Paradoxo Temporal escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 3
Situando-se em um lugar que não é seu




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Como se não bastassem todos os choques que levara desde que dera de cara com Ginmaru, aparecia mais essa notícia que mexia mais uma vez com a sua cabeça.

“Quer dizer que daqui a dois anos a Kagura vai...?!”

- Eu sei o que está pensando, Gin-san. – Shinpachi disse. – Isso é bem doloroso, porque a “Yorozuya do Gin-chan” era uma família.

- E ainda é, Shinpachi-kun. – Gintoki respondeu. – Nunca deixará de ser. Mas... Como foi que isso aconteceu? Como foi essa nova invasão e a nova guerra Amanto? Como esse moleque nasceu? E como eu desapareci?

- Foi por isso que eu trouxe você aqui. – Ginmaru justificou enquanto ajeitava sua bandana branca. – Porque tem algumas coisas que eu também não sei, como o que houve com a pirralha. Eu nasci depois disso e convivi apenas oito anos com você.

- Então eu desapareci faz dez anos?

- Sim.

Gintoki não conseguia adotar aquela típica postura despreocupada de sempre. A curiosidade acerca daquela linha temporal o dominava. Que destino levaram todos aqueles que conhecia?

- Gin-san – o Shinpachi vinte anos mais velho lhe chamou a atenção. – As coisas que você conheceu em sua atual linha de tempo começaram a mudar há dezoito anos, na verdade, um pouco mais que isso. O Kiheitai se aliou ao Harusame e, em um dado momento, Takasugi decidiu eliminar a “Yorozuya do Gin-chan”... Ou seja, nós. O argumento que ele possuía na época era de que nós atrapalhávamos seus planos com nossa intervenção. Com isso, ele mandou seus homens cercarem o prédio. Deram-nos um ultimato: ou saíamos de onde estávamos, ou o prédio seria invadido e destruído, com todo mundo dentro. Você se dispôs a ir pra fora, e nós o acompanhamos. Lutamos e Katsura-san nos ajudou a sobreviver a tudo aquilo. Mas... A Kagura-chan foi assassinada covardemente pelo próprio irmão... Ela não teve nenhuma chance de se proteger ou de escapar, porque foi pega de surpresa. Katsura-san e eu tentamos salvá-la de qualquer maneira, mas foi inútil...! Você viu tudo aquilo e não pensou em mais nada, atacando Kamui e o matando ao cravar a sua espada nele. Foi impressionante o seu ataque!

- Meses depois daquilo – o Shimura prosseguiu. – nós dois encontramos um bebê à porta da Yorozuya, era muito parecido com você. Mesmo assim, eu sugeri que procurássemos a polícia, porque pensei que poderia ser uma criança desaparecida, como já aconteceu antes.

- E paramos no Shinsengumi? – Gintoki perguntou, conseguindo agora absorver as informações que recebia.

- Sim, vocês pararam aqui. – Hijikata tomou a palavra enquanto acendia um cigarro com seu inconfundível isqueiro em forma de frasco de maionese. – Você, como sempre, me irritando até dizer chega com a sua versão de “bebê desaparecido deixado por engano na sua casa”. Eu lembro que botei o Yamazaki pra investigar a origem do moleque, que conseguiu algumas informações e sugeriu um teste de DNA. Esse teste acabou mostrando que o moleque era seu, confirmando tudo o que tinha sido investigado. O problema era saber onde estava a mãe. E descobrimos que ela era uma cortesã de Yoshiwara, e que você havia estado com ela nove meses antes.

- Peraê, peraê, peraê... – Gintoki interrompeu. – Eu transei com a mulher e acabei fazendo um filho com ela sem saber?

- Segundo relatos que Yamazaki havia conseguido à época, sim. – Hijikata respondeu após soltar uma baforada de fumaça. – Relataram que foi por conta de um descuido dela, que decidiu que levaria a gravidez adiante, mesmo sendo indesejada.

- Soubemos que, quando o bebê nasceu – Shinpachi continuou. – a mãe acabou morrendo no parto. Descobriram onde você morava, e aí colocaram ali na Yorozuya esse bebê, para que não morresse abandonado. Você acabou assumindo e deu a ele o nome de Ginmaru.

- Como vê – Ginmaru disse. – não tô tentando te fazer cair num golpe. Não tenho o sobrenome “Sakata” à toa, porque foi você quem me deu.

- Entendo. – o Yorozuya ainda continuava absorvendo as informações que acabava de receber. – Então aqui nesta linha de tempo a Kagura morreu assassinada, matei o irmão dela, transei com uma cortesã, que foi descuidada, mas levou adiante a gravidez, depois ela morreu no parto do Ginmaru, que foi parar em minhas mãos. E depois?

- Oito anos depois, houve uma nova guerra contra os Amanto. – o Comandante Shimura respondeu. – Katsura-san procurou reunir todos os veteranos de guerra. Dentre eles, estariam o Sakamoto-san, você e até mesmo o Takasugi.

- Eu mataria o Takasugi depois daquela tentativa de acabar com a gente. – Gintoki afirmou.

- E você tentou, Gin-san, mas como tinham inimigos em comum, deixaram isso de lado no momento. Foram à guerra.

- Não acho que eu tinha motivos pra me meter numa guerra.

- Não, você foi “arrastado”, por assim dizer. Katsura-san te convenceu de que era preciso proteger aquilo que você ainda tem.

- Tinha que ser o Zura, pra variar...

A resposta foi imediata, vinda de uma voz abafada e distante, além de aparentemente fantasmagórica:

- NÃO É ZURA, É KATSURA!!

- De onde veio isso?

- De uma das celas, Yorozuya. – Hijikata respondeu. – Katsura está preso, junto com aquele mascote esquisito.

- Hijikata-san, não acha que deveríamos deixar o Gin-san conversar com ele pra saber como exatamente ele desapareceu?

Hijikata deu um suspiro aborrecido e assentiu:

- Tudo bem, Shimura-san. Qualquer coisa pra esse “Projeto de Yorozuya” parar de encher!

- “Projeto de Yorozuya”, uma ova, policial estúpido!! – Ginmaru protestou.

Hijikata olhou para trás e encarou o rapaz albino de bandana:

- Mais uma dessas e eu te mantenho preso aqui por desacato!

Gintoki não deixou barato:

- Ei, Ginmaru, não se preocupe. Escuta o conselho de seu pai... É bem melhor ser preso do que ser algemado a esse cara aí.

- Continue falando asneiras e você não volta à sua linha temporal de origem, Yorozuya!

*

- Isso é ruim, Kagura-chan...! – Shinpachi disse à garota. – Não sabia que nosso futuro seria tão ruim...

- Shinpachi... Eu não quero morrer...! Não quero...!

- Você não vai morrer, Kagura-chan. Se pudermos mudar a nossa linha de tempo, isso não vai acontecer. No que depender de mim, não vou deixar. E sei que o Gin-san também não vai.

Kagura secou as lágrimas dos olhos azuis e encarou o amigo, que procurou lhe transmitir segurança com o olhar por trás daquele par de óculos. O que unia aquele trio tão maluco era a amizade. Graças a isso, até então a Yorozuya jamais foi desfeita, apesar de ter chegado ao “quase”.

- O que estão fazendo aí? – uma voz se fez ouvir por trás da dupla, que imediatamente se virou e deu de cara com uma bazuca.

- Espera aí, Okita-san!! – Shinpachi se apavorou. – Não dispara, não!!

- Fica calmo, que não vou disparar. Meu alvo é outro par de óculos.

- O Hijikata-san, como sempre. – Shinpachi disse, encarando o Capitão da Primeira Divisão do Shinsengumi com ceticismo. – Definitivamente, há coisas que não mudam nem passando vinte anos.

*

Os quatro homens foram até o local onde Katsura estava trancafiado, cujo som ambiente era um melancólico toque de gaita. Os dois homens do Shinsengumi, à frente, se aproximaram das grades.

- Katsura!! – Hijikata vociferou. – Para com essa gaita e aparece aqui! Você e seu mascote esquisito, agora!

- Katsura-san – o Comandante Shimura disse. – Nós precisamos de algumas informações suas.

Passos arrastados foram ouvidos de dentro da cela escura, enquanto Gintoki assistia a tudo com ansiedade. Perguntava-se se Katsura havia mudado ou não.

- Uuuuuuuhhhhh...! – a voz lamuriosa de Katsura se fez ouvir. – Já estou indo...!

Logo apareceu um homem encurvado, com os longos cabelos desgrenhados sobre o rosto, o quimono azul e o haori branco bem rasgados e gastos – resumindo, estava completamente maltrapilho. Logo atrás do homem, um ser branco, parecendo um pinguim ou um pato, igualmente sujo e maltrapilho, surgiu com uma placa escrita com tinta borrada a mensagem “Estamos aqui!”.

- M-MAS QUE DIABOS ACONTECEU AQUI, ZURA?! – Gintoki berrou após dar um salto para trás, por conta do susto que tomara com aqueles seres aterrorizantes.

- Não é Zura... É Katsura...! – foi a resposta do “cabeludo-quase-zumbi”. – É... É você... Gintoki...?

- É a versão que veio do passado, Katsura-san. – Shinpachi falou.

- Aaaah... Eu pensei que tinham encontrado o Gintoki que desapareceu...

- Espera aí!! – Gintoki interveio. – Tem tanto tempo assim que o Zura tá preso?

- Não é Zura... É Katsura...!

“Estamos aqui há duas semanas.”, Elizabeth respondeu virando a placa.

- DUAS SEMANAS E VOCÊ ESTÃO NESSE MELODRAMA TODO? – Gintoki explodiu. – POR QUE VOCÊS TÊM QUE FAZER COSPLAY DA SAMARA DE “O CHAMADO”?

Nem deu tempo de se ouvir ou ler qualquer resposta, pois uma forte explosão aconteceu no local, gerando a maior confusão. A fumaça tomou conta de todo o ambiente, não dando pra ver nem um palmo adiante do nariz. Gintoki e Ginmaru ficaram completamente perdidos, e sentiram que estavam sendo puxados por alguém.

- EEEEEEIIII!! – os dois gritaram. – O QUE TÁ ACONTECENDO AQUI??


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