As ruas de Paris se desgastam na dança dos sóis

Em Montmartre, os choros de Gautier se permitem ser ouvidos

Já não há mais dor para ser discutida no endereço nove da Rua Dantin

Singelas e vagarosas, as moças andam pelas ruas sem se dar conta

O jugo da cidade com aroma de lavanda não as permitia

Mas o som do acordeom podia ser ouvido dali, da Champs-Élysées.

De nove garotas, uma tinha a voz mais bonita

Outra, o rosto mais angulado

A terceira vinha andando com um conhaque na mão esquerda

Sendo que esta última, não tinha nada de melhor para esnobar das outras

Mas chamava bastante atenção

Sua voz não era bela, seus olhos demasiado comuns

E o corpo, pouco atraente para os padrões de hoje.

Era a “magrela”.

Porém, quando as vi, foi a que mais me interessou

Não por algo físico, e sim por uma atração inexplicável

Algo que os arcaicos do fim do século XX chamariam de amor.

Algo que eu não consigo nomear.

Pois muito bem, é algo novo, simples, terrível e secreto

Até hoje não houve voz que me trouxesse a afirmação,

Ou um sussurro duma voz na orelha noticiando a mais famosa das promessas

A mais subjetiva das premissas,

Uma síndrome, uma pandemia, a gripe mais passageira de um parisiense

O cheiro de lavanda entre o desagrado e o paraíso.

Um suspiro lindo de se sentir, uma implosão de berros impelidos.

O incômodo amável de um coração martelando feroz sob o peito.

Um incêndio que começa no mais fundo recôndito.

Ora, mas que belo sorriso é o que eu gostaria de vê-la dando a mim!

Decerto, a geleira dentro de mim acabará por se derreter, mais cedo ou mais tarde.

Sejam benditos os anjos nos Céus, ela é um mormaço que eu adoro.

Por fim, apenas isto é o que lhe peço: enfurna-me em seu Mar.