Os Opostos Se Atraem escrita por Lasanha4ever


Capítulo 10
Capítulo 9




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  - Por que não me ligou? Por que demorou tanto? O que diabos esse cara tá fazendo aqui? O que você descobriu?

  - Ei, relaxa. Acalme os nervos. – reviro os olhos.

  - Não dá pra relaxar quando você trás esse cara aí com você! Reparou que ele não tira os olhos de você? Quem diabos ele pensa que é?

  Rio do Danilo. Ele ciumento é muito fofo.

  - Eu te conto tudo depois. Que tal você levar o Lipe pra tomar banho?

  - Tá. – relutante, ele leva o Lipe até o nosso quarto.

  - Então, ele é a pessoa de confiança que você deixou junto com o Phelipe? – o policial pergunta se levantando do sofá.

  - É.

  - Ele parece bem... Protetor. Seu namorado?

  - Isso interessa?

  - Tecnicamente, sim. Se for o seu namorado, isso pode dar em brigas, ou até em cenas inapropriadas para o Lipe assistir, o que pode deixa-lo de um estado ruim.

  - Ah, claro. E morar em um orfanato onde ele não conhece ninguém é muito bom.

  - Bem, eu preciso saber a rotina de vocês, como funciona o andamento daqui. Essas coisas.

  - Ok. – resmungo – De manhã cedo nós vamos pra escola, voltamos de tarde, fazemos o dever de casa e brincamos um pouco. Depois ele toma o banho dele, janta, e fica vendo televisão até as dez. Normalmente ele dorme bem mais cedo. Aí eu tenho o resto da noite só para mim.

  - E, o seu namorado dorme aqui também?

  - Por um acaso eu falei que ele é o meu namorado? – o policial fica meio sem jeito. – Eu e ele somos amigos, e sim, de vez em quando ele dorme aqui.

  - Vocês dormem juntos?

  - Se dormir juntos estiver no sentido de deitar no mesmo colchão e dormir, sim.

  - E se eu estiver perguntado do outro modo?

  - Aí não é da sua conta, não acha? Mas, para qualquer efeito, eu e o Danilo tentamos ser o melhor exemplo para o Lipe.

  - E o Lipe já perguntou sobre a mãe dele depois que ele voltou para cá?

  - Hum... O Lipe perguntou o que é estar bêbado, aí explicamos que estar bêbado é quando você bebe demais, aí você age como se fosse outra pessoa. Então ele perguntou se a mãe dele estava bêbada. E falamos que sim. Só isso.

  - Entendi. Mas nenhum outro momento?

  - Não.

  - Ok, certo. Fale com o Phelipe sobre o que aconteceu. Segunda que vem eu volto com a resposta.

  - Que resposta? – o Danilo desde as escadas, sozinho.

  - Para ver se o Phelipe pode morar com a sua amiga, ou se ele vai para um orfanato.

  - Ele mora com a gente, não tem problema nenhum, né, Fernandinha?

  - Com a gente? Quer dizer que vocês moram juntos, é?

  O Danilo olha para mim como se percebesse o erro que cometeu.

  - Ele mora no apartamento ao lado, mas passa muito tempo aqui.

  - Sei... Então, ok. Qualquer coisa, algum imprevisto, ligue para mim. – ele me entrega um cartão com o seu número. – Eu voltarei na segunda com a resposta.

  - Ok, tchau.

  O policial vai embora e o Danilo respira fundo antes de voltar a fazer as mesmas perguntas.

  - Acabou a bateria do celular, depois eu peguei um engarrafamento pra vir pra cá.  O que aconteceu com ela foi suicídio, e eu virei a responsável por ele, mas o policial disse que só se ele visse onde eu moro e soubesse a minha rotina para ver se eu sou responsável o suficiente para cuidar do Lipe, mesmo sendo menor de idade.

  - Puta merda, e você acreditou nele, Fernandinha? Esse cara é um idiota. Veio com você só pra saber onde você mora e pediu a sua rotina para saber a hora que pode vir aqui te estuprar!

  - Maluco. – cantarolo enquanto subo as escadas.

  Ele sobe atrás de mim, tagarelando suas ideias mirabolantes de como o policial pode ser um estuprador.

  Primeiramente, livro-me das paranoias do Danilo, pego uma muda de roupa e vou para o banheiro. Escuto o Lipe conversando com o Danilo e começo a pentear o cabelo. Hoje não vou ficar na banheira, de modo que, se o Danilo entrar, vai dar de cara comigo no box de vidro, então vai ser bem tenso. E, para piorar a situação, não tem tranca no banheiro. Legal, né?

  Como sempre, o Danilo invade o banheiro já olhando para a banheira, mas não me encontra ali.

  - Poxa, um dia eu ainda vou entrar aqui e te ver totalmente sem roupa, Fernandinha.

  - Você já fez isso, idiota.

  - Ah, é. – ele dá aquele sorriso meio sapeca e começa a tirar a roupa, ficando só de cueca.

  - Tá fazendo o que?

  - Vou tomar um relaxante banho na banheira, algum problema? – fala inocentemente, enchendo a banheira e separando os sais.

  - Sim. Todos! Um pouco de privacidade é bom, sabia?

  - Mas aqui é onde nós temos privacidade, Fernandinha. O que conversamos aqui é algo que não podemos conversar em nenhum outro canto.

  - Mas você vai ficar espiando!

  - Não vou, Fernandinha. Todas as vezes que ficamos aqui, eu não fiquei espiando. Se bem que eu poderia já que certa pessoa ficou secando a minha maravilhosa bunda enquanto eu me vestia no closet... – ele repara no meu olhar ameaçador. – Mas eu não vou ficar olhando. Não mesmo.

  - Pode ficar de olhos fechados? Por favor.

  - Tá.

  Ele tira a ultima peça de roupa e caminha até a banheira, deixando aquela bundinha sexy dele onde eu possa ver.

  - Eu posso até sentir o seu olhar em minha bunda sensual, Fernandinha! – ele fala rindo e entra na banheira. Minhas bochechas esquentam.

  - Idiota!

  Viro e tiro a roupa. Entro no box e ligo a água quente até começar a fazer vapor. Os vidros ficam embaçados e eu relaxo.

  - Então, pode ir contando o que aconteceu, detalhadamente.

  Conto-lhe a história toda.

  - Você vai contar a ele?

  - Vou. Mas não sei como.

  Ele não fala mais nada. Acabo o meu banho, seco-me e visto meu pijama, uma calça de moletom cinza e uma blusa larga e fina do Domo, um bichinho de anime. O Danilo ainda está na banheira, com os olhos fechados, e o rosto franzido. Sento ao seu lado e fico brincando com seu cabelo.

  - Tenho permissão pra abrir os olhos agora?

  - Não. – ele faz biquinho e eu sorrio. – Tá, pode abrir.

  Os olhos castanhos dele estão estranhos. Ele tá me olhando de um jeito estranho. Sinto meu rosto corar e ele sorri.

  - Não quer me fazer companhia na banheira não?

  - Acabei de tomar banho.

Ele bagunça meu cabelo com suas mãos molhadas.

  - Ei!

  - Viu? Já tá toda molhada e com o cabelo desarrumado. Entra aqui na banheira, vai...

  - Você tá pelado.

  Ele bufa, veste sua cueca e volta a me olhar com aqueles olhos pedintes.

  Quero deixar bem claro que eu só entrei porque já estava irritando ele toda hora pedindo.

  - Sabe, é bom ficar assim com você. – ele sussurra enquanto me puxa para perto. Eu sento entre as suas pernas e apoio minhas costas em seu peito. O Danilo abraça a minha cintura e apoia a cabeça em meu ombro. Ele dá um daqueles suspiros melancólicos.

  - Fernandinha – ele fala depois de um bom tempo de silêncio.

  - Fala.

  - Temos um problema.

  - Mais um?

  - Meus pais já sabem que você mora aqui. E no colégio, naquela hora que eu sumi, foi por que meus pais estavam ali. Eles querem que eu vá morar no meu apartamento, e que fique bem longe de você, caso contrário, eu vou voltar para o Brasil. E eles já sabem da Bianca, o que piora tudo para a gente.

  - Mas, eles só vão ficar uma semana, né?

  - Não. Eles querem ficar aqui até o fim do período de aula.

  - O QUE?! – viro para olhar os olhos do Danilo. Ele está muito triste.

  - É... Mais três meses de tortura...

  - Porra, tô odiando seus pais.

  - Bem vinda ao meu mundo, Fernandinha.

  - Independente do que eles decidirem, nós vamos ficar juntos, ok?

  Ele dá um meio sorriso e beija meu pescoço.

  - Claro que sim. Ainda preciso de alguém que faça a minha comida.

  Sinto seu abraço mais forte e relaxo. Pode ser que hoje seja a ultima vez que ficamos assim. Não quero estragar com implicâncias. Apenas fecho os olhos e aproveito.

  - Boa noite, Fernandinha. – escuto a voz do Danilo, baixa e calma em meu ouvido, e sinto seus lábios em minha testa. Eu estou o sofá, devo ter dormido na banheira novamente. Sou envolvida por seu abraço e volto a dormir.

  Quando eu acordo, já não encontro o Danilo. Uma onda de tristeza me invade, mas eu tento controla-la. Eu estou com uma camisa dele, que eu tenho certeza de que não fui eu que a coloquei. Acordo o Lipe e preparo o leite dele. Cinco minutos depois, entra um Danilo cabisbaixo. Atrás dele, os seus pais.

  - Danilo, quem sãos eles? – o Lipe pergunta, escondendo-se dos olhares assustadores dos pais do Danilo atrás de mim.

  - Não me diga que essa vadia tem filho? – a mãe do Danilo reclama.

  - O que é vadia? – o Lipe me pergunta completamente inocente.

  - Uma palavra muito ruim. Vem, Lipe, eu te levo para o colégio.

  - Fernandinha, eu vou ficar aqui com eles. Você vai pra aula?

  - Não, eles vieram para o meu apartamento por uma razão, e mesmo me desrespeitando, eu vou conversar com eles. – olho de soslaio para os pais. Ambos olham com desgosto para mim e para o Lipe. – Volto em dez minutos.

  Levo o Lipe para o colégio e o asseguro que tudo vai ficar bem. Volto correndo para o apartamento e encontro o policial Thompson no caminho. Ele tem novidades sobre o caso da guarda do Lipe.

  - Ok, ok. Que tal me contar isso no caminho do meu apartamento? Eu meio que tô atrasada!

  Subimos o elevador enquanto ele contava desde o início, com todas as pessoas que precisou falar. Quando chegamos ao meu apartamento, ele ainda estava no meio da história. Abro a porta e encontro os três discutindo.

  - Hum, Danilo, são nove da manhã, deixa os vizinhos dormirem, ok? – peço enquanto o afasto dos seus pais. O Thompson entra no apartamento atrás de mim, assustado os pais do Danilo e irritando profundamente ele.

  - O que ele tá fazendo aqui?

  - Não fique irritado. Ele veio me dar notícias sobre a guarda do Lipe.

  - Então ele é mesmo o seu filho, sua vadia? – a mãe do Lipe berra na minha cara. O Thompson se coloca a minha frente.

  - Se a senhora não sabe a história, não faça comentários. Se continuar assim, eu consigo te colocar na cadeia.

  - Se afaste da minha esposa agora, ou as coisas vão ficar feias para o seu lado.

  O Thompson se afasta e me guia até a escada. O Danilo nos segue.

  - E você se afaste da minha Fernandinha. – o Danilo resmunga, puxando-me para perto dele, e para longe do Thompson.

  - Sua Fernandinha? – pergunto a ele com a sobrancelha arqueada.    

  - Ah, você entendeu, né?

  Reviro os olhos e volto a olhar para o Thompson, que olha para nós com um sorriso escondido em seus lábios.

  - Quer parar com o suspense e falar logo que o Lipe vai morar aqui ou se vai para o orfanato? – imploro com o coração batendo a mil.

  - Eu consegui fazer com que ele morasse aqui, mas-

  Ignoro o resto da explicação dele e abraço o Danilo fortemente.

  - E então eles me colocaram para supervisionar o Lipe. Consequentemente, eu terei que morar aqui. – escuto-o falando e me afasto do Danilo.

  - O que você disse? Você, morar aqui, comigo? Nem pensar!

  - Fernandinha, esse cara não vai morar aqui nem por cima do meu cadáver, fica tranquila.

  - Bem, caso não estejam satisfeitos com isso, que tal colocarem o Phelipe em um orfanato e nunca mais me verão? – ele responde ríspido, mas então, se acalma – Se quiserem, vocês podem ir à delegacia falar com meu chefe. Foi ele quem me mandou fazer isso. Eu posso leva-los até lá se quiserem.

  - Alguém pode me dizer quem é aquele menino? – o pai do Danilo pele, já exaltado, com a esposa ao seu lado.

  - Thompson, espera dez minutos lá fora, pode ser? – peço, enquanto o levo para fora do apartamento.

  Assim que fecho a porta, os pais do Danilo começam a falar.

  - Podem começar contando a história toda, crianças. – o pai dele fala, irritando-me completamente.

  - Não sou criança. E não sou obrigada a contar tudo para vocês.

  - Que falta de educação!

  Reviro os olhos e me controlo. O Danilo também não está nem um pouco feliz com seus pais aqui.

  - Além de me desrespeitarem, por qual motivo vieram aqui? – pergunto ríspida.

  - Quero saber quem é a garota que fez com que meu filho fugisse de casa para ficar com ela. Particularmente, não acho que você seja nem um pouco especial. Apenas uma aproveitadora, querendo o dinheiro da minha família e ainda por cima, com um filho!

  Respiro fundo.

  - Quer que eu conte, ou você conta, Fernandinha? – o Danilo sussurra em meu ouvido.

  - Pelo amor de Deus, não me diga que o filho é seu, Danilo! – o pai resmunga, massageando as têmporas.

  - Porra, deixa-me explicar antes de começarem a pensar idiotices? – berro, deixando-os calados. O Danilo segura a minha mão. – Eu tenho quinze anos, o Danilo dezesseis. O Lipe tem sete, então eu teria que ter oito anos para engravidar e ter o Lipe, o que é praticamente impossível. E mesmo se eu já pudesse engravidar aos oito, eu só conheci o Danilo aqui em Londres! Porra, o Lipe é o meu primo, seus mongóis! – abaixo o tom de voz. – Ele perdeu o pai há um mês mais ou menos, a mãe entrou em depressão, e ele veio morar aqui. Poucos dias atrás, a mãe foi encontrada morta com uma carta. Nessa carta, ela pede que eu tenha a guarda do Lipe, por isso o policial. Ele está cuidando do caso. Mais alguma merda de dúvida seus, seus-

  - Tudo bem, Fernandinha. – o Danilo sussurra, limpando uma lágrima que escorreu sem querer do meu olho. – Vocês dois, se chamarem a Fernandinha de vadia, ou puta, ou qualquer coisa parecida, eu juro que nunca mais falo com vocês. Sumo do mapa e vou para um lugar onde nunca me encontrarão.

  - Oras, se era essa história, por que não nos disse antes? – a mãe dele pergunta, com o nariz empinado. – Ao invés de ficar se atracando com o meu filho.

  - POR QUE NÃO É NA PORRA DA CONTA DE VOCÊS! – berro e me levanto do sofá, raivosa e incontrolável. – DESDE O INÍCIO VOCÊS VEM ME XINGANDO COMO SE TIVESSEM ALGUM DIREITO DISSO! DESDE O INÍCIO VOCÊS ACHAM QUE EU SOU IRRESPONSÁVEL E VADIA SÓ POR ESTAR JUNTO O DANILO! POIS SAIBAM BEM QUE NÃO SOU. E O FILHO DE VOCÊS TAMBÉM NÃO É! ELE MUDOU, E MUITO, MAS VOCÊS NÃO VEEM ISSO. VOCÊS SÓ VEEM O QUE QUEREM, NÃO É MESMO? DEVEM TER PRAZER EM CRITICAR OS OUTROS! EU NÃO SAIO POR AÍ CONTANDO A MINHA VIDA PARA PESSOAS COMO VOCÊS! E PUTA MERDA,TEM COMO COLOCAR NA SUA CABEÇA DURA QUE EU NÃO ESTOU COM O DANILO PARA PEGAR DINHEIRO DA SUA FAMÍLIA?

  - Não precisa berrar garota. – o pai dele fala, com o nariz igualmente empinado como a esposa.

  Reviro os olhos.

  - Só para esclarecer. A Fernandinha vem de uma família rica igual a mim. A diferença é que, além de rica, ela é muito inteligente, responsável, e ela é a razão por eu ter mudado tanto. Vocês reclamam que eu fiz o que, três festas em quase três meses? Se eu não tivesse conhecido a Fernandinha, seriam três festas a cada semana! – o Danilo se levanta e fica ao meu lado, passando o braço em minha cintura.

  - Quer saber, não adianta nada falarmos com eles, Danilo. Eu vou lá falar com o policial sei lá das quantas. Você vem comigo?

  - Claro. – ele se vira para os pais – E vocês dois não vão ficar aqui. Que tal pegarem o primeiro avião de volta para o Brasil? Cuidem do filho que terão e me deixem aqui para viver a minha vida. Eu não vou ser uma marionete de vocês. Espero que quando eu voltar, não os encontre mais aqui. Eu sei que vocês não querem ficar aqui, então nem precisam se esforçar tanto.

  Seus pais nem discutiram. Saíram irritados do meu apartamento e foram para o do Danilo.

  Enquanto descíamos para o estacionamento, noto-o calado, até demais para o meu gost.

  - Fala logo o que você tanto pensa. – peço.

  - É que, eu não tô muito de boa com aquele cara morando na sua casa.

  - E por que você acha que ele vai morar lá?

  - Ah, qual é, Fernandinha, eu sei que você não vai abrir mão do Lipe, e nem eu quero que ele vá para o orfanato. Portando, a outra opção é ter o policial morando na sua casa. Como eu vou mantê-lo afastado de você desse jeito?

  - Ele é um policial, Danilo. Não um estuprador viciado em drogas a espera de um momento sozinho comigo.

  - Rá, rá. Como você é engraçada, - ele resmunga.

  Pegamos carona com o Thompson, todos calados. Eu e o Danilo nos sentamos no banco traseiro com as mãos entrelaçadas. Ele está nervoso, e eu ainda mais.

  Na delegacia, o chefe do Thompson se mostra impassível. Ele fala que o Thompson é um policial de confiança, ao contrário de mim, que sou uma adolescente brasileira e posso ser incapaz de cuidar de mim e do Lipe. Sendo assim, o Thompson precisa morar comigo até ter certeza de que eu sou qualificada para cuidar do Lipe. Merda.

  Saímos de lá, o Thompson nos deixou na escola e falou que ia buscar as coisas dele para se mudar. Eu o Danilo esperamos a aula acabar sentados no meio fio, em silêncio. Não tínhamos nada a falar.

  - Fê! – o Lipe está com uma voz chorosa e me abraça fortemente.

  - O que aconteceu, Lipe? – pergunto enquanto o Danilo pega a mochila do Lipe e o pega no colo.

  - Danilo, o que eu faço quando tentam roubar a minha garota?

  - Boa pergunta, Lipe. Tô procurando essa resposta também.

  - Quem é a sua garota? – pergunto confusa.

  - A Anne.

  - Que fofo! Os dois com ciúmes!

  Ambos fazem bico.

  - Isso não tem graça, Fernandinha. Vocês, mulheres, nos deixam loucos.

  - De nada.

  - Mas me conta Lipe, quem tá querendo roubar a sua garota? – o Danilo pergunta enquanto voltamos a caminhar em direção ao ponto de ônibus. 

  - O John. Ele beijou a Anne bem na minha frente! – o Lipe fala com os olhos cheios de lágrimas.

  - Mas eu pensei que vocês fossem amigos, por que ele fez isso? – o Danilo pergunta.

  - Ele disse que ama ela, e que não gosta de ver a Anne comigo. Eu odeio o John!

  - Não odeia não. Você é novo demais para odiar alguém. Mas, o mais importante de tudo isso é a reação da Anne. – o Danilo continua, deixando o Lipe no chão, segurando a mão dele.

  - Bem... A Anne correu dele e veio para o meu lado, e me abraçou. Depois disso o sinal tocou, a babá levou a Anne pra casa, o John saiu correndo e eu fui pra perto de vocês.

  - Fica tranquilo, Lipe, ela tá gostando de você, não do John.

  - Sério?

  - É simples perceber. Se ela correu para você e não veio falar que prefere o outro cara, ela tá curtindo você. Se ela não vier, ou vier e falar que prefere o outro cara, ela é dele. Fala com o John, tenta entender por que ele fez aquilo.

  - Se é simples, como você ainda tá procurando respostas? – provoco-o.

  - Fernandinha, o meu caso é meio complicado.

  - Complicado como? – o Lipe pergunta completamente inocente.

  - Olha, chegamos. – ele disfarça e voltamos para o meu apartamento. Seus pais não estão mais, o que é bem melhor.

  Faço miojo para nós e o Lipe começa o dever de casa com o auxílio do Danilo. Comemos em silencio. O Lipe ainda está meio bolado com o John, e o Danilo ainda está bolado com tudo o que está acontecendo. E eu não posso contar ao Lipe que sua mãe se matou. Mas não posso adiar isso porque o Thompson vai ficar por aqui uns dias, e o Lipe vai desconfiar.

  - Danilo, eu posso brincar no seu apartamento? Lá tem Xbox. – o Lipe pede todo manhoso, e deixamos.

  Ligo para o Thompson logo em seguida e aviso que ficarei com a guarda do Lipe, e que ele pode passar o tempo necessário no apartamento, mas que teria que dormir na sala. Ele não se incomodou muito com isso. Quem se incomodou foi o Danilo. Já que seus pais não pretendem sair daqui por um bom tempo, eu e o Danilo nos veremos muito menos, e ele não vai mais dormir no meu apartamento. O Thompson vai, e isso significa que ele vai passar mais tempo comigo do que o Danilo.

  - Fernandinha, aonde você vai? – o Danilo pergunta assim que eu desligo o celular e caminho para fora do apartamento dele.

  - Tenho que ajeitar as coisas lá pro Thompson. Ele disse que chega hoje à noite.

  O Danilo faz bico, mas me segue para eu arrumar as coisas.

  Enquanto o Lipe brinca no apartamento do Danilo, arrumamos o meu apartamento. Para o Thompson. Tudo o que é o de nós três e estava na sala, colocamos no meu quarto. Arrumamos o banheiro do primeiro andar e demos uma geral na cozinha. Como isso cansa! Um tempo depois, o Lipe vem para cá. O Danilo coloca o Lipe para tomar banho e eu separo um travesseiro e cobertores para o Thompson.

  Enquanto eu tomo um banho relaxante na banheira, o Thompson chega. O Lipe já deve estar fazendo o dever de casa, portanto é o Danilo quem está aturando o policial.

  Cinco minutos depois, acaba o meu momento privado.

  - Posso entrar? Não suporto mais aquele cara. – o Danilo abre a porta e coloca a cabeça para dento do banheiro.

  - Cadê o Lipe?

  - Já tá dormindo na sua cama.

  - E o Thompson?

  - Mandei-o ficar na sala. Ele tava escrevendo alguma coisa.

  - Tá, pode entrar, mas não olha pra mim!

  Ele entra de olhos fechados e senta ao lado da banheira, com as costas apoiadas aqui. E então suspira longamente, como se estivesse muito cansado.

  - Sabe, meus pais acabaram de me ligar. Eles estão voltando para o Brasil. E, a partir de hoje, eu não sou mais filho deles. – ele disse a ultima frase com uma voz meio melancólica.

  - Que merda. A culpa é minha, né? Eu sinto muito, Danilo.

  - O que? Não, Fernandinha! Você entendeu errado... – ele se vira para mim, mas percebe seu erro a tempo e volta para a posição inicial. – Eu estou contente por ter me livrado deles, sabe? Nunca os considerei meus pais. Agora, a única coisa que eu tenho deles é... O sobrenome.

  Agora eu estou confusa.

  - Mas, por que a cara triste então?

  - Tá tão aparente assim? – ele faz uma pergunta retórica – É que, eles tiraram toda a grana que eu tinha. Tô completamente pobre. E tiraram o meu apartamento também. E eu só tenho um ano na escola, o resto não está pago.

  - Puta merda.

  - É.

  Ele fica em silencio e eu sorrio. Sei exatamente o que fazer.

  - Sabe, é mesmo uma pena que você não tenha uma amiga tão boa e rica que vai te ajudar com a grana...

  - Não, não, não, Fernandinha. Não vou torrar o dinheiro da sua família.

  - Não vai mesmo. Por enquanto, eu gasto o meu dinheiro, mas você vai ter que trabalhar pra me pagar de volta, tá pensando o que?

  - Você vai ter que esperar um pouco pelo dinheiro de volta. Eu não vou arranjar nenhum emprego enquanto esse cara estiver aqui. – ele fala enciumado.

  - Tá, não precisa me pagar no dia seguinte. Fica tranquilo.

  Ele se vira, mas olha apenas para os meus olhos. Tento juntar a maior quantidade de espuma para ele não conseguir ver nada a mais.

  - Faria isso por mim? Sério?

  - Você faria o mesmo por mim, não é mesmo?

  Seu sorriso aparece e ele me abraça forte. Abraço-o de volta, completamente sem jeito. Meus peitos estão molhando a blusa dele.

  - Isso é muito gostoso. – ele sussurra com a voz rouca, maliciando tudo.

  - Sai de perto, safado! – empurro-o para longe.

  - Só falei a verdade, ué. – sua cara de inocente não repele a de safado.

  Reviro os olhos, o que o faz rir. Volto a relaxar na banheira e ele tira a roupa e entra no box na maior naturalidade do mundo.

  Claro que não pude evitar admirá-lo, suas costas musculosas, sua bundinha sexy, enfim...

  - Sinto que estou sendo observado – ele brinca, fazendo-me enrubescer.

  - idiota.

  Ele ri de um jeito tão alegre que eu sorrio. Ficamos em silencio o tempo todo, mas, de alguma maneira, o silencio era a melhor escolha. Mais reconfortante que qualquer diálogo.

  Mas, como a lei de Murphy existe, logo vem alguém bater na porta.

  - Hum, senhorita Martin, eu preciso falar com o seu amigo, sabe onde ele está?

  - Eu tô aqui, cara. O que foi? – tenho a leve impressão de que o Danilo queria que o Thompson soubesse que ele está aqui comigo.

  - Tenho algumas perguntas para você também. E outras para o Phelipe.

  - Tá, volta pra sala que eu já vou.

  - Certo. Ah, e senhorita Martin?

  - Oi.

  - Não é irresponsabilidade a sua estar com um homem no banheiro enquanto o Phelipe está dormindo no outro lado da porta?

  Reviro os olhos.

  - Você é quem está imaginando coisas. Se o Lipe acordasse e viesse para o banheiro, não veria nada de mais.

  - Isso quer dizer que eu posso entrar para comprovar?

  - Não! – eu e o Danilo berramos em uníssono. Saio da banheira e me enrolo na toalha. O Danilo desliga o chuveiro e começa a se secar enquanto procura alguma roupa para vestir.

  - Estou entrando... – o imbecil avisa enquanto a porta é aberta lentamente.

  O Danilo se joga contra a porta, fechando-a e por fim, trancando. Escuto a risada do policial e então, o barulho de seus passos, cada vez mais distante.

  - Filho da puta. – ele resmunga mal humorado enquanto sai do banheiro com a toalha enrolada na cintura, já que não achou nenhuma roupa limpa, ou seca, no banheiro.

  Enrolo-me na toalha e vou para o closet, onde o Danilo também está. De costas para mim. Totalmente sem roupa. Totalmente sexy.

  - Eu consigo sentir você me olhando, sabia? – ele provoca enquanto olha de canto de olho para o meu rosto vermelho de vergonha.

  Desvio o olhar e visto uma roupa decente sem deixar o Danilo espiar. Ele não gosta tanto assim.

  Estou um uma calça azul de moletom e uma blusa de manga comprida, branca. O Danilo está só com uma bermuda cinza e a cueca box preta. Fomos até a sala onde recebemos um olhar de escárnio quem nos irrita profundamente.

  - Posso começar as perguntas?

  Foram exatamente vinte perguntas. Metade delas, ele perguntou sobre a relação do Danilo comigo, se éramos apenas amigos, se o Lipe tá confortável com isso, se nós moramos juntos, coisas assim. As outras dez foram bem diversificadas. Desde: “Você se considera apto a cuidar de uma criança, sendo que ainda á um adolescente?” até “Qual a sua relação com o Phelipe? São amigos, ou você é como um irmão mais velho dele?”.  Essa ultima, o Danilo demorou a responder, e o Thompson deu um sorrisinho imbecil para nós e nem pediu que o Danilo respondesse.

  Deixamos a sala logo em seguida, fomos para o quarto e fizemos uma cama arranjada com alguns cobertores dobrados no chão. Desconfortável, mas suportável. Ele me abraça e então, dormimos. De conchinha. Novamente. E a cada dia que passa mais eu sinto que nossos corpos são totalmente proporcionais para dormirmos juntos.

  


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