Dimitri estava sério de repente, emoções diversas passavam por seu rosto, uma delas me pareceu a que mais prevalecia. Dor. Seus olhos estavam a todo momento hesitando os meus. Ele sabia que de certo modo nós conseguíamos entender um ao outro de forma até mesmo assustadora. Eu sabia que não deveria forçar tal assunto vendo o que lhe causava. Mas sinceramente eu não queria acreditar que Nathan estivesse certo a seu respeito. Não se passava na minha mente que Dimitri pudesse talvez ser o cara mau da história. 

- Por onde começo? -Dimitri disse, era uma pergunta mais para ele do que para mim. -Não sou filho único, na verdade tenho três irmãs.

Notei que por um breve momento ele estremeu na ultima palavra. O que ele estava me escondendo? 

- Meus pais são uma historia mais diferente. Meu pai era alguém que podemos chamar de irresponsável, eu te contei um pouco sobre ele. -pude ver o ódio nos olhos de Dimitri ao se lembrar do pai. -Ele trabalhava e se relacionava com pessoas pesadas. Achou que nunca seria pego, mas acabou que no final teve que pedir ajuda de Nathan para poder sobreviver e deixar a família fora de suas brigas ridiculas.

Continuei observando Dimitri, em certo momento reparei que ele mudou de assunto sobre suas irmãs. Até que ele estava se saindo bem, eu sabia que ele estava sendo sincero, dava para perceber bem, não sei porque, mas uma parte de mim conhece Dimitri melhor do que penso. 

-Minha mãe Olena é uma mulher incrível, eu simplesmente não sei como defini-la. -seus olhos tinham agora um brilho de pura adoração, e um sorriso se formava em seus lábios. -Morei com ela, minhas irmãs e minha avó. Yeva. -ele sorriu mais amplamente ainda -Ela mexe com coisas de bruxaria e essas coisas misticas, que é como ela fala. Fiquei com elas por bastante tempo, mas então... 

Ele parou de falar e encarou o chão pensativo, vi seus punhos se fecharem fortemente e então ele olhou para meu rosto e vi um resquício do que parecia ser arrependimento.  

-O que aconteceu Dimitri? 

-Nada Rose. Acho que esta bom por enquanto... -ele tentou dar um sorriso forçado- Você deve estar se perguntando como consegui ficar em uma casa cheia de mulheres, não é? 

Dimitri não era do tipo de ter bom humor do nada, ou se quer de tentar desconversar. Por que esta fazendo isso agora? Eu não pude esconder minha raiva por ele não confiar em mim. Ele abaixou a cabeça e passou as mãos no cabelo. Dei um suspiro cansada e me levantei. 

-Não tem mais nada para me contar, camarada? -ele apenas balança a cabeça negativamente, ainda sem conseguir me encarar, eu reviro os olhos e me aproximo dele, coloco uma mão em seu ombro e sussurro. -O que quer que tenha acontecido... Não se preocupe, tudo dará certo no final. 

Saí do quarto, mesmo que fosse meu é claro. Tinha que ter um tempo sozinha. Liguei para Lissa mesmo sabendo que a essa hora ela estaria dormindo, mas gostaria de falar com minha melhor amiga agora. Demorou um pouco mas ela finalmente atendeu. Sua voz estava embargada e eu sabia que ela estava dormindo. 

-Ah, oi Rose. Espera um pouco. -alguns segundos depois ela volta- Pronto amiga. Esta tudo bem? 

-Não muito. O que estava fazendo que pediu pra eu esperar? -ela demorou a responder dessa vez e percebi que sorria timidamente. 

-Bom, estava dormindo com o Christian. 

-Hei, tudo bem, não quero saber dos detalhes sórdidos. Argh. 

Lissa deu um risada baixa e então percebi que meus olhos estavam cheios d'água. Dei uma fungada tentando controlar minhas emoções, mas eu sabia que não poderia esconder por muito tempo. 

-Rose? O que foi? Está chorando? 

-Não, sim... Quer dizer... não sei mais o que esta acontecendo. -eu estava na sala jogada no sofá e encarando o teto, era como se a solução pudesse cair em cima de mim a qualquer momento.    

-Me diz o que te deixou assim amiga? -notei que ela estava mais preocupada, até por que eu nunca chorava, a menos que a coisa estivesse bem feia. 

-Muitas coisas acontecendo e estou com medo, não quero acreditar no que Nathan disse. Mas depois do jeito que Dimitri estava quando perguntei para ele sobre me dizer mais sobre... Ah Liss, eu estou com receio, e se aquele loiro estupido estiver certo afinal? Se Dimitri não for a pessoa que eu acho que é? 

Eu joguei tudo para Lissa, sabia que não era bom fazer isso, até por que nem era problema dela, mas eu não podia falar essas coisas para qualquer um. Precisava dela agora. Tudo o que estava preso na minha garganta, do jeito. Aquele nó no estomago por talvez ser verdade o fato de que o homem que amo não é quem eu penso ser. 

Fechei meus olhos forte, como se tudo a minha volta desaparecesse. Quando foi que minha vida virou de cabeça para baixo mesmo? 

-Oh Rose, não fique assim. Nathan não pode ter razão, talvez Dimitri estivesse apenas achando tudo estranho, da para notar como ele é fechado. Mas não pense isso dele, tente entender seu lado. O que quer que possa ter acontecido ou esteja acontecendo, ele deve ter um bom motivo para isso. 

Lissa tem razão, sei disso. Mas alguma coisa dentro de mim dizia que tinha algo maior, uma coisa que estivesse longe do alcance dele ou do meu, não sei. Preciso ter mais pistas. 

-Obrigada Liss. -eu consegui sorrir, um sorriso sincero, algo que só poderia ser dado em uma circunstância tão ruim. Era o tipo de coisa que Lissa conseguia fazer comigo. -Você sempre me deixa melhor. 

Tenho certeza que ela estava sorrindo agora. -Eu estou sempre aqui Rose, não se preocupe. Ahhh....-ela deu um pequeno grito que me fez afastar o celular do ouvido de susto. -Tem uma festa para ir na casa de Tatiana. Por que não vem junto? 

Claro! Como poderia ter me esquecido do meu plano com Adrian? Bem que ele disse que Lissa faria isso. Estava tudo quase planejando, eu teria que deixar Lissa fora dessa, não me perdoaria se algo acontecesse a ela ou a qualquer um dos meus amigos. 

Ficamos no telefone por quase meia hora, Liss me contou que a festa seria no final de semana. Depois falamos sobre roupas, como ela estava e outras coisas. Voltei para meu quarto e Dimitri não estava mais lá. Deitei  na cama e dormi profundamente. Mas por algum momento eu juro que senti alguém passar a mão em meu rosto, mas estava tão exausta físicamente como psícologicamente que não tinha forças para acordar direito ou se quer abrir os olhos. 

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Pov Dimitri.

Depois que Rose saiu do quarto eu me levantei e dei um soco na cama, sabia que se fizesse isso na parede o barulho seria desagradável e também estava muito tarde para barulhos. Pensei que seria melhor treinar ou simplesmente tentar dormir, não queria olhar e ver Rose de novo, não hoje. Não conseguia olha-la nos olhos a depois de tudo. Por que eu estava fazendo tudo aquilo mesmo? Talvez pelo fato de... não, eu preciso acreditar que Yuri conseguirá resolver isto e talvez eu possa largar isso e finalmente ficar com a minha Roza sem sentir culpa a todo instante que olhar para ela. 

Yuri estava para volta esse final de semana e por todo esse tempo eu não havia tido noticias dele, espero que esteja tudo bem. 

Enquanto voltava para o quarto que por acaso era no andar de cima do quarto de Rose, eu pude ouvir um eco vindo da sala. Rose estava conversando com alguém ao telefone, não pude ouvir nada e muito menos estava com vontade de tentar ouvir.  Já chega por hoje. Preciso de um tempo sozinho, tomar banho e cair na cama. Como eu gostaria que no dia seguinte tudo já houvesse sido resolvido. Mas não estou em um contos de fadas, sei o que Roza me disse, sobre que tudo ficará bem, eu acredito nela, mas por enquanto eu não posso me dar ao luxo de ter a ilusão que é só Rose quem esta em perigo e o resto já foi feito com a melhor solução possível. 

Horas se passaram e meu sono não chegava, não importa o que eu fazia em meu quarto, as palavras de Rose voltavam em minha cabeça e fazia tudo dentro de mim revirar. "O que quer que tenha acontecido, não se preocupe... Tudo dará certo no final." Enquanto ela dizia aquilo para mim, eu percebi que era sincero, um conselho dado por alguém que esta em uma posição tão ruim quanto a minha.  

Virava de um lado para o outro e nada de conseguir dormir, olhando para o relógio percebi ser quatro da manhã ainda. Desisti de qualquer tentativa falha de adormecer e fui para o único lugar que eu sabia que poderia acalmar meus pensamentos ou apenas piora-los, mas de alguma coisa iria me ajudar a pensar.

Andei silenciosamente pelo corredor do segundo andar até chegar em frente a porta do quarto de Rose, sabia que estava dormindo, ela estava exausta, era obvio isso em seu olhar. Me machucava saber que eu era responsável por tal coisa. Eu gostaria muito de ficar ao lado dela e contar tudo, mas infelizmente estava fora de alcance contar para Rose. 

Entrei no quarto e a tranquei atrás de mim, não iria arriscar de alguém chegar e me pegar dentro do quarto de Rose a olhando dormir.

Em pé do lado da cama fiquei velando o sono de minha Roza. Ela parecia um anjo ali, uma garota como ela, a qual passou por tanta coisa e ainda sim conseguia sorrir para seus amigos, conseguia se erguer apesar das coisas ruins acontecendo a todo instante com ela. Sua expressão calma e serena me fazia sorrir. Imaginar que um dia me apaixonaria por ela estava fora de cogitação, mas desde que a conheci, desde o dia em que toquei em sua mão para lhe cumprimentar, desde o dia que vi sua foto, eu sabia que as coisas iriam mudar, mas não podia dar o braço a torcer que isso iria vir a acontecer. 

A coberta estava por cima de seu corpo até chegar na cintura, deixando sua camiseta larga a mostra, ela respirava calmamente, olhos fechados e parecia estar sonhando, mãos dos lados da cabeça e com certeza era a cena mais linda que já vi na vida.   

Não pude conter minhas próximas ações. Sentei-me ao seu lado da cama e então acariciei seu rosto, a pele dela era lisa e macia, tão perfeita quanto ela. Minha Roza, como eu queria ter lhe conhecido antes... Como a vida pode ser tão injusta e cruel dessa maneira? Era a pergunta que eu mais me fazia ultimamente, sem resposta é claro. 

Depois do que pareceram horas ali, notei os raios do amanhecer passarem pela janela, iluminando o quarto. Percebi que estava na hora de sair dali, mas não queria. Estava perfeito por enquanto. Ela se mexeu poucas vezes durante a noite. Fico feliz que pelo menos durante seu sono, ela tinha paz.

Chegando ao meu quarto sabia que ainda sim não conseguiria dormir, por isso tratei de descer e comer algo na cozinha. Ao chegar lá dou de cara com Stan Alto parado encostado ao balcão tomando uma bebida que ao meu ver, parecia vodka.

-Bom dia guardião Alto. -falei sem transparecer nenhuma emoção.

-Bom dia. -ele deu uma pausa e tomou o resto de sua bebida em uma golada só. Logo depois se aproximou de mim, que no caso abria a geladeira para pegar o leite. -Gostaria que soubesse de uma coisa guardião Belikov.

Levantei uma sobrancelha desconfiado e perguntei. -O que seria?

-Eu sei o que esta havendo e pode ter certeza, Rose não será a próxima. Prometi a Janine que a protegeria e não vou deixar você interferir em minha promessa. 

Ele saiu da cozinha sem dizer mais nada. Fiquei surpreso com isso, era a ultima coisa que eu esperava no momento. Mas as perguntas que não queriam calar eram; Será que Janine descobriu alguma coisa antes de morrer? E o quanto Stan sabe? 

Isso com certeza irá mudar o percurso dos planos. Preciso dar um jeito nisso ou Alto poderá estragar tudo.