A Rainha de Copas escrita por Kaya Terachi


Capítulo 5
A carta.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/345004/chapter/5

O barulho preencheu o beco, alto e agora um dos corpos estava na lata de lixo. O esforço para colocar o outro foi o mesmo, mas o terceiro ainda estava ali, atrapalhando o caminho, e a carne queimada, tinha um cheiro péssimo. Por mais bonito que o fogo pudesse ser corroendo uma pessoa, corrompendo a pele e retirando a vida aos poucos, era um trabalho difícil de se fazer, e como fazer parecer que tudo estava certo e sem ninguém estar envolvido em nenhum tipo de plano contra Gotham. Numa cidade cheia de vilões, era meio difícil acreditar que algo assim pudesse ser evitado.
- Vamos logo, daqui a pouco escurece e todas nós estaremos ferradas.
- Por que o Coringa não está ajudando? – Disse uma das garotas de branco, usando as orelhas no topo da cabeça.
- Logo ele virá, ele estava limpando o lugar, ou pelo menos foi isso que disse pra mim.
As duas garotas, suspiraram, quase ao mesmo tempo e seguraram o terceiro corpo a tomar impulso para jogá-lo sobre a lixeira, mas por fim, fracassaram a derrubá-lo no chão e a única coisa audível na ruela escura fora o riso cada vez mais perto até que quase lhes penetrasse o ouvido com o som perturbador.
- Tirando o lixo, meninas? – Ele fez a pausa a observar a mulher de vermelho - Querem uma ajuda?
- Seria bom. – Sorriu ela.
- Certo, mas primeiro, eu preciso falar com você. A sós.
Apenas um olhar bastou para que as garotas compreendessem que deveriam se retirar do local e entraram pela porta ali próxima, nas sombras.
- O que foi?
- Houveram alguns... Pequenos erros que não podem se repetir dessa vez.
- Erros? Eu fiz tudo conforme o plano.
- Deixou escurecer para trazer os corpos pra cá, sabe exatamente porque não podemos deixar escurecer.
- Coringa, tivemos mil coisas pra fazer hoje, acha que é fácil carregar os corpos pra cá? Ainda mais sem a policia ver ou ninguém saber de nada.
Um investida rápida foi dada contra a garota que prendeu-a contra a parede e em seus lábios o sorriso estava presente novamente, já empunhando a faca e aproximando-a do rosto da garota.
- Eu não admito erros, Angelique. Se errarmos um detalhe, tudo desmorona. Entendeu?
- O que vai fazer? Me esfaquear e me jogar na lixeira?
- Não seria uma má idéia. Você tem sido bem... Mal criada nesses últimos dias, eu não posso aceitar algo assim.
A garota percorreu a face dele, milímetro por milímetro e terminou nos olhos, eram pura maldade, apenas constou, como se já não soubesse, mas era sempre bom se lembrar que fora por aqueles olhos que se apaixonou.
- Espero que corra tudo certo... Da próxima vez.
Ela assentiu, como se estivesse em posição de corrigir um erro e gemeu ao sentir a lâmina lhe tocar os lábios e abrir a ferida que deixou escorrer o sangue pelo queixo a deixar pequenos rastros sobre sua roupa preta. Sua face não se alterou, permaneceu intacta, como se já estivesse acostumava a absorver a dor como uma droga quando estava com o outro. Lembrava-se muito bem, de cada cicatriz que tinha no corpo, e não eram poucas, porém, tinha sempre a precaução de nunca deixá-lo cortar nenhum lugar visível em seus trajes curtos.  Sentiu a língua do outro deslizar pelo próprio queixo, limpando o rastro de sangue deixado, porém deixou os próprios lábios sujos, usando o polegar para espalhar o sangue e pressionar a ferida, arrancando mais um sutil gemido da garota.
- Gosto dos seus lábios com essa cor. Devia passá-la todos os dias.
Falou a preencher os lábios dela da cor vermelha de seu próprio sangue e alargá-los pouco num sorriso sutil em cada canto da boca.
O barulho dos passos tomou conta do local, objetivos, precisos, talvez a procurar saber o que acontecia ali. A ruiva foi a primeira a alarmar-se e selou os lábios do rapaz, sujando-os de sangue e o empurrou sutilmente.
- Vá, ninguém pode te ver.
E o viu sumir entre as paredes escuras, a garota suspirou e engoliu o choro como pôde, recompondo-se.
Os passos denunciaram a presença de alguém, alguém que roubou a própria atenção pelo aroma que possuía, tinha um aroma diferente, um aroma que lembrava o passado. Afastou-se da parede e o viu se aproximar com calma. Aproximou-se rapidamente e encostou-se na parede, atrás do rapaz, chamando sua atenção com a voz tranqüila e doce, até sedutora, se podia dizer.
- O que está procurando aqui, rapaz?
Deslizou um dos dedos a limpar os cantos dos lábios preenchidos pelo sangue, limpando-os e os lambeu em seguida, tendo neles o tom corado naturalmente.
- Quem é você? 
O rapaz mais alto proferiu e imediatamente, entre suas palavras a garota reconheceu o sotaque francês, talvez fosse impossível esconder isso de alguém, ainda mais da garota ruiva.
- É francês, pelo que vejo.
- Sim ,e conheço todas as piadas que você possa fazer a respeito, minha dama.
A garota apenas sorriu.
- Por que eu faria piadas?
Desencostou-se da parede e deu uma pequena volta ao redor do corpo dele, observando-o nos mínimos detalhes, estendendo a mão ao final da caminhada, a parar fronte a ele novamente.
- Je suis Angelique L’Croix. Enchanté de vous connaitre.
- Você... Você fala francês?
- Je suis française. O que? Achou que não ia encontrar nenhum outro francês nessa cidade? É realmente, isso está decadente... Mas mesmo assim.
- Por que nunca a vi por aqui?
- Não costumo ser vista.
- Entendi. Então, Angelique... Bem, foi um prazer conhecê-la.
- Vamos nos encontrar em breve. Mas agora eu tenho que ir. Au revoir.
As ultimas palavras soaram como num sussurro e a garota desapareceu no escuro que tomava conta  do lugar, deixando para trás apenas a carta da rainha de copas jogada ao chão, algo que talvez o outro pudesse guardar de lembrança de seus olhos vermelhos e a pele tão branca, mas quem sabe, seus lábios cobertos de sangue.
Era uma surpresa encontrar uma garota tão encantadora por ali, mesmo que em seus olhos, os traços de dor e medo eram mais do que aparentes e causavam o mesmo em quem os via, o tom vermelho de suas lentes de contato, ainda deixavam transparecer algo muito mais profundo do que o oceano. Ah, e ela era tão linda, como alguém em sã consciência poderia desperdiçar tão belo tesouro como aquele, pensou. Se alguém a colocasse em seus braços, poderia dar a ela um pouco da felicidade que faltava em seu rosto, um pouco da ternura que lhe faltava nos olhos e a esperança que já havia sido arrancada dela. Mas o que ele não sabia, é que a sanidade da moça havia entrado em decadência, junto da cidade.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Rainha de Copas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.