A Partir De Um Sonho. escrita por Mary e Mimym


Capítulo 3
Vivendo meu passado




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Ronan olhou para mim, amparando-me como se afirmasse o que eu havia perguntado, se eu deveria acreditar naquilo. Era como se o olhar dele me fizesse esquecer um pouco que eu havia uma outra vida.

–Hoje eu irei fugir com você. Como havíamos combinado. – Aquelas palavras me deixaram assustada. Como assim fugir? Do que ele estava falando? Somos amigos, né? Estava muito confusa.

–Iremos fugir? Mas por quê? – Perguntei tentando entender.

–Porque senão nunca ficaríamos juntos, esqueceu?

–E por que não ficaríamos juntos?

–Porque eu estou sendo pressionado e obrigado a casar-me com outra pessoa.

Temi em perguntar de quem se tratava. Não poderia estar acontecendo de novo, o Ronan gosta de mim, mas sempre tem alguém para atrapalhar! Também não estava acreditando que tínhamos combinado de fugir, ele me ama também e por isso propôs a fuga. Lembranças vieram em minha mente, lembranças essas que eu sabia que existiam.

“-Eu te amo... Sempre amarei, Arme... Minha bela dama, minha eterna amada... – Fiquei encarando-o, estávamos sentados em frente ao lago de sua casa, era um almoço de noivado em que Ronan era o noivo e minha melhor amiga era a felizarda. Nunca pensei que Elesis faria isso comigo, os pais deles nem ligavam para os nossos sentimentos, eles sabiam que eu e Ronan nos amamos, mas permitiram que esse noivado acontecesse, eu deveria fazer alguma coisa.

Levantei-me, ajeitei o vestido e o olhei profundamente.

–Vamos fugir. Assim ficaremos juntos, vamos conhecer novos lugares, ir até onde o homem acha impossível chegar. O que achas?

–Acompanhar-te-ei para onde quer que fores.

–Não se preocupas com Elesis?

–Ela sabe que não a amo...

–Então estás combinado, no dia de seu aniversário... Certo?

–Sim. – Ronan se aproximou de mim, mas apenas me deu um beijo na testa, Elesis estava na porta principal esperando-o. Ela me encarava com um sorriso vitorioso.”

Aquela recordação veio com um flash em minha mente, era como se eu tivesse voltado ao tempo e vivido aquilo naquele exato momento, foi estranho e revelador.

–Podemos fugir agora? – Perguntei por um impulso, era como se a “outra Arme” também falasse por mim.

–Não.

–Por que não, Ronan? Eu quero ficar com você, quero estar feliz ao seu lado, não vou permitir que nos separem. Marcamos de fugir hoje! Para sempre ficarmos juntos. Parece até que se esqueceste disso! – Falei um tanto desnorteada.

–Eu também queria fugir, mas você não entenderia...

Ele iria falar mais alguma coisa, mas ficou quieto, olhou para frente, eu estava de costas para o que ele viu, então nem sabia o motivo de seu silêncio. Ronan logo depois abaixou a cabeça.

–O que houve? – Eu fui fazer a mesma ação que Ronan de olhar para trás, mas ele não permitiu, segurou em meu queixo e me beijou do jeito mais apaixonado, não havia uma trilha sonora deixando o momento mais perfeito, porque ele já estava perfeito. Parecia ser o primeiro e último beijo, senti uma angústia e um amor crescendo cada vez mais em meu peito. Separamo-nos por falta de ar, os olhos do meu amado estavam inundados de incerteza e lágrima. Eu não entendia. Ronan fixou seu olhar para frente de novo, ouvi apenas algo cair e se quebrar, olhei para trás num impulso, nem Ronan poderia ter sido tão rápido para me impedir.

–Eu esperei durante a festa toda, vi os dois dançando como um casalzinho feliz, Ronan teve sorte de os pais não estarem presentes! Observava-os de longe, esperando alguma ação dos dois... Eu estou noiva dele! Casar-me-ei com ele! E tu, Arme, és uma pedra em meu caminho!

Ronan segurou minha mão, eu não estava acreditando... Minha cabeça começou a doer, minhas pernas estavam bambas... Minha melhor amiga estava a minha frente falando aquilo, destruindo cada esperança que habitava em mim, mas eu não iria desistir. Era incrível como eu estava mais forte, suportando tudo, mesmo nem sabendo direito o que acontecia.

Olhei para o chão e era uma taça que havia caído e se quebrado em vários cacos, mas o choque com o chão não a fez quebrar toda. Semicerrei os olhos e vi que havia sangue em alguns pedaços de vidro. Minha visão foi direto para as mãos de Elesis.

Ela havia apertado a taça ao ver-me beijando Ronan, sua raiva foi tanta que ela quebrou o copo em suas mãos e o restante do cristal foi estraçalhado no chão. Fiquei pasma, meus olhos estavam lacrimejando. Estava vivendo um pesadelo, uma lágrima escorreu em meu rosto, mas não era eu quem estava chorando, era a outra Arme.

–Não se preocupe, minha querida... – Elesis me encarava com certa frieza, ela percebeu que eu olhava a sua mão ensanguentada – Eu não derramarei mais meu sangue para ter o Ronan ao meu lado. Agora o seu... Eu faço questão de ter em minhas mãos. Eu a matarei, pois só assim o terei completo para mim.

–Não! És louca! Eu não a amo! Nunca a amei, ponha isso em sua cabeça, Elesis! – Ronan tomou a minha frente, queria me proteger a todo custo.

–É claro que me amas! Juramos amor um ao outro na frente de seus pais. – Ela deu um sorriso como se lembrasse do dia, mesmo sabendo que o amor de Ronan por ela não era verdadeiro, Elesis iludia-se.

–Eu fui obrigado a fazer toda aquela encenação, você ameaçou matar a Arme!

Ronan e Elesis discutiam barbaridades, eu nem sabia se aquilo estava acontecendo, se o que eles falavam era verdade. Não tinha mais certeza de nada. Só sabia que estava assustada. Eu. A outra Arme só fazia chorar dentro de mim.

–Elesis, nos deixe ir, sabes que não seremos felizes juntos se continuar me obrigando a seguir a loucura de casar-me com vossa pessoa.

–Você aprenderá a me amar, eu sei... - A ruiva tinha um sorriso doentio.

–Não! Entenda de uma vez: eu não a amo! – Ronan segurou a minha mão e começamos a andar.

–Estou com medo, não acho que deveríamos deixar Elesis sozinha, ela não está raciocinando bem. – Avisei.

–Não querias fugir? Então, estamos indo embora, estamos indo onde o homem acha impossível, vamos explorar a imensidão do mundo, só nós dois.

Um silêncio pairou entre nós dois, na verdade... Nós três. Olhei para trás.

–Cadê Elesis? – Encarei Ronan, apertando sua mão.

–Seu medo é a incerteza do que devemos fazer... – Ele me soltou e acariciou meu rosto, minha mão estava trêmula.

–Não quero ficar aqui, quero estar ao seu lado. Sei que se não fugirmos, irá se casar com Elesis e eu não suportaria vê-lo infeliz ao lado dela. És meu, somente meu...

O abracei, encostei meu ouvido em seu peito e pude ouvir as batidas de seu coração, ele estava calmo e passava segurança para mim.

–Arme? – Perguntou um rapaz de longos cabelos azuis.

–Sim... O que queres comigo? – Perguntei.

–Meus pais me falaram da bela Glenstid, queria conhecê-la pessoalmente, é uma honra estar a sua presença. – O rapaz pegou minha mão, retirou levemente minha luva rendada e a beijou.

Meu coração acelerou. Senti algo estranho, um nervoso, parecia até que tinha “borboletas no estômago”. Será que estava apaixonada? Era impossível, pois não acredito em amor a primeira vista, é muito romântico e não faço parte do Romantismo.

Mas, mesmo assim, sentia-me diferente, o cavalheiro tratava-me de forma tão carinhosa, voltei minha mão junto ao meu corpo.

–É um prazer conhecê-lo... – Não terminei a frase, pois não sabia o nome do rapaz a minha frente. Afinal, era a primeira vez que o via em minha vida.

–Ronan. – Ouvi uma voz familiar, era minha melhor amiga Elesis.

–Os dois se conhecem? – Indaguei. O denominado Ronan parecia não ter gostado da presença da ruiva.

–Sim, os pais dele querem que sejamos noivos.

Por algum motivo, senti certo ciúme invadir meu ser. Não estava acreditando mesmo que havia me encantado por aquele garoto que mal conhecia e nem que ele era noivo de Elesis, pois ela nunca havia comentado sobre ele ou sobre estar apaixonada.

–Preciso retirar-me, irei falar com meu pai, com a sua licença, bela dama. – Ronan foi ousado ao se despedir de mim, dando-me um beijo no rosto e nem se despediu de minha amiga.

Elesis me olhou com raiva, foi a primeira vez que a vi assim, fiquei sem graça de olhá-la.

–Não precisa se preocupar com o seu noivo, ele foi apenas gentil. – Disse, tentando amenizar o acontecido.

–Dando-lhe um beijo! Isso não é gentileza. – Elesis nem me deixou usar outro argumento, ela deu as costas e virou para sair.

Continuei caminhando pelo jardim de minha casa, não iria discutir. Sabia que meu pai estava recebendo visitas de negócios, mas não sabia que também estavam tratando do noivado da ruiva. Por mais que eu tivesse vários pensamentos, sempre acabava pensando no tal Ronan, ele mexeu comigo de uma forma inexplicável.

–Pensando em mim, bela dama? – Assustei-me e acabei tombando para trás, alguém me segurou, na verdade, Ronan me segurou.

Recompus-me rapidamente o encarando.

–Estás me perseguindo, é? Pensei que havia saído.

–Eu saí, mas esperei que Elesis saísse e voltei. - Ele sorriu com a sua explicação.

–Estás noivo de minha melhor amiga! É melhor ficar longe de mim! – Afastei-me.

–Eu não a amo, estou sendo forçado a casar-me com ela apenas para estabelecer uma união entre os negócios do meu pai e do pai dela.

Silêncio.

–E por que não diz à ela que não a ama?

Ronan começou a me contar o que acontecia. Nem havia percebido, mas estávamos caminhando juntos pelo longo jardim, conversando sobre a vida do jovem cavalheiro de olhos azuis como suas madeixas. Fiquei surpresa ao saber que Elesis incentivou tudo isso sobre o noivado.

–Nunca imaginei que Elesis fosse tão maquiavélica.

–Pois acredite, quem você chama de “melhor amiga”, pode tornar-se sua maior inimiga.

–Nunca mais repita isto! Quanta insolência e disparate! – Exaltei-me, como ele tem coragem de falar assim de Elesis?

–Tudo bem... Não quero mais falar mais do meu futuro incerto, quero saber mais sobre a senhorita. – Paramos perto de uma árvore e nos sentamos debaixo da mesma.

Silêncio.

Não estava acreditando que conversava com Ronan. Ele tinha um jeito diferente, que me cativava a estar perto dele. E, mesmo com minha explosões e tentativas de ficar com raiva dele, não conseguia. Seu rosto, seus olhos, sua boca, sua presença me prendia.

–Não há muita coisa para eu dizer sobre mim.

–Sempre há o que dizer, bela dama.

–Por que me chamas de bela dama? Sou normal como qualquer outra.

–Não... És a mais bela de todas.

Olhamo-nos, não estava aceitando o que meu coração estava fazendo, ele acelerou bruscamente querendo sair de meu peito. Sim, mesmo não querendo, mesmo relutando, aquele insólito conquistou-me, eu estava apaixonada por ele. Ronan percebeu que estava perdida em meus pensamentos.

–Não viaje tanto, o homem tem limite para explorar novos horizontes. – Ele brincou, sorrindo da forma mais angelical para mim.

–Como consegue?

–O quê? – Ronan se fez de desentendido, odiei aquilo ele riu da minha expressão.

–Está tentando me conquistar, por quê? Estás noivo!

–Porque eu te amo...

–Desde quando? – Perguntei abismada.

–Eu sempre vinha com meu pai tratar sobre negócios, mas achava aquilo uma chatice. Eu ficava olhando da janela, da sala que ficávamos, o jardim colossal e belo a minha frente. Dias aleatórios deparava-me com uma jovem tão bela quanto às rosas do jardim, era você. Comecei a vir mais nas reuniões, meu pai achava que estava começando a me interessar pelos negócios, até que surgiu a proposta de casar-me com uma jovem que era filha de alguém que eu pudesse continuar com os afazeres do mesmo. Pensei que fosse você a jovem que meu pai disseste, mas deparei-me com Elesis. Nem a conhecia, nem sabia que ela era sua amiga. Meu mundo desabou, mas pensei comigo mesmo que não deveria desistir. Não irei desistir de você, não peça que eu desista, entenda que estou aqui apenas para tentar demonstrar tudo que sinto, não sei usar palavras bem rimadas e metrificadas, não sou um poeta e, muito menos, o Romeu fazendo de tudo para ter a Julieta, sou apenas o Ronan declarando-me para a jovem que realmente ama.

Fiquei espantada, não esperava por aquela história, não estava preparada para ouvir aquilo. Engraçado que eu sempre olhava para a janela da sala onde meu pai trabalhava e tinha um lindo jovem parado, observando o céu. Agora tudo se encaixava, era ele... Estava nutrindo um sentimento e agora, que Ronan contou tudo isso, ele despertou. Aquele atrevido conquistou-me, me vi apaixonada por ele, sem precisar ditar juras de amor. Simplesmente aconteceu...

Tirei meu par de luvas, não estava mais pensando, estava agindo. Queria tocar-lhe, sentir a suavidade de sua pele, seu rosto... Seus lábios... Acariciei sua face e ele se aproximou lentamente de mim, as luvas estavam ao meu lado, mas o vento, que soprou naquele momento, acabou afastando-as de mim. Não me importei.

Fechei os olhos e senti seus lábios no meu, um aperto no coração, talvez de culpa, me invadiu, mas eu estava apaixonada, mesmo não sabendo o que realmente significava estar apaixonada. A culpa se transformava em pura paixão.

–O que pensam que estão fazendo?! – Eu e Ronan nos levantamos rapidamente, cessando o beijo.

Ronan não parecia surpreso, estranhei.

–Eu sempre disse que não a amava, ficou claro agora? – Perguntou ele, parado ao meu lado.

–Você irá me amar, Ronan, como ama essa daí. – Elesis estava diferente, nunca pensei que ela agiria assim. Surgiu do nada e criava um conflito.

–Sentes uma amor doentio por mim, um amor obsessivo, aliás, isso nem deve ser amor!

–Estás insinuando que não o amo? Estás louco? Não sabes com quem está lhe dando, Ronan. O farei ser meu, apenas meu! Estás prometido a mim!

–Elesis! – Gritei, não estava mais aguentando ficar calado e vendo um absurdo daquele – Ele não a ama!

–Ah... Agora a Arme resolveu falar... Eu sabia que quando os dois se encontrariam o amor fluiria... És tão patética Arme, que nunca percebera que eu sempre a manipulava para não conhecê-lo. Sim... Ele era o rapaz que ficava na sacada da janela e sempre fores curiosa para saber quem era.

–És um monstro, Elesis! Como pôde fazer isso tudo? – Questionei, quase avançando na ruiva, mas Ronan me segurou.

–Eu falei... Eu falei que ela era sua inimiga. Mas não acreditaste em mim. – O azulado falava diretamente para mim, mas estava a “flor da pele” e nem estava prestando atenção no que dissera, meu alvo era Elesis, aquela traidora!

–Não sou um monstro, sou apenas um ser humano atrás do que almeja... E eu quero o Ronan. – Elesis o olhou maliciosamente, deixei minha raiva falar mais alto.

–Não tocará nele! Não permitirei que fique perto dele! Ele não a ama, ele ama a mim, e ficaremos juntos!

–Há há! Como tens senso de humor... – Elesis ria debochadamente – Vamos ver até onde esse romancezinho a primeira vista vai durar...

Elesis saiu de perto de nós dois, olhei incrédula para Ronan, eu não deixaria aquilo passar despercebido, fui tentar ir em direção a ruiva, mas Ronan me segurou.

–Deixe-a, não sabes do que ela será capaz de fazer, agora que sabe que nos conhecemos e nos amamos. Ela sempre tentou nos separar... Mas agora que estamos juntos, seremos fortes para debater de frente com Elesis.

–O casamento de vocês já está marcado? – Perguntei, estava com um plano em mente.

Era incrível e inexplicável saber que eu gostava de alguém que nem tive contato antes e que, em nosso primeiro encontro, o amor falou mais alto. Pensei que não era romântica, mas estou vivendo em um romance... Ironias da vida... Ainda mais sendo um romance tão perigoso...

Ronan pensou um pouco e suspirou pesado antes de me responder.

–Logo depois do meu aniversário irei esposar-me com Elesis..

–Então... – Segurei em suas mãos – Iremos fugir no dia da festa, todos estarão ocupados comemorando seu aniversário, comendo e bebendo, o que mais sabem fazer, nem irão se importar com sua ausência, e então partiremos para onde o homem ainda não alcançou, para além do horizonte.

Sorri e ele sorriu para mim, aproximou-se calmamente e iniciamos mais um beijo.

–Até parece que permitirei a fuga de vocês...

Elesis nos observava de longe, mas não percebemos.”


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Notas finais do capítulo

Alguma dúvida é só perguntar *u*



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