Eles andaram durante um bom tempo por uma estrada secundária afastada da via principal, e Caleb aproveitou para conhecer melhor a garota e ela também parecia bem curiosa a respeito dele.

- Sério? Você foi criado por uma ninfa que é uma Caçadora da sua mãe? – Disse a garota parecendo surpresa.

- Sim. E você, como descobriu ser filha de Hera?

Ela desviou o olhar e parecia culpada. Ele franziu a testa antes que ela respondesse.

- Eu sempre soube.

Caleb piscou.

- Como?

- É verdade, Hera aparecia em meus sonhos quando eu era pequena, dizia quem era e que era minha mãe. Tudo o que sei sobre os mitos, eu sei por que ela me ensinou. – A garota disse. – Ela me deixou com meu pai mortal.

Caleb franziu a testa novamente, cada vez mais confuso com aquilo tudo.

- Então seu pai sabia que você era filha dela? Afinal, me explica direito, como você nasceu?

- É meio complicado. – Iole disse com relutância e Caleb ergueu a sobrancelha.

- Minha mãe é uma deusa virgem, me salvou de alguma forma quando minha mãe mortal estava morrendo, que a propósito, havia sido uma Caçadora dela. Pode ser mais complicado que isso? – Ele falou rapidamente e a garota sorriu.

- Você tem um gênio e tanto não é?

Ele revirou os olhos.

- Meu ponto é, a sua história não pode ser mais estranha que a minha. – Ele disse e ela pensou por um momento.

- Tudo bem, eu vou contar, mas depois, agora uma carona vem vindo aí. – Ela falou e fez sinal para um caminhão que vinha pela estrada, parar.

- Para onde o senhor está indo? – Ela perguntou ao motorista.

- Para Denver, princesa. – Ele disse sorrindo para ela e dando uma piscadela.

Caleb fez uma careta e olhou para ela para saber como ela reagiria.

- Vai passar pelo Kansas? – Ela perguntou ignorando a piscadela do homem.

- Por onde você quiser, querida. – O homem falou e piscou novamente.

- Você poderia dar uma carona para mim e para o meu namorado? – Ela disse e pegou a mão dele, apertando os dedos dele com força.

Caleb entendeu o recado e ficou calado.

- Sem problemas, podem subir. – Ele notou o olhar que o homem lançou para ele e fez uma careta.

Eles se acomodaram rapidamente na parte de trás, que estava cheia de feno e Caleb olhou significativamente para ela.

- O quê? – Ela perguntou um tanto na defensiva.

- Namorado? – Foi a única coisa que Caleb disse.

- Eu precisava dizer alguma coisa, não ia dizer que você é meu irmão, ele ia continuar dando em cima de mim. – Ela disse um tanto irritada. – Não se preocupe está bem? Na próxima carona você fala, e pode me apresentar como sua irmã se a ideia de ser meu namorado é tão repulsiva para você.

Ele fechou a cara.

- Não disse isso. Só queria entender o motivo para você dar essa desculpa. – Disse um tanto irritado.

Passaram alguns minutos se encarando para ver quem ficava com mais raiva. Caleb suspirou ao ver que ela poderia passar horas com raiva dele se ele permitisse.

- Ainda vai me contar a sua história?

Iole olhou para ele e acenou com a cabeça.

- Me desculpa. – Ela sussurrou e sentou ao lado dele.

- Não tem problema. – Ele disse e a abraçou ao ver que o homem estava olhando por cima do ombro para ver o que eles estavam fazendo.

Por que não? Caleb pensou. Ele acha que somos namorados mesmo.

Mas a ideia daquele homem continuar jogando cantadas para a garota o encheu de raiva, ele não gostava disso.

- Ainda quer ouvir? – Ela perguntou interrompendo os pensamentos dele.

- Sim. – Ele sussurrou e beijou o cabelo castanho dela sabendo que o homem ainda olhava.

Caleb sentiu a garota se mexer inquieta.

- O que foi?

- O que você está fazendo? – Ela sussurrou.

- Somos namorados não somos? – Ele sussurrou de volta com um meio sorriso. – Temos que agir como namorados.

Caleb quase pôde ouvir a garota revirando os olhos.

- Agora anda, me conta como você nasceu. – Ele disse antes que ela pudesse falar alguma coisa.

Ela ficou em silencio por alguns segundos antes de dar um suspiro e as palavras começaram a sair livremente:

- Meus pais eram professores em Nova Orleans. Seus nomes eram John e Katerine Jones. Minha mãe estava grávida de mim, e descobriu que não poderia terminar a gestação. Meus pais, bem, eles sempre acreditaram nos deuses gregos, então pediram a benção de Hera, que era a deusa com quem eles mais se identificavam, se eles fizeram algo que a agradou durante o casamento de ambos, que ela arrumasse um meio de salvar o bebê que minha mãe esperava.

Caleb apenas olhou para ela, Iole sorriu.

- Bem, minha mãe estava cansada das traições de Zeus.

- Espera um pouco. – Caleb interrompeu rapidamente. – Isso está me deixando confuso, chame Hera de Hera e sua mãe de mãe, está bem?

A garota concordou com a cabeça.

- Muito bem, Hera estava cansada de todas as traições de Zeus então apareceu para meus pais. Disse que não poderia salvar minha mãe, mas que poderia salvar a criança, se assim eles desejassem. Ambos concordaram.

- Mas como ela salvou você? Ela te contou?

A garota apenas assentiu.

- Você conhece o mito sobre como Dionísio nasceu?

Caleb concordou com a cabeça.

- Zeus o colocou na própria coxa porque Hera fez com que a mãe mortal dele visse o senhor dos céus em sua forma divina, para que o bebê não morresse Zeus o colocou em si mesmo. – Ele parou de falar quando notou o que havia dito e olhou para ela. – Foi isso que Hera fez?

- Bem, ás vezes é melhor manter algumas coisas em sigilo, mas como você nasceu de uma deusa virgem, acho que pode imaginar melhor o que ela fez para salvar você. – Ela respondeu evasivamente.

Caleb engoliu em seco e olhou para o céu.

- Tem razão.

Então ele sentiu os dedos da garota em seu rosto e um arrepio percorreu por seu corpo.

Caleb voltou seu olhar para ela.

- Tem mais? – Ele sussurrou enquanto sentia os dedos dela pararem em seu rosto por terem o rosto um do outro tão perto, então ela deixou a mão cair em seu colo.

- Tem. – Iole disse e desviou o olhar. – Minha mãe morreu, como Hera havia avisado. Mas meu pai não a culpou, a agradeceu por ter dado a ela a filha de minha mãe viva e saudável.

Ela pausou e Caleb se perguntou no que ela estava pensando.

- Mas havia um preço. – Ela sussurrou. – Por ter me carregado em seu corpo, a deusa alertou a ele que eu havia me tornado uma espécie de crime, uma semideusa, não o bebê mortal que minha mãe teria. Ele aceitou esse fato e cuidou de mim por todos esses anos, mas num ataque de monstro no ano passado ele morreu e Hera então me escondeu em um lugar seguro até que a minha existência pudesse ser revelada.

Caleb fitou o vazio por alguns instantes ao ouvir a dor na voz da garota e se sentiu impotente e inútil, não sabia o que fazer.

- Honestamente, eu nunca acreditei que isso pudesse acontecer. Mas Hera parecia ter plena certeza, então você apareceu. O filho de Ártemis. – Ela riu baixinho. – Uma criança que seria temida pelo Olimpo por seu parentesco.

Ele ignorou o comentário dela, estava com outra coisa em mente.

- Qual foi? – Perguntou baixinho e ela olhou confusa para ele.

- Qual foi o que? – Ela devolveu a pergunta.

- Qual foi o monstro que matou seu pai e condenou você a essa vida?

Ela se afastou dele rapidamente.

- Não importa. – Disse friamente, saindo dos braços dele e se sentando de frente para ele.

- Ei, calma. – Ele disse tentando acalmá-la e estendeu a mão apenas para baixá-la em seguida. – Desculpa se eu falei algo errado.

- Não se preocupe, não é nada demais. – Ela virou o rosto.

- Iole... – Ele começou a dizer, mas de repente sentiram o caminhão frear e a porta bater, logo o homem estava olhando para eles.

- Chegamos a Salina. Aqui é o mais perto do seu destino que acho que posso chegar, depende para onde vocês vão. – Ele falou e os dois desceram do caminhão jogando as mochilas nos ombros.

- Obrigada senhor. – Iole falou e deu um sorriso amigável. Caleb não gostou muito, mas também agradeceu a carona.

Assim que o homem se afastou, ele olhou para o céu, estavam no meio da tarde, ainda tinham meio dia para encontrar e salvar Alícia.

- Para onde vamos? – A garota falou enquanto ele olhava o mapa.

- Para o leste. – Ele falou e olhou para ela em um tom agourento.