Ellie estava mexida com a ideia de ir para outro estado, milhares de quilômetros longe de Sidney, assim como eu. Não queria ter a necessidade de depender de ninguém, tampouco, ter uma “bagagem” a mais para cuidar, queria ir para o Oklahoma e morar com minha mãe, ou então, venderia meu carro e daria um jeito de alugar um apartamento sem que ninguém, além de Claire, soubesse.

Entretanto, não podia recusar Sidney não havia sido grossa como sempre, ela estava desesperada, assim como minha amiga. Algo de ruim iria acontecer e elas não queriam me contar o que era. Isso me preocupava, em partes, afinal, gostava um pouco deles, apesar de tudo.

Por um momento, senti vontade de largar tudo para o alto e não ir mais atrás dela. Sinceramente, uma parte de mim estava de saco cheio por eu ser o único que tentava mover uma palha para tê-la enquanto ela, nem ligar pra mim ligava. Ficava lá, vivendo sua tediosa vida reclamando enquanto eu me matava para ir atrás dela.

Não havia arquitetado um plano, já que foi uma decisão de ultima hora, porem, Ellie disse que seus pais e, provavelmente o meu, iriam fazer uma pequena viagem para a cidade vizinha, na sexta feira, para comprar algumas coisas. Essa seria a nossa deixa. Agiríamos naturalmente, ansiosos para a sexta feira e a “festa” que os irmãos estavam acostumados em dar quando se encontravam sozinhos em casa e então, enquanto Derek estivesse “concentrado”, sua irmã e eu pegaríamos um ônibus de viagem, para outra cidade vizinha, entraríamos em um avião e partiríamos para o nosso aguardado destino.

– Da pra você se sentar agora? – Estava me estressando ver Ellie andar de um lado para o outro no quarto, repetindo algumas frases do nosso plano e arrumando desculpas para ver Sidney mais uma vez antes de irmos.

– Eu preciso falar com ela... – Choramingou se jogando ao meu lado na cama.

– Você falou com ela a semana toda – Revirei os olhos – E amanhã terá aula... – Amanha era nosso grande dia, finalmente nos aproximamos do fim de semana e foi tão demorado...tão

– Não, ela fugiu de mim... – Murmurou distante - E amanhã não iremos. – Foi curta e grossa, por um segundo, jurei ter sido Sidney em seu lugar. A convivência transforma as pessoas.

– Por quê? – Indaguei.

– Sidney tem medo...

– Do que? – queria arrancar qualquer coisa útil para tentar encaixar as peças desse quebra-cabeças.

– Medo do plano sair errado e me perder... – Ellie dizia com lagrimas nos olhos, não conseguiria falar mais nada sem derrama-las e entrar em outro colapso, igual ao da noite anterior.

– Vai ficar tudo bem... – Abracei-a fortemente por um longo tempo, tentando reconforta-la, assim como ela fez comigo quando eu estava triste. Não sabia muito bem como lidar com garotas assim, para mim era mais fácil deixar de lado algo, ao menos, eu acreditava profundamente nisso, mas, quando era sério, tudo parecia se tornar uma grande bola de neve gigante, descendo por uma colina e ficando ainda maior. Talvez não fosse tão diferente dela.

– Como pode ter tanta certeza? – Ironizou. Ela me dizia que tudo ficaria bem e ela mesma não acreditava nisso? Afinal, sempre foi mais fácil em tese.

– Quando algo é para ser... Acontece... – Claro que, para isso, você precisa se esforçar... Mas se Sidney a ama tanto quanto Ellie a ama, tudo iria dar certo se nenhuma delas pisasse na bola...

– É, você está indo atrás da Claire... – Abriu um pequeno sorriso no rosto. Ela sempre torceu por nós, mesmo quando o certo era deixa-la lá, de molho por não me explicar aquela porra de foto com o Peter. Lá vêm o ciúmes... – Queria que alguém fizesse isso por mim... – Ela estremeceu nos meus braços, prestes a chorar.

– Ela vai... – Referia-me a Sidney. Achava ela uma garota terrível, mas, no fundo, sabia que ela era boa e realmente gostava de Ellie. – Acredite.

– Não gosto de me iludir... – Elas se afastou de mim e passou seu indicador embaixo de um de seus olhos, secando algumas lagrimas.

– De tempo ao tempo... - Queria dizer algo como “ Viver na ilusão às vezes é melhor”, mas seria uma frase tão hipócrita e sem sentido.

Depois disso, permanecemos calados, olhando um para o outro, antes de entrarmos em outro mundo e nos desligarmos de qualquer coisa à nossa volta.

Imaginei tudo o que aconteceu comigo até hoje, imaginei algumas oportunidades que deixei de aproveitar por ter sido um total idiota, as vezes que pensei viver em uma família feliz, outras, nas quais, acreditei que tudo não acontecia por acaso e sim por destino... Pensei realmente em tudo, entrando em orbita e perdendo a noção do tempo e lugar. Queria que tudo fosse mais fácil, assim como queria seguir logo minha carreira e não ter mais que depender dos meus pais. Alcançar logo a maior idade e trilhar meu caminho.

Adoraria me tornar um escritor ou um arquiteto, mas meu pai me pressiona a fazer direito e seguir seus passos, cuidando da área jurídica de uma empresa qualquer apenas por que é um emprego fixo, capaz de sustentar uma família que, no ponto de vista dele, eu só deveria ter após os 30 anos, quando eu teria uma casa, um carro e um ótimo cargo em uma ótima empresa, pois não iria me preocupar com mais nada. Ele era tão retrogrado e egoísta, que não queria saber o que eu achava e sim o que ele achava certo para mim.

– Por favor, me diga a verdade... – Murmurei implorando, não aguentando mais ficar de fora do assunto.

– Dean... – Resmungou.

– Nem vem me conte agora ou eu não te levo! – Disse por fim, decidido e irritado.

– Olha... Você não deve acreditar nisso... – Ela fez uma pausa, escolhendo as palavras que usaria. Parecia que estávamos chegando em algum lugar. – Nessa época do ano, sempre acontecem alguns assassinatos estranhos... Dizem que os fantasmas dos antigos moradores invadem a cidade e caçam pessoas para os seus rituais pagãos... – Foi baixando o tom de voz gradativamente com medo da minha reação.

– São só historias. – tentei parecer indiferente.

– É claro, apenas historias... – Abriu um fraco sorriso tentando concordar comigo.

Não sei se acreditaria nela, ou não, talvez ela estivesse mentindo apenas para me deixar meio perturbado ou matar a minha curiosidade, mas, se isso realmente era verdade, eu iria fazer algumas pesquisas. Queria descobrir toda a verdade, de uma vez por todas, e, se a cidade é tão perigosa, arrumaria um motivo pra não voltar mais.

Mas, apesar de tudo, uma coisa que eu aprendi com o passar do tempo e deveria enxergar, é que não devemos julgar antes de conhecer. Não devemos odiar antes de provar... Não devemos renegar antes de ter... Pois, um dia, podemos sentir falta disso e chorar, inconsolavelmente, pelo o que tivemos e não demos atenção por, aparentemente, não possuir valor algum... Mas no fundo... O pouco pode significar tudo...