Já estava de noite quando eles chegaram novamente à praia. Poseidon deixou a moto parada um pouco longe da casa e continuaram o caminho a pé.

–Por que nós não fomos de moto até lá mesmo? – Atena perguntou.

–Porque eu queria andar um pouco – ele falou, segurando a mão dela, que não protestou.

–Hum... sabe, hoje de manhã, antes de sairmos de casa, eu vi perto da televisão o filme “Um amor para Recordar”. Pensei que Afrodite só tivesse deixado o do Percy Jackson, 300 e os seus filmes pornográficos – falou Atena.

–Eu vi, eu tinha escondido esse para não ter que assistir de novo – ele riu.

–Eu queria ter assistido.

–Mas foi você mesma que se recusou a assistir filmes românticos comigo.

–The Vow era um filme romântico, e ainda assim nós assistimos juntos. – ela retrucou.

–Hã... Tecnicamente nós não assistimos.

–Certo, mas ainda assim nós estávamos juntos, no cinema, para ver um filme romântico. Perto disso, assistir “Um Amor para Recordar” aqui na casa seria bobagem.

–É verdade – ele concordou – Mas aquele filme é muito triste.

–O livro é muito mais, acredite.

–É incrível como eles mudam tanto a história na hora em que criam o filme... Nesse caso, o que tem de diferente entre os dois?

–Ah, eles fazem juntos uns projetos com umas crianças no orfanato, coisa que não aparece no filme... e no filme tem uma cena onde ela pede para ele não se apaixonar por ela, que se eu não me engano, essa cena não me aparece no livro. – ela franziu o cenho – Preciso ler esse livro de novo, estou começando a esquecer da história.

–Esse é um pedido interessante para ser feito – ele falou – E ele se apaixonou por ela, certo?

–Certo. Daí eles se casam e ela morre. Trágico.

–É... o mundo dá voltas. – ele murmurou, pensando em seus próprios sentimentos.

–Eu deveria ter te pedido para não se apaixonar por mim quando viemos pra cá – ela ironizou.

–Que pena que não disse antes, agora é tarde demais – ele falou, ao que ela franziu o cenho.

Eles estavam agora na beira do mar, à frente da casa, com o mar banhando seus pés descalços. O céu estava escuro, iluminado apenas pela lua, e começava a esfriar.

–Como assim? – ela perguntou.

Ele parou de caminhar, soltou a mão dela e ficou de frente para Atena.

–Eu quis dizer que – ele enrolou um dedo num cacho loiro dela – seria tarde demais para pedir pra eu não me apaixonar por você, porque isso já aconteceu.

–Poseidon, acho que não entendi – ela falou, processando o que ele tinha acabado de dizer – Isso é mais uma brincadeira sua, é isso?

Ele tomou cuidadosamente o rosto dela nas mãos, olhando nos olhos dela. Agora era verde escuro no cinza-tempestade. Então, falou:

–Atena, eu te amo.

*.*

Quando ele tocou suavemente os lábios dela com os seus, ela pôde perceber que não era uma brincadeira, e essa constatação a fez derramar uma lágrima indesejada. Depois dessa vieram outras, que pingavam de seu rosto e fizeram Poseidon parar o beijo.

–Poseidon... eu não... você não pode... Não! – ela chorava, balançando a cabeça como quem tenta espantar um pensamento, deixando o deus confuso. Quando Atena saiu correndo para dentro da casa, ele nada disse, ficou apenas olhando para o chão e se perguntando o que tinha acontecido.

*.*

Poseidon ficou até tarde da noite sentado na praia, pensando e quase sem sentir o frio que fazia ali. Quando ele entrou na casa, subiu para o segundo andar e parou na porta do quarto, só para ouvir soluços e o choro de Atena.

Aquele som lhe partia o coração. Ela dizia: “De novo não, não pode ser...” e voltava a chorar.

Então ele sentou-se ali na frente da porta, ainda se perguntando o que havia feito de errado.

“Ela não... ela não deve sentir o mesmo” , ele pensou, triste.

Confuso, Poseidon apenas encostou a cabeça na porta do quarto, entregando-se aos pensamentos até que fosse embalado por Morfeu.