A Sereia escrita por Santori T
Notas iniciais do capítulo
Bem-vindos ao penúltimo capítulo!
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Parti assim que Yen adormeceu, os cabelos cor de trigo largados sobre as almofadas. Meu coração encheu-se de preocupação e foi difícil me fazer sair de casa, deixando-o para trás naquele estado. Por mais que tivesse sobrevivido a retirada da flecha, o risco do pior sempre estaria lá. Contudo, eu precisava chegar ao meu clã o quanto antes. A vida de Jade e a minha, de certa forma, dependiam de minha apelação. Seria complicado fazer Belzeckiel me ouvir. Não fazia parte da cultura do clã dar voz a uma mera banida. Entretanto, eu jamais havia seguido as regras.
* * *
As água revoltas do Mediterrâneo me recordaram a infância. Enquanto nadava através das correntes, imagens antigas vieram a minha mente; Lembranças de momentos felizes que passei naquelas águas. Também lembranças cruéis, como a de Elijah Mcmiller. E foi com surpresa alarmada que os membros do Conselho me receberam. Nada feito por livre e espontânea vontade, é claro.
–Como entrou aqui...? – Um deles, Evlon, sufocou o ar dentro da boca, horrorizado. Era como se visse um monstro, uma coisa que não existia.
O Conselho estava reunido no grande salão, todos sentados em suas cadeiras de pedra. Ao contrário do povo do mar, os líderes do Conselho não viviam abaixo d'água, e sim numa caverna imponente, no coração de uma ilha perdida no mapa. De lá ditavam nossas regras, executavam nossas leis.
–Eu peço ao Conselho para falar – Pedi, me curvando humildemente.
–Você não tem palavra aqui!! – Berrou um deles com ódio pulsando dentro dos olhos. Seu dedo apontava para mim com repulsa. – Você... É uma banida!
A voz dele ecoou por toda a caverna, sinistra e cortante, como o silvo de uma cobra.
“Não deveria estar aqui...”
“Banida... É uma banida...”
As vozes sussurradas deles repercutiam aleatoriamente dentro de minha cabeça, mergulhando-me em dor. Olhei minhas mãos e diante dos meus olhos vi o rosto sereno de Elijah Mcmiller sorrindo com maldade. Fechei os olhos com força e quando os abri novamente, Elijah me beijava dentro do bote com o qual eu salvara sua vida.
“Banida... Banida....”
“Castigo... Precisa de um castigo...”
“Não devia estar aqui...”
As vozes sibilavam em minha cabeça, me enlouquecendo, sugando minhas forças.
–Não – Eu chorei, caindo de joelhos perante todos eles. – Por favor...
Mal ouvia meus soluços sob a confusão de vozes furiosas que me atormentavam. Tampei meus ouvidos com as mãos, consciente de que isso não os cessaria. Me curvei, tocando a ponta do nariz no chão. Todo o meu corpo pulsava, dolorido. Eu não tinha forças para me salvar da influência do Conselho.
–Já basta! – Bradou um deles, com firmeza.
Imediatamente as vozes se calaram e a caverna afundou em silêncio. Os demais ergueram seus olhares repreensivos ao outro, num misto de medo e desafio. O Conselho voltou a se sentar, mas suas atenções se focavam em mim, agachada como um ratinho apavorado a frente de todos eles.
Receosa, levantei, abraçando meu corpo, encarando o chão. Estava cansada, ferida. Com medo.
–Como você ousa retornar a esse lugar, criança? – Rosnou o homem que calara todos os outros. Belzeckiel liderava a palavra do Conselho agora. Seu rosto magro e cadavérico me espiava com indignação, e não havia nada em seus olhos fundos, além de dois grandes buracos negros.
–Eu peço... Para falar – Murmurei, rouca.
Belzeckiel levantou-se e caminhou até mim, sua túnica branca arrastando-se pelo chão de terra. Ele me observou de perto. Dava para sentir seu cheiro de sal.
–Você não é mais dessa gente – Sussurrou ele, cortante.
–Podem me renegar – Eu falei, com cautela. – Mas não podem me dizer que eu não seja como vocês. Ainda sou quem sou. Ainda sou sereia, e isso nunca vai mudar – Eu sustentei o olhar gelado de Belzeckiel com coragem.
O velho sábio afastou-se fazendo um gesto amplo com as mãos, um risinho prepotente nos lábios.
–Não há discordâncias quanto a essa verdade – Ele voltou a seu lugar, e quando seus lábios se moveram, suas palavras foram contidamente educadas. – Vou considerar tal fato e permitir que fale.
–Esta serva agradece – Respondi trincando os dentes e fazendo leve reverência. Todo Siren, banido ou não, deveria mostrar respeito perante o poder do Conselho.
–Então nos deixe a par sobre sua visita indesejada – Belzeckiel estreitou os olhos para mim, curioso. – Suponho que não tenha nenhuma relação com o que um tal soldado inconsequente tenha vindo fazer em nossa morada há algumas luas atrás.
–Na verdade, é exatamente por isso que vim – Respondi, apreensiva, no que os demais se exaltaram, indignados. A caverna mais uma vez se encheu com suas vozes cheias de repulsa.
–Está seguindo pelo mesmo caminho espinhoso de antes, criança! – Evlon ergueu-se de sua cadeira, enfurecido. – Está desafiando nossas leis em prol de um humano sem serventia!
–A menina não tem culpa de nada! – Eu argumentei, desafiando-o. – A culpa foi minha! Eu permiti que acontecesse! Mas ela não descobriu sobre nós. Ela não sabe quem eu sou, e se ao menos derem à ela uma chance...
–Chega!! – Vociferou Belzeckiel, irritado, os globos oculares negros, arregalados. Nós nos calamos assim que ele se ergueu. - Não há mais nada para ser dito. Não há nada a ser feito.
Belzeckiel lançou-me um último olhar decepcionado antes de seguir para fora do salão. Porém, eu corri até ele e o segurei pelo braço. O salão inteiro suspirou, ultrajado.
–O que está fazendo? – Sibilou o ancião, inflando as narinas.
–Vovô – As lágrimas desciam por meus olhos como cascatas cristalinas. Meu corpo tremia, sem forças e meu coração comprimiu em desespero. – Eu honrei nosso clã com meu exílio. Eu nunca voltei. Nunca desisti. Eu aceitei minha punição de bom grado, porque sabia que merecia – Respirei fundo, sem largar seu braço. – Então eu acho... Acho que cumpri com a lei. Não há mais nada para mim aqui.
–O que... O que está dizendo? – A compreensão perpassou seu semblante e Belzeckiel boquiabriu, estupefato com o que acabara de entender. – Você... Você... Não pode fazer isso, Aleerah!! – Todo o seu ódio esvaiu-se, deixando-o apenas com o medo.
Soltei seu braço e me virei para o Conselho. Encarei todos eles. Não havia mais temor em mim.
–Eu peço ao Conselho que, em troca da vida da menina, leve a minha!
–O que está pedindo é insano!! – Belzeckiel segurou meu braço com aflição.
–Eu peço para morrer no lugar dela! – Disse em alto e bom som. Os demais soltaram exclamações de horror, como se minhas palavras fossem um açoite em suas costas. – Dessa forma, nosso segredo morrerá comigo, e não haverá forma da garota saber qualquer coisa sobre nós.
–Não vou permitir essa barbaridade! – Sussurrou Belzeckiel, ao meu lado.
–Se somente isso vai fazer com que a deixem em paz, então eu farei, vovô – Depois me virei novamente para os demais. – Por favor, peço uma decisão.
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