A Cúmplice. escrita por Larinha


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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"Hoje era seu aniversário, um dia feliz em que ganhava presentes. Um dia em que seus pais tiravam folga e a levavam ao parque de diversões que tinha do outro lado do bairro. Ana estava animada com sua nova idade, dez anos não era qualquer coisa, afinal. O bolo dela seria de chocolate e brigadeiro, haveria uma festinha mais tarde onde todos os seus amiguinhos viriam para brincar. Mas antes de qualquer coisa, seus pais manteriam a promessa de deixá–la ir na montanha russa pela primeira vez.

"Amor, vamos logo!" – Gritou Elliot Smith para sua esposa. Ele e sua filha estavam sentados esperando–a por quase meia hora. – "Elizabeth? Elizabeth?"

No andar de cima, Mrs. Smith dava gritinhos abafados de choro e tentava abrir uma janela enguiçada.

Após gritar por ela mais uma vez, um barulho estranho começou a surgir seguido por um estrondo, veio primeiramente do quarto de casal. Então eles correram pela escada, viraram o corredor e quando abriram a porta, deram de cara com uma janela antiga aberta. As lágrimas começaram a se formar nos olhos da filha, enquanto seu pai, com a garganta em um nó, ia em direção a janela. Ao olhar para baixo, podia ver sua amada esposa com os braços e o pescoço quebrados no asfalto da calçada em frente a sua casa. Ela havia morrido exatamente no aniversário da pequenina Ana.

"Por que papai, por quê?" – Choramingou a menina. – "Ela não gostava de parques? Ela não gostava da gente?"

"Ela... Ela te amava, minha pequena." – O pai pegou a menina em prantos no colo e ambos choraram inconsoláveis, no chão do quarto.

O que deveria ser um dia feliz se transformou em um trauma, um caos. “Não teria festa mais tarde, Aninha não tinha o que comemorar, sua mãe se suicidara.”

Ana estava cansada, ela sempre escrevia este acontecimento quando não se sentia bem. Lembrar o dia em que sua mãe morreu, por volta de treze anos atrás; era exaustivo. Mas lhe lembrava a dura realidade do mundo e era isso que ela precisava no momento. As férias da faculdade estavam acabando, e ela tinha que arrumar um jeito de esconder os hematomas nos braços para convencer a todos que havia parado de machucar a si mesma, como se isso fosse acontecer. Ela fazia isso desde os doze anos, quando seu pai começou a beber; a única diversão ou prazer que tinha era este, parar não era uma opção.

Ela não estava tão bem para ir a uma festa pré–faculdade de um mês antes, mas se não fosse, Victória a mataria. Então subiu para tomar um banho e se deparou com a TV que esquecera ligada com uma notícia de última hora.

“'Caros cidadãos de East Views, estamos fazendo o possível para manter a segurança e conforto de suas famílias, vamos pegar este assassino infeliz e pô-lo em seu lugar que é na cadeia. Há famílias chorando por suas filhas, mas vamos vingá–las. Ah sim, iremos vingá-las. ' - Essas foram as palavras do detetive Rick James sobre o assassino que está escondido nas sobras de nossa cidade. Como todos sabem, três jovens foram assassinadas: Angela Thomas, Anne Green e Julia Moore. E aí vão seus pontos em comum que a polícia nos deixou divulgar: Cabelos negros, olhos azuis, caucasianas, entre 19 à 29 anos de idade."

Aquilo assustou bastante Ana, a repórter acabara de descrevê–la. Com o susto, acabou desligando a TV. Este era mais um motivo para não sair de casa, havia um serial killer a solta, e ela era uma possível vítima.

...

Vestiu-se da forma mais simples. Uma calça e uma blusa de manga longa preta que escondia muito bem os hematomas e cortes. A campainha tocou no exato momento em que ela ia pegar sua bolsa e ir para o local da festa. Desceu correndo para atender, quase tropeçou no tapete, – Ana era muito desastrada. – e chegou à porta.

Quando a abriu, não havia ninguém. Somente uma rua vazia com pouca iluminação e um poste piscando na esquina. O vento era suave, mas cada vez que ele passava Ana sentia calafrios. Tudo estava quieto, era uma noite um tanto sombria. Quando finalmente ia fechar a porta, olhou para baixo. No tapete verde que dizia: "Not welcome to my house" estava uma carta selada. Pegou a carta e fechou a porta. Enquanto ia em direção a sala foi abrindo o envelope que tinha um perfume de jasmim. Na parte de trás estava escrita apenas a inicial do primeiro nome: E.

Ela leu a carta, que era bem curta e só possuía uma linha, em voz alta: "Com um sorriso desses, você não precisa de olhos." – A menina que roubava livros.

Um sorriso se abriu em seu rosto. Não por causa da frase, mas sim porque já havia lido aquele livro. Estava na sua estante em algum lugar e, quem quer que seja que tinha enviado aquilo, sabia do seu gosto literário. O que lhe dava muitos pontos significativos.

Após se recuperar dos devaneios, olhou para o relógio da sala, já marcava 7:45 PM. Já estava na hora de ir para a festa.

...

– Eu acho que você precisa beber alguma coisa! - Berrou Victória em meio à música eletrônica.

– E eu acho que esta festa está social demais. - Havia professores antigos e novos, coordenadores, secretárias... - Até Elliot está aqui, mas vou seguir seu conselho. Se precisar de mim estou no bar.

O campus da universidade era enorme, então fizeram um prédio especialmente para festas e comemorações. A ideia era certamente de Roberta, que amava um evento social a cada mês. A madrasta de Ana era tão mais nova que seu pai, tão mais cheia de vida. Coitada.

Enquanto Ana se dirigia ao bar, os olhares estavam voltados nela, a filha do diretor. Aquela que todos queriam do seu lado ou então paparicar para ganhar um aumento no salário. Ninguém realmente conseguia essa proeza, já que Ana era difícil de se lhe dar.

Ela sentou em um banquinho em frente ao balcão de madeira e chamou a atenção do garçom.

– Um uísque, por favor. - Lucas Wilson fez uma careta. - Oh, me desculpe Wilson, não vi que era você. Como vai? Quer que eu chame Victória aqui?

– Está tudo bem Ana. Não quero que ela me veja pagando pelos meus pecados. - O pai dele o pegou experimentando ‘algo’ um mês atrás, o castigo dele foi ser o garçom na primeira festa do ano. – Pelo menos aqui é um lugar divertido para se estar, você ouve muitas coisas. Aliás, um uísque? Desde quando isso é bebida de festa?

– É a bebida de quem precisa de sérios tratamentos psicológicos. Por isso minha preferida. - Ele riu.

Enquanto o loiro pegava o copo e a garrafa, Ana se virou para ver como estava a festa. Havia muitas pessoas na pista de dança, até desconhecidos. Ela pensava na possibilidade de ver seu pai demitindo alguém logo no primeiro dia de aula. Aquela festa era um teste para todos, inclusive para ela.

Algumas alunas já preparavam as garras para conquistar qualquer um dos professores e depois ameaçá-los caso as notas forem baixas.

– Tenho pena de quem se envolve com alunas. - Comentou um homem ao seu lado. - É uma montanha-russa sem fim.

– Não poderia concordar mais. - Disse Ana ao se virar para trás novamente. O copo já estava ali, com a garrafa do lado. Um papel escrito: “Cortesia da casa.” Ela sabia que não fora Lucas que tinha posto aquilo. - Bajuladores imbecis. Não perdem tempo nem com bebida alcoólica.

– Você é Ana Smith? - Disse ele rindo. - É bem menos assustadora ao vivo.

O pai dela colocava medo em todos quando o assunto era ela.

– Eu? Assustadora? Sou um gato manso e preguiçoso. - Disse ela tomando um gole. Ainda não havia se virado para ele. - E você? Ensina o quê?

– Como sabe? - Ele riu. - Sou Ethan Millers, literatura e artes cênicas.

Ethan Millers. Ela já ouvira aquele sobrenome, ele era o irmão mais velho de seu ex-namorado, Connor. Victória havia comentado sobre ele depois do término de Ana, sua irmã mais velha era sua namorada, estavam praticamente noivando depois de um relacionamento de quatro anos. Jéssica era sortuda, aquele homem era lindo. O cabelo dele era quase preto e seus olhos eram azuis, ele não era nem gordo e nem magro, e não era aquele tipo bombado.

Mas apesar do quase noivado, ao olhar para ele é como se não houvesse compromisso nenhum. Ela virou-se para Ethan. A posição na cadeira era convidativa. Se não soubesse que ele era compromissado, Ana acharia que ele estava flertando.

– Parece que você terá que me aguentar por um bom tempo. Estudo ambas. - Ele fingiu estar surpreso. Ela tomou outro gole. - Connor certamente lhe contou.

– Por falar nele. - O garoto os viu conversando e foi em direção dos dois. Ethan riu. - Quer que eu o despiste?

– Essa oferta é verdadeira? - Ele ficou sério novamente.

Entre todos os meninos que ela já namorara, Connor foi o pior. Ele era grudento e ciumento demais. Achava que ela tinha que estar com ele vinte e quatro horas por dia e já pensava em casamento. Algumas meninas achariam que ele era o garoto perfeito, mas não Ana.

– Perdão, mas seu irmão é muito irritante. E não é o meu tipo, foi um relacionamento forçado.

– Ah, entendo. - Ele ficou pensativo. - Estou passando pela mesma coisa agora, mas não conte pra ninguém.

– Mas Jéssica Sommers é uma garota excepcional. – Ele sorriu.

– Connor também é. - Ele aumentou o tom para atrair a atenção do irmão que havia sido parado por Victória. Ele se levantou. - Mas se não quiser ficar, venha comigo.

Ethan estava indo em direção ao seu pai. Ela estava entre a cruz e a espada, ou seguia-o, ou aturava Connor. Mas como ela já tinha que aturar Elliot por obrigação, acho melhor escolher a cruz. Pelo menos estaria em boa companhia.

Enquanto tentava se agarrar a blusa dele para não se perder, Connor tentou puxá-la para trás. Ela caiu, e Ethan quase foi junto.

– Oi? - Disse Connor.

– Qual o seu problema?! - Ana gritou. Ethan estava ajudando-a a se levantar. Ela se dirigiu a ele. - Vamos que eu decidi que preciso falar com meu pai agora.

– Vá lá, eu cuido do meu irmão. - Era melhor mesmo, ela pensou. – Prazer em conhecê-la.

– O prazer foi meu. – Connor ficou descontente com o sorriso que ela deu antes de se virar.

Ana foi falar com seu pai. Felizmente, não discutiram. Foi uma conversa civilizada. Os alunos estavam começando a ficar soltos demais, então ele teve de fazer alguma coisa. A cena fez com que ela se lembrasse de como fora o ano passado e como Elliot gostava de impor algumas coisas.

E como em um mês começaria tudo de novo.


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Notas finais do capítulo

Se houver algum erro de português, por favor, me avisem.