O jantar não durou muito tempo, entretanto, fora divertido. James contou algumas histórias sobre a época do colegial e das coisas que aprontara com meu pai e também disse como fora a primeira vez que viu sua esposa e sobre a bela relação que criaram. Mas, logo após, todos estavam reunidos na sala assistindo uma programação local que passava todas as noites aquele horário. Claro que não me concentrei naquilo, alias, nem gostava muito de ver televisão, muito menos de um programa de auditório sem o menor escrúpulo e fundamento. Percebendo minha dispersão, Ellie deslocou-se sutilmente até meu lado esquerdo, pegou em meu braço e puxou-me escada a cima levando-me até seu quarto.

                Encolhi-me confuso com o que ela acabara de fazer. “Porque raios estou no quarto dela?” Afinal não queria ter que dar um fora nela para não magoá-la e tudo mais. Entretanto, era evidente que, se eu não fosse completamente apaixonado por Claire e desejasse passar o resto da minha vida ao seu lado, não estaria preocupado com nada e seria bem capaz de tê-la agarrado no momento em que saímos de perto dos demais.

                - Primeiramente, tire esse olhar de peixe morto do seu rosto! – Disse jogando-me sentado em sua cama.

                - Como? – Franzi o cenho.

                - E antes que você pense outra coisa, só quero conversar! – Alertou-me em seguida.

                - Ta bem... – Semicerrei o olhar. Relaxei um pouco sabendo que nada demais iria acontecer ali e então cruzei minha perna esquerda sobre a direita fazendo um quatro e apoiei meu queixo em minha mão fechada em um fraco punho.

                - Senhor pensador – Debochou. Revirei os olhos, isso a incentivou a rir ainda mais – Ok, desculpe, também odeio assistir aquilo.

                - Como sabia que eu estava odiando?

                - Seu olhar de ‘prefiro morrer à isso’ revelou tudo – Ela dizia cantarolando – E quero saber mais sobre Claire e vocês...

                - Tipo...? – Suspirei profundamente e ela diminuiu um pouco sua agitação.

                - A história de vida.

                - Não acho uma boa idéia... – Balancei a cabeça tentando deixar guardado a maior parte das lembranças que me entristeciam.

                - Por favor, por favor, por favor! – Ela pediu em um tom de suplica.

                - Tudo bem, mas vou resumir... – Cedi após um tempo. Ela sentou-se ao meu lado em sua cama, da mesma forma que fizera a algum tempo atrás no quarto de seu irmão. – Olhe, nos conhecemos a muito tempo... Mas foi de uns meses para cá que comecei a me apaixonar por ela e por aquele jeito incrível... – Suspirei ao me lembrar de como sorri maravilhado ao revê-la no primeiro dia de aula desse ano. – Mas desde criança, eu fazia algumas brincadeiras idiotas para provocá-la, porque achava engraçado a forma que ela ficava nervosa – Nesse instante, recordei-me da forma como ela ficou completamente nervosa comigo em uma aula quando dei leves chutes em sua cadeira tirando-a do lugar. Ri sozinho com aquilo. – E conforme o tempo foi passando, meus sentimentos mudaram e eu me apaixonei por ela de uma forma inexplicável... – Cheguei no ápice da conversa, claro que haviam muitas outras coisas que poderia falar, mas não conseguiria me lembrar de mais nada sem ficar completamente acabado por estar a milhares de quilômetros longe dela... Longe daquele sorriso estonteante, da voz suave e da pele aconchegante... – O resto você já sabe...

                - Que lindo – Ela passou seu indicador sobre seu olho direito limpando cuidadosamente uma lagrima.

                - Humpf, lindo seria se o Bryan morresse e eu estivesse na minha casa – Rangi os dentes nervoso.

                - Bryan? – Perguntou com uma interrogação eminente no topo de sua cabeça.

                - É, o idiota que se arrebentou na noite daquela brincadeira... Ele vive dando em cima da Claire como se ele precisasse tê-la para completar sua coleção – Notei que minha voz havia saído ameaçadora entre meus dentes.

                - E você tem medo dele tira-la de você? – Perguntou tentando entender.

                - Sim... Tenho medo de voltar e  vê-la com outro que a faça mais feliz do que eu... E por mais que pareça egoísmo, não é, entende? – Encarei o chão por longos segundos tentando evitar que alguma lagrima involuntária escorresse. – É medo de perder tudo... Meus planos... Meus sonhos... Pois ela está em todos eles... – Fiz uma pequena lista mental de todos os desejos que possuía e de tudo o que gostaria de fazer e neles, em todos, lá estava ela sorrindo ao meu lado e dando-me o apoio necessário para sobreviver a esse mundo caótico. – Não suporto a idéia de vê-la ser feliz com outro alguém que não seja eu, sendo amada, tocada e... – Bloqueei a palavra a seguir, pois era completamente de incapaz imaginá-la entregando-se por completo para outro cara. – Mas não posso exigir que ela me espere por tanto tempo... ainda mais quando não sei o dia em que voltarei... – Suspirei com a triste realidade. Não sabia quando iria voltar o que dificultavam ainda mais as coisas. Afinal, se ao lado dela já existiam milhões de corvos que nos rondavam, como iria competir com eles de longe? E por mais que doa, sei que se ela encontrar outro... Terei de aceitar, mas é evidente que irei lutar muito para reconquistá-la, uma vez que essa é uma das minhas mais fortes promessas e que ela é o motivo pelo qual eu sou feliz...

            - Que coisa mais gay! Você está quase chorando! – Derek disse entrando no quarto de braços cruzados. Senti-o me encarando. – Mas é tão bonito – Admitiu por fim. – E, campeão, lute por ela, entendeu? – Ele se aproximou de mim e apertou meu ombro.

            - Campeão? - Perguntei com um tom de ironia na voz.

            - Claro, simplesmente pelo fato de trocar todas por apenas uma. Ela deve ser terrivelmente linda para fazer com que você abra mão de todos os prazeres que essa terra nos oferece – Respondeu com um tom de malicia na voz.

            - Derek! – Ellie o advertiu jogando um travesseiro em sua direção.

            - Esse é um dos motivos, mas só o fato de você estar suportando estar longe dela te faz forte – Completou. – E se ela é tudo o que você deseja, corra atrás e não ligue para o que os demais irão dizer. Afinal, o resto é o resto e o que importa é a sua felicidade. – Ele encerrou o assunto com aquela frase que invadiu minha mente e me fez pensar por longos minutos, que pareceram horas, e refletir sobre tudo o que deveria fazer.

            - Veja meus pais! Estão juntos há 18 anos e continuam se amando como naquela época! – Ellie disse interrompendo meus pensamentos.

            - Quanto tempo! – Foi impossível não ficar boquiaberto com aquilo.

            - De fato, eles estavam namorando a sério quando minha mãe engravidou de mim, mas esse não era o verdadeiro motivo pelo qual os dois se casaram... – Ellie continuou.

            - O que foi? – Perguntei agora curioso.

            - Outra noite eu te conto – Ela respondeu com um sorriso satisfeito pelo mistério que deixara no ar. - Mentira, vou contar agora! - Ela fez uma longa pausa e começou - Meu pai iria pedir minha mãe em casamento no final do ano, pois ele ja tinha total certeza de que ela era a mulher certa e então, em uma noite qualquer, minha mãe disse estar gravida dessa coisa horrivei aqui - Apontou para o irmão e ele deu um tapa no braço de Ellie - Isso fez com que James se antecipasse e a pedisse em casamento um pouco antes. Era a formatura dele e minha mae estava na platéia, afinal eles possuem dois anos de diferença, e então, quando ele foi receber o diploma de formatura, ele fez o pedido na frente de todos. É isso! - Quando ela terminou a história, foi impossível não reparar que ela estava um pouco emocionada e completamente comovida com aquilo. Poucas lagrimas escorriam de seu rosto demonstrando o quanto aquilo era belo para ela.

- Que história linda - Disse emocionado com aquilo, mas não da mesma forma que ela.

- Seus pais também são um exemplo disso. – Derek disse, entretanto, alguns segundos depois ele ficou completamente sem graça e tentou corrigir – Digo, também ficaram muito tempo juntos...

            - É, de fato, até meu pai resolver estragar tudo – Dei de ombros. Aquilo não vinha mais ao caso e o que passou, passou.

           Meu ultimo comentário foi o que bastou para encerrar o assunto ali e não comentarmos mais nada sobre isso pelo resto da noite. Segui para o quarto de Derek que também seria o meu por um bom tempo, como um zumbi, sem fixar o olhar em nada, sem dizer nada e sem reagir a nada. Eu estava completamente imerso na história de amor que Ellie me contara sobre seus pais e comecei a fazer ainda mais planos para o dia em que reencontraria Claire... Sobre a nossa vida também e como seria nosso futuro. Nunca pensei nessas coisas, admito, alias, nunca pensei que iria me apaixonar por alguém e que iria querer me casar e construir uma família com essa pessoa – Sim, eu estava pensando nisso desde o dia que a vi cuidando de Emma –. Criei milhares de idéias sobre como surpreende-la com o meu retorno e havia um em especial que estava guardado em minha mente. Refleti também no que Derek me disse sobre seguir meu coração e minha felicidade e era exatamente o que iria fazer. Decidi que, muito em breve, regressaria ao Oklahoma e iria realizar todos os meus sonhos ao lado dela , não importa como, sabia que faria até o impossível para torná-los reais e que iria lutar pelo amor dela todos os dias e todos os dias iria reconquistá-la, renovando assim a nossa paixão.