–VOCÊS ESTÃO DE CASTIGO!

Piper acordou com um susto, e infelizmente a primeira coisa que viu foi um sátiro pulando com seu bastão de beisebol. Ela olhou ao redor, e viu Hazel e Frank dando risadinhas. Nico olhava como quem diz “eu já sabia”. Logo cedo todo esse alvoroço?

Ela não entendeu o porquê de tudo isso. Só o que se lembrava é de ter tido um sonho muito bom. O melhor sonho que já teve, aliás! Nesse sonho doce ela finalmente ficou com Leo. Seria tão bom não ter acordado! Mas pelo visto, o dia já clareou, e eles tinham muito trabalho pela frente. Quem sabe ele não se realiza?

– Aaaahn! – bocejou Leo – Bom dia pessoal!

Piper percebeu que estava em cima dele, toda descabelada, e de pijama. Já Leo estava com a roupa bonita de ontem mesmo. Ela nunca sentiu tanta vergonha ao olhar para as expressões divertidas de seus amigos.  Espera aí, então isso quer dizer que não foi um sonho?

–É... B-bom dia! – Ela disse com a voz quase sumindo.

–Dormiu bem? –Leo chegou mais perto, pegou uma mecha do cabelo de Piper, e ela corou ao passo que as imagens dos beijos da noite anterior vieram na sua cabeça. E que beijos!

–Sim! Muito bem! –Ela se levantou com pressa e foi em direção ao seu quarto. –Vou me trocar pessoal, bom dia para todos. – Piper praticamente saiu correndo, afinal ela não queria ter que ficar pra ouvir as brincadeirinhas que eles fariam. Mas acima de tudo ela estava feliz. Muito feliz mesmo.

–Ah, por favor! Não me olhem com essas caras! –Riu Leo, enquanto mexia no cabelo bagunçado. –Estou com fome, vamos comer?

[...]

A fome aumentou em Leo, por causa da corrida apostada com Frank até o refeitório. Hazel resmungava algo sobre não saber qual dos dois é mais infantil, e seguiu andando devagar com o irmão ao seu lado. Eles agora conversavam sobre coisas banais, por que sabiam que já haviam enrolado muito, e que a hora das coisas sérias havia chegado, e só teriam essa chancepara aproveitar. Provavelmente havia algum combate muito difícil pela frente. E era preciso se preparar e queimar essas duas semanas perdidas desde que venceram o gigante.

Nico lhe contava sobre os chiliques de Perséfone, o estresse de Hades, e a sua indiferença sobre as coisas. Por mais que fosse muito irritante a estadia no mundo inferior, Nico se sentia bem. Mas agora ele estava aproveitando a aventura com seus amigos.

Ele pensou se não havia alguma substância que pudesse acelerar a recuperação de Jason... Quer dizer, Percy demorou em voltar ao normal, mas não tanto.

Chegando ao refeitório, ele e sua irmã tiveram que lançar alguns olhares intimidadores para que Leo e Frank parassem de brincadeira e comessem direito. Porém até eles riram com a torta que Leo atirou em Frank. Hazel se sentou e pegou um prato. Ela precisava comer direito, pois algo lhe dizia que o dia seria longo, muito longo.

[...]

Piper não foi para o refeitório, não foi por vários motivos. Além de estar morta de vergonha, ela não queria ver ninguém agora. Seu lado “filha de Afrodite” estava fervendo e ela só queria entrar no quarto e ficar dando risadinhas de alegria enquanto repassava em sua cabeça a noite anterior e analisar cada detalhe! Depois ela adoraria compartilhar sua felicidade com Hazel, e com... Annabeth. Mas infelizmente isso ficaria para depois, pelo menos a parte de Annabeth.

Ela foi meio andando, meio correndo para seu quarto. Porque Leo tinha que construir um navio tão grande e com quartos tão longe um dos outros? Ela virou o corredor, e de repente toda a sua alegria se dissipou. Não, ela não se dissipou. Ela se tornou outro sentimento: Culpa.

Olhos azuis e elétricos a encaravam. Aqueles olhos eram de Jason. E algo lhe dizia que aquele era o Jason que ela conhecia, e não o monstro que ele havia se tornado temporariamente.

Sem saber o que dizer, ela apenas parou e ficou olhando para ele. Não conseguia encarar seus olhos. Vários pensamentos diferentes passaram por sua cabeça nesse momento, mas o principal foi: Eu não podia o ter abandonado nesse momento.

–Por que o silencio? Não vai me dizer oi? –O filho de Júpiter a observava um pouco alienado, como se não estivesse neste mundo.

Oi? Será que isso era o certo depois de tudo? Piper sentia como se houvesse um piano em suas costas. Estava tão animada em conseguir a cura para Jason, mas o que dirá à ele agora?

Ela tentava segurar uma maldita lágrima que teimava em cair. Não, ela não podia deixá-lá cair. Seus amigos mereciam que ela ao mínimo fosse forte. Estava feliz, claro, mas isso era como um lembrete. Um lembrete de que ela não podia permanecer com esse sentimento por muito tempo.

Você não queria tanto o garoto antes? Então agora fique com ele, cria de Afrodite. Você e sua mãe me enojam. Sempre descartando os outros. Eu mesma só descarto algum peão quando ele já não me serve mais. Sem desperdícios, entende? Você já me serviu.  Agora será descartada. Aguarde McLean. As coisas vão ficar ruins para você.

A voz. A voz de Gaia na sua cabeça. Será que ela podia ter escolhido hora pior para isso?

–Oi! – Ela pulou e o abraçou. Apesar de amar Leo, Jason ainda era alguém muito importante para ela. Assim como todos os tripulantes de Argo II e campistas do Acampamento Meio-Sangue. Seu coração se alegrava em saber que ele voltara a ser ele mesmo, pelo menos em parte. – Você está bem?

–Ah, sim. Só estou com um pouco de fome.

–Nesse caso vamos, aproveita que todos estão comendo também.  Depois de todo esse tempo, acho que deve estar com saudades de estar com seus amigos reunidos.

–Você não sabe o quanto! –Ele a abraçou e lhe deu um beijo leve nos lábios.

–Você não... Jason... –Ficou lá parada, pensando no que havia feito. Ela resolveria isso depois. Seria doloroso, um coração teria de ser quebrado. Mas agora ela precisava fazer seus amigos felizes. Colocou sua máscara de felicidade mais convincente no rosto, e caminhou com Jason até o refeitório.

[...]

–Ainda bem que chegaram! Jason! Como se sente? É muito bom ver você de novo, Super-Man! –Leo se levantou e correu para abraçar o melhor amigo. Ele realmente estava muito feliz de ver sua recuperação. Ele na hora nem suspeitava dos problemas gigantes que haveria entre Jason, ele, e Piper.

Os outros se levantaram um por um para abraçar Jason, e dizer algumas palavras de encorajamento na sua melhora.  Piper e ele se sentaram um de cada lado de Leo, que estava na ponta da mesa. Eles sabiam o que isso significava. O filho de Hefesto tinha algo muito importante a dizer.

Conversas paralelas se iniciaram envolvendo Jason. Enquanto isso, Leo e Piper trocavam olhares de deboche, e quando percebeu, fizeram careta para ele.

–O assunto está ótimo, mas se alguém aí está cansado de ficar o tempo todo dentro desse barco só matando monstros sem ir a lugar nenhum, vai querer ouvir isso.

–Fala mecânico! –Frank pegou seus talheres e começou a mexer neles com certa obsessão, numa tentativa infrutífera de imitar Leo quando achava algo que pudesse servir para suas criações.

–Muito engraçado, mas segure seus impulsos animais, por favor! –Agora Leo imitava uma galinha batendo asas, o que na visão dele, representava muito bem o amigo. –A parte no mar finalmente acabou, pelo menos por enquanto. Estamos bem perto de uma ilha grega onde Afrodite nasceu. Pelo menos, é o que dizem as lendas.  Foi lá onde ela escondeu o cinto de jóias que ganhou de Hefesto. Ele é muito poderoso... Quando ela usou, meio que todos os deuses se apaixonaram por ela, e mesmo para uma deusa do amor esse tipo de coisa tem limite. Então ela resolveu guardar o cinto na sua “cidade natal” para que ele fosse usado em uma situação de necessidade.

–E como isso pode nos ajudar? –Hazel perguntou, interessada por causa das jóias.

–Pensem: temos uma filha de Afrodite aqui.  Imagina o poder que esse cinto pode ter com ela usando!  –Nico se animava com a idéia do quanto isso podia ser útil.

–Mas eu... –Piper ergueu uma mão para contestar, porém Leo lhe dizia com a sua expressão que precisava que ela cooperasse. Isso seria muito útil para conseguir informações para salvar Percy e Annabeth, e de como fechar as portas da morte. Ou até de como enfraquecer Gaia. –Tudo bem. E alguém tem idéia de onde ele está?

–É aí onde eu queria chegar. Estamos bem perto de Cythera. De Roma para cá demorou um pouco, mas quando chegarmos ao nosso destino podemos pegar um avião para Atenas. Já viajamos demais com o navio, vai ser bom trocar um pouco, para despistar e tal. Além de que temos um filho dos céus aqui. –Leo revirou os olhos para Jason, que deu um sorriso.

–Legal, e quem vai pagar as nossas passagens? Que eu saiba aviões de mortais não aceitam dracmas de ouro. –Frank balançou seu bolso, revirando as moedas.

–E quem disse que vamos em um avião mortal?