Asas Negras escrita por Carolina Amann


Capítulo 3
Capítulo 3




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A Apocalipse consistia em um enorme barracão de concreto de dois andares, todo pintado de preto, com um letreiro em neon verde que dizia o nome de casa, ou pelo menos, era isso que víamos de fora. Dois seguranças mal encarados guardavam e organizavam a entrada de aproximadamente um metro de largura, mas hoje ninguém estava pedindo os documentos. Passamos tranquilamente pela porta e seguimos por um corredor preto, decorado com esguichos de sprays neon, podia-se ouvir um eletrônico tocando ao longe. Atravessamos uma cortina grossa roxa e, de repente, a realidade explodiu. Tudo era completamente diferente visto de dentro. O espaço do salão havia sido bem aproveitado, bares estavam espalhados no canto do barracão, próximos aos banheiros. Garçons mascarados passavam servindo bebidas gratuitamente e no meio do salão, uma plataforma de aproximadamente 3 metros e meio se erguia, lá de cima o DJ comandava o som, num eletrônico frenético e extremamente alto. O segundo andar era composto por corredores laterais de aproximadamente 5 metros de altura, protegidos com grades até a altura da cintura que davam vista para o andar inferior, lá estavam distribuídas diversas mesas onde as pessoas iam para conversar, ou descansar. O térreo era somente corpos dançando e bebendo, uma mistura de pessoas coladas umas as outras mexendo-se numa mesma batida. Era incrível, apesar de tão amplo quase não havia espaço para andar.

Punk segurou minha mão e me arrastou até o meio da multidão, começamos a dançar uma música tão agitada que fazia eu sentir-me zonza e feliz. Logo fiquei com sede, gritei por bebida para o JP, mas ele não ouviu uma palavra do que eu disse, limitando-se a fazer uma careta de incompreensão. Repeti mais alto. Ele continuou sem entender. Perdi a paciência e gritei e seus ouvidos:

- Pegue algo com os garçons para a gente beber!

- Ah tá! Tô indo, não sai daqui! – ele disse, não gostava de separar-se de mim em baladas, sentia-se responsável por cuidar de minha integridade física. No mais, confiei que ele encontraria o lugar onde estávamos novamente, ele sempre teve um ótimo senso de localização.

Continuei dançando, a música muda para uma batida um pouco mais lenta e eu agradeci silenciosamente. Estava distraída, concentrada em desligar-me do mundo quando o notei. Era um garoto alto e esguio. Apesar de magro, parecia ser forte e ter músculos por baixo da camiseta branca de gola v e mangas compridas que ele usava. O jeans escuros exibia um quadril mais afunilado, o que caracterizava um corpo triangular. Ele era loiro, com o cabelo liso ajeitado num topete, olhos verde-água e lábios fartos. Ele estava me encarando. Quando percebeu que eu notei, sorriu, e por um segundo meu coração parou de bater. O loiro caminhou em minha direção com um meio sorriso e um olhar penetrante. Deus, como ele era sexy! Até o balanço do andar dele me excitava!

O garoto parou em minha frente e começou a dançar comigo, os olhos fixos nos meus. Agi naturalmente, como se não fizesse diferença para mim ele estar ali. Ele aproximou seu rosto do meu e disse:

- Prazer, Daniel – seu hálito cheirava menta com um toque apimentado. Era uma combinação estranhamente estonteante

- Aurora – respondi, a voz saindo num tom mais adulto e seguro do que eu havia esperado. Hum, ótimo. Eu estava me saindo bem.

Ele pôs a mão na minha cintura de um jeito delicado e firme. E sexy. Muito sexy. Ele sussurrou em meu ouvido:

- O que uma garota tão linda faz num lugar desses?

- Tentando conhecer alguém que vale a pena – Respondi, erguendo uma sobrancelha com um sorriso no canto do lábio – E você?

- Procurando você – um arrepio passou pela minha espinha, ele me encarava com malícia e era como se fosse devorar minha alma, como se soubesse de todos os meus segredos. Sem mais palavras, beijou-me. Seu beijo era tão frio que chegava a queimar, a doer, mas a união de nossos lábios era perfeita. Aquele era, com toda a certeza, o melhor beijo da minha vida. Uma de suas mãos se entrelaçou e meus cabelos e a outra desceu lentamente minha cintura, até chegar em minha bunda. Céus, ele era quente. – Eu sei o que você quer – ele sussurrou para que apenas eu ouvisse, em seguida beijou-me de novo – Posso te dar isso. – Dessa vez, enquanto me beijava, milhões de imagens aleatórias surgiram em minha mente. Meus pais, minha infância, memórias embaçadas do meu passado misturadas a uma série de outras imagens. Eu, mamãe, papai, todos juntos, no presente, rindo e fazendo um piquenique. Eu vestida como uma adolescente qualquer, sem nenhum trauma, com uma aliança de namoro na mão esquerda. Um pensamento surgiu em minha mente, um pensamento que não era meu. “É isso que você quer? Posso te dar isso, posso mudar sua história. Pague o preço, me deixe lhe fazer feliz”. Daniel me apertava com cada vez mais força. “Deixe-me te possuir”, sibilou a voz em minha mente. Desvencilhei-me dele assustada, o que era aquilo? Estavam brincando comigo? Mas como se aconteceu em minha cabeça? Por que o mundo estava rodando?

Daniel me olhava confuso.

- Desculpe, não posso. – gritei para ele e em seguida me afastei sem me importar com o fato de ele ter ouvido ou não. Dei cinco passos e esbarrei no Punk.

- Onde você estava? – berrei feito uma louca.

- Te procurando! – respondeu meio irritado.

- Eu quero ir embora – disse. Algo estava errado comigo, o que era aquela voz?

- Agora? – ele parecia chateado. Eu o compreendia muito bem, ainda eram 23:30 h.

- Por favor! - implorei

- Vamos... – ele cedeu com um suspiro.

O caminho de volta foi silencioso. Quando paramos de frente para os fundos de minha casa eu desci da moto. Então ele perguntou:

- Quem era o loiro? – ele tinha visto. Merda, eu não podia falar nada, não enquanto não entendesse o que estava se passando.

- Um garoto. Só. – respondi indiferente.

- Quer falar sobre? - insistiu ele.

- Não.

- Tudo bem então – disse ele, visivelmente contrariado – Até amanhã, boa noite – me deu um beijo na testa e foi.

Subi até meu quarto pela escada de corda, em seguida recolhi-a e guardei-a. Tirei o coturno e deixei-o no chão do quarto, as roupas amassei e arremessei numa das portas do imenso guarda roupas. Deitei em minha cama vestida somente com a calcinha e o sutiã pretos. “O que foi aquilo?” era tudo o que eu podia pensar. Meus planos eram de refletir sobre isso até de madrugada, mas o cansaço acabou me vencendo e adormeci.


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