Os Opostos Se Atraem escrita por Lasanha4ever


Capítulo 9
Capítulo 8




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  Amizade com benefícios... Essa ideia fica zonzando em minha cabeça durante o dia todo, até mesmo durante a prova de francês. Saio da escola com o Lipe, a Anne e a babá. Volto para o apartamento e vejo que o Danilo não está mais aqui.

  - Ei, a senhora pode ficar com os dois, sozinha? Eu preciso ao apartamento aqui do lado.

  - Mas é claro, só não se esqueça de que a Anne precisa ir embora às cinco.

  - Certo.

  Corro até o apartamento do Danilo e bato na porta. Escuto a risada dele.

  - Fernandinha, não precisa bater na porta! – ele berra.

  Entro e o encontro deitado na única coisa limpa do primeiro andar. O sofá.

  - Já tá melhor?

  - Vou ficar melhor assim que você me responder uma coisa.

  Espero ele falar, mas o mesmo fica quieto. Apenas levanta do sofá e se coloca na minha frente.

  - Vai falar ou eu vou ter que aprender a ler mentes? – reviro os olhos, tentando evitar o nervosismo, mas não consigo.

  - Já pensou no que eu te disse?

  - Hum?

  - Sobre nós. Mais que amizade, menos que namoro.

  - Não sei se é uma boa. Você vai querer muito mais do que eu posso oferecer. Tenho certeza de que você vai ficar bem mais satisfeito com uma puta qualquer aí. – passo reto por ele e começo a arrumar a sala, começando pelas latas e garrafas de bebidas. Sinto sua mão em minha cintura e não consigo nem argumentar, porque no segundo seguinte, ele me puxa para perto do corpo dele e deixa seus lábios a centímetros dos meus.

  - Uma puta qualquer não vai me deixar feliz como você me deixa. – ele sussurra, fazendo meus lábios formarem um sorriso sem o meu consentimento.

  - Nós precisamos arrumar isso tudo antes que seus pais cheguem. – tento sair de seu abraço, mas ele não me solta.

  - Eles não chegam hoje, Fernandinha.

  - Ah, não chegamos hoje, filho? – escutamos uma voz feminina tremendamente irritada.

  O Danilo não me solta, mas me coloca apenas envolvida por seu braço esquerdo.

  - O que estão fazendo aqui?

  A mãe e o pai dele são pessoas extremamente desprovidas de alguma emoção além de desapontamento e raiva. Dá para ver em seus olhos. Sua mãe é alta, tipo um e setenta metros, seu pai tem quase dois metros. Vestem ternos, o homem com calça, e a mulher com uma saia. Ela de azul, ele de preto. E ambos com uma mala de plástico, preta. Eles olham com desgosto para o apartamento bagunçado do Danilo.

  - Então você fez uma festa com essa garota. – a mãe olha para mim como se eu fosse um verme.

  - Essa garota tem nome. E ela se chama Fernanda.

  - Não me interessa.  

  - Senhora – começo, afastando-me do abraço do Danilo – esse apartamento é do Danilo, mas eu que fiz a festa. Ele não sabia de nada. Eu fiz enquanto ele estava na escola, da qual ele ficou até a noite, estudando com um grupo de colegas. E o meu apartamento não é propício para festas.

  - E por acaso eu direcionei alguma pergunta relativa a esse assunto para a sua pessoa?

  Velho, que senhora irritante.

  - Não senhora.

  - Ei, parem de tratar a Fernandinha desse jeito! O apartamento é meu, e eu não os convidei para entrar aqui e ficarem desrespeitando ela!

  - Olha como você fala com a sua mãe, Danilo! – o pai dele fala pela primeira vez, com uma voz raivosa.

  - Danilo, o que essa menina disse é verdade? Você deixou uma estranha qualquer fazer uma festa em seu apartamento sem o seu consentimento? – a mãe volta ao interrogatório.

  Olho para ele implorando para que ele fale sim, aí alivia as coisas para o lado dele.

  - Não. Ela está querendo me proteger. Eu que fiz a festa. E ela está me ajudando a limpar a sujeira.

  Ela me olha com desprezo.

  - Deixarei nossas malas aqui e voltaremos daqui a duas horas. Quero esse apartamento impecavelmente limpo e então, teremos uma conversa bem séria. – ela fala e então os dois saem do apartamento.

  - Não sabia que ela era tão chata. – resmungo enquanto volto a juntar as garrafas e latinhas. O Danilo solta uma risada forçada.

  - Você acabou de ter o desprazer de conhecer o motivo pelo qual eu virei o que sou.

  - Pelo o que você era.

  Ele sorri mais um pouco e me solta, mas continua olhando em meus olhos.

  - O que me diz?

  - Sobre?

  - Amizade com benefícios.

  Mordo o lábio e faço uma cara de duvida para provoca-lo. Mas eu sei bem a resposta.

  - Primeiro nós arrumamos o apartamento, depois eu te respondo.

  Emburrado, ele começa a limpar a sala, e eu a cozinha. Ligamos uma música alta que ambos gostam. Guns ‘N Roses.

  Conseguimos limpar tudo em tempo recorde. Estamos suados, obviamente, e exaustos. Corremos mais hoje do que qualquer outro dia. Enquanto o Danilo vai jogar o lixo fora, eu vou para o meu apartamento arrumar o colchão dele para levar ao quarto do Danilo.

  Assim que ele volta, olha para mim com uma cara triste, mas me ajuda a levar o colchão. Completamente cansados, deitamos na cama e respiramos fundo. Olho para ele e percebo que ele já está olhando para mim, com aqueles lindos olhos castanhos. Sinto minhas bochechas esquentarem.

  - Você topa? – ele pergunta com uma faísca de esperança na voz e nos olhos.

  - Só se você me prometer uma coisa.

  Ele se senta na cama e me faz sentar a sua frente.

  - Qualquer coisa.

  - Nada de forçar a barra. Eu só tenho quinze anos, não tô a fim de fazer certas coisas que talvez você queira fazer.

  - Beijar pode né?

  - Não. – falo ironicamente e reviro os olhos – Vai ser uma amizade colorida, mas sem beijos, ok? Só podemos dar as mãos e nos abraçar.

  Ele ri alto.

  Vejo seu sorriso aumentando e seus olhos brilhando. E no segundo seguinte, seus lábios são pressionados contra os meus.

  Minhas mãos se enroscam no cabelo encaracolado dele enquanto as dele ficam em minhas costas, puxando-me mais para perto dele.

  - Que cena bonita. Meu filho e uma garota qualquer se devorando na cama em que vamos dormir. – a mãe dele invade o quarto e começa a resmungar. O pai do Danilo olha para ele com descrença, e para mim, ambos olham com desgosto. Novamente.

  - Já ouviram falar de bater antes de entrar? – o Danilo pergunta completamente irritado.

  - Você é nosso filho. Não devemos satisfação a você. – o pai dele responde.

  - Podem nos dar um pouco de privacidade, por favor? – eu peço com o máximo de educação possível, o que não é muita coisa.

  - Não. Você, saia do apartamento do meu filho. Não quero meu filho se metendo com vadias. – a mãe dele me puxa pelo braço até eu sair do quarto do Danilo. O pai o segura na cama, de modo que ele não possa impedir as coisas.

  - NÃO CHAME A FERNANDINHA DE VADIA! A ÚNICA VADIA AQUI É VOC – o Danilo leva um soco do pai no rosto antes mesmo de terminar de falar. – Vão se foder. Os dois. Podem ficar nesse apartamento por quanto tempo quiserem, mas eu não sou obrigado a aturá-los. – dito isso, o Danilo escapa do pai e corre até a escada, que é onde eu e a mãe dele estamos. Ele me solta do aperto da mão da mãe dele e corremos até o meu apartamento.

  Seus pais tentam ir atrás de nós, mas nem desconfiam que nós estejamos no apartamento ao lado.

  - Fernandinha, desculpe-me pelos meus pais.

  - Tá tudo bem. – dou o melhor sorriso que posso.

  - Senhorita, eu e a Anne precisamos ir embora.

  - Ah, sim. Desculpe por te fazer esperar.

  O Lipe se despede da Anne com um beijo na bochecha e corre para a minha direção.

  - Já tá melhor, Fê? – ele pergunta e eu falo que sim. – E você, Danilo?

  - Eu tô bem melhor agora. Sua prima é uma ótima enfermeira.

  - Que bom! Fê, eu posso tomar banho de banheira hoje?

  - Pode sim, Lipe. Eu preparo o seu banho.

  Enquanto eu arrumo o banho dele, o Danilo separa o pijama do Lipe. Meia hora depois, o Lipe está vendo Bob Esponja.

  Vou para o banheiro e troco a água da banheira. O Danilo entra assim que eu começo a tirar a roupa.

  - Você realmente não conhece a palavra privacidade, né?

  - Não. Posso entrar na banheira com você? – ele parece bem estranho.

  - Pode.

  Eu estou vestindo uma calcinha rosa com bolinhas pretas e um sutiã preto com bolinhas cor de rosa. Ridiculamente infantil. Ele olha e sorri.

  - Adorei as bolinhas.

  - Cala a boca.

  Ele está de cueca box preta, como sempre. E está incrivelmente sexy. E com barba rala.

  Pego gaze e um sabonete neutro. Entramos na banheira juntos e eu me sento na frente dele.  Começo a limpar seu machucado. O soco do seu pai deixou seu nariz sangrando um pouco, e o lábio cortado.

  - Preciso desabafar uma coisa. Você fica muito gostosa nessa roupa de bolinhas. – a voz rouca dele me seduz e eu coro completamente.

  - Não vou amaciar seu ego falando o que fica sexy em você.

  Ele sorri.

  - Mas agora eu já sei que alguma coisa em mim me deixa sexy.

  Reviro os olhos enquanto ele sorri. Nossos lábios vão se aproximando mais e mais, até se juntarem. Ficamos nos beijando por longos minutos, mãos bobas a solta, risos, sorrisos, gemidos, mordidas... O beijo mais intenso de todos.

  - Ei, eu tô tentando dormir! – escutamos o Lipe resmungando e começamos a rir.

  Minha barriga dói de tanto rir e saímos da banheira, só então reparando no estrago que fizemos. Uma boa parte da água da banheira saiu e inundou o banheiro.

  - Meu... Isso foi muito bom. – ele sorri, o rosto corado e os lábios entreabertos.

  - Foi só um beijo, caramba! – reviro os olhos e ele me abraça por trás.

  - É um beijo com você. Isso muda tudo. – ele sussurra em meu ouvido e eu sorrio. Ele consegue ser fofo quando quer.

  - Exagerado.

  - Acredite no que quiser Fernandinha.

  Secamos o banheiro, esvaziamos a banheira e esperamos mais alguns minutos para sair do banheiro, enrolados na toalha. Corremos até o closet e fechamos a porta. Controlamos o riso o máximo que pudemos. Até parece que estávamos fazendo alguma coisa errada.

  - Vira. – eu peço enquanto começo a me secar.

  - Ah, qual é. Strip é bom para o coração!

  Reviro os olhos e o forço a se virar. Ele, relutante, faz o que eu quero e começa a se trocar também.

  Ô bunda sexy... Ele deve ter passado várias horas em academia pra deixar essa bundinha redondinha e durinha. Velho, ô cara gostoso.

  - Você fica me secando, mas eu não posso dar nem uma espiadinha? – ele pergunta virando um pouco a cabeça para trás.

  - Não mesmo! – empurro sua cabeça até ele estar sem nenhuma visão de mim.

  Coloco uma calcinha branca e um sutiã combinando. E então visto uma blusa do Danilo, uma de manga comprida com “Vodka 4ever” escrita na frente do blusão.

  O blusão tem o cheiro dele. Ele tem um cheiro delicioso. Ok, isso foi meio estranho. Pulo em suas costas e dou-lhe um beijo no pescoço. Seus pelos se arrepiam. Não sou a única que tem o pescoço como ponto fraco.

  - Na última vez que eu chequei, essa blusa era minha, sabia? – ele comenta, abrindo a porta do closet e caminhando comigo em suas costas até a sala.

  - Disse certo. Era sua.

  - E depois eu sou o folgado, né?

  Sorrio e deito no sofá com ele ao meu lado. Ficamos enrolados em um cobertor e ligamos a televisão.

  - Posso escolher o filme dessa vez? – peço.

  - Já não escolheu da outra?

  - Por favor... Você escolhe filme ruim!

  - Você escolhe filme chato.

  - Por favor... – faço beicinho e ele sorri. Entrega o controle para mim e me abraça forte. O filme que eu escolhi dessa vez foi Lol, um filme coma Miley Cyrus. Ele odeia a minha escolha, e passa o filme inteiro me beijando. Que coisa horrível... Sentiram a ironia, né?

  Já é madrugada, e eu ainda estou sem sono. Eu e o Danilo estamos toda hora nos beijando, e rindo, sorrindo, e tentando esquecer todo o resto. Só tentando. Sabemos que teremos que enfrentar seus pais uma hora ou outra, mas preferimos manter pensamentos assim, o mais distante possível.

  O despertador toca e ainda estamos acordados.

  - Olha como você me deixou, Fernandinha! – o Danilo aponta para o baixo e eu rio.

  - Ele parece bem animado.

  - Por que será, né?

  Solto uma risada estranha e ele sorri.

  - Vai lá acordar o Lipe que eu vou fazendo o leite dele. – falo, levantando-me do sofá e desligando a televisão.

  - Sim senhora. – ele resmunga, tentando esconder a excitação.

  - Sua avó pelada na sua cama imitando os movimentos do Kama Sutra com seu avô. – sussurro em seu ouvido.

  - O QUE? – ele berra com cara de nojo e eu rio.

  - Agora seu amiguinho voltou ao normal.

  - Porra, o meu pau encolheu tanto que nem vai dá pra encontra-lo.  – ele resmunga e faz uma careta fofa.

  Dou-lhe um beijo na bochecha e ele sorri.

  - Você vai me pagar por isso, Fernandinha.

  - Veremos.

  Uma hora depois, todos estão prontos para a escola e devidamente alimentados. Deixamos o Lipe na escola e fomos para a sala de aula, correndo para não perdermos o primeiro tempo de aula, que tem prova. Ele colou de mim a prova toda. Acho que eu tirei nove e meio. Na hora do almoço, o desaparece e então meu celular começa a tocar. Nenhum número conhecido, mas atendo mesmo assim.

  - Alô?

  - Boa tarde, eu estou falando com a atual responsável do Phelipe Ryouck? – um cara desconhecido fala.

  - Sim...

  - Aqui é o policial Thompson. Lamento informar de que a mãe do Phelipe Ryouck faleceu noite passada.

  - O QUE?

  - Senhorita, por favor, não berre.

  - Como assim ela morreu? Ela se matou? Ou alguém a matou?  

  - Ela foi encontrada morta dentro da casa dela, estamos fazendo uns testes para descobrir a causa da morte. A suspeita de suicídio é válida.

  Respiro fundo e prendo a vontade de chorar.

  - Senhorita, ela deixou uma carta ao filho dela, e deixou a guarda do filho dela para uma mulher chamada Fernanda Martin, você a conhece?

  - Sou eu.

  - Ah, que sorte a nossa encontra-la tão facilmente. Teria como você aparecer por aqui hoje?

  - Er, eu meio que tô em horário escolar agora.

  - Você é estudante? – o tom de perplexidade é evidente.

  - Sou. Mas isso não é empecilho quando se trata de cuidar do Lipe.

  - Ah, sim. Mas a sua idade é um empecilho de acordo com a lei.

  O sinal da hora do almoço toca, e o Danilo volta ao meu lado.

  - Senhor, ligue para mim a partir das três e meia, por favor. Eu preciso voltar à aula.

  - Ah, claro.

  - Quem era? – o Danilo pergunta assim que eu termino a ligação.

  - Um policial. A mãe do Lipe. Ela, ela, tá morta. – gaguejo com lágrimas nos olhos.

  - Puta merda. – ele resmunga enquanto me abraça forte e eu choro em seu peito. Ele me leva até o banheiro masculino que está vazio e nos tranca na ultima cabine. – Agora me conta o que diabo aconteceu?

  Conto detalhadamente sobre a conversa e controlo a vontade de chorar. Como contarei ao Lipe que ele não tem mais pais? E se eu não puder ficar com ele? Será que vão coloca-lo em um orfanato?

  - Fernandinha, vai dar tudo certo, você vai ver.

  Lavo o meu rosto e disfarço a cara de choro. Ele me dá um beijo na testa e voltamos à sala de aula.

  - Fê, a Anne e o John podem ir lá pra casa hoje? – o Lipe pergunta completamente animado. Olho para o Danilo, que faz que sim com a cabeça.

  - Pode sim, Lipe. Mas sem bagunça.

  - Brigado, Fê! – ele me abraça forte e segura a mão da Anne, que sorri lindamente. O John olha para os dois com um olhar meio estranho, mas no segundo seguinte, já está brincando e sorrindo com o Lipe, de tal forma que eu acho que eu imaginei o olhar estranho do John.

  Quando voltamos para o apartamento, a babá da Anne fica cuidando dos três amigos enquanto os mesmos brincam na sala e eu ligo para o policial. Deixo no alto falante para o Danilo escutar também.

  - Alô, é o Thompson?

  - Sim, quem está falando?

  - Aqui é a Fernanda Martin.

  - Ah, sim. Sobre o caso da morte da senhora Ryouck.

  - Já descobriram se foi suicídio?

  - Ainda não. E eu preciso que a senhorita venha para cá. E traga o filho dela.

  - Tá, mas hoje eu não posso leva-lo.

  - Por quê? Ele está com algum problema?

  - É que ele está brincando com os amigos, e eu não quero parar a diversão dele pra avisar que a mãe dele se matou e que ele precisa voltar pra casa dele e ler um bilhete que a mãe escreveu, sendo que ela o expulsou da casa dela depois que o pai dele morreu.

  - Puxa vida, ok. Então, venha só você, ou com algum responsável se preferir.

  - Sim senhor. Estarei aí o mais rápido possível.

  Desligo o celular e coloco alguma roupa quentinha e me despeço do Danilo, que contra a vontade vai ter que ficar no apartamento tomando conta dos pequenos, da babá e dos pequenos. O casal apaixonado e o amigo segurando vela.

  - Liga pra mim assim que você chegar lá, ou então manda um sms. – o Danilo pede enquanto caminha comigo até o ponto de ônibus.

  - Pode deixar. Tchau, Danilo. – me despeço enquanto entro no ônibus.

  A viagem foi rápida, até demais para o meu gosto.

  Entro na antiga casa do Lipe e encontro um policial conversando no celular. Ele é alto, loiro, pele clara, óculos escuros, trinta e poucos anos talvez, voz grossa e calma, sorriso fofo, barba feita.

  - Ah, eu tenho que desligar. – ele se despede da pessoa ao celular e sorri para mim. – Você deve ser a senhorita Martin.

  - Ah, sim. E você seria o Thompson, estou certa?

  - Certíssima.

  Ele caminha em minha direção e me entrega uma carta com respingos de sangue. Seguro pela ponta, sem tocar no sangue.

  - Essa é a carta que a senhora Ryouck deixou. A polícia já checou, e a única coisa que precisa ser revista é com quem o Phelipe vai ficar.

  - Ué, comigo.

  - A senhorita tem quantos anos? – ele olha para mim com a sobrancelha arqueada.

  - Quinze, mas-

  - Quinze anos. Ainda é uma criança. Precisamos de um adulto para cuidar do Phelipe.

  - Mas eu venho cuidado dele por alguns dias e está tudo indo bem. Minha família tem boa condição financeira de modo que dá para me sustentar, e sustentar o Lipe. E eu sou muito responsável e-

  - Tão responsável a ponto de deixa-lo com os amigos em casa enquanto vem para cá desacompanhada?

  - Segurança dele em primeiro lugar. Deixei uma pessoa de confiança cuidando dele. Além disso, tem uma babá com eles.

  - Quantos anos essa tal pessoa de confiança tem?

  - Por que isso seria importante saber? O Danilo cuida muito bem do Lipe.

  - Já percebi que ele também é menor de idade.

  Reviro os olhos. Ele ri.

  - Sabe, teria como eu ver o seu apartamento? Aí eu verifico se está apto para você morar lá e o Phelipe também. Se a sua moradia for boa, talvez eu consiga deixa-lo com você.

  - Tá.

  - Agora, que tal discutirmos sobre a razão para o Phelipe já estar com você? – ele se senta no sofá e eu me sento ao lado dele, meio metro à esquerda.

  - Bem... O pai dele morreu e aí a mãe entrou em depressão. O Lipe ficou um tempo comigo em Londres. Quando voltou, a mãe dele não o aturou por muito tempo. Acho que dois dias depois, ou talvez um só, ele me ligou, chorando. A mãe dele tinha o expulsado da casa, e ele estava faminto. Eu o tirei de lá e deixei um bilhete para a mãe dele explicando o ocorrido e com o meu número do celular. Ela nunca me ligou.

  - Entendi. – o celular dele toca, ele fica conversando por poucos minutos depois se vira para mim – Então, as nossas suspeitas foram confirmadas. A senhora Ryouck cometeu suicídio.

  Respiro fundo para controlar a vontade de chorar. Como diabos eu vou contar o Lipe que ele é órfão?

  - A senhorita está bem?

  - Pode parar de me chamar de senhorita, por favor?

  Ele sorri.

  - Qual seu nome então?

  - Fernanda.

  - Então, Fernanda, que tal você ler a carta da senhora Ryouck?

  Eu começo a ler.

  “Não consigo mais suportar. A ausência dele me mata aos poucos, e estar com o Phelipe torna tudo mais difícil. Por isso eu vou me matar. Quero meu corpo enterrado ao lado do corpo do meu marido. Meu filho está sendo cuidado por uma mulher chamada Fernanda Martin, e eu agradeço à ela por isso.  Quero que ela tenha a guarda do Phelipe, independente de qualquer coisa. Tudo o que eu tenho vai para o meu filho. E quero que falem à ele que eu o amo, e que sinto muito por tudo o que eu o fiz passar. Adeus.”

  Ele não fala nada, eu também não. Há pouco tempo atrás, a morte dela não faria nenhuma diferença para mim. Agora eu não consigo parar de pensar nisso, e em como o Lipe vai ficar triste.

  - Senhorita – ele começa, mas eu o olho com raiva. – Fernanda, - dou um meio sorriso – acho que é melhor irmos logo ao seu apartamento.

  Se fosse o Danilo falando, eu pensaria que ele quisesse sexo. Ai, não! Por que diabos eu tô pensando nele? E, eu tô sorrindo?! Merda!

  - Fernanda? Tá tudo bem mesmo?

  - Oi? Ah, sim, eu tô bem. Vamos logo, então.

  Pegamos um engarrafamento do caralho, quase duas horas no transito. E, para piorar, o meu celular está sem bateria. Ainda bem que o carro do policial tem rádio e ar condicionado.  

  Nós chegamos ao meu apartamento, eu mal abro a porta e o Danilo vem todo preocupado soltando perguntas, e só então, nota a presença do policial.

  - Quem é você? – pronto, o Danilo já está ciumento. Segura a minha mão e olha raivoso para ele. O cara apenas sorri ao ver nossas mãos unidas.

  - Eu sou o policial Thompson. Estou cuidando do caso da-

  - Não! – eu tapo a boca dele com a minha mão.

  - Fê, quem é esse cara? – o Lipe chega todo confuso, com a Anne segurando a sua mão. A babá se levanta do sofá, e nenhum sinal do John.

  - Oi Lipe. Esse é o Thompson, ele me ajudou a chegar até aqui por que eu me perdi.

  - Oi Thooom-pi-son – o Lipe se enrola ao falar o nome do policial.

  - Fernanda, eu e a Anne precisamos ir embora agora. Anne, dê tchau para o Lipe e vamos logo. – a babá fala meio emburrada.

  - Tchau, Lipe. – a Anne vai dar um beijo na bochecha dele, mas o Lipe também vai beijá-la e eles acabam se beijando na boca. Ambos ficam vermelhos que nem tomate, e o Danilo tá uns tapinhas nas costas do Lipe.

  - Mandou bem, pequeno.

  - Humpf. – a babá bufa e puxa a Anne para fora do apartamento.

  Assim que eu fecho a porta, o policial pede licença e senta no sofá. Essa é a deixa para o Danilo voltar a fazer suas perguntas. 


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