Asas Negras escrita por Carolina Amann


Capítulo 4
Capítulo 4




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Acordei às 5:43 h da madrugada, fiz meus pequenos cálculos mentais e percebi que havia dormido por umas quatro horas. Virei de um lado para o outro na cama sem conseguir pegar no sono. Contei carneirinhos, imaginei um fundo azul, comecei a realizar cálculos tediosamente difíceis em minha mente sem conseguir pegar no sono. A lembrança da noite passada me atingiu como um soco. Refiz a cena milhares de vezes em minha cabeça, mas nada se encaixava. Aquela voz... Será que eu não estava imaginando coisas? Refutei essa ideia imediatamente, eu era tudo, menos louca e conseguia lembrar daquilo com perfeição. O mais esquisito é que a voz parecia sair do garoto, de dentro dele. “Daniel” recordei “Esse é seu nome”. Um calafrio percorreu minha espinha e, de repente, não conseguia mais ficar parada.

Caminhei até o banheiro e lavei o rosto. Respirei fundo, o que eu ia fazer? Não conseguia dormir e pensar em alguém que nunca mais veria na vida não iria dar em nada. Peguei o celular. Seis horas. Estava quase colocando meu uniforme, quando lembrei de que era sábado e eu só tinha curso de inglês às 15:30 h, não conseguia acreditar que acordei tão cedo num final de semana! Soltando um suspiro, vesti meu jeans mais velho, uma regata e meu moletom puído. E sentei para fazer o dever, afinal, não estava nem um pouco a fim de ir para um internato. O de matemática foi fácil, como sempre. Português também, eu amava essas matérias juntamente com biologia e física, eram as únicas nas quais não havia uma nota vermelha se quer. Em história e geografia tive que pensar um pouco mais. Em cerca de uma hora, a tarefa estava pronta. “Só?” pensei pasma, aquilo significava que eu simplesmente não me concentrava o suficiente. Havia sido muito fácil!

Calcei os coturnos novamente, peguei meu celular, fones e um livro, e desci as escadas. Era comum o café ser servido as 8:30 h, eu já pretendia estar em casa a essa hora, mas mesmo assim deixei um bilhete. “Fui caminhar no parque, volto logo. Com amor, Aurora”. Coloquei a lista de reprodução no aleatório e saí rumo ao Parque do Carvalho, que ficava a duas quadras de onde eu morava. Lithium tocava em meus ouvidos e eu caminhava assoviando a melodia. O céu estava limpo e claro, mas a brisa da manhã espantava o calor. O parque não era muito conhecido, então havia poucas pessoas ali aquela hora do dia. A maioria estava fazendo cooper, praticando algum esporte ou andando de patins.

 Eu caminhava na pista específica para “pedestres”, quando e concentrava na música era como se o mundo desaparecesse e isso era um problema, porque na verdade, o mundo continua ali, eu é que esqueço que ele existe, e aí coisas bizarras acontecem. Esbarrei de frente com um garoto e caí por cima dele. Por um azar, estávamos do lado de um barranco enorme. Descemos rolando pela grama e meus pertences foram ficando pelo caminho, só conseguimos parar, no espaço plano que havia logo abaixo, a poucos metros de uma lagoa. Ele estava em cima de mim, um garoto de pele bronzeada, olhos negros e cabelo muito escuro, com um corte muito curto, no melhor estilo badboy. Usava uma camiseta creme estampada da Dolce&Gabana e o resto eu não podia ver devido a posição em que estávamos. Nos olhávamos assustados, sem nenhuma coragem de nos mexer. Meus pensamentos pararam por alguns segundos, acho que eu deveria dizer alguma coisa.

- D-desculp-pe – gaguejei, ainda sem fôlego. Ele não parecia ter me ouvido, sua expressão foi do choque para a preocupação.

- Você está bem? – ele perguntou, como se nada houvesse acontecido.

- Acho que sim – disse, ainda meio atônita.

- Céus, que tombo! – ele deu um riso baixo e rouco. As poucas pessoas acima de nós riam sem parar, alguns pareciam querer checar se estávamos bem – Acho melhor nos desenroscarmos...

Nossas pernas haviam se entrelaçado de uma forma que levou um tempo até ele conseguir sair de cima de mim, em seguida ele me ajudou a me erguer. Em seguida ajuntou seus óculos escuros, pendurando-os na gola da camisa, e meus pertences e entregou-os a mim com um sorriso bem aberto.

- Muito obrigada e desculpe pelo tombo, fico muito desligada quando ouço música. Haha – disse, dando uma risada sem graça, que mostrava o quanto eu estava envergonhada.

- Fique tranquila, eu estou bem, já sobrevivi a coisas piores, - sua risada foi alta e limpa, ele parecia falar a verdade com seu jeitão badboy aventureiro – Nada quebrado?

- Não, não – respondi sorrindo – talvez alguns hematomas, mas é só.

- Prazer, Ethan. – disse ele com um sorriso calmo e atraente.

- Aurora. – respondi desajeitada, isso era novo, eu com vergonha de falar com garotos. Talvez fosse seu olhar penetrante, que parecia conseguir ver minha alma. – Bem Ethan, foi um prazer enorme te conhecer, mas tenho que ir. Desculpa pelo inconveniente, sério mesmo – disse sem graça, estava morrendo de vergonha, queria sumir das vistas dele o mais rápido possível.

- Posso te acompanhar até sua casa? Gostaria de me explicar com seus responsáveis – “Estranho”, pensei, “geralmente as pessoas diriam ‘pais’” – Não quero que pensem que sou um delinquente que ataca as garotas que passeiam pelo parque, sou novo por aqui e ainda estou tentando me enturmar – disse ele, com um sorriso honesto na face. Eu não pude dizer não.


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