Ronan me olhou e ameaçou sentar no chão com os outros casais, mas acabou sentando no braço do sofá. Elesis se deu por derrotada e desistiu de chama-lo. Dei um suspiro inaudível, eu tinha que fazer algo. Anda Arme, chame-o!

–Ér... Ronan... – Como era difícil pronunciar essas palavras.

–Fala. – Ele me olhou, aquelas orbes perfeitas, um azul encantador e um brilho sem igual.

–Pode sentar aqui... Se quiser, é claro. – Quase gaguejei ao falar. Comecei a suar frio de novo, todos que estavam sentados no chão me olhavam, que vergonha!

–Tá bom. – Ele aceito... ELE ACEITOU!

Não contive minha felicidade, abri um sorriso discreto e sentei melhor para dar espaço para ele sentar também. Por um momento senti que Ronan estava tímido, sei lá. Eu estava tão feliz, mas tão feliz que ele não precisava dizer mais nada, apenas estar ao meu lado. Não sentia mais medo, nada... Eu tinha o Ronan e isso era o suficiente para me dar mais confiança em mim mesma.

Voltei minha concentração para o filme, tinha acabado de recomeçar. Lire e Ryan trocaram beijos, Jin e Amy entrelaçaram os dedos, ficaram muito perfeitos os dois na minha visão. Lass abraçou Elesis, o que para mim foi uma surpresa, já que os dois não eram muito de demonstrar sentimentos, mas estávamos entre amigos, então achei que eles nem ligavam muito por conta disso. Amigos... Eu e Ronan só éramos isso, amigos... É tão complicado ter coragem para dizer que eu quero ser mais que uma amiga? É tão complicado mostrar a ele que eu o amo? Sinceramente... É...

Como eu já tinha visto o começo do filme, fiquei observando a sala, Ronan pegava pipoca com o Ryan; eu, Elesis e Lire já estávamos satisfeitas, já tínhamos comido muita coisa que a loira preparou, Amy e Jin compartilhavam outro pote de pipoca. Eu não tinha mais concentração no filme, meu foco era outro.

Minha vista estava ficando embaçada, pisquei algumas vezes. Ronan me olhou.

–Está tudo bem? – Ele perguntou baixinho para não atrapalhar, seu tom parecia preocupado.

–Sim. – Disse e voltei a olhar para a TV. Meus olhos estavam pesados, estranhei, mas continuei a tentar assistir.

Vi uma cena... Eu não conseguia ouvir direito o que se passava nela, era como se o volume estivesse no mínimo. O cenário era outro, parecia até que o filme era em 3D, porque eu me senti, por algum motivo extraordinário, dentro dele. Fiquei observando cada detalhe do lugar.

Era um baile, um casal dançava a minha frente, alguém os olhava de forma diferente, com certo ódio em seus olhos, eu tentei identificar a pessoa, mas a imagem dela estava distorcida. Voltei a olhar o casal, a menina me chamou muito a atenção.

Ela trajava um vestido longo de época, era azul turquesa, muito lindo, realmente uma roupa de gala. Ela estava feliz e o rapaz que bailava com ela também parecia muito feliz, ele estava de terno, mas era diferente, era mais antigo, usava também uma sobrecasaca preta. Ele sorria de forma angelical, eu os olhava sem acreditar no que via, era surreal... Aquilo fazia parte do filme?

A música acabou e o casal se separou, a menina que dançava veio em minha direção, fiquei boquiaberta, arregalei os olhos, aquilo era impossível! Era eu... A menina que dançava era eu! Tinha cabelo curto lilás, olhos da mesma cor, a mesma estatura. Ela parou na minha frente, mas parecia que eu não estava ali, eu não existia. Aos poucos eu desaparecia, olhei para minhas mãos e as mesmas estavam ficando invisíveis.

Olhava para a menina, que na verdade era eu, e era como se eu invadisse a mente dela, fechei os olhos não acreditando naquilo. Quando abri novamente eu era aquela menina, estava com o vestido longo, fiquei me encarando num grande espelho que havia na parede do imenso salão. Muitos que passavam me olhavam, achei que deveria estar fazendo algo de errado, percorri meus olhares pelo grande salão e vi que alguém me esperava bem no centro. Um rapaz de olhos azuis, cabelo longo da mesma cor, elegante... Lindo... Ronan... Era ele que antes dançava com a menina, que agora era eu mesma.

Sorri para ele e ele sorriu para mim, se aquilo era um sonho, desejaria não acordar. Mas parecia real, sei lá. Andei até o Ronan, olhares fixaram em mim, estava me sentindo uma princesa naquele belo vestido, indo até meu príncipe para dançarmos uma linda música. Ronan estendeu-me a mão como um verdadeiro cavalheiro.

A música começou, era suave... Piano... No centro do salão era só eu e ele, os demais convidados apenas assistiam encantados. Eu nem sabia como dançava, era automático, eu me sentia nas nuvens flutuando, sendo guiada pelo Ronan.

–Estás linda hoje. – Ele sorriu ao terminar.

O suave som do piano ganhou mais um companheiro para a sinfonia, o saxofone, logo se formou uma “banda” que tocava músicas que eu não conhecia muito bem, não era do meu tempo, pelo menos, não naquele momento, onde eu me encontrava em outro ambiente. Ainda questionei-me se estava assistindo o filme ou não... Mas logo voltei a olhar para Ronan.

–Digo o mesmo para o cavalheiro, estás belíssimo. – Minha voz não havia mudado, mas o estilo, o vocabulário mudou totalmente.

Ronan riu sem jeito, estávamos num ritmo perfeito, nunca tinha o visto dançar, era um pé de valsa. Logo depois da primeira música, os casais convidados foram se aglomerando ao centro do salão. Ronan me puxou delicadamente para fora dali. Novamente tive a sensação de estar sendo observada, mas ignorei.

–O que queres mostrar-me? – Indaguei curiosa.

–Não se apresse, será uma surpresa para a minha dama.

–Sua dama? – Indaguei mais uma vez.

–Sim, apenas minha... – Ele sorriu. – Hoje és meu aniversário, mas quem irá receber o presente será a minha bela dama.

–E quem seria essa tal dama que tanto falas? – Fiz-me de desentendida, o momento estava tão perfeito e único, o que estava me incomodando era a sensação de desconforto que estava sentindo, parecia que alguém estava nos observando, mas não estraguei o momento, ignorei novamente isso.

–Arme... Tu és a minha dama, a mais bela dama. – Fiquei surpresa, nunca imaginei que ouviria isso da pessoa que amo. Comecei a me questionar: era realmente eu ali, aquela menina era eu, como? Fiquei me imaginando como era possível aquilo e Ronan percebeu que meus pensamentos estavam longe. – Estás bem?

–Claro, por que não estaria?

–Estiveste longe em seus devaneios por um momento.

–Podemos sair daqui? Quero respirar ar fresco. – Mudei logo de assunto.

–Sim. – Ele me estendeu a mão e eu a segurei. Ronan me guiou até a saída. Aquela sensação de perseguição havia sumido por um momento.

Estávamos no jardim, era lindo, havia tochas e archotes espalhados para dar uma iluminação melhor. Um lago, onde a lua refletia sua majestosa imagem, estava a poucos metros de nós dois, o céu estava estrelado. Era muito perfeito para ser real. Eu deveria acreditar naquilo?