A Sereia escrita por Santori T


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Hoje estou com um pouco de pressa. Tenho que adiantar um pouco mais meus estudos, então peço que relevem qualquer erro ortográfico, porque não corrigi como deveria antes de postar.

—Sem trilha hoje.

Aproveitem! ^^



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A noite ainda não caíra quando bateram à porta do chalé. Da varanda de meu quarto pude ver as nuances rosadas de sua pele por baixo da cascata de cabelos escuros. Jade insistiu por mais alguns minutos antes que eu me desligasse da intensa vontade que me dissuadia a leva-la para o lago e descesse para abrir a porta.

-Boa noite.

Mas no lugar de um rosto, havia uma outra coisa. Um bichano mirrado, de pelo branco, com duas safiras azuis me encarando. Ele miou fraquinho e arranhou o ar a minha frente. Depois de um longo bocejo, lambeu os bigodes e ronronou para mim.

-O que é isso? – Perguntei, sobressaltada.

-Olhe – O rosto de Jade surgiu por trás do bichano, rosado e sorridente. – Ela não é linda? Eu a encontrei no caminho pra cá. Trouxe pra te fazer companhia. Você vive aqui sozinha... Deve ser solitário – Ela sacolejou o bicho e ele miou mais um pouco, como um boneco a pilha.

-Não quero isso – Resmunguei, enquanto Jade me ignorava e largava a gata magricela para percorrer a casa. – Leve-a embora.

-Não seja malvada – Jade passou por mim, marcando o ar com seu perfume doce. Ela engatinhou pela sala, seguindo os passos contidos da gata. – Ela está faminta. Podemos alimentá-la?

-Eu não tenho comida para ela – Insisti, segurando a porta aberta, como um convite silencioso para que ambas, ela e sua gata esfomeada, fossem embora.

-Gatos gostam de peixe, frango e carne – Jade me encarou com ansiedade – Tudo o que você comprou mais cedo, no mercado. Podemos preparar alguma coisa e alimenta-la.

-Mas...

Jade sorriu, se levantou, afastou a poeira do vestido azul e entrou em minha pequena cozinha. Sem esperar qualquer resposta de minha parte, arrumou panelas no fogão, abriu a geladeira e os armários. Em poucos minutos o cheiro gostoso de ensopado pairava no ar, um aroma irresistível até para mim.

-Você cozinha muito bem – Comentei depois que nos sentamos à mesa para jantar e provei sua comida.

-Obrigada – Jade sorriu e suas bochechas coraram de leve. Ela acarinhou a gata a seus pés. – Numa família com três irmãos e nenhuma mãe, alguém precisava cuidar da cozinha.

Eu concordei, acenando brevemente com a cabeça. Jade desceu o braço e coçou as orelhas do bichano; Uma pequena devoradora de carne. Gostei do pensamento.

-O que você faz aqui, afinal? – Perguntei, mantendo-me muito educada. Jamais poderia expulsar alguém que forrara minha mesa com uma refeição tão deliciosa que me fizera esquecer de minha outra fome.

-Ahn, eu... – Eu ouvi a respiração da menina se entrecortar e seus olhos buscarem outro foco, que não meu rosto. Havia uma mentira nascendo ali. – Estava apenas passando pela velha estrada e... Me lembrei que você morava por aqui, então resolvi visitar.

-Veio de tão longe me visitar numa hora tão imprópria? – Indaguei, curiosa. – Não temos intimidade suficiente para isso – Me inclinei um pouco mais sobre a mesa, obrigando-a a se virar para mim. – Por que veio?

Jade respirou fundo e seu coração bateu mais forte. Ela mordeu o lábio inferior e passou os cabelos por trás das orelhas.

-Eu vim porque... Porque precisava lhe conhecer melhor – Ela vomitou as palavras, num misto de vergonha e frustração. – Você vive aqui sozinha, longe de tudo... Não me parece ser como as outras pessoas da cidade – Ela suspirou, entristecida. – Eles são tão... tão... Bem, achei que... Poderíamos ser amigas.

-Não posso ser sua amiga – Respondi sem rodeios. Aquilo era perigoso. Eu não poderia por em risco a vida daquela menina.

-Mas – Ela me encarou com olhos marejados por lágrimas. – E-eu posso te ajudar! Posso vir aqui e ajudar com a casa, com a gata...

-A gata também não pode ficar.

-E posso cozinhar, se quiser! – Implorou ela.

Fiquei em silêncio, analisando mentalmente minhas alternativas. Era muito arriscado te-la em casa. Principalmente nos dias mais sombrios, onde a fome era tudo no que eu conseguia pensar. Contudo, talvez a habilidade fora do comum de Jade na cozinha pudesse ser uma solução para abrandar meu apetite selvagem. Eu não queria admitir, mas era verdade. Talvez fosse a ajuda de que eu estava necessitando todo aquele tempo.

-Não a quero aqui mais do que duas vezes por semana – Fiz minha primeira exigência, no que o rosto dela se iluminou de felicidade. – Você vem na hora do almoço. E vai embora antes de anoitecer.

-Tudo bem, como quiser – Ela enxugou as lágrimas que rolaram pelo rosto. – E Bela?

-O quê?

-A gata – Ela riu, apontando para o bichano que ronronava enquanto dormia perto da escada. – Ela pode ficar?

-Por enquanto – Falei sem muita convicção. Na realidade, o bichano era engraçadinho e eu detestaria transforma-lo em refeição num momento de desespero. – Agora vá pra casa.

Jade levantou-se e caminhou para a porta.

-Me diga uma última coisa – Pedi quando ela já estava na varanda – Por que você quer ser minha amiga?

-Porque você é diferente deles – Explicou-me ela, entrando na caminhonete enferrujada estacionada na frente do chalé. – Você me parece justa. Uma pessoa boa. O tipo de pessoa que está em falta nos dias de hoje.

Me doeu ouvir aquilo, mas fiquei em silêncio e a deixei ir embora, desejando lá no fundo que minha força de vontade permitisse que ela fosse embora todas as vezes que voltasse ao chalé.


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Notas finais do capítulo

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