Mulheres de Vênus escrita por Lara Campos


Capítulo 7
Capítulo 7 - Calma




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Fitei aqueles olhos deslavados ao entrar na delegacia. Jessica abaixara a cabeça levemente como quem se fazia de vítima, porém eu bem sabia que essa era a última coisa que ela era naquela situação. Sentei-me na mesa de um dos funcionários e agi com todo o respeito, afinal, nada eles tinham a ver com aquela grande mentira.

_A senhora está sendo acusada de agressão, senhora Lara.

_Só, Lara, por favor – corrigi o rapaz -.

_Ok, Lara. Há algo que queira dizer a seu favor?

_Posso ler o depoimento dela?– olhei-a com desdém, sentada numa poltrona na mesma sala em que me encontrava, apenas sorrindo ironicamente por dentro. Rídicula -.

_A senhorita permite? - o escrevente dirigiu a palavra a Jéssica -.

_Sem problemas – respondeu -.

Sua voz, naquele instante, e somente ela me causava náusea. Jéssica não parecia o tipo de mulher baixa, capaz de mentir tão deslavadamente e levar esta mentira a um departamento policial. Eu não ia, porém, discutir com ela naquele local. Aposto meu mindinho que era exatamente o que ela pretendia.

Li todo seu depoimento, todos os “ai” e dores contidos em sua fala – falsa – e apenas assinei um documento após confirmar a leitura do ocorrido. Julia adentrou a sala no exato momento em que eu estava assinando este documento. Ela ficou parada atrás da cadeira que me sentava e pousou uma das mãos em meu ombro direito. Sem dizer um pio, apenas segurei sua mão e agradeci o carinho com meu olhar.

Jéssica, no canto da sala, fitou aquela cena, como bem pude ver pelo canto do olhar, e se levantou instantaneamente.

_Qualquer um pode entrar nessas salas de polícia assim? - perguntou ao rapaz simpático que me atendia, com uma empáfia de dar nojo -.

_A senhorita Julia trabalha conosco.

Jessica apenas virou o rosto, como quem parecia espantada de verdade com aquela coincidência. Achei o máximo ver sua expressão.

Eu estaria mentindo se dissesse que sua presença não me incomodava. Mentiria, também, se afirmasse que aquela acusação não havia me deixado de pernas bambas e só a ideia de vê-la já não tinha mexido comigo. Já não sabia, porém, se aquela inquietação ao tê-la por perto era ressentimento, sobra de sentimento, ódio ou amor. Era difícil distinguir diante de tanta infantilidade por parte dela.

_Gostaria de nos dar sua versão do depoimento, Lara?

_Não, pode me dar os papéis pra eu assinar, eu confirmo tudo.

Julia e Jessica arregalaram os olhos espantadas diante do que eu acabara de fazer.

_Lara! – Julia me reprimiu com a voz baixa e com um olhar duvidoso –

_Deixa que eu sei o que estou fazendo.

Julia se afastou e saiu da sala um tanto consternada e Jéssica ainda estava boquiaberta diante da situação.

_Qual é o veredito? - perguntei ao rapaz -.

Pelo fato de eu ter colaborado, não negando sequer uma vírgula da história e me apresentado prontamente à delegacia, ficou acordado que eu pagaria algumas cestas básicas a uma instituição de caridade X e que deveria manter pelo menos 10 metros de distância de Jéssica, já que eu era tamanha ameaça.

Obviamente tudo aquilo era mentira. Li todo o depoimento apenas para ter o bel prazer de, com meus próprios olhos, confirmar qual era o nível de loucura imaginativa que Jéssica possuía. Não me espantou nenhum pouco a enorme gama de detalhes, já que cada um deles descrevia perfeitamente uma de nossas noites de sexo mais “selvagem”, diríamos. Tudo aquilo, porém, o prazer e o amor que eu dera a ela, colocado numa folha A4 em forma de uma violência deturpada e ridícula.


HÁ DOIS ANOS ATRÁS


Jessica chegara em casa com um vinho barato nas mãos, daqueles bem doces que mais pareciam suco de uva alcoólico, aparentando estar um tanto bêbada.

_Você não veio dirigindo, né, amor?

_Não, meu bebê, o Tiago me trouxe.

Ela se jogou no sofá ao meu lado e começou a me olhar sem desvios.

_O que foi? - perguntei-lhe rindo -.

_Eu quero você agora.

Apenas sorri imaginando que ela não chegaria nem a me beijar direito com aquele semblante derrotado pela bebida, porém fui surpreendida com uma de suas mãos agarrando meu cabelo, puxando meu rosto para trás e com seus dentes fincados no meu queixo, sem o mínimo de cuidado.

_Ai amor!

Ela fingiu não ouvir minha repressão. Ajoelhou-se à minha frente, começou a abrir minha calça jeans e a puxá-la sem tirar os olhos em mim. Entrei naquele joguinho perigoso e também não desviei o olhar. Ela desceu toda a minha calça e agarrou as laterais da minha calcinha com as duas mãos. Ao descê-la devagar, foi passeando pelas minhas coxas arrastando suas unhas e fazendo com que eu reclamasse, mais uma vez, da dor que ela estava me fazendo sentir. A marca perfeita do caminho que fez ficara em minha perna e aquele ardor me provocava tesão, tesão por aquela mulher nada sutil.

Puxei Jessica para um beijo e mordi sua boca forte, tanto que naquele momento senti o gosto salgado de um filete de sangue que arrancara de seu lábio inferior.

_Vadia – disse-me entredentes – Você vai ter o que merece.

Jessica, sem nenhum cuidado, fez com que eu me levantasse do sofá e me agarrou andando aos beijos comigo até o balcão que dividia a cozinha do sala. Levantou-me pela parte debaixo da coxa e me sentei ali mesmo. Tirou minha blusa e desceu com a boca do meu pescoço até meu sexo. Aquela foi a melhor chupada da minha vida e enquanto sua boca me dava muito prazer, ela apertava meu quadril com as mãos, o que posteriormente se transformaria em grandes marcas roxas de um sexo nem um pouco delicado.


ATUALMENTE


Julia entrou em meu carro quando eu estava para sair da delegacia. Pediu que eu lhe desse uma carona, apesar de estar de carro, afirmando vir de táxi no outro dia para o trabalho. Assim que se sentou ao meu lado, Jessica também saiu pela porta da frente do departamento sem entender o porquê de eu ter confirmado sua acusação de agressão mentirosa, tendo a coragem de vir até o meu carro para tirar satisfações.

_Por que você fez isso? – perguntou-me encostada no carro ao lado do meu vidro e ignorou Julia ao meu lado -.

_Não lhe devo satisfações. Mas se quer saber porque menti...pelo menos assim eu teria de não chegar mais perto de você. Afinal, se o fizer serei presa.

Apenas com aquelas palavras, sem dizer tchau e nem esperar que ela me respondesse, acelerei o carro com ódio e quase furei um sinal, logo adiante. Se não fosse por Julia ao meu lado, aposto que teria pregado meu carro num outro que vinha pela minha direita.

_Me desculpa – disse a Julia e comecei a chorar feito uma criança com o carro apagado no meio da avenida -.

_Shiu, ei, vem cá, me passa esse volante - Julia desceu rapidamente do carro, enquanto o sinal não ficava verde e eu pulei para o banco do carona, ainda a chorar -.

Fomos por todo o caminho, que não era tão grande, em silêncio. Julia estacionou em frente ao meu prédio, seguindo as coordenadas que o GPS ditava até o meu apê, e adentrou a garagem. Subimos e ao chegar na sala, apenas me joguei sentada no sofá e continuei a chorar e chorar. Eu simplesmente não conseguia segurar aquela angústia, todo aquele estresse que estava sendo me separar de Jessica, mas ela estava ali. A mulher maravilhosa dos cabelos ruivos estava ali para cuidar de mim.

_Pega – estendeu-me a mão com um copo d’água nela – Bebe pra você se acalmar.

Bebi rapidamente e quando terminei, ela se sentou no sofá ao meu lado, separando os fios de cabelo que estavam grudados nas lágrimas do meu rosto. Gentilmente me beijou a bochecha e virou meu rosto para ela com uma das mãos em meu queixo.

_Ei, Lara, presta atenção. Eu não sei e nem quero saber por que você confirmou aquele depoimento, porque fez tudo aquilo e nem imagino o porquê esteja chorando.

Ela dizia todas as palavras com muita calma e certo cuidado.

_Mas eu espero que isso passe, porque eu estou prestes a tentar te acalmar e... espero que funcione.

Ela respirou fundo, começou a abrir os botões da camisa devagar e antes de fazê-lo por completo, passou a perna direita para o outro lado do meu quadril e se sentou no meu colo de frente para mim. Beijou minha boca devagar, pousou sua mão na minha e levou-a até seu seio pedindo silenciosamente que eu apertasse. Obedeci.

Aquela mulher não poderia ser mais perfeita e em apenas um minuto meu choro cessara e só o que eu queria era fazer amor ali mesmo naquela sala, naquele sofá. Naquele espaço que não era e nem nunca mais seria da minha...ex.


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