Após muito tempo em Oregon, finalmente havia juntado força e dinheiro o suficiente para sair do Oklahoma e voltar para Claire. Meu pai estava odiando aquilo, mas não estava me importando muito com ele, pois sabia que iria ficar tudo bem no final das contas. Eu contava os minutos e os segundos para poder ‘respirar’ mais uma vez, sentir meu coração completo batendo dentro de mim e sorrir apenas por ouvir a voz dela... Finalmente iria deixar esse inferno pessoal para trás onde só existiam dor e sorrisos falsos para disfarçar meu sofrimento, para um mundo onde existia ela e nada mais. Não aguentava mais esperar, queria estar ao lado dela em um piscar de olhos...

Passei todo o voo de volta completamente agitado e impaciente, os minutos não passavam, parecia que eu estava congelado no tempo enquanto todos estavam vivendo suas vidas normalmente e a cada centímetro que me aproximava do Oklahoma, entrava em total êxtase. Era impossível controlar minha mente que insistia em imaginar como seria reencontra-la. Haviam se passado quase um ano desde a ultima vez que a vi e que me senti vivo. Também admito que foi impossível não rir um pouco com as lembranças dela me chamando de praga – no final das contas, havia me acostumado e até gostava um pouco daquele apelido – e das aulas que passei imaginando como fazer um tele transporte, culpa da minha maravilhosa imaginação fértil e do desespero.

Nunca pensei que pudesse me apaixonar por alguém a ponto de fazer qualquer loucura para estar perto de quem eu amo ou me sentir tão vazio por dentro com toda essa distancia. Para mim, isso era um sentimento limitado que ia embora com o passar do tempo pelo fato de se tornar uma rotina incansável levando os casais a traição e separação. Entretanto, com ela era impossível acontecer isso. Nossos sentimentos pareciam crescer cada vez mais e já não cabiam mais dentro de nós, assim como a saudade e a necessidade de passar o resto da vida lado a lado. Era tão inocente, belo e puro. Ela havia se tornado a razão pela qual eu acordava todos os dias e tentava me controlar para não virar um maníaco e sair por ai batendo em todo mundo e brigando igual a um animal, afinal sempre tive um lado muito agressivo e frio, mas com ela meus monstros iam embora e eu dava o melhor de mim para fazê-la sorrir e ser merecedor dela.

Após muitas horas intermináveis, finalmente senti os trens de pouso do avião tocarem o solo com pouca suavidade fazendo todos balançarem de um lado para o outro. Antes que a aeromoça pudesse pronunciar uma palavra que fosse, já estava de pé em sua frente aguardando impacientemente para descer da aeronave. Ela começou a falar sem parar como se quisesse me provocar. Juro que se ela enrolasse por mais alguns segundos eu iria arrancar a cabeça dela fora e sair dali de um jeito ou de outro.

O aeroporto estava terrivelmente lotado devido às festas de final de ano, era praticamente impossível enxergar um metro que fosse a minha frente. Procurei Claire em meio à multidão que se deslocava de um lado para o outro, entrando e saindo dos portões e pegando suas bagagens, mas nada de encontra-la. Corri de um lado para o outro me esgueirando de todas as pessoas com muita dificuldade, afinal, todos estavam cheios de malas gigantes e era horrível senti-las batendo na ponta dos pés ou no ombro. Não entendia a necessidade de levar tanta bagagem para apenas uma semana fora de casa e queria saber como eles conseguiram ser grossos o suficiente para esbarrar tantas vezes seguidas, parecia que eu era invisível.

Apesar daquele mar interminável de pessoas dando impressão de estarmos em um formigueiro ao invés de um aeroporto, eis que todos à minha voltam desaparecem por conta de um par de olhos azuis escuros penetrantes completamente focados em mim. Claire. Ela estava linda, como sempre, com seus cabelos negros enrolados em pequenos cachos nas pontas, inédito. Ela exibia um largo sorriso enquanto várias lágrimas escorriam pelos seus olhos tornando-os ainda mais brilhantes. Andei o mais rápido que pude, desviando de tudo e todos a minha frente e também esbarrando em alguns tão forte que quase foram lançados ao chão.

- Demorou tanto... – Murmure. Meu abraço foi forte o suficiente para tirar seus pés do chão. Sentir a pele dela contra a minha era uma sensação maravilhosa e indescritível... Era como sentir o calor e o conforto de um por do sol após passar eras nas trevas. – Ficar longe de você foi...

- Shiu... – Ela me calou com um beijo doce e feroz saciando parte da saudade que sentia. Nossas línguas se entrelaçaram em uma guerra incansável. Todos à nossa volta haviam desaparecido, o silencio mortal tomou conta do ar e nossas vidas dependiam daquele gesto que fora contido por muito tempo...

– Dean! – Senti um liquido absolutamente frio escorrer pelo meu corpo causando-me um calafrio terrível. Pulei da cama na defensiva e observei todo o local à procura do meu inimigo com dificuldade, pois uma forte luz branca estava ofuscando totalmente minha visão. Porra foi tudo um sonho? Comecei a gritar mentalmente frustrado com a dura e triste realidade – Hora da escola! – Gritou Derek com animação o suficiente para contagiar todos que estivessem a nossa volta.

– Não vou hoje. – Respondi curto e grosso. Odiava ser acordado as pressas, odiava mais ainda ser cegado pela luz e ficava o dia inteiro nervoso e irredutível se eu fosse retirado de um sonho maravilhoso do qual jamais desejaria acordar.

– Qual é cara? Vamos! – Insistiu. Ele estava segurando um balde de lata nas mãos e tentara o esconder quando me viu fuzilando-o com o olhar – Desculpe – Disse ao me ver fuzilando o objeto que ele usara. – É o primeiro dia! - Continuou tentando me convencer, mas minha decisão havia sido tomada e não mudaria de ideia com tanta facilidade, ainda mais quando estava irritado. - Você já esta aqui a mais de uma semana, será que não deu para se acostumar? – Notei que ele se sentiu um pouco chateado pela minha atitude, mas não podia fazer nada em relação. Não queria ir para a escola, ponto final. E sério mesmo que ainda é a primeira semana? Parecia que um ano já havia se passado... Qual é o tempo não anda aqui não?

– Não. – Mantive o mesmo tom. Se eu dizia uma coisa em total convicção, odiava ter de repeti-la. Só para constatar, já tive varias brigar com meus pais por culpa desse meu jeito, mas nunca com Claire, uma vez que ela conseguia me mudar por completo.

– Credo – Lançou suas mãos para cima - Ele está nervosinho hoje – Provocou. Revirei os olhos e peguei meu celular na cômoda, não estava nem em ser educado. Só podia dizer que ele havia arruinado todo o humor do meu dia com aquele ato. – Beleza, antissocial – Bufou. – Ellie vai trazer umas amigas aqui hoje... – Mudou de assunto – Só tente ser... – Pensou por um tempo antes de prosseguir – educado – Pediu.

– Tudo bem. – Respondi indiferente. Poderia ter dito um milhão de coisas que pudesse deixa-lo nervoso ou faze-lo rir, mas, no momento, não estava com a menor vontade para fazer gracinha.

Voltando o foco em meu celular, notei a existência de uma nova mensagem nele. Senti meu coração pulsar mais rápido e minha respiração falhar enquanto meus dedos voavam de um lado para o outro sobre as teclas. Perdia todo o controle do meu corpo quando sentia essa ansiosidade em saber qualquer coisa de Claire. Sempre ficava imerso nesse êxtase maravilhoso e automaticamente esquecia-me de todos a minha volta, não importava quem fosse eu direcionava todas as minhas atenções àquela pequena tela.

Porém, em um simples segundo, toda aquela alegria fora arrancada de mim e, no lugar dela, senti uma faca sendo enfiada em meu estomago e revira-lo por muito tempo. Peter.

Não tinha a menor vontade de saber o que aquele traidor queria comigo, mas iria abrir aquela porcaria e acabar com tudo de uma vez. Afinal, o que de tão ruim poderia ser? Ele não significava mais nada para mim, entretanto, sentia um pouco de saudades das nossas brincadeiras no passado. Bufei antes de abrir seu sms, aposto que ele queria pedir desculpas ou falar bobagens como se nada houvesse acontecido.

Pode deixar que seu melhor amigo irá cuidar da sua mais preciosa relíquia enquanto você não pode fazê-lo.

Ele estava usando um estilo de roupa parecido com o meu; camisa básica branca, jeans preto surrado e uma jaqueta xadrez azul apenas com o diferencial de estar usando um boné roxo de lado. Idiota. Ele exibia um largo sorriso deixando a mostra seus dentes brancos e brilhantes enquanto seu braço direito estava abraçando de lado uma garota de braços cruzados vestindo uma varsity preta de mangas brancas. Ela possuía cabelos loiros que reluziam ao sol com algumas mexas enroladas nas pontas que pendiam do lado esquerdo de seu rosto cobrindo parcialmente seus olhos azuis céu. Ela estava muito linda... Tire seus braços sujos da Claire antes que eu separe seus membros de seu corpo e seja preso por assassinato!

PS: Estou fazendo-a sorrir enquanto você está ai tirando férias.

Um turbilhão de pensamentos invadiu minha mente esfolando minha alma com chicoteadas, facadas e pedradas. Foi como ver meus planos e sonhos sendo despedaçados diante aquilo, era como se tudo pelo qual eu estava lutando houvesse partido em um piscar de olhos. Meu chão desapareceu, meu coração parecia bater tão devagar que era impossível respirar. Cai de joelhos diante daquela imagem desejando que a morte viesse me buscar, assim como desejava estar ao lado dela naquele exato momento fazendo-a sorrir e como desejava bater naquele verme até sentir seus ossos se quebrando e desfigurando seu rosto. Não suportava nem sequer pensar em ver outra pessoa que não fosse eu tocando-a da mesma forma que eu... Fazendo-a rir, cuidando e protegendo-a... Isso me fazia um inútil em um mundo enorme sem um propósito. Meu monstro havia se soltado, minha ira havia sido jogada. Sabia que era apenas uma foto dele abraçando-a, mas estava errado. Ele não poderia se aproximar dela e fazê-la se apaixonar por ele... Ele não poderia tirar a razão da minha existência dessa maneira... Tornei-me uma criatura fria em um simples piscar de olhos e apenas desejava a morte dele, custe o que custasse e, se ele a magoasse de alguma forma pode ter certeza que iria executa-lo com minhas próprias mãos.

Queria acreditar na felicidade e nos finais felizes, queria acreditar que a vida tem tudo programado e que nos oferecem caminhos diversos, mas que sempre chegaremos ao ponto zero, o lugar onde tudo começou até acertarmos e irmos para o próximo desafio. Entretanto, por trás de cada curva sempre existia um monstro pronto para atacar e mudar totalmente o nosso rumo e, às vezes, acabava sendo tarde demais e tudo pelo o que lutamos torna-se apenas um passado incompleto.