A Sereia escrita por Santori T


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

- Sem recomendações hoje. Apenas aproveitem! =)



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Obedecendo meu pedido, Jade não apareceu no chalé nas semanas seguintes. Era difícil manter o controle sem os verdadeiros banquetes que ela fazia, mas ainda podia satisfazer um pouco de minha vontade abatendo cervos na floresta. Há exatas três semanas após a chegada da carta vinda da Itália, numa das noites mais chuvosas daquele mês, ele bateu em minha porta. Eu sabia que era ele. A conexão com os de nossa raça sempre servia de alerta. Então, não precisei olhar antes para saber quem era.

-Querida Claire! – Os olhos perolados dele me analisaram de cima a baixo e um sorriso presunçoso nasceu em seus lábios. – Ou devo chama-la... Aleerah?

-Boa noite, Ermont – Saudei com delicadeza, dando-lhe passagem. – O conselho o mandou para ver como estou no exílio?

-Pois é – Riu-se ele, examinando o chalé e torcendo o nariz com arrogância. Seu terno azul-metálico cintilando sob a luz âmbar dos abajures da sala.

-Quanta gentileza da parte deles – Murmurei, disfarçando bem meu tom sarcástico.

-Tem razão – Ermont virou-se para mim com repulsa. – Benevolência demais com uma exilada.

Eu forcei um sorriso humilde e acenei para que sentasse no sofá. Servi para nós chá de ervas e Ermont pareceu apreciar a emulsão, o que me deixou mais calma. Ermont era o braço direito dos líderes que formavam o conselho do clã, e um ser difícil de agradar. Minha paz naquela cidade dependia dos relatos que ele levaria até o conselho dos Sirens, na Costa da Itália.

-E então, Aleerah – Ele beliscou a borda da xícara com os lábios finos, mas seus olhos se estreitaram para mim. – Como está se adaptando a essa nova vida solitária?

-Muito bem – Eu menti, ocultando o fato de ter banido de meu cardápio o item principal. – E antes que eu me esqueça, por favor, agradeça aos nossos senhores pelas contribuições bancárias.

-Claro, claro – Ele revirou os olhos, entediado. – Se esse dinheiro te serve para alguma coisa...

Fiz que sim com a cabeça, num gesto cortês. Era arriscado ser desrespeitosa com alguém tão influente como Ermont, e quanto menos dúvidas sobre minha nova vida eu levantasse contra mim, menos desconfiado ele ficaria.

-E a caça, Aleerah? – Enfim Ermont chegara ao assunto principal. Ele fixou-se em mim, apenas para ter certeza da veracidade de minhas confissões. – Tem se alimentado bem?

-Tenho me alimentado, obrigada pela preocupação – Respondi com empáfia.

Bela subiu no sofá ao meu lado e miou, anunciando a hora de seu jantar. Tinha me esquecido completamente de pedir a Jade que a levasse quando foi embora.

-O que é isso? Lanche? – Ermont se iluminou com a esperança de jantar minha bola de pelos.

-Eu permiti que ela ficasse comigo – Expliquei muito calmamente, enquanto os olhos de Ermont cintilavam maldosos na direção de Bela. – Como você constatou, é solitário por aqui. O animal me faz companhia.

-Companhia? – Ermont repetiu a palavra como se não a entendesse. – Então você não vai come-la?

Fiz que não, num movimento muito seguro.

-É uma pena – A língua do outro estalou dentro da boca. – Parece apetitoso...

-E quanto tempo pretende ficar? – Perguntei, arriscando atiçar a desconfiança de meu visitante.

-Oh, somente até o amanhecer – A atenção de Ermont estava totalmente voltada para Bela e seus pulos pelos móveis da sala. Tinha que admitir que aquele bichano magricela e esfomeado estava salvando minha vida. – Quero pegar as primeiras ondas da maré e chegar logo em casa.

-Entendo.

Servi mais chá para meu visitante e respondi todas as suas perguntas com muita cordialidade. Ermont balançava a cabeça vez e outra, mas pela ausência de emoção em seu semblante via-se que minha vida em Raven apenas lhe era entediante.

O relógio da sala arrastou-se até às três da madrugada e finalmente Ermont guindou-se de me sofá, satisfeito por ir embora.

-Bem, devo relatar ao conselho que sua vida aqui nesse lugarzinho deserto é, no mais distante, monótona – Ele fez uma careta enojada, enquanto caminhávamos para a noite, fora do chalé.

-Aprecio que diga isso – Eu baixei a cabeça numa reverência sutil. – E agradeço sua visita.

-Ah, sim, sim, claro – Ermont esticou o pescoço para dentro do chalé, seus olhos se movendo nas órbitas. – E o bichano? Tem certeza de que não vai come-lo?

-Não tenho essa intenção – Respondi, seca. – Não por enquanto.

-Hum – Ele fez beicinho, insatisfeito. – Tudo bem.

-Ermont, eu posso perguntar sobre...

-Nah! – Os dedos de Ermont tamparam meus lábios antes que as palavras se formassem. – Conhece as regras, meu bem. Sem perguntas.

Fiz que sim com um aceno decepcionado. Banidos perdiam todo e qualquer direito a obter informações sobre seu clã. Ainda assim precisavam ser vigiados com alguma constância, apenas para que fosse assegurado o segredo sobre nossa espécie.

Ermont se aprumou ao meu lado antes que pudesse tomar seu rumo. Também não pude ignorar o calafrio que correu minha espinha, anunciando a chegada inoportuna de mais alguém. Eu desejei com os olhos fechados que não fosse quem eu estava pensando, mas os ventos não se enganam, e trouxeram o perfume adocicado dela até nós.

-O que é isso? – Ermont lambeu os lábios instintivamente. Seus olhos se pregaram na orla da floresta. Algo se aproximava e podíamos sentir.

A velha caminhonete de Jade parou minutos depois em frente ao chalé. Eu petrifiquei, apavorada com a ideia de ter de fazer alguma possível intervenção, caso Ermont resolvesse jantar antes de ir embora.

-Quem é? – O rosto de meu visitante passeava curiosamente pelo corpo magro de Jade, recém-saída da caminhonete.

-Olá! – Ela saudou tentando disfarçar a apreensão com um sorriso amigável. – Desculpe ter voltado assim, mas trouxe torta de frango para você, bom, vocês – Jade parou a alguns metros de nós, incerta sobre seguir adiante e servir o jantar ou apenas desaparecer com sua caminhonete enferrujada. – Fiz mal?

-Claire? – Ermont virou para mim e suas sobrancelhas se ergueram de forma inquisidora.

-Ermont, eu... – Mas as palavras haviam se perdido.

O que fora dito, fora dito. Não havia como negar ou trapacear com meias verdades. Ermont enrugou a testa e um sorriso sem humor estampou seu rosto. Ele vira o que precisava ver e levantou suas próprias conclusões.

-Terá notícias em breve – Murmurou para mim, e com um aceno cortês se despediu, mergulhando na escuridão da floresta e ignorando a presença de Jade, tal qual um elefante ignora uma mosca.


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Notas finais do capítulo

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