A Rainha de Copas escrita por Kaya Terachi


Capítulo 4
Rainha de copas.




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As baixas vozes ecoavam pelas ruas e as pessoas já se aliviavam em suas casas pela lua que surgia no céu, já não havia motivos para se preocupar com os criminosos, afinal, agora ele estava lá para protegê-las de qualquer perigo, o morcego.
Eram mundos completamente diferentes, fora e dentro do crime, do lado de fora era tudo tão superficial, tão... Intocável, tão bonito. Talvez alguns sonhassem com uma vida normal, sem perigo, sem qualquer coisa ou motivo que pudesse preocupá-los além de suas contas para pagar e de ter que escolher o que comer no jantar. Talvez alguns fossem felizes só por poder se levantar junto do sol e vê-lo nascer, mas não saiam de seus escritórios para vê-lo se por, afinal, não era de suas rotinas, embora a noite fosse mais segura do que o próprio dia. E tudo se repetia todos os dias até haver uma explosão ou um roubo a banco que precisasse ser desafiado os poderes e habilidades da policia. Era uma cidade normal para todos, mas eles sabiam que tinham algo especial, sim, eles tinham, em Gotham City.
Ruas escuras, uma pessoa pior do que a outra, talvez infectada pela doença da fome e miséria, talvez só cometesse crimes para se sentir melhor consigo mesmo, afinal, alguns deles não matavam por dinheiro, não... Era por outro motivo, bem mais obscuro e bem mais profundo em suas mentes doentias, era algo único para qualquer um, talvez por vingança de algo passado e já esquecido por muitos, talvez, já cansado de ser destruído pela sociedade em seu interior e resolvera lutar contra as coisas boas e a ordem.
Passando por toda essa podridão e escuridão, no fundo, bem no fundo de um dos becos da cidade, se podia ver apenas um nome na placa vermelha iluminada: “Wonderland”. Era o lugar mais visitado nas noites, ou talvez tenha passado a ser de uns anos para cá. Era também ponto de encontro, apesar de ser um bordel, ou para que não fosse tão vulgar, como sua dona o batizou, um bar de strip tease, mesmo que para todos os moradores tivesse quase o mesmo significado. O que importava, era que para cada criminoso, existiam duas dançarinas na porta esperando para acompanhá-los, suas roupas negras curtas, que deixavam as coxas a mostra, tão vulgares quanto as palavras que deixavam suas bocas depois do primeiro elogio que recebiam, é claro que acompanhado de uma boa quantia de dinheiro. No palco, ao centro, havia a dançarina com o olhar penetrante, e apesar de todos os rapazes estarem acompanhados, todos os olhares eram daquela mulher, independente de quem fosse, por trás da máscara, encantadora. Tinha os cabelos vermelhos soltos, repicados em tamanho médio, vestia o corset preto e a saia feita de tule, os bordados em sua roupa eram vermelhos, a cor da luxúria que cobria as paredes do local e em seu rosto, o enorme sorriso ali gravado com maquiagem, rasgando os lábios e ultrapassando-os numa risca quase sem fim até metade do rosto. Ah sim, ela sempre era a atração principal, o que ninguém sabia é que ela era a dona de cada milímetro de chão daquele lugar. Dançava, com movimentos suaves, deslizando o corpo pela barra de metal até alcançar o chão e tornar a subir, deu uma mordida no lábio inferior, desviando o olhar com os olhos lindos e vermelhos a platéia, cobertos pelas lentes de contato e num ultimo roçar pela barra ameaçou a retirada das roupas que usava, tendo a resposta positiva de todos os rapazes ali, porém recuou com a risada divertida e fez uma pequena reverência que chamou a atenção com o fim da dança, ou talvez fosse a explosão no palco com a imensa camada de fumaça branca, que fora camuflada pelas luzes vermelhas, e ela já não estava mais lá, havia desaparecido, porém pequenas cartas voaram pelos ares a cair sobre as mesas de cada um de seus clientes. A rainha de copas.
– E aí, como estão os clientes essa noite?
– Nenhum deles se parece com a sua descrição.
– Então teremos que esperar mais um pouco.
– Mais um pouco?! Eu já estou farta de esperar! – Falou a garota a empurrar o rapaz contra a parede, rosnando a ele e o observando por um pequeno período de tempo, porém por fim, ambos caíram na gargalhada e ela o soltou.
– A vingança é um prato que se come frio, minha querida.
– Já fazem dezesseis anos que estou esperando esse prato esfriar.
– Seja paciente.
– Parece que as coelhas impressionam mais do que eu. – Murmurou a ouvir os aplausos no andar de cima.
– Elas não são tão bonitas quanto você.
– Não me bajule coringa. – Falou a jogar sobre ele a saia que usava, seguindo em direção ao camarim, onde se trocaria para o grand finale.
– O que? Eu só gosto do seu sorriso, é melhor que o delas.
– Até parece que homens se interessam pelo sorriso de alguma mulher.
– Eu não sou como os outro homens.
A garota riu a observá-lo e retirou o corset, que deu lugar ao vestido comprido que quase lhe alcançava os pés, porém tinha transparência a partir de sua coxa.
Os passos pesados pelo chão, se dirigiam para o andar de cima, já estava na hora de fechar as apresentações do dia, e fechar a boate, mas como fazer todos os clientes saírem? Alguns não saiam.
Subiu ao palco, com a sua roupa negra e evidente em contraste com a parede e sorriu a todos, fora acompanhada pelas três coelhas brancas que antes estiveram no palco, vestidas com suas fantasias brancas até nos cabelos, porém, tinham os olhos igualmente vermelhos. Como era tradição na casa, as últimas três dançarinas passavam a noite com três rapazes escolhidos na boate, é claro que todos eles estavam esperando por isso a noite toda, para serem escolhidos pela dona.
Ela ergueu a mão, apontando os três rapazes, como se não os conhecessem, porém sabia exatamente quem escolher, e um por um saíam dali felizes com suas acompanhantes e fora a ultima atração da noite. O restante do publico, seguia seus caminhos, para casa, ou para a sarjeta, não importava, desde que fora do local, mas o que ninguém se perguntava, era porque sempre entregavam as jovens escolhidas depois do amanhecer e não no meio da noite, para que pudessem aproveitar mais a companhia delas. Era simples, nada perigoso ali era feito no anoitecer.
O caminho para o andar inferior se fez como de costume, apagando todas as luzes vermelhas do local já vazio, que mais tarde seria limpo e pronto para uma próxima noite, e iria de encontro a seu amado, porém nunca o deixaria saber de tal coisa.
– Foi uma bela noite, não acha?
– Poderia ter sido melhor.
– Se você acha... – Falou a pegar duas taças e preenchê-las com o vinho tinto, bordô, como ela gostava e lhe entregou uma delas.
– Não sei se gosto muito de vinho.
– É a única coisa que temos pra beber aqui. Sei que gosta de coisas mais simples, mas pra mim isso é perfeito.
– Não, álcool deixa as pessoas confusas, eu preciso manter a minha mente no lugar.
– Precisa manter a mente no lugar? – Riu.
– É. Eu não preciso de bebida pra sorrir todos os dias.
– Está aí uma coisa que eu tenho que concordar.
O rapaz estreitou os olhos a ela, quando foram interrompidos pelo barulho da porta, a garota parada a observá-los, com os cabelos brancos na altura da cintura.
– Terminamos. – Disse ela.
– Certo, já estamos indo. – Respondeu a ruiva.
– Já estava na hora. – E o rapaz a se levantar.
A ruiva seguiu na frente, para fora do local onde trancou e pegou o carro, esperou que todos o adentrassem e logo seguiu a dirigir pela cidade, tentando não chamar muita atenção se possível, porém era meio improvável que alguém visse por trás dos escuros vidros do carro. Estacionou na parte de trás de um prédio e logo saiu do veículo, junto aos outros dois e entraram pela porta dos fundos do edifício, talvez um edifício de trabalho, seguindo ao elevador que os levaria para o subsolo ainda vazio e fechado. Poucos passos foram suficientes para observar de longe os rapazes presos e amarrados ao redor da pequena pilastra do estacionamento.
A ruiva se aproximou e abaixou-se a observá-los, puxando-lhe os cabelos a retirá-los da face e pode observar bem o rosto de um deles, afastando-se e apenas abriu um sorriso sutil.
– Eles são todos seus, coringa.
A garota dos cabelos brancos por fim, se dirigiu a saída do local, com os passos rápidos enquanto a ruiva apenas permanecera a observar enquanto o estranho palhaço derrubava gasolina nos corpos presos, com a gargalhada baixa e divertida para em seguida se afastar e jogar o isqueiro sobre eles, assistindo aos gritos e a tentativa inútil de se soltar dos homens no chão.
– Talvez agora eles aprendam a trabalhar direito.


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