Sofia escrita por Larissa M


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Hey! Esse capítulo é um tanto menor que o primeiro, portanto, eu deixo a seguinte pergunta: estou seguindo rápido demais ou o ritmo está bom? Eu sempre me pergunto isso, mas ter uma noção qnd se escreve é difícil...



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Do silêncio matutino foi crescendo devagarzinho um barulho inconfundível aos ouvidos de qualquer um. Os cascos de cavalos batiam ritmadamente na estrada que cruzava a frente dos portões de Highgrove Cottage, num trote acelerado. Acompanhados desses, estavam o ruído das rodas de madeira de uma carruagem batendo contra o terreno irregular da estrada, e inconfundivelmente chegando mais perto.

Por força do acaso, Sofia se encontrava no jardim da frente, sentada à sombra da frondosa macieira florida, compenetrada na leitura de um livro. O barulho lhe passou despercebido, inicialmente muito longínquo e casual para que desse maior importância, porém, foi obrigada a erguer o rosto da deliciosa trama quando a carruagem seguia logo ali em frente, e cessava bruscamente pouco antes do portão branco de madeira.

Sofia fechou o livro e o colocou no colo, pondo-se a observar o veículo. Não restavam dúvidas quanto ao seu destino: havia de ser Highgrove Cottage, pois nenhuma outra residência se encontrava ali por perto. Restava, então, saber quem vinha em seu interior.

Os cabelos castanho-avermelhados da mulher que saltou da carruagem logo prenderam a vista de Sofia. Reconhecendo a sua dona com um ligeiro sorriso de satisfação, a moça ergueu-se de um pulo. Era Catlyn Foster, amiga de longa data, cuja vinda para Surrey já estava marcada havia uma semana.

Logo atrás da Sra. Foster veio o seu marido, Richard, e ambos, após breves ordens dadas ao cocheiro, seguiram de braços dados à casa a sua direita.

Foram recebidos pela própria Sofia, que na mesma hora em que os viu já foi andando até o portão com um sorriso de boas-vindas no rosto.

- Catlyn, Sr. Foster, esperava-os apenas sexta-feira! Que surpresa agradável. Como vão? – disse Sofia animadamente, enquanto abria o portão de madeira e fazia um gesto para que eles a acompanhassem.

- Muito bem, obrigada, Sofia. – respondeu Catlyn – Pois então, tivemos a sorte do bom tempo, o que nos proporcionou uma viagem, que, além de cômoda, foi mais rápida que o esperado.

Sofia assentiu, cumprimentando também Richard. O trio foi seguindo em direção a casa por um caminho de pedras que cortava o jardim em dois.

Highgrove Cottage era uma casa modesta, com um jardim pequeno, mas bem cuidado. A casa quase passava despercebida escondida em meio a todas as frondosas árvores dos bosques das cercanias, mas, da vista aberta que se tinha da estrada logo em frente, ela conseguia mesmo se destacar. No canto direito ficava a macieira a qual Sofia estivera debaixo, cuja sombra se estendia a acobertar boa parte do jardim nos dias de mais sol.

A casa em si era uma construção baixa, de apenas dois andares, com uma varanda de madeira escura que se estendia por toda a frente do primeiro. A porta que ia para o vestíbulo ficava bem no centro dessa varanda, ladeada por duas largas janelas: uma para a sala de estar, outra para o antigo escritório de Charles. Eram cerradas por pesadas cortinas, por isso, nada se via do interior. Dos pilares na ponta varanda, erguia-se o segundo andar, com mais três grandes janelas, uma delas um tanto afundada no vão do vestíbulo.

Sofia mal nesses detalhes reparava, de tanto que já estava familiarizada com sua residência, ao contrário dos dois outros visitantes. Catlyn, sendo amiga de Sofia desde que a moça era menina, já via a tudo com um olhar diferente: nostalgia. Já Richard reconhecia aqui e ali detalhes que recordava de algumas de suas passadas visitas à Highgrove Cottage.

A mãe de Sofia veio recebê-los assim que sua filha a chamou. Sempre simpática, convidou-os a se sentar na sala e alegremente iniciou a conversa. No entanto, mal havia se sentado e já se erguia outra vez. Era conhecida também por nunca ficar parada por muito tempo, e, por isso, arrumou o pretexto de ir buscar chá e se retirou.

- Ela nunca para... – Sofia suspirou ao ver a mãe saindo da sala outra vez. – Ao menos é um consolo vê-la seguindo a vida do mesmo modo que estamos antes.

O olhar de pesar no rosto de Catlyn foi o suficiente para Sofia saber de tudo o que ela queria dizer, e que apenas buscava as palavras corretas para expressar seus pêsames e do marido. Dos três da família, Charles era o mais admirado por Catlyn, como ela também era por ele. Falava com ela sempre com aquele timbre de voz respeitoso, e nunca deixava de frisar a esperteza da amiga de Sofia. Catlyn era apenas alguns anos mais velha que a filha de Charles, mas que sempre contavam mais quando se tratava de experiência.

- Obrigada, Catlyn, por todo o apoio. – Sofia respondeu assim que a amiga terminou de falar, com um olhar mais expressivo do que suas palavras.

Logo após, Frances voltava com o chá, já emendando suas ofertas com um animado assunto despreocupado. Catlyn tratou de disfarçar o clima mais pesado que antes ali estivera, pegando o chá com um afetuoso agradecimento. Não mencionaria nada na frente de Frances; não ousava atrapalhar a paz a animação da outra com pêsames já dados a Sofia. Apenas se certificaria que a filha falaria com a mãe depois por intermédio seu, para não dar a impressão de má educação.

Um clima ameno se formou na sala, com todos se unindo numa só conversação. Minutos depois, Richard, que começara um assunto sobre botânica com Frances, fizera questão de ir ver os terrenos dos fundos de Highgrove Cottage, para ao mesmo tempo olhar as flores e dar dicas gerais sobre todo o resto. Depois do cercado dos fundos da casa, que só ficava ali quase por mero enfeite de tanto que o portão ficava aberto, estendiam-se terrenos preenchidos por flores e ornamentos, que se emendavam num bosque nos terrenos laterais e que delimitava-se por um riacho nos fundos.

Highgrove Cottage, apesar de ser uma construção quase isolada e autônoma, pertencia à propriedade de Highgrove Park. Esta, por sua vez, era uma grande casa de campo, localizada a noroeste do chalé, e utilizada principalmente no verão pela família Foster. Era sabido que a casa passava de geração em geração, e que o próximo herdeiro seria o filho mais velho do casal que atualmente ocupava a residência, e primo de Richard, Adam.

Embora partilhando de terrenos próximos, entre os vizinhos de Highgrove Cottage e Park não era costume fazerem-se visitas. Após Charles ter fechado o acordo da venda do chalé e algumas visitas de cortesia trocadas, uma temporada passada em Londres afastou quaisquer relações futuras que as famílias pudessem ter. A reclusão voluntária e introversão dos Foster e respeitabilidade de vontades cabível aos inquilinos garantiram certo afastamento de ambas as partes, assim como as classes sociais, que diferiam-se claramente, sendo que nem um nem outro lado tinha interesse em quebrar com as regras mudas da sociedade.

Com o casamento de Catlyn e Richard, ele, primo em primeiro grau do herdeiro de Highgrove, e ela, amiga íntima de Sofia, no entanto, isto mudara. Visitas começaram a ser mais frequentes, e pouco a pouco as famílias começaram a se conhecer melhor. Naquela mesma semana da visita dos recém-casados, no entanto, a família Foster, tanto os dois filhos quanto o Sr. e Sra. Foster se encontravam em Londres, e Highgrove Park, vazia. Nenhuma visita poderia ser feita, a não ser, é claro, a que estava em seguimento.

Enquanto Richard e Frances saíam da sala de estar, deixando as duas moças para trás, no meio de uma conversação sobre botânica e sobre os terrenos atrás da casa, foi inevitável a Sofia lembrar-se desses detalhes sobre o chalé que ocupava.

Mediante o silêncio prolongado de Sofia após a saída dos outros dois, Catlyn ergueu o olhar encará-la. Estivera observando distraidamente alguns exemplares de livros na prateleira que ornamentava a sala, e vendo algumas novas aquisições de Sofia. Quando olhou para a poltrona que amiga estava sentada, encontrou-a quieta e pensativa. Imaginando o que Sofia teria em mente, Catlyn se lembrou de um assunto que viera discutir com ela. A partir da ideia de uma visita da amiga e sua mãe à Londres, junto dela própria e de seu marido, crescera outra ideia: uma mudança de ares temporária viria a ser boa, porém, uma mudança permanente haveria de ser ainda melhor.

- Sofia, eu gostaria de propor-lhe algo. – ela começou, retornando ao seu lugar no sofá e tirando Sofia de seus devaneios.

- Diga-me, Catlyn. – ela respondeu prontamente – Sabe que seus conselhos são por mim muito apreciados.

- Muito obrigada. – ela respondeu com um sorriso, e continuou – Você já sabe da proposta que lhe fiz da visita à Londres, lembra-se? Na carta que lhe enviei semanas atrás.

- Sim, me recordo muito bem. – Sofia respondeu. – Mas, se é só isso que gostaria de recomendar, Catlyn, temo que eu tenha que recusar. Como eu irei abandonar Highgrove Cottage com tantos assuntos pendentes? – Sofia tinha em mente a carta de seu editor. Teria de responder a ele imediatamente, é claro, mas ir para Londres e deixar uma possível resposta aguardando seu retorno? Isto ela não queria, pois colocaria seu objetivo mais urgente em aguardo. – Ademais, teria certos gastos com a viagem, toda a mobilização, e ainda por cima não creio que deixar Highgrove Cottage sem a presença de ninguém seja um movimento sensato. – Sofia lembrava-se que a única empregada que possuíam era uma cozinheira. – Não posso, Catlyn, ir, não num futuro próximo, para uma longa estadia. – Sofia concluiu com um claro tom de pesar na voz. Gostaria muito de aceitar o pedido da amiga sem preocupações.

A outra deu um sorriso fraco de concordância, entretanto, argumentou logo em seguida:

- Engana-se, querida Sofia, ao pensar que não refleti sobre tudo o que me falou. Não ignoro a sua correspondência com seu editor, que se perderia no tempo esquecida aqui durante sua visita, se esta se estendesse por longo. – Sofia reteve-se. Via que Catlyn iria seguir com seu raciocínio, e não querendo atrapalhá-la para corrigi-la, deixou que prosseguisse. – Também sei que deixar Highgrove Cottage praticamente abandonada não é inteligente. – Sofia ia assentindo a cada item que a outra dizia. Catlyn continuou, cada vez mais animada – Entretanto, há dois pontos que gostaria que você levasse em conta: primeiro, meu sogro poderia facilmente mandar algum de seus funcionários aqui para o chalé; e segundo, igualmente aquela a carta poderia esperar por uma ou duas semanas (seu editor não demora meses para responder?)...

Sofia franziu o cenho, agora confusa com a animação crescente na fala de Catlyn. Pela expressão da amiga, era visível que ainda não concluíra sua fala.

- Sofia, quero que você considere algo. Se você gastasse, digamos, uma ou duas semanas comigo em Brakefield Hall, valeria muito a pena se, por exemplo, você e sua mãe estivessem procurando um imóvel. Posteriormente, este poderia tornar-se a residência fixa das Eastwood.

Sofia abriu a boca para negar, porém fechou logo em seguida. Sabia das desvantagens que havia de morar numa cidade grande como Londres, como também de deixar para trás um lugar como o que agora era sua morada. Seu amor pelo clima calmo, as belezas e todas as outras vantagens que conseguia enumerar sobre o campo por um momento gritara mais alto em sua consciência, mas, vendo no rosto sóbrio e nos olhos sensatos de Catlyn, calara-se e obrigara-se a segundos pensamentos.

A ideia não era de modo algum rejeitável assim de pronto; era válida, bem pensada, visando o futuro, e, sobretudo, poderia se transformar no remédio para a maioria dos problemas de Sofia. O pior que poderia deixar para trás eram saudades.

- Sim... – os olhos de Sofia saíram de foco, e a imaginação tomou o lugar da visão – Mas... teria de deixar Highgrove completamente para trás. Digo, a propriedade é de Sr. Foster, e para ele retornará. Não terei o suficiente para adquirir um imóvel, Catlyn. – Sofia baixou os olhos ao admitir sua situação. Uma mistura de impotência e vergonha fez a cor subir à suas faces, e a empolgação anterior de ter achado uma solução reduziu consideravelmente.

- Nisso os próprios Foster poderão ajudá-la. Ainda não havia mencionado a você, mas eu e Richard estamos querendo sair de Brakefield Hall. Pretendíamos alugar outra residência, por Londres, ali mesmo perto de Manson Street. Então, você e sua mãe poderiam ficar com nossa casa antiga.

- Mesmo assim, Catlyn... – Sofia ainda conservava seu embaraçamento – não está sugerindo que eu more de graça, está? Pois as únicas chances de eu o fazer são se eu lhe pagar assim que conseguir publicar meu livro. Mesmo que Brakefield Hall nos seja emprestado, em algum momento terei de adquiri-lo formalmente.

Catlyn ergueu uma sobrancelha para Sofia, duvidando daquele otimismo sonhador da amiga. Se ela ouvira bem, Sofia dissera assim que publicar o livro, quase como se estivesse certa daquilo. Catlyn ainda não tinha conhecimento da carta, e, portanto, para ela, o editor ainda não respondera. Sabendo ter chegado a hora de contar a novidade, Sofia deixou o assunto de sua mudança de lado, e falou:

- Catlyn, eu ainda não tive a chance te contar... São boas, não, ótimas notícias que eu tenho... Não está relacionado com Londres, mas sim comigo, e ajudaria muito a pagar o aluguel de Brakefield Hall. – enquanto Sofia ia preparando os ouvidos de sua amiga para a novidade levantava-se da poltrona que estivera ocupando – Se me der um minuto, vou lá em cima e volto já.

Cumprido o prometido, Sofia retornou ao seu lugar na sala. Desdobrou o papel da missiva que trouxera consigo, dizendo antes que desse início à leitura:

- A carta é de meu editor. – a moça mordeu o lábio para não entregar a novidade com um sorriso comprometedor, e se pôs a ler.

Sofia avançou rapidamente pela leitura. Mal chegara à metade da carta, foi obrigada a parar de falar, pois Catlyn a interrompera com exclamações efusivas de felicidade, e congratulações pelo novo romance de Sofia. Sendo ela uma das únicas tinha conhecimento do pseudônimo – dividia o segredo apenas com Frances –, Sofia bem apreciou o reconhecimento, e a liberdade com a qual poderia conversar com sua amiga sobre este assunto. Guardar um segredo de tal tamanho muitas vezes pede uma ou outra válvula de escape.

- Não pude me conter de satisfação no dia! – exclamou Sofia – Só não lhe escrevi imediatamente, pois também havia lido sua carta, e preferi guardar a novidade para quando nos encontrássemos pessoalmente.

- Fez certo! Odiaria ter de esperar para falar com você. – Catlyn respondeu. No entanto, lembrando-se de um infeliz detalhe, seu semblante mudou, e ela franziu o cenho em preocupação. Como que adivinhando o conteúdo da carta, perguntou num tom mais sério – Sofia, o que diz o resto da carta?

O sorriso de Sofia murchou como o de Catlyn. Pegando novamente a carta, leu os últimos, e mais preocupantes, parágrafos.

- Como eu imaginava! Sem o Sr. Ackroyd, tudo ficará mais difícil... – Catlyn comentou assim que a leitura chegou ao fim.

As duas amigas debateram a situação e as palavras de E. Saunders por algum tempo. Catlyn defendia o ponto de que, uma vez plantada a dúvida e a vontade de ver Stephen Penketh, o editor de Sofia não esqueceria assim tão fácil do escritor, com uma desculpa qualquer, quanto mais com a ausência de Charles Ackroyd, que era um homem de sua confiança. Tudo teria de ser feito por cartas. Já Sofia defendia o ponto de vista de que o editor, atarefado como deveria ser, não insistiria no pedido se Stephen alegasse doença, e, além do mais, “o escritor” estaria invariavelmente de luto.

- Nesse ponto tem toda a razão, Sofia. Ele lamentará a perda de Charles com o devido respeito.

Sofia assentiu lentamente. Nesse momento, viu, pois estava sentada de frente à janela, as duas silhuetas de sua mãe e de Richard passarem na varanda. Apressando-se, guardou a carta de volta no envelope, que jazia esquecido em cima da mesa de centro.

- Teremos de esperar para ver, Catlyn.


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Notas finais do capítulo

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