Leo saiu do porão empoeirado, correu para o seu quarto. Tomou um banho um pouco mais demorado que de costume. O que não era muito aconselhável, pois a água doce estava acabando e iria demorar até pudessem encher os tanques novamente.

Saindo do banho, ele olhou sua imagem no espelho. Será que era suficiente? Pelo menos ele não tinha mais nenhuma mancha de graxa. Mas o que ele faria para consertar as coisas? O que ele diria à Piper? Talvez fosse melhor pensar na hora. 

Escolheu a roupa mais legal que encontrou. Uma camiseta regata de atleta laranja, bem justa, deixando à mostra seus braços morenos que estavam ficando musculosos de tanto trabalhar naquela oficina. Ou seria por estar crescendo? Não havia nem reparado nas mudanças que aconteceram com ele mesmo. Colocou a calça jeans que costumava usar no Acampamento Meio-Sangue... Ele realmente estava com saudades de casa.

Seu cabelo estava molhado, mas estava tão quente que logo secaria.  Ele ficou imaginando o que Piper estaria fazendo agora. Ainda estaria procurando o intruso no porão com Hazel? Provavelmente não.

As coisas estavam muito confusas. Como uma máquina com um defeito difícil de identificar. Como você pode reparar o dano se não sabe o que o causou?Geralmente há muitas opções. Pode ser uma específica ou algumas delas. Ou até mesmo todas. Na melhor das hipóteses, o problema foi a sua lerdeza. Mas Leo não tinha muitas experiências boas com meninas, então talvez fosse compreensível.

Ele penteou o cabelo, e colocou seu cinto de ferramentas... o seu inseparável cinto de ferramentas. Nunca se sabe quando pode precisar.  Deu mais uma olhada no espelho para ver se o que via estava bom. Leo não era muito vaidoso, mas ele estava inseguro. Talvez Afrodite e Atena estivessem brincando com ele, e tudo fosse dar errado. Era comum que deuses brincassem com os humanos.

Não importava agora. Ele abriu a porta e caminhou lentamente para fora do seu quarto.  Estava quase de madrugada, e esse dia havia sido muito cheio e cansativo, então provavelmente alguns dos semideuses estariam dormindo. Mas não todos, porque alguém precisava ficar de olho no navio. Leo sabia que Piper ficaria, ela estava agitada demais com tudo que aconteceu para conseguir dormir.

Leo caminhou até o refeitório. Ela provavelmente estaria lá comendo sozinha. E estava mesmo.

–Oi, Pipes.

–Oi, Leo.

–Acordada há essa hora?

–É, preciso pensar. E Hedge sempre cuida do navio, é bom dar um descanso a ele. Mas eu estou de pijama, e você está todo arrumado. Vai mandar mensagem de Íris pra Thalia?

–Não, hoje não... Vou deixar ela esperando por mim e querendo mais!

–Ah claro, então pra que tudo isso?

–Você está sempre linda, e eu queria pelo menos hoje estar à sua altura, eu acho...

–Minha altura? Eu que devia dizer isso. De que importa ser bonita e ser inútil?

– De novo com essa história... Porque você se acha inútil?

–Talvez por não conseguir fazer as pessoas que eu amo felizes. Especialmente você. Deu tudo errado. –Ela olhou para Leo e uma lágrima escorreu do seu olho. Piper empurrou seu prato, e os restos de comida desapareceram. Assim, ela se levantou, querendo sair de lá. Ela não agüentava mais olhar para Leo e saber que não era suficiente para ele. Geralmente ela não iria expor suas emoções tão fácil, mas nesse dia ela estava especialmente sensível. Seus pensamentos eram de que Leo devia estar louco quando disse que a amava. Ele só devia estar confuso, só isso.

Leo se levantou e puxou-a para perto de si. Tirou um espelho pequeno do seu cinto de ferramentas, e colocou sobre a altura do rosto de Piper.

 –Está vendo? Isso é você por fora... Linda como num sonho. Isso é uma parte de você, mesmo que você não goste, assim como – Colocou o espelho na frente de seu próprio rosto – eu também não posso mudar isso. Essa é a parte que podemos ver, e até uma pessoa que não te conhece pode saber sobre você, e somos muito julgados por ela. – Leo guardou o espelho e se aproximou mais. – Mas somos muito mais do que podemos ver. E essa é a diferença entre você e algumas das suas irmãs. Não existem motivos para não gostar de alguém que sempre está presente quando precisamos, e que abriria mão de si mesma por um amigo. Além disso, há outra coisa que não sei explicar, mas eu sei que é amor. Toda vez que eu vejo você sinto como se minha vida valesse a pena, mas quando você vai embora uma engrenagem importante que faz tudo funcionar é tirada de mim. Eu viro uma máquina com defeito.

O filho de Hefesto olhou para sua amada de modo compreensivo. Piper podia falar qualquer coisa que sua fé não se abalaria. Leo tinha certeza de seu amor, assim como Piper tinha do dela. Então porque complicar as coisas?

Ele não sabia se era o certo, mas algo lhe dizia que já era hora. Ele estava meio relutante, com medo de estar fazendo tudo rápido demais. Mas Piper pareceu não se opor, então ele foi aproximando seus lábios dos dela. Segurando em sua cintura, ele a beijou como se fosse a última vez que pudesse fazer isso. Nada mais importava no mundo, ele estava com a sua Rainha da Beleza, e era com ela que queria ficar para sempre.

O beijo começou leve, tímido. Mas a medida que ele tomava liberdade, expressou sua paixão e o seu amor. E seu desespero, pois ele sabia que como um semideus, as coisas nunca dariam certo por muito tempo. Ele precisava aproveitar ao máximo esse momento.

Quanto mais Leo a beijava, mais ele queria. Parecia nunca ser o suficiente, como uma sede sufocante que te leva a desidratar no deserto.

Piper não queria largá-lo, mas não podia ficar o beijando para sempre, podia? Pelo menos até que alguém acordasse, ela não iria querer parar. Mas ela ouviu passos sonoros como os de um burro pelo navio, e foi obrigada e largar Leo por uns dois segundos. Parece que era só Hedge indo ao banheiro, ou sei lá. Sorriram um para o outro e se abraçaram. Isso bem que podia nunca acabar...

–Hora de dormir. Deixa que eu cuido do navio, você está muito cansada.

–Estou mesmo. Mas eu não quero sair de perto de você, não tão cedo.

–Então está certo. –Leo se sentou meio deitado no grande sofá da sala (que não era muito usada) e bateu a mão do lado dele, indicando para Piper. –Deita aqui.

Ela deitou-se com a cabeça no seu peito, e relaxou. O dia e a noite realmente foram muito cansativos. E ela lembrou-se de que desde que matou aquela górgona não dormiu, apenas cochilou.

Leo pegou um cobertor que estava por perto, felizmente, pois ele não iria querer levantar dali. Puxou, e cobriu Piper. Ele acariciava seus lindos cabelos castanhos, que agora estavam totalmente soltos, sem as trancinhas. Ela dormia como um anjo. Logo, Leo também não agüentou o cansaço, e dormiu com aquele sorriso travesso no rosto. Um sorriso digno de quem estava plenamente feliz com a vitória em conseguir o que mais deseja, não sabendo que isso podia lhe ser tirado muito em breve.