Jardim de Rosas Negras escrita por TamiresHale


Capítulo 4
Clareira




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/34499/chapter/4

Quando chegamos em Portland, encontrei o resto da equipe, inclusive Rob lá, no aeroporto. Catherine nos deu o endereço dos apartamentos onde ficaríamos. O apartamento de Rob ficava há 3 quadras do meu.

▬ Vamos ensaiar hoje? ▬ Perguntou ele, quando quase todos já haviam ido embora.

▬ É, ensaiar pode ser uma boa idéia. ▬ Fiz uma careta. As gravações já iam começar eu sabia de pouca coisa. ▬ Na minha casa, ok? ▬ Eu disse, mas depois me lembrei que não estávamos mais em LA. ▬ Ou melhor, no meu apartamento.

▬ Ok. Te vejo lá. ▬ Ele acenou e foi embora.

Levou um tempo exasperadamente longo para desfazer as malas e organizar tudo. Eu estava cansada, mas não podia mais protelar. Tínhamos de ensaiar.

 

Como de costume, eu havia limpado a mesa de jantar - mesmo que não fosse a minha - e a campainha tocou.

▬ Hey, Rob. Entr... ▬ Minha atenção foi desviada para o carro parado em frente à casa. Era prateado, era reluzente e era um... Volvo? ▬ Mas o que é isso? ▬ Perguntei de olhos arregalados.

▬ Eu roubei. ▬ Respondeu ele, cinicamente.

▬ Rá. Engraçado! Por acaso, esse não é o da produção, não é? ▬ Perguntei, preocupada.

▬ Por acaso, é. Mas... e daí?

▬ Como conseguiu pegar isto? Ficou louco?

▬ Eu peguei emprestado, ou algo assim. Vou levar você em um lugar. Cadê seu script?

▬ Está aqui, em algum lugar. ▬ Respondi, ainda preocupada.

▬ Então vá pegar. ▬ Disse ele, simplesmente.

▬ É, mas eu não vou a lugar nenhum com você!

▬ Vai sim. ▬ Protestou ele.

▬ Rob, está tarde e...

▬ Mas nós vamos ensaiar, Kris. ▬ Respondeu ele, impaciente. Eu ergui uma sombrancelha, incrédula.

▬ Você é impossível! ▬ Eu disse, balançando a cabeça. Mas eu entrei dentro do carro. Eu me senti como se estivesse entrando num lugar totalmente surreal. E essa sensação começou desde que eu pus os pés em Oregon. Ou desde que eu comecei a ensaiar com Rob. Ou tentar ensaiar, seria mais adequado. Depois ele parou o carro.

▬ Onde estamos? ▬ Perguntei.

▬ Adivinhe. ▬ Ele respondeu, sorrindo. Depois eu vi uma placa indicativa e reconheci o lugar. Estávamos na clareia do Edward! Eu ri comigo mesmo.

▬ A gente devia estar aqui, Rob? ▬ Perguntei, descrente.

▬ A pergunta certa seria: "Podemos estar aqui?"

▬ Que seja. Podemos? ▬ Agora eu estava preocupada de verdade.

▬ Hmm, acho que não. Mas e daí? ▬ Disse ele, totalmente despreocupado. A clareira estava um breu, e então ele acendeu uma lanterna na minha cara.

▬ Está brincando comigo, não está? ▬ Perguntei.

▬ Na sua casa não estava dando muito certo, mesmo. E duvido que aqui nesse apartamento mudaria muita coisa.

▬ Não posso discordar. ▬ Disse eu. Depois ele se deitou na relva meio úmida e acendeu um cigarro. Eu fiz o mesmo. Quer dizer, não a parte do cigarro.

▬ Há quanto tempo fuma, Rob? ▬ Perguntei, curiosa.

▬ Nem sei. ▬ Ele sorriu. Eu me virei, e apoiei minha cabeça na mão.

▬ Eu não sei nada sobre você... ▬ E antes que eu pudesse me arrepender, as palavras já tinham saído pra fora. Ele sorriu.

▬ O que quer saber? ▬ Perguntou.

▬ Sei lá. Qualquer coisa.

Ele ficou pensativo por uns instantes. Eu esperei.

▬ Quando eu tinha 12 anos minhas irmãs me vestiam de mulher e me chamavam de Cláudia. ▬ Confessou. Eu ri, incrédula.

▬ Fale sério, Rob! ▬ Eu disse, rindo e ergui uma sombrancelha.

▬ Mas é sério! ▬ Disse ele. Eu balancei a cabeça, e deitei no chão, como ele. ▬ Sua vez. ▬ Ele disse e me fitou casualmente. Era tão bom ficar ali com ele. Eu fechei os olhos. E então a fumaça do cigarro veio na minha cara e eu tossi.

▬ Meu Deus! Apaga isso! ▬ Eu disse e ele sorriu ainda mais. Mas apagou o cigarro.

▬ Satisfeita? ▬ Perguntou.

▬ É. Bem melhor assim. Como suas namoradas aguentam? ▬ Eu disse e ele me olhou, surpreso.

▬ Namoradas? No plural?

▬ hmm, quem sabe? Diga-me você. ▬ Respondi.

▬ Não. Diga-me você primeiro: Quantos namorados, Kris? ▬ Perguntou ele, sorrindo de leve.

▬ Só um. ▬ Respondi de imediato.

▬ Não imaginava que você era assim tão provinciana. ▬ Ele disse. Eu olhei pra ele e soquei seu ombro.

▬ Hey, o que você estava pensando? Só porque nasci e cresci em Hollywood...

▬ Estava brincando, Kristen. ▬ Defendeu-se ele.

▬ Tá, mas só queria deixar isso claro. ▬ Franzi a testa.

▬ É. É que eu me esqueci de que tem apenas 17 anos. Nada de bebidas, drogas e... garotos. ▬ Disse ele, reprimindo um sorriso.

▬ Hmm, pula a parte do garotos... ▬ Brinquei com ele.

▬ Oh, oh! Garotos são permitidos? ▬ Ele riu, malicioso.

▬ Apenas um garoto. ▬ Eu disse, pensativa.

▬ É, bem provinciana... Há quanto tempo estão juntos? ▬ Perguntou ele.

▬ Dois anos, eu acho. ▬ Respondi.

▬ É, bem... Bastante tempo. ▬ Ele disse.

▬ Como você mesmo disse, sou "provinciana". ▬ Eu disse e imitei seu sotaque inglês.

▬ Aproveite a vida, Kristen. A vida é curta para sermos provincianos e... ▬ Ele riu.

▬ Cale a boca, Cláudia! ▬ Eu disse, rindo. Ficamos em silencio e eu me vi pensando no que ele tinha dito. Eu estava mesmo desperdiçando tempo? Eu me levantei e ele me fitou.

▬ O que foi? ▬ Perguntou ele, num tom preguiçoso.

▬ Você acha que eu sou assim?

▬ Assim como? ▬ Disse ele, confuso.

▬ Provinciana...

▬ Você pode ser o que você quiser, Kristen. ▬ Ele disse e se levantou, sentando-se do meu lado.

▬ Não quero ser como os outros. ▬ Respondi.

▬ Não precisa ser. ▬ Respondeu ele, pensativo. Ele tirou uma mexa de cabelo do meu rosto e deixou a mão ali. ▬ Não sei porque você luta para ser comum quando nasceu para brilhar. ▬ Disse ele. Talvez fosse a escuridão. Mas quando ele se aproximou eu me senti nervosa. Ou temerosa, algo assim. Algo dentro de mim, gritou para eu me afastar dele. E foi o que fiz. Eu deitei de novo. E ele deitou também, um pouco mais distante do que antes. ▬ Acho que esquecemos o roteiro em algum lugar... ▬ E riu. A tensão passou como se ela nunca tivesse existido. E depois eu percebi que não teria lugar melhor para estar do que ali, com ele. Talvez ele tivesse razão. Talvez eu estava sendo boba, desperdiçando tempo. Ele fazia as coisas perto dele parecerem mais fáceis. E talvez fosse. Ele estendeu o braço e, sem pensar, eu deitei minha cabeça no ombro dele, fitando o céu nublado.

▬ kris? ▬ Chamou ele.

▬ Hmm?

▬ Não mude. Provinciana ou não, gosto de você assim... ▬ Disse ele, sacudindo o ombro onde eu estava. Eu ri, concordando com ele. E depois fiquei fitando as poucas estrelas, feliz.

 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Jardim de Rosas Negras" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.