Paradoxo Temporal escrita por Vanessa Sakata
Como se não bastassem todos os choques que levara desde que dera de cara com Ginmaru, aparecia mais essa notícia que mexia mais uma vez com a sua cabeça.
“Quer dizer que daqui a dois anos a Kagura vai...?!”
- Eu sei o que está pensando, Gin-san. – Shinpachi disse. – Isso é bem doloroso, porque a “Yorozuya do Gin-chan” era uma família.
- E ainda é, Shinpachi-kun. – Gintoki respondeu. – Nunca deixará de ser. Mas... Como foi que isso aconteceu? Como foi essa nova invasão e a nova guerra Amanto? Como esse moleque nasceu? E como eu desapareci?
- Foi por isso que eu trouxe você aqui. – Ginmaru justificou enquanto ajeitava sua bandana branca. – Porque tem algumas coisas que eu também não sei, como o que houve com a pirralha. Eu nasci depois disso e convivi apenas oito anos com você.
- Então eu desapareci faz dez anos?
- Sim.
Gintoki não conseguia adotar aquela típica postura despreocupada de sempre. A curiosidade acerca daquela linha temporal o dominava. Que destino levaram todos aqueles que conhecia?
- Gin-san – o Shinpachi vinte anos mais velho lhe chamou a atenção. – As coisas que você conheceu em sua atual linha de tempo começaram a mudar há dezoito anos, na verdade, um pouco mais que isso. O Kiheitai se aliou ao Harusame e, em um dado momento, Takasugi decidiu eliminar a “Yorozuya do Gin-chan”... Ou seja, nós. O argumento que ele possuía na época era de que nós atrapalhávamos seus planos com nossa intervenção. Com isso, ele mandou seus homens cercarem o prédio. Deram-nos um ultimato: ou saíamos de onde estávamos, ou o prédio seria invadido e destruído, com todo mundo dentro. Você se dispôs a ir pra fora, e nós o acompanhamos. Lutamos e Katsura-san nos ajudou a sobreviver a tudo aquilo. Mas... A Kagura-chan foi assassinada covardemente pelo próprio irmão... Ela não teve nenhuma chance de se proteger ou de escapar, porque foi pega de surpresa. Katsura-san e eu tentamos salvá-la de qualquer maneira, mas foi inútil...! Você viu tudo aquilo e não pensou em mais nada, atacando Kamui e o matando ao cravar a sua espada nele. Foi impressionante o seu ataque!
- Meses depois daquilo – o Shimura prosseguiu. – nós dois encontramos um bebê à porta da Yorozuya, era muito parecido com você. Mesmo assim, eu sugeri que procurássemos a polícia, porque pensei que poderia ser uma criança desaparecida, como já aconteceu antes.
- E paramos no Shinsengumi? – Gintoki perguntou, conseguindo agora absorver as informações que recebia.
- Sim, vocês pararam aqui. – Hijikata tomou a palavra enquanto acendia um cigarro com seu inconfundível isqueiro em forma de frasco de maionese. – Você, como sempre, me irritando até dizer chega com a sua versão de “bebê desaparecido deixado por engano na sua casa”. Eu lembro que botei o Yamazaki pra investigar a origem do moleque, que conseguiu algumas informações e sugeriu um teste de DNA. Esse teste acabou mostrando que o moleque era seu, confirmando tudo o que tinha sido investigado. O problema era saber onde estava a mãe. E descobrimos que ela era uma cortesã de Yoshiwara, e que você havia estado com ela nove meses antes.
- Peraê, peraê, peraê... – Gintoki interrompeu. – Eu transei com a mulher e acabei fazendo um filho com ela sem saber?
- Segundo relatos que Yamazaki havia conseguido à época, sim. – Hijikata respondeu após soltar uma baforada de fumaça. – Relataram que foi por conta de um descuido dela, que decidiu que levaria a gravidez adiante, mesmo sendo indesejada.
- Soubemos que, quando o bebê nasceu – Shinpachi continuou. – a mãe acabou morrendo no parto. Descobriram onde você morava, e aí colocaram ali na Yorozuya esse bebê, para que não morresse abandonado. Você acabou assumindo e deu a ele o nome de Ginmaru.
- Como vê – Ginmaru disse. – não tô tentando te fazer cair num golpe. Não tenho o sobrenome “Sakata” à toa, porque foi você quem me deu.
- Entendo. – o Yorozuya ainda continuava absorvendo as informações que acabava de receber. – Então aqui nesta linha de tempo a Kagura morreu assassinada, matei o irmão dela, transei com uma cortesã, que foi descuidada, mas levou adiante a gravidez, depois ela morreu no parto do Ginmaru, que foi parar em minhas mãos. E depois?
- Oito anos depois, houve uma nova guerra contra os Amanto. – o Comandante Shimura respondeu. – Katsura-san procurou reunir todos os veteranos de guerra. Dentre eles, estariam o Sakamoto-san, você e até mesmo o Takasugi.
- Eu mataria o Takasugi depois daquela tentativa de acabar com a gente. – Gintoki afirmou.
- E você tentou, Gin-san, mas como tinham inimigos em comum, deixaram isso de lado no momento. Foram à guerra.
- Não acho que eu tinha motivos pra me meter numa guerra.
- Não, você foi “arrastado”, por assim dizer. Katsura-san te convenceu de que era preciso proteger aquilo que você ainda tem.
- Tinha que ser o Zura, pra variar...
A resposta foi imediata, vinda de uma voz abafada e distante, além de aparentemente fantasmagórica:
- NÃO É ZURA, É KATSURA!!
- De onde veio isso?
- De uma das celas, Yorozuya. – Hijikata respondeu. – Katsura está preso, junto com aquele mascote esquisito.
- Hijikata-san, não acha que deveríamos deixar o Gin-san conversar com ele pra saber como exatamente ele desapareceu?
Hijikata deu um suspiro aborrecido e assentiu:
- Tudo bem, Shimura-san. Qualquer coisa pra esse “Projeto de Yorozuya” parar de encher!
- “Projeto de Yorozuya”, uma ova, policial estúpido!! – Ginmaru protestou.
Hijikata olhou para trás e encarou o rapaz albino de bandana:
- Mais uma dessas e eu te mantenho preso aqui por desacato!
Gintoki não deixou barato:
- Ei, Ginmaru, não se preocupe. Escuta o conselho de seu pai... É bem melhor ser preso do que ser algemado a esse cara aí.
- Continue falando asneiras e você não volta à sua linha temporal de origem, Yorozuya!
*
- Isso é ruim, Kagura-chan...! – Shinpachi disse à garota. – Não sabia que nosso futuro seria tão ruim...
- Shinpachi... Eu não quero morrer...! Não quero...!
- Você não vai morrer, Kagura-chan. Se pudermos mudar a nossa linha de tempo, isso não vai acontecer. No que depender de mim, não vou deixar. E sei que o Gin-san também não vai.
Kagura secou as lágrimas dos olhos azuis e encarou o amigo, que procurou lhe transmitir segurança com o olhar por trás daquele par de óculos. O que unia aquele trio tão maluco era a amizade. Graças a isso, até então a Yorozuya jamais foi desfeita, apesar de ter chegado ao “quase”.
- O que estão fazendo aí? – uma voz se fez ouvir por trás da dupla, que imediatamente se virou e deu de cara com uma bazuca.
- Espera aí, Okita-san!! – Shinpachi se apavorou. – Não dispara, não!!
- Fica calmo, que não vou disparar. Meu alvo é outro par de óculos.
- O Hijikata-san, como sempre. – Shinpachi disse, encarando o Capitão da Primeira Divisão do Shinsengumi com ceticismo. – Definitivamente, há coisas que não mudam nem passando vinte anos.
*
Os quatro homens foram até o local onde Katsura estava trancafiado, cujo som ambiente era um melancólico toque de gaita. Os dois homens do Shinsengumi, à frente, se aproximaram das grades.
- Katsura!! – Hijikata vociferou. – Para com essa gaita e aparece aqui! Você e seu mascote esquisito, agora!
- Katsura-san – o Comandante Shimura disse. – Nós precisamos de algumas informações suas.
Passos arrastados foram ouvidos de dentro da cela escura, enquanto Gintoki assistia a tudo com ansiedade. Perguntava-se se Katsura havia mudado ou não.
- Uuuuuuuhhhhh...! – a voz lamuriosa de Katsura se fez ouvir. – Já estou indo...!
Logo apareceu um homem encurvado, com os longos cabelos desgrenhados sobre o rosto, o quimono azul e o haori branco bem rasgados e gastos – resumindo, estava completamente maltrapilho. Logo atrás do homem, um ser branco, parecendo um pinguim ou um pato, igualmente sujo e maltrapilho, surgiu com uma placa escrita com tinta borrada a mensagem “Estamos aqui!”.
- M-MAS QUE DIABOS ACONTECEU AQUI, ZURA?! – Gintoki berrou após dar um salto para trás, por conta do susto que tomara com aqueles seres aterrorizantes.
- Não é Zura... É Katsura...! – foi a resposta do “cabeludo-quase-zumbi”. – É... É você... Gintoki...?
- É a versão que veio do passado, Katsura-san. – Shinpachi falou.
- Aaaah... Eu pensei que tinham encontrado o Gintoki que desapareceu...
- Espera aí!! – Gintoki interveio. – Tem tanto tempo assim que o Zura tá preso?
- Não é Zura... É Katsura...!
“Estamos aqui há duas semanas.”, Elizabeth respondeu virando a placa.
- DUAS SEMANAS E VOCÊ ESTÃO NESSE MELODRAMA TODO? – Gintoki explodiu. – POR QUE VOCÊS TÊM QUE FAZER COSPLAY DA SAMARA DE “O CHAMADO”?
Nem deu tempo de se ouvir ou ler qualquer resposta, pois uma forte explosão aconteceu no local, gerando a maior confusão. A fumaça tomou conta de todo o ambiente, não dando pra ver nem um palmo adiante do nariz. Gintoki e Ginmaru ficaram completamente perdidos, e sentiram que estavam sendo puxados por alguém.
- EEEEEEIIII!! – os dois gritaram. – O QUE TÁ ACONTECENDO AQUI??
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