Psico escrita por hwon keith


Capítulo 3
Pingando




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O clique das pequenas gotas de chuva era um som a parte. Aleatórios, caindo cada qual num ponto distinto, jamais percorrendo uma linha dita e nunca deixando-se intimidar pelo asfalto quente. As árvores, agora raras, sofriam. Encharcadas, desanimadas, deixavam suas folhas verdíssimas serem consumidas por todo aquele líquido fino e morno.

Contra a  janela embaçada, observando a luta que o chão da rua sofria para evaporar os pingos d'água, vendo pedestres passando, sem perceber nada além de sua própria rotina, estava um homem jamais dito como comum. Seus olhos amarelados não o eram. Sua pele branca e os cabelos da mesma cor, num corte estranho não transpiravam normalidade. Não, ele era o oposto do que é visto nas ruas, esquinas, bosques, multidão.

Era desigual.

E agora, este homem, Makishima, sentava-se numa poltrona confortável, deixando de lado a janela molhada e pegando um livro entre seus dedos. Mais um conto ou história na qual poderia basear-se, ou apenas refletir. Pensar.

A capa era dura e azulada. Makishima sorriu para o livro e abrindo-o começou mais uma de suas leituras desejadas.

-

Havia vento contra as cortinas. Esse vento as fazia balançar, ondular, levantar e abaixar-sem como numa dança exótica de uma bailarina desconhecida. O frio que esta dança trazia era menosprezado por Kougami, já que o homem, deitado um sofá, fumando, olhando para o teto, já tinha muito do que pensar.

Sasayama.

-

A chuva despertou Akane. Sentindo-se frustada, desejando poder dormir mais um bocado, já que o cansaço lhe parecia permanente, ela sentou-se e olhou para o despertador. Era cedo. Começou a se sentir nauseada.

Virou seus olhos para o teto. Encarou-o sem ponto fixo, sem pensar ou sentir nada, apenas olhando-o. Seus olhos lutavam para não se fechar. Um bolo começava a subir pela garganta. As lágrimas soltaram de seus olhos, e ela desabou a chorar.

Eu beijei Kougami.

Levou as mãos até a boca, sem nenhum motivo, apenas por reflexo.

Como vou encará-lo?

Lembrou-se do sonho. Não totalmente imaginação de seu cérebro, mas a realidade. A pista. As luzes coloridas. A sensação gostosa de algo quente em todo o seu corpo. A língua grossa. A fala solta e os lábios abertos. A inclinação. O macio toque da boca de Kougami.

E ela havia gostado. Sim. Mesmo sentindo-se culpada, envergonhada por estar bêbada e agir por impulso, ela se sentia um pouco bem.

Fizera por desejo. Quisera aquilo. Por que se arrepender?

Sorriu. De leve, mas sorriu. Deixou as mãos antes pousadas no rosto sobre seu colo, e deitou-se. Era cedo. Final de semana. Folga. Nada para fazer, nada para pensar, apenas fazer nada. Descansar. Relaxar.

Mas ela não conseguia fazer isso, e por essa causa, levantou-se, vestiu-se, com um esmero mais elevado do que o normal. Pegou pertences, um casaco, um guarda-chuva para toda aquela água que insistia em desabar e saiu. 

No meio do caminho, parou, suspirou e continuou. 

E quando ela parou na soleira da porta, e apertou a campainha, algo aconteceu. Algo para duas pessoas distintas, tão longes uma da outra.

Makishima parou de ler. Kougami olhou para o porta. 

As duas tocavam. 


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