Nath me encarou enquanto eu escolhia um programa na TV.

-Quer assistir algo? -Pergunto, constrangida.

Ele balançou a cabeça e em seguida peou o controle da minha mão.

-Vamos no jardim? Parece legal lá. E... -Ele começou a baixar o tom de voz. -Tenho certeza que aquela empregada, ou sei lá o que ela é, está ouvindo no outro cômodo.

Eu forcei uma risada. Estava muito tensa porque tinha uma possibilidade de que Rick estivesse no jardim. Eu não aguentaria vê-lo.

Balancei a cabeça segurando o braço de Nath. 

-Não, não. Lá tem... cobras! É, meu pai contratou uma pessoa para vir tirar, ela já deve estar chegando. -Digo, me levantando. -Podemos ir na varanda, hein?

Nath me fitou, ele nunca tirava o sorriso estampado no rosto. Aquilo me irritava um pouco porque eu sabia que nunca conseguiria ser feliz como ele.

-Certo. Vamos lá? 

-Aham. -Digo, me levantando.

Enquanto caminhávamos Nath tentou segurar minha mão. Eu puxei esta de modo discreto. Sentia-me como uma pessoa que havia, por exemplo, machucado a perna, mas continuava alongando-a para ver até onde poderia suportar a dor.

Quando chegamos na varanda eu tive certeza que Nath não se contentaria com ser simplesmente meu amigo e aquilo me magoava um pouco. Ele me observava enquanto eu fitava o Sol ao longe moldado pelo céu tingido de um azul inacreditável.

Minha cabeça pulsava de arrependimento. Sempre que eu olhava para Nath não conseguia parar de pensar que o estava usando para suportar a dor de perder Rick. Deixei minhas pestanas caírem para conterem lágrimas teimosas. Eu não me permitiria chorar na frente de alguém. Afastei meu cabelo, como que para me livrar da pressão. Eu tinha que vê-lo. Ver Rick de novo. Atei minhas mãos sobre a testa molhada de suor. Senti o tecido solto de minha camiseta enorme me apertar fazendo com que eu perdesse o ar. 

-July? -A voz de Nath ao meu lado.

O barulho de minha cabeça pulsando com frases que eu deveria ter dito à Rick me incapacitou de responder. Eu me arrependia apenas de não ter dito à ele nada daquilo, de ter fugido sem ter a chance de explicar. O barulho aumentava até se tornar um baque insuportável, me fazendo ofegar.

Segurei o braço de Nath e apertei. Eu mexi os lábios, forçando a voz a sair, embora eu não ouvisse minha própria voz. Mas eu sabia que ela havia saído.

-Eu não aguento. Não. Por favor, faça alguma coisa! -Digo.

Nath me encara. 

-Você está em depressão ou algo do tipo? -Eu leio em seus lábios.

Balancei a cabeça, mas talvez fosse verdade. Talvez estivesse ficando louca, talvez houvesse perdido toda a minha confiança no mundo ou em qualquer um. Talvez merecesse morrer. Devesse morrer para poupar o mundo de se remoer de pena de uma garota "mimada" com pais separados. As palavras que eu deveria ter dito gritavam mais alto em minha cabeça. Eu engasguei. 

Eu te amo. E eu tenho medo disso.

Me prendi nos braços de Nath, como se fosse minha última esperança. Ele era tudo o que eu tinha agora e a conclusão me fez finalmente soltar as lágrimas.