Uma semana depois…

Uma semana depois de Teresa descobrir o meu plano, e consequentemente encontrou Lorelei no meu quartinho no sótão da CBI, muita coisa mudou.

Eu e Teresa fizemos um acordo para eu não ir preso. E estamos cumprindo esse maldito acordo, para minha infelicidade.

Lisbon e eu não trocamos palavras tão pouco olhares. Ela fica o dia inteiro em sua sala, e quando precisa ir em campo, acaba escolhendo outro alguém que não sou eu. Ela também está com problemas no estomago e evita almoçar conosco, sempre que temos essa tão rara oportunidade.

Todos os agentes perceberam que algo está errado, é evidente. Sempre ficamos muito grudados, como irmãos e agora, do nada, nós nos afastamos. Não preciso dizer que até Gale Bertram, diretor da CBI, veio conversar comigo sobre isso. Claro que eu desconversei sobre o assunto, mas, se isso chegou até ele, significa que todos da agencia já sabem. Uma prova de como Teresa sabe atuar bem.

Eu também pude perceber que ela está nitidamente mais jovial, digo, mais bonita. Ela está vindo mais perfumada que antes e suas roupas estão bem mais ousadas, mesmo sem perder sua discrição. Seus lindos fios castanhos e lisos estavam sempre brilhantes e algumas vezes, presos em simples penteados, mas ainda sim perfeitos.

São esses pequenos detalhes que começam a te deixar desconfiado.

Ela estava bem mais confiante que nos outros dias, e o motivo parecia um pouco surpreendente vindo de Lisbon, mas eu tinha quase certeza que era algum homem.

Sim, homem. As únicas vezes que eu a vi assim, foram quando estávamos juntos. Ela vivia arrumada e confiante, esbanjando alegria pela CBI mesmo sem perceber isso. Mesmo sem ninguém além de mim, notar uma coisa dessas.

Eu sabia que se fosse falar com Teresa provavelmente levaria uma de suas maravilhosas e engraçadas, patadas. Mas, eu precisava saber o que estava acontecendo. Precisava ficar a par da situação...

Então eu vi Grace, sua fiel amiga, indo fazer um chá na cozinha da agencia. Sem pestanejar, me levantei, indo em direção a ela sem muito alarde.

-Olá Van Pelt – Cumprimentei a ruiva, que estava terminando de colocar água no bule – Tudo bem?

-Ah, aposto que veio pelo chá. Não se preocupe – Respondeu, dando um daqueles belos sorrisos – Eu faço um para você.

-Meh, que gentileza agradável. Eu aceito.

Ela deu outro belo sorriso, seguido de uma leve arrumada nos fios desalinhados.

-Então... – Eu procurava pelas palavras certas – Eu estava pensando...

-Sim?

-Com quem a Teresa está saindo? – Fui direto ao ponto.

Grace me encarou estupefata.

-Saindo? – Perguntou, tentando se fingir de surpresa – Que eu saiba, ninguém.

-Meh, você sabe quem é.

-Eu sabia que você queria alguma coisa de mim... Você e suas segundas intenções... – Ela se esquivou do assunto.

-Na verdade, eu também queria um chá – Respondi brincando – Então, vai me falar quem?

-Não, prometi a ela que não falaria nada... E você sabe o que aconteceu comigo da ultima vez que tentei te ajudar, lembra?

-Lembro, mas eu também salvei sua pele não contando do acordo. Agora, por gentileza, me diga quem é. Prometo que não vou falar nada.

Ela negou com a cabeça.

-É o Bob Kirkland? – Perguntei.

-Não sei –Respondeu com uma firmeza na voz. Olhando bem no fundo dos seus olhos, pude ver que não era ele.

-Hum, Gale Bertram?

-Ah, que nojo Patrick – Respondeu fazendo uma careta. Eu dei uma risadinha inocente.

-Então, Ray Haffner?

A ruiva não respondeu nada.

-É o Ray, certo?

-Não te contei nada – Ela logo assumiu nas entrelinhas.

Ray e Teresa, saindo juntos. Estranho...

-O que ela viu nele? –Perguntei, mais como um pensamento alto.

-Talvez algo que ela não tenha visto em você...

-Hum, tipo?

-Tipo confiança – Alfinetou-me. O que há de errado com as mulheres dessa agencia?

-Meh, alguém pegou o mal humor da Lisbon, não é?

Ela deu um risinho fofo.

-Você ainda quer o chá?- Desconversou.

-Claro que sim.

***

Quando minha consultoria do dia na CBI chegou ao fim, eu me retirei indo para o meu sótão.

Entrei sem fazer muito barulho, e encontrei Lorelei mexendo no meu notebook, jogando um jogo qualquer.

-Boa noite, Lore – Me aproximei dela e lhe dei um beijo na testa – O que a senhorita está fazendo?

-Jogando um jogo de matar zumbis... Eu estou quase no fim.

-Hum, interessante – Comentei, tirando os meus sapatos e me deitando na cama.

-Como foi o seu dia? – Ela perguntou, sem tirar os olhos da tela. Estava bem concentrada.

-Foi igual a todos... Interrogamos pessoas, corremos atrás de suspeitos... Quer dizer, eu não corro né, mas tem quem vá... – Respondi sem animo na voz. Na verdade, estava pensativo sobre Teresa e Ray... Bela vingança por parte dela.

-Hum... Você me parece estranho, aconteceu alguma coisa?

-Não.

-Nada mesmo?

-Não.

-Eu acho que você está me escondendo algo...

-Lorelei, continue matando seus zumbis – Aconselhei-a  em tom de gozação.

-Nossa, você é muito engraçado... Agora me diga o que aconteceu... – Ela continuava insistindo, mesmo sem ao menos olhar para mim.

-Nada demais, são só coisas que acontecem e você fica se perguntando o por quê.

-Que tipo de coisas?

-Coisas...

-Tem a ver com a Teresa ou com algum dos seus amigos?

-É, tem – Desabafei, mesmo sabendo que Lorelei não era a melhor pessoa para conversar.

-Hum, legal... Conte-me – Continuou na insistência chata.

-É sobre a Teresa.

Lorelei parou o seu jogo e passou a encarar-me.

-Teresa? O que essa vadia fez agora?

-Ela está saindo com um cara que trabalhava aqui na CBI.

-Que cara?

-Ray Haffner... Acho que voc...

-Aquela vadia tá com o Ray? – Esbravejou, me interrompendo – Como assim? Ela quer o que com ele?

-Ei, calma ai – Disse, levantando da cama – Você o conhece?

-É, mais ou menos – Ela tentou se justificar – Eu já tinha visto ele na tv algumas vezes... Mas nunca pessoalmente.

Não precisa ter os meus “poderes de dedução” para perceber que ela estava claramente mentindo.

-Lorelei, por que você ficou tão alterada quando eu disse sobre o Ray?

-Eu não fiquei alterada.

-Ficou sim, e eu quero saber o por quê.

-Não foi nada demais... Apenas acho que Teresa está saindo com essas pessoas ricas, apenas para se aproveitar deles... É o que parece.

-Como sabe que o Ray é rico?

Ela passou a encarar-me seriamente.

-Eu não sei, eu deduzo que seja – Mentiu. Acho que foi a pior das mentiras que já contou.

-Hum... Interessante... – Lorelei continuava a me fitar, um pouco nervosa – Eu acho que vou tomar um banho.

-Pode ir, eu vou continuar o meu jogo – Respondeu, voltando os olhos para a tela.

Aquele banho foi apenas um pretexto para eu refletir sobre o que estava acontecendo.

Primeiro: estranhamente, Ray e Teresa começam a sair juntos.

Depois, Lorelei mostra um ciúme doentio, nunca visto. Ela claramente o conhece, muito bem por sinal, e não aceita que sua inimiga possa estar se relacionando com ele.

Outra que, em outra ocasião, Teresa me contou que Ray fazia parte da Visualize, e que era membro de muitos anos...

E por ultimo, um certo “Red John” foi o responsável por acabar com o meu relacionamento com a Teresa, já que graças ao vídeo enviado a ela, nós estamos evitando até o contato visual.

Uma sensação ruim percorreu meu corpo quando eu me lembrei de que a minha Teresa estava com ele, Red John. O maldito.

Eu precisava avisa-la.

Então eu peguei o meu celular que estava no bolso da calça, e disquei o numero do seu celular.

Chamou, chamou, mas ninguém atendeu.

Desesperadamente, liguei para sua casa.

A mesma coisa, até cair na caixa postal.

Eu não pensei duas vezes e coloquei a minha roupa novamente, correndo em direção a casa dela.

Espero não ser tarde demais.