A Longa Vida De Serena Cullen escrita por Angelicca Sparrow


Capítulo 18
Capítulo 18 - O Adeus




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/347356/chapter/18

– Você deve ter escapado dos meus sonhos... Só pode. – comentei de brincadeira tampando a boca com a mão direita.

– E olhe só você! Nem parece aquela menina desmazelada que eu encontrei na floresta...! – ele gesticulou com os braços musculosos rindo.- E que saiu correndo de mim.

Então nós paramos para olhar o carro.

– Caramba! Esse carro também é seu? Um Audi R8? – ele se aproximou do carro.

– Bem, era... – apontei para a parte da frente saindo fumaça.

– Ah, isso tem concerto. Ainda bem que eu segurei o carro antes que me atingisse por completo, foram apenas alguns arranhões nesse bebê. – ele disse para me tranquilizar enquanto abria o capô do carro e começava a arrumar o que quer que fosse que tivesse quebrado.

– Me desculpe, eu não estava prestando atenção na estrada. Muitos pensamentos... – disse enquanto me sentava no banco da frente de novo, suspirando.

– Claro, claro. Eu também não estava prestando atenção. – ele deu de ombros e franziu o cenho.

– Aliás Jake... Posso te chamar assim? Bem... Aonde você ia a pé vestido assim? – perguntei casualmente, já prevendo a resposta.

Ele pareceu não ter escutado a pergunta e fechou o capô, limpando as mãos em seu paletó preto jogado no chão.

– Eu acho que pro mesmo lugar que você. – ele respondeu com uma voz distante.

Fizemos silêncio, ambos não muito felizes.

– Entre. Vamos comigo. – disse baixinho para o homem impecável que parecia extremamente solitário, e este não fez objeção.

Ele entrou no carro colocou o cinto e eu acelerei, desta vez mais devagar. Não estávamos com pressa de chegar. Mesmo.

– Também vai só pra festa? – ele perguntou cortando o silêncio.

– A cerimônia já acabou? – perguntei tentando parecer surpresa – Que pena...

Ele riu com minha ironia.

– Por que não está feliz em ir, Serena?

– Pelo mesmo motivo que você. – dei de ombros.

Jacob pareceu estar pensando, e depois entendeu o que eu quis dizer.

– Uau... – ele comentou.

– Pois é... A vida é dura, lobinho. – disse enquanto virava na estradinha que dava para a casa dos Cullens.

Estacionei o carro bem longe dos demais. Descemos um pouco hesitantes e vimos Sam e uns dos outros lobos vindo em nossa direção, eu segurando meu presente nas mãos.

– Chegou rápido Jacob, tivemos que vir correndo para... – Sam começou a falar quando parou seu olhar em mim. – Serena?

– Olá, pessoal – respondi desanimada.

Percebi que Jacob já havia se encontrado com os Quileutes antes de ir ao casamento. Ele não conseguiria chegar em Forks sem que seus amigos percebessem. Todos me cumprimentaram com dezenas de elogios e vários suspiros de admiração.

– Tá, tá, já chega... – Jacob interveio olhando o horizonte – Vamos acabar logo com isso.

Ele pegou na minha mão livre e foi me conduzindo até os fundos da casa, pelas sombras negras das árvores, durante o ínicio da noite. Fomos nos afastando cada vez mais da música e das vozes.

– O que está fazendo? – cochichei para ele.

– Pelos fundos há menos pessoas, quero evitar ser visto aqui. Poucos sabem que eu voltei. – ele sussurrou em resposta.

– E por que não quer que ninguém saiba?

– Por que talvez eu volte pra lá de novo, depois que isso aqui acabar...

Não respondi e ele me olhou pelo canto do olho.

– Nós somos tão parecidos, até nas decisões. – ri sem humor enquanto espiava por entre as árvores.

– Também não quer ficar aqui? – ele perguntou tirando um galho da frente.

– Não pertenço à esse lugar... Não me sentiria bem se ficasse aqui.

– Eu te entendo. – ele falou antes de me parar e apontar para um casal dançando sozinhos atrás da casa. Observei-os dançando e se olhando apaixonadamente, em um ritmo só deles, e eles pareciam... felizes. O sentimento amargo brotou no meu estômago novamente e senti vontade de sair dali, pois sabia que nossa presença não seria bem-vinda, devido as circunstâncias.

– Que ridículo... – sussurrei enquanto caminhava de volta para o carro mas Jacob me segurou com firmeza pelo pulso.

– Essa pode ser sua última chance de vê-lo. Não jogue isso fora. – ele falou com convicção olhando nos meus olhos.

Permaneci olhando para aqueles olhos escuros, e o que ele disse fez muito sentido pra mim, cada palavra entrando na minha mente com muita facilidade, eu sabia que ele tinha razão. Jacob me abraçou com força, eu retribui da mesma forma, e ambos percebemos que tudo daria errado em questões de segundos. E nenhum de nós dois superaria essa despedida, mesmo com os planos que fizemos. Deixei meu presente no chão, próximo a uma árvore.

O casal mais prestigiado da noite parou de dançar de repente e Edward conduziu Bella até o início das árvores. Eu e Jake nos entreolhamos, como que desejando boa sorte um ao outro. Edward se aproximou conduzindo sua esposa, sua Bella. Ele estava magnífico, o noivo mais bonito e elegante que eu já vira, aliás, o único noivo que eu vi na vida e o melhor de tudo, ele era uma perfeito vampiro novamente. Com todas suas qualidades. Isabella não estava diferente, olhando para ela mal percebi que era aquela humana que eu vi dias atrás, ela estava muito bonita vestida de noiva, muito mesmo. Mal percebi a ironia de ambos os nossos vestidos serem brancos... Jacob deu alguns passos lentos na direção deles, ainda engolido pela escuridão, mas eu me mantive afastada, como um coelho paralisado pelo medo.

– Obrigado – disse Edward para a escuridão. – É muito... gentil de sua parte.

Seu olhar oscilou entre a direção em que Jacob estava, e na minha direção. Me mantive imóvel e afastada enquanto ouvia o coração de meu bom amigo lobo se acelerando.

– Gentileza é o meu nome – a voz rouca de Jake respondeu na noite escura. – Posso ter essa dança?

O olhar de Bella se iluminou da forma mais pura e sincera que eu poderia imaginar e antes que eu pudesse assimilar a situação ela já caminhava um pouco tonta na direção do lobo.

–Jacob! – exclamou, sufocada. – Jacob!

– Olá, Bells. – ele respondeu, e eu pude sentir toda a emoção que ele tentava esconder.

Ela se pendurou no pescoço dele e eles se abraçaram com força, com vontade, deixando a saudade transbordar. Tentei escutar os pensamentos dela, para ter alguma noção do que ela sentia pelo meu amigo, mas... nada. Tudo vazio. Percebi então que o veneno de vampiro já havia deixado o meu corpo, assim como aquele dom tão útil de ler mentes, pois nem Edward ou Jake eu conseguia escutar. Um par de olhos dourados me encaravam na escuridão sem qualquer receio.

– Rosalie não me perdoaria se não tivesse sua vez na pista – murmurou Edward, antes de começar a caminhar para outra direção silenciosamente. Mas não de volta para a festa, e sim para um lado mais profundo da floresta. Percebi que aquela era minha deixa.

Com uma rápida e silenciosa prece para que Jake ficasse bem segui Edward, mantendo certa distância, com a barra de meu vestido acariciando a grama sob meus pés. Após termos nos afastado o suficiente ele parou, ainda de costas para mim. Parei, ainda mantendo a distância entre nós, e permaneci em silêncio sem ter a mínima ideia do que iria acontecer.

Esperei em pé, do meio da floresta, em uma noite fresca de agosto, vestida com provavelmente o vestido branco mais caro dos EUA e exatamente por isso comecei a me sentir uma boba. Era só me despedir e ir embora. Mas tudo o que eu conseguia fazer naquele momento era respirar e esperar, respirar e esperar... Até que ele se virasse pra mim, mas ele parecia uma estátua fria congelada para sempre naquela mesma posição, de costas para mim. Daria de tudo para saber o que ele pensava naquele momento... Mas minha mente já havia preparado uma sugestão: “Como dizer Adeus?”

Lancei um longo olhar em sua silhueta imóvel e fechei os olhos, me virando para partir.

– Já sentiu como se seu mundo fosse dividido em duas partes? – uma voz igualmente fria ressoou em meus ouvidos. Parei de costas pra ele. – Como se para poder ficar com uma parte, fosse obrigado a desistir da outra...?

– Você escolhe a parte que te deixa mais feliz... – sussurrei quase sem voz, evitando me render à tristeza que travava uma batalha dentro de mim.

Permanecemos mais algum tempo em silêncio quando me virei devagar.

– Não quero tornar seu grande dia em um desastre – respirei mantendo a calma. – Eu volto amanhã para... conversarmos.

– Não. Me diga hoje, amanhã não estarei aqui. Vou viajar esta noite...– ele se virou para me ver com os olhos lúcidos decorando cada parte de minha roupa, analisando cada detalhe dos diamantes.

– Você está linda... Uma mulher exuberante. – ele sussurrou. - Você cresceu.

Continuei fitando-o inexpressiva, assimilando o que ele dissera anteriormente, enquanto ele me olhava como se fosse a pessoa mais linda do universo. E ele fazia isso sem nenhuma sombra de malícia ou vulgaridade. Em determinado momento ele foi arrancado de seus devaneios, lendo minha expressão, com temor. Ele se deu conta do que havia falado... para mim. Ele pôde ver a compreensão me atingindo como um golpe violento.

– O que... Você queria me dizer...? – ele perguntou com a voz trêmula, temendo ouvir o que não queria.

– Eu... eu – separei os lábios, tentando juntar as palavras – Estou indo embora.

Ele soltou todo o ar que existia dentro dele, abaixando o olhar. Depois veio em minha direção para tocar meu rosto. Recuei encarando-o assustada.

– Serena, eu não queria te decepcionar... – ele recuou um passo me dando mais liberdade – Não quero que vá pra longe, onde eu nunca mais poderei vê-la...

– Quer que eu fique aqui, enquanto você está em sua Lua-de-mel, esperando ansiosamente o seu retorno? – perguntei incrédula, redescobrindo minha voz.

– Não... Eu só não quero que me abandone. – ele murmurou chateado.

– Percebe o quão ridículo é esse pedido? – perguntei dando um passo pra frente – O quão egoísta você e sua esposa são?

– O que está dizendo? – ele pareceu voltar ao seu estado normal e se aproximou ainda mais de mim, quase como uma ameaça.

– Estou dizendo – apontei um dedo em seu peito e comecei a empurrá-lo para trás – Que ambos são egoístas a ponto de pensarem em ficarem juntos, e ainda assim quererem que eu e Jacob fiquemos por perto para consolá-los nos momentos oportunos... – ele bateu as costas em uma árvore.

– Eu não quero abrir mão de ninguém... – ele sussurrou.

– Ela também faz o mesmo pedido. Mas vocês deixaram muito claro hoje que já fizeram sua decisão. Ninguém pode agradar a todos. – disse nervosa e me virei bruscamente, fazendo o longo vestido rodopiar e levantar a relva macia do chão.

Serena – ele me chamou. – Por que veio hoje?

– Bella me fez um pedido... – suspirei. – Que eu trouxesse Jacob para vê-la.

– Você? Fez isso por ela? – ele perguntou surpreso.

– Não... Fiz por ele. Ele merece uma despedida digna. Um ... – levantei a cabeça e fitei o horizonte – Adeus definitivo.

– Eu... entendo seus motivos. E não farei objeção se quiser ir embora. – ele parecia arrasado, mas compreensivo. Afinal ele sabia que eu tinha razão em tudo que disse.

Suas palavras doeram em mim. Acho que no fundo eu só quisesse que ele me impedisse de ir... Mesmo com sua noiva, por ele, eu teria ficado. Me doeu ver que ele abriria mão de mim assim, tão facilmente. Mas sabia que esse era o melhor. Para nós dois.

– Então Adeus, Edward Cullen... Foi um prazer tê-lo conhecido. – dei um leve sorriso torto enquanto lágrimas brotavam dos meus olhos.

– Me concede uma primeira e última dança? – ele implorou fazendo uma mesura, sua expressão fria.

– Mas não há música... – ri enquanto limpava as lágrimas.

– Não tem problema. – ele pegou minha mão direita e colocou em seu ombro, enquanto segurava minha mão esquerda com sua outra mão.

E logo, inesperadamente, a floresta se tornou o salão perfeito. Começamos a dançar na grama macia e girávamos em círculos imaginários, enquanto o vento fazia nossas roupas flutuarem juntas, nos mesmo sentido. E nos olhávamos como se fosse a primeira vez que estivéssemos nos vendo. Uma apresentação muito bonita. Tão cedo, começamos a rir, enquanto ele me girava no lugar deixando meus cabelos voarem soltos para onde o vento quisesse levá-los. E aquele vestido branco... Sendo guiado pela nossa dança e movimentado conforme o nosso ritmo coordenado. Ele me levantou e me girou no ar, quando o vento se tornou mais forte. E tudo aquilo de ruim parecia ter sido jogado no ar e soprado pra bem longe... Edward me colocou no chão ainda dando risada.

– Você está feliz? – perguntei sorrindo de leve.

– Sim.

– Isso é tudo o que importa. – ri. – Quero que aproveite a Lua-de-Mel...

Ele pareceu constrangido, de repente. Mas não parou a dança.

– Qual é Ed! – ri alto – Você sabe o que tem que fazer, está no instinto...

– Não quero ouvir sobre suas experiências próprias... – ele riu discreto levantando uma sobrancelha.

Meu riso foi se apagando aos poucos, e desviei o olhar para a floresta. A dança parou.

– Você não ficou chateada não é? – ele perguntou rindo irônico.

– Sou mais velha que você, sanguessuga. – rebati. – E eu faço o que eu quero, na hora que eu quiser...

– Ah, tudo bem. Aconteceu por causa do seu poder...

– Não. Edward. – chacoalhei a cabeça– Não quero discutir esse assunto com você, é constrangedor.

– Foi você quem começou... – ele sorriu de lado e depois chegou mais perto. – Maximus deve ter tido sorte.

Fitei-o com os olhos semicerrados mas não pude discordar de sua afirmação. Max tinha sorte em tudo o que fazia.

– Você vai se dar bem. É só prestar atenção nas preliminares. – dei de ombros.

Edward riu disfarçando e me girou mais uma vez, tombando meu corpo até ficar paralelo ao chão. Seu rosto ficou a poucos centímetros do meu.

Coloquei uma mão em seu rosto, acariciando suavemente sua bochecha. Naquele momento eu estava pronta para partir, mas ele se aproximou cada vez mais. Senti seu hálito gélido se encontrando com o meu. Minha respiração estava calma quando ele me silenciou com um leve toque de lábios. Suas mãos apertaram minhas costas e cintura e ele se aproximou ainda mais. Ele estava me beijando... E eu sentia o gosto de seu veneno. Um lampejo de sua voz percorreu minha mente.

“Você é a noiva mais perfeita do mundo”

E então ouvi gritos distantes. Em menos de um segundo eu estava de pé prestando atenção aos ruídos. Edward me olhava confuso. Uma voz distante, humana e indesejável se pronunciou:

– Ai Jake! Me solte!

E a partir daí, foi tudo um flash. Em uma rápida troca de olhares com Edward saí em disparada em direção aos gritos.

– Jake... – sussurrei totalmente preocupada.

Quando cheguei próxima do local dos berros, Edward também havia chegado e o ameaçou. Rosnados foram ouvidos da floresta e Seth apareceu para separar Jacob de Bella. Edward afastou a esposa em um gesto rápido e Jacob começava a tremer e ameaçá-lo de morte. Abracei Jake pelas costas de modo a acalmá-lo e o puxei para trás. Edward estava agarrado à Bella e nos observava indignado e com raiva. Na distância em que estávamos a humana não nos enxergava na escuridão. Jake começou a se acalmar, até conseguir me abraçar. Nós ficamos nos encarando, Jacob e eu de um lado, Bella e Edward de outro. Naquele momento, pelo menos para mim e Jake, estava tudo acabado. As escolhas foram feitas.

A compreensão nos atingiu e pudemos entender o que tudo aquilo significava naquele momento. Edward e Bella estavam casados, e iriam ficar juntos com ou sem a nossa presença.

Nos transformamos em lobo e corremos com o resto da matilha para dentro da escuridão. Jake e eu correndo lado a lado, com os pensamentos a mil. Era isso. Estava tudo terminado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Longa Vida De Serena Cullen" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.