol? - Sua voz estava estranha, diferente do normal. 

- Tacos de basebol? Vocês lutaram com espadas. 

Por algum motivo, isso chamou a atenção dele. 

- O que você disse? - Perguntou, examinando meu rosto. 

- Disse que eram espadas. - Respondi. Por que ele insistia em dizer que eram tacos de basebol?, me perguntei. 

- Interessante. - Ele me encarou como se eu fosse um novo inseto que ele descobriu. - Você, por acaso, já viu algo de estranho antes? 

- Como o que? - Perguntei, chegando mais perto. Na verdade, eu sempre vi coisas que não eram normais, coisas tipo, um homem com chifres de touro e todo peludo que tentou roubar minha bicicleta quando eu tinha oito anos.  

- Hum, algo considerado mitológico. Tipo, um dia eu vi um unicórnio. 

- Isso não é engraçado. - Eu disse. É sério que ele estava rindo de mim? 

- Não. Eu não estou te zoando. É sério. Só estou querendo saber o que você vê. 

- Eu não preciso contar, já fui vezes demais no psiquiatra, não preciso ser levada novamente. - Contar o que eu vejo para as pessoas, normalmente, faz com que minha lista de remédios aumente. As pessoas não acreditam e acham que sou louca. 

Ele respirou fundo. 

- Você acredita que a magia possa ser real? - ele perguntou. 

- Ilusionismo. Mágicos não usam magia, mas usam ilusionismo. 

- E quem está falando me mágicos? - Ele sorriu. - Tudo bem, pode responder o que quiser, não vou levá-la ao psicólogo. Mas você acredita que a magia e seres mágicos possam ser reais? 

-  Acho que nada é impossível. 

- Acredita em vampiros, anjos, demônios, dragões, lobisomens, semideuses, fadas, ou coisas do tipo? -  Perguntou ele. 

Pensei um pouco no assunto. Um dia, quando eu tinha 6 anos, vi uma fada voando no céu. 

- Sim, acho que passam existir. - Respondi. 

- Eu acho que existam. Até demais. - Ele deu um sorriso debochado e se virou para o texto quando o professor passou.

Terminei meu texto e logo, o sinal tocou. 

- Gosto mais dos anjos e demônios. - Nicolas disse, se levantando e recolhendo seus livros. - Te vejo mais tarde. 

Observei ele indo embora. Ele tinha um jeito de se mexer despreocupado e confiante. 

E ele não me respondeu o motivo. 

Suspirei e ajuntei minhas coisas na minha bolça. 

- Oi? - Perguntou alguém atrás de mim. 

Me virei e vi um garoto totalmente diferente do Nicolas. Ele usava óculos, tinha o cabelo castanho claro, e os olhos castanho escuro, usava aparelho com borrachinhas vermelhas, e tinha algumas espinhas no rosto meio bronzeado. Na verdade, parecia totalmente diferente de qualquer aluno do reformatório. Ele não tinha nenhum piercing, tatuagem, ou vestígios de alguma tinta no cabelo, não parecia nem um pouco revoltado ou de querer ser diferente. Mas na verdade, parecia natural, parecia não se importar com isso. Ele era bonito. 

- Oi. - Eu falei quando lembrei que ele tinha falado comigo. 

- Meu nome é Scott, - Ele sorriu. Não um sorriso debochado do Nicolas, mas um sorriso sincero. - você é aluna nova, já te apresentaram a escola? - Ele parecia bem gentil, pensei. 

- Já me apresentaram sim. Ah, e meu nome é Rafaela. - Sorri. 

Alguns alunos que teriam aula nessa sala começaram a chegar. 

- Qual sua aula agora? - Scott perguntou. 

- Português. - Suspirei. Eu odiava português. 

- A minha também. Quer companhia? - Ele perguntou. 

- Claro. 

Fomos, então, até a sala que estava quase cheia. 

Me sentei em um lugar vazio no meio da sala, e Scott se sentou na minha frente. 

A professora, uma velhinha baixinha e com a cara deformada em uma careta, tentava fazer chamada, mas a sala estava uma bagunça. 

- Você gosta de RPG? - Scott perguntou.  

- Eu nunca joguei. Mas minha irmã é doida por isso. 

Ele sorriu. Então ela deve ser muito legal. 

- Eu sou chata? - Fiz uma careta. 

- Não. Só deve ser menos legal que a sua irmã. Serio, você tem que jogar. - Ele abriu o livro na página que a professora pediu. 

Peguei o meu livro. 

- Você gosta de livros? - Ele perguntou. 

- Gosto. 

Uma bolinha de papel veio voando e acertou minha mesa. 

Me virei para ver quem foi e Carlos estava se preparando para jogar mais uma. 

- Ah, oi. E aí, Rafa? - Ele escondeu a bolinha de papel na blusa de um menino na frente dele. 

- Ah, cara! - reclamou o garoto, tentando tirar a bolhinha da blusa. 

Carlos se levantou e foi se sentar em uma cadeira do meu lado. 

- E aí? 

- Oi. - Eu disse. 

- E aí? - Scott o cumprimentou. 

- Rafa, me diga que sua próxima aula é italiano. - Carlos disse. 

- É sim. - Respondi. - Por que? 

Ele sorriu. 

- Porque a aula de italiano é perfeita. 

- A minha próxima aula também é de italiano. - Scott disse. 

Carlos olhou para ele. Como se dissesse: "quem está falando com você?". Depois se voltou para mim. 

- O pessoal mais legal é da nossa turma, e não tem aqueles que... você sabe... que não gostamos. 

- O Nicolas? - Perguntei. 

- Ele também, e a galera dele. 

Ele lançou um olhar assassino para um menino sentado duas fileiras atrás. Era o garoto que tinha separado o Nicolas da briga. E ele estava junto com uma menina que se vestia de forma semelhante e que era muito parecida com Nicolas. A menina estava brincado com um canivete, que parecia bastante afiado. 

- Por que vocês...? - Comecei a pergunta, mas fui interrompida. 

- SILÊNCIO!!! - A professora gritou no meio da sala. - CADA UM NO SEU LUGAR. 

Carlos se levantou e foi para o lugar dele, Scott se virou e eu comecei a fazer a lição. 

Como já comentei, eu odeio português, então sem mais detalhes, esperei o tempo passar até a aula de italiano, que eu espero que seja mesmo perfeita. 


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