Estava cansado de ficar o dia inteiro sozinho em casa. Derek e Ellie estavam na escola enquanto seus pais com o meu saíram para comprar algumas coisas para a reforma do escritório lá na cidade. Não que não gostasse daquilo, eu adorava, mas preferia estar andando sem rumo no meu carro. Como sempre. Sinto da ‘liberdade’ que ele me proporcionava... Pai, você tem sorte de não ter nenhum carro sobrando aqui, se não eu já teria fugido daqui.

                Isso me levou de volta ao Oklahoma que me levou de volta para Claire e para o idiota de Peter que passou de melhor amigo a inimigo mortal. Passei o dia todo surtando com aquilo e com vontade de destruir tudo que viesse pela frente, mas depois de ouvir o bom e velho Rock n’ Roll e me distrair imerso em meus pensamentos mais profundos de mundos paralelos cheios de personagens e historias que dariam belos livros, me controlei fingindo que nada daquilo era real e que estava fazendo tempestade em copo d’água.

                Eram quase seis horas quando a lua surgiu no horizonte trazendo consigo o fim de mais um dia. Ainda estava sozinho, pensando comigo mesmo e havia perdido as esperanças de jogar no Playstation 3 de Derek quando alguns sussurros vindos de fora romperam o silencio mortal.

                - Entre... – Ouvi Ellie murmurando do lado de fora da casa. Abaixei o livro que estava tentando ler a horas e lancei um olhar para ela que exibia um sorriso largo enquanto suas orbitas azuis estavam focadas e perdidas em algo do lado de fora.

                - Tem alguém em casa? – Uma voz feminina perguntou preocupada.

                - Claro que não. – Respondeu de prontidão estendo a mão e puxando uma pessoa. – Podemos fazer qualquer coisa...  – Sugeriu.

                Uma garota de cabelos castanhos médio liso, tão pálida quanto à neve, olhos negros e um piercing no meio do lábio inferior que, por sinal, era vermelho sangue entrou. Ela era magra, mas possuía uma estrutura larga dando a entender que ela praticava algum tipo de luta. Branca de neve dos dias atuais. Brinquei comigo mesmo.

                - Perfeito – A garota puxou Ellie pela cintura cravando suas unhas em sua pele colando seu corpo contra o dela. Seus lábios voaram sedentos para seu maxilar traçando um caminho até seu pescoço onde parecia devora-lo como uma vampira sanguinária. Era estranho e engraçado ver aquela cena. Tentei me conter colocando a mão na frente da boca, mas não consegui evitar uma pequena risada que saiu involuntariamente alertando minha presença no local.

                - Dean! – Ellie arfou apavorada afastando a garota de seu corpo apressadamente e arrumando seus cabelos bagunçados e sua camiseta amassada.

                - É o seu amigo gay, certo? – Perguntou a morena olhando fixamente em meus olhos como se me desafiasse.

                - É-é – Gaguejou corada. Gay? Valeu pela consideração

                - Não se preocupem comigo, Cherry – Respondi com a voz afeminada entrando no personagem.

                - Não, ele não é – Revirou os olhos. Ela vestia uma jaqueta de couro com espinhos nos ombros e algumas pequenas correntes pendulas na lateral. – E pare de piadinha – Advertiu-me irritada. Eu não fiz piada, não pode brincar mais não?

                - Eu menti... – Admitiu – Mas ele esta apaixonado por uma garota de longe, ou seja, o corpo dele está aqui, mas o resto está lá – Disse rapidamente conseguindo uma desculpa razoavelmente aceitável – Pega leve... – Pediu com um olhar meigo. Seus dedos passearam uma mexa do cabelo da garota enrolando-os na ponta. Ela estava na ponta dos pés tentando ficar na altura dos olhos castanhos da outra.

                - Acho melhor deixarmos pra outro dia... – Resmungou decepcionada após pensar por um longo momento.

                - Qual é Sid? – Passou as costas das mãos em seu rosto e se curvou sussurrando alguma coisa qualquer no ouvido dela fazendo-a abrir um pequeno sorriso.

                - Eu tenho que falar com o amor da minha vida então estou indo para o quarto... - Disse levantando-me do sofá sem a menor vontade de deixar aquele lugar macio e confortável que estava com o formato do meu corpo devido às horas que fiquei ali sentado.

                - Então vai logo, Dean! – Ellie pediu quase surtando de alegria com aquilo. Comecei a andar tão devagar quanto uma lesma provocando a garota a cada segundo que passava. Ela estava enlouquecendo com aquilo tornando tudo ainda mais divertido.  

- Não vai me apresentar a ela? – Perguntei. Ela me fuzilou com o olhar por um longo momento até notar que não sairia dali até ter o que queria.

- Sidney, Dean e vice – versa – Cedeu dizendo apressadamente.

- Que jeito estranho o seu – Observei provocando-a ainda mais.

- Você não vai contar nada a ninguém, certo? – Ela perguntou em um tom ameaçador.

- Não se você me der um motivo – Retribui no mesmo tom. Não se você me der um motivo – Retribui no mesmo tom. Ela marchou até a minha frente e passou sua unha grande e afiada do dedo indicador sobre a pele da minha bochecha arranhando-a com força o suficiente para deixa-la ardendo por um longo período.

- Não existe acordo. Ou você faz, ou você faz – Ela pressionou ainda mais sua unha contra minha pele com força o suficiente para deixar um pequeno corte.

–Chega de conversa!– Senti as mãos de Ellie grudarem no meu peito e me empurrarem escada a cima apressadamente. – Vai dormir, vai – Pediu antes de voltar para baixo e começar uma agitação violenta de objetos sendo jogados para todos os lados.

                - Selvagens – Murmurei aos risos.

                Entrei no quarto, deitei na cama com o celular na mão e tentei ligar para Claire. Era o horário em que ela estava disponível sem ter que cuidar de Emma ou fazer qualquer coisa para os seus pais. Liguei a primeira vez e deixei tocar poucas vezes. Ela não atendeu. Dei uns cinco minutos antes de tentar mais uma vez até entrar na caixa postal. Talvez ela estivesse fazendo algo importante, então desisti de tentar falar com ela e iria esperar seu retorno. Comecei a escrever uma coisa qualquer no bloco de notas expondo alguns pensamentos e coisas que estavam acontecendo. Não era um diário, nem um poema ou qualquer coisa do gênero, era só um passatempo enquanto eu ouvia musica e viajava com o que estava tocando.

                Depois de algum tempo, senti a parede atrás de mim sendo atingida por algo, no caso alguém, agressivamente e, logo após, Ellie gemendo incontrolavelmente no quarto ao lado imersa no êxtase que Sidney estava lhe proporcionando. Elas agiam como dois animais selvagens destruindo tudo em seu caminho e acordando a todos com seus pequenos gritinhos e gemidos falhados.

                Voltei a me concentrar, com dificuldades, naquele texto que havia escrito há minutos atrás. Até que ficou bom Murmurei ao rele-lo notando todas as criticas a sociedade hipócrita, consumista, motivada pelas aparências e necessidades fúteis do ser humano que fortalece cada vez mais o governo capitalista.

                - Vamos nos divertir muito essa noite... – Derek entrou no quarto quase arrebentando a porta. Ele estava atracado com uma garota ruiva e levemente bronzeada com algumas sardas espalhadas pelo rosto. Ambos estavam ofegantes e apressados. Ela arrancou a camisa dele com veemência passando as mãos em seu peito musculoso deleitando-se do momento.

                - Quem é ele? – Gritou espantada e se afastando do quarto.

                - Sou o namorado dele – Disse contendo uma risada na tentativa de fazer aquilo parecer real.

                - Dean! – Reclamou. – É meu amigo. – Corrigiu.

                - Amigo que vai fugir em poucos segundos – Me levantei da cama, que estava ficando tão aconchegante quanto o sofá e me dirigi para a saída.

                - O que está acontecendo no outro quarto? – Perguntou confuso ao ouvir alguns gemidos abafados de Ellie. – Ela está com alguém? – Ele estava ficando furioso aos poucos, era evidente.

                - Não, ela entrou sozinha. Deve estar brincando sozinha. – Tentei arrumar uma desculpa rápida para convencê-lo da minha mentira e acoberta-la – Sabe como é – Terminei. Ela vai me dever muito depois disso.

                - Hm, confio em você cara – Disse. Ele puxou sua garota para perto de seu corpo desabotoando sua camisa social e exibindo partes de seu corpo perfeitamente esculpido.

                Sai antes das coisas piorarem fechando a porta e seguindo para o quarto de Ellie. Bati na porta algumas vezes, precisava alerta-la que seu irmão estava aqui antes que ela se ferrasse. Ela não abriu. Insisti com alguns toques mais fortes desistindo e abrindo meia folha.

                Ela estava por cima do corpo de Sidney usando uma de suas mãos para segurar os braços de Sidney acima da cabeça enquanto com a livre ela passeava pela extensão da cintura descendo em direção a perna e puxando o ultimo pedaço de renda que cobria seu intimo. Seus lábios brincavam com o farto cheio direito da outra garota deixando-o rígido a cada novo toque.  Aquilo chegava a ser excitante... Se contenha

                - Porra, todo mundo sendo feliz e eu quase apelando pra filme pornô – Resmunguei observando ainda mais a cena. Alguns amigos meus tinham o fetiche de transar com duas lésbicas, nunca entendi muito o porquê, até agora...

                - O que você quer? – Ellie lançou um olhar furioso para mim, mas ainda provocava Sidney com seus dedos.

                - Avisar que seu irmão está no quarto ao lado e eu disse que você está se masturbando

                - Sério mesmo que você disse isso? - Franziu o cenho pensativa.

                - Você queria o que? – Perguntei confuso.

                - Nada, depois eu cuido disso.

                Fechei a porta do quarto e corri para a sala. A ruiva havia começado a gemer enlouquecidamente, assim como Sidney. Eu estava farto daquela zona e de tanta putaria. Eles agiam como animais e não sei se aguentaria ficar muito tempo nessa casa com eles desse jeito. Mesmo do andar de baixo era possível ouvir nitidamente cada som que vinha dos cômodos acima. Estava prestes a ligar um radio no ultimo volume ou a estourar uma janela, mas fiz melhor. Sai da casa caminhando para o celeiro vermelho de portas brancas – típico de fazendas de desenhos - onde eram guardada algumas ferramentas do pai deles.           Subi em uma escada que estava encostada ali do lado conseguindo chegar ao teto do celeiro.

                Olhei de volta para a casa e tinha uma boa visão de ambos os quartos e das ações que nele ocorriam.  De um lado; Ellie sendo agressiva e mostrando possessividade. Do outro; Derek sendo submisso à ruiva que se divertia em provoca-lo. Irônico.

                Foquei-me no céu límpido e estrelado acima de mim. A lua estava gigante e posicionada bem no centro ao lado de milhares de constelações. Consegui identificar algumas poucas e encontrar a Ursa Maior que tanto adorava. Deitei-me no frágil telhado com cautela para não quebrar nenhuma telha e sofrer uma queda enorme e então tornei a ficar imerso em milhares de pensamentos aleatórios e criando minhas historias particulares. Preciso virar escritor...