Código Negro escrita por Monica Romero


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Ps: repostando a história



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3

Olho melhor e vejo o garoto novo, o que as garotas tanto falavam nesta manhã.

–A maioria das garotas não usam calças, ou os garotos cabelos compridos. Sabe em que ano estamos? -Diz ele sorrindo.

Sei que tenho um jeito diferente da maioria das garotas, na verdade acho que de todas, mas me sinto bem assim.

–Sim, muito engraçado você. - Digo irônica, mas sem mostrar nenhuma expressão no rosto.

–Quer me mostrar a vizinhança?

–O que ganharia com isso?

–Um amigo.

Ouço Haralda me chamar.

–Hanna aulas de etiqueta! –Grita ela a minha procura.

Odeio aulas de etiqueta, simplesmente desnecessário. Mas Haralda insiste em ser a primeira aula, é claro. Acho que ela não vai se importar com minha fuga, já deve estar acostumada com isso.

–Estou descendo.

Vou andando pelo telhado até a arvore. Subo em um dos galhos. Quando estou firme nele e me solto da parede ele se parte.

Eu sinto o vento batendo em meu cabelo, vou cair, é tudo muito rápido. Viro-me e vejo o chão. Quando finalmente caio vejo que estou com meu joelho direito no chão com a mão ao lado, meu pé esquerdo no chão. Não sinto dor alguma.

–Isso é incrível! - Diz ele ao meu lado.

Levanto minha mão, eu literalmente fiz um buraco.

–Como fez isso? –Pergunta ele sorrindo impressionado.

Eu estou pasma, essa é a mesma pergunta que tenho em mente.

–Eu não sei. –Digo sem palavras para completar.

Levanto-me. Dou leves tapinhas no joelho da minha calça para tirar a terra que ficou.

–Você é louca! Qual seu nome?

–Hanna. Hanna Savin.

–Russa? –Confirmo com a cabeça. –Kurt Kutner. –Diz sem jeito.

–Prazer.

–O prazer é todo meu.

Russell diz que eu deveria ficar mais séria, porque rir passa impressão de imaturidade, então tento não rir com toda a formalidade que Kurt usou.

–Bem, vamos ver por onde começo o seu tour – fico um tempo em silêncio mesmo sabendo para onde vamos. – Venha.

Pulo a cerca que separa meu quintal com a floresta e ele me segue. Vejo que ele tem bastante habilidade para pular dessa maneira, não é qualquer um que faz isso com um terno tão fino.

–A conhecida Floresta Negra. Muitos dizem que é um lugar repleto de fadas, duendes e bruxas. Mas eu não acredito nisso. –Digo me sentindo uma guia – se tiver muita imaginação ou for uma criança verá que essa floresta é assustadora.

–Tem várias trilhas nela?

–Sim, mas a maior parte delas é próxima ao rio ou mais para o sul, mas estamos no norte da floresta. Então tome cuidado para não se perder e também com os animais, eles não são acostumados com presença humana.

Eu vou até um galho e sem perceber começo a me equilibrar.

–Você veio de um circo? –Pergunta ele ignorando meu ultimo comentário.

–Não, mas poderia trabalhar em um.

Ele me observa. Sinto-me envergonhada e paro. Assim que desço limpo minhas mãos na calça, para tirar algumas farpas. Embora eu sempre faça isso quando estou com vergonha.

Ele ainda me observa. Não sei por que, mas sua presença faz com que eu fique envergonhada.

–Já foi para a biblioteca?

–O que? –Pergunta ele distraído. Acho que o tirei de seus pensamentos.

–A biblioteca de Sommer.

–Não. -Diz ele sorrindo.

Eu não sei por que, mas acho que ele tem a impressão de me conquistar com sorrisos, embora não tenha motivo para isso. E eu sempre tive a impressão que olhar para alguém sorrindo por alguns instantes faz com que a pessoa fique com cara de tola.

–Podemos ir para lá. - Olho para minhas roupas e penso melhor. -Acho melhor irmos outro dia.

–Por quê?

–Kutner olhe meu estado. Tenho que me arrumar.

–Eu espero.

Eu o encaro. E eu que sou a estranha da história...

–Eu já volto. – Digo com um olhar suspeito.

Volto para meu quarto, me troco, prendo meus cabelos. Estou com um vestido verde simples e com o cabelo preso em um rabo de cavalo.

Não posso pular de vestido. Droga. Desço as escadas e dou de frente com Haralda.

Ela tem os cabelos loros escuros e olhos negros como os meus, pele tão branca que chega a dar aflição.

–Onde estava? E por que esta arrumada? Esta com febre?

Não posso negar, Haralda é linda, sempre bem maquiada e charmosa, com um corpo de dar inveja.

A maioria das pessoas gosta dela, e acho que sou a única que não gosto muito dela. Creio que ela seja uma ótima atriz e tem algo que não quer que ninguém saiba de algo, e eu sou uma pessoa muito, muito curiosa e tento encontrar uma maneira de descobrir.

–Quero ir para a biblioteca.

–Com quem? –Ela arqueia as sobrancelhas. Tenho que admitir, ela é muito esperta.

–Kurt Kutner. O novo aluno e vizinho.

Ela me encara e depois olha sobre os ombros, como se alguém pudesse estar nos supervisionando agora. Sei que se dependesse dela ela deixava, mas meu irmão...

– Vocês tem uma hora.

Eu dou um sorriso.

–Não fique tão animada. Sem gracinhas, é nova demais para namorar. Leve Klara com você.

–Obrigada Haralda. Não se preocupe somos só conhecidos.

Ela me encara.

–Hanna te conheço bem o suficiente para saber que não sairia com conhecidos, está fazendo isso para não ter aulas de etiqueta.

–Adeus Haralda. –Digo soltando o riso.

Desvio-me dela e vou em direção à porta.

–Não pense que se livrou tão fácil Hanna, ainda vai ter aulas hoje! –Escuto ela falar antes da porta se fechar.

É difícil odiar uma pessoa que se esforça para ganhar seu carinho. Haralda tem tentado cada vez mais se parecer como uma mãe, mas ela não é. Esse é o problema. E por mais que eu odeie admitir também tem o motivo de sentir ciúmes dela com Russell.

Kurt me espera na porta. Ele estava encostado em uma das arvores na frente de minha casa, assim que ele me vê vem a meu encontro.

–Vamos? – Pergunta ele.

–Temos de passar na casa de Klara.

–Quem é ela?

–Minha melhor amiga.

Ele concorda e vamos andando. Enquanto andamos conversamos sobre temas variados.

Na verdade ele tenta puxar assunto para tentar prolongar a conversa já que minhas respostas eram curtas e diretas, mas ele finalmente tem sucesso quando diz que tem uma grande curiosidade sobre a Rússia, e como é um de meus assuntos preferidos digo a ele tudo que sempre gostei lá. Conto sobre a música e a dança e cito alguns poemas.

Quando falo que Russell é compositor também e que sempre fui treinada e educada para seguir o mesmo caminho ele diz que toca piano e pergunta que instrumento toca e digo que eu toco piano e violoncelo. Sempre gostei mais de piano, embora, fosse melhor em violoncelo.

Pela conversa vejo que ele é muito agradável e cavalheiro. Também é bem elegante, esta de terno branco com uma camisa azul e gravata branca. E não é o garoto que pensei ser tolo, vejo que é também muito inteligente.

–Você é a primeira garota que conheço que gosta de calças.

–Não me impressiono com esse comentário.

Ele me olha e sorri gentilmente.

–Hanna!

Não, não pode ser! Viro-me devagar com os dedos cruzados.

–Marco, oi. –Droga.

Marco é um garoto que se mudou no inicio deste ano, desde o momento que ele chegou a Sommer me persegue. Ele é bonito, mas sou apenas amiga dele. E ele geralmente me assusta porque tenho a impressão que vive me perseguindo.

Ele tem os cabelos escuros e olhos azuis e sempre muito estiloso. Hoje ele esta com um terno preto e como sempre um chapéu.

–Marco este é Kurt. Kurt, Marco.

Eu apresento-os.

Marco sorri gentilmente assim como Kurt. Parece até que eles já se conhecem, pois Marco não tem o costume de sorrir quando estou acompanhada de qualquer outra pessoa.

–Sim, já nos conhecemos – disse Marco.

Espero que seja da escola, assim se torna a apresentação mais rápida.

–Kurt, a casa de Klara esta perto. Desculpe Marco mas temos de ir.

–Aonde vão? –Pergunta ele.

–Para a biblioteca.

–Seria um incomodo se os acompanhasse?

–Não, claro que não. Pode vir.

Educação, muitas vezes atrapalha...

Continuamos andando, mas com um silêncio perturbador entre nós. Eu não gosto muito de silêncio, ainda mais algum que seja constrangedor.

Quando cheguei à porta de Klara eu bato.

–Franciele! –Digo assim que ela abre a porta.

Nós nunca tivemos uma criada. Russell sempre disse que era desnecessário uma e que poderíamos sozinhos cuidar de nosso lar. Em parte até mesmo concordo com esse argumento, temos de ser autossuficientes.

–Hanna, que bom te ver. Quer entrar?

–Infelizmente não posso, tenho companhia. –Aponto para os garotos que acenam educadamente.

–Vou chamar Klara então.

–Obrigada.

Eu me viro para os garotos.

Solto um olhar bravo para Marco, que logo entende que ele esta sendo mal educado.

–Então Kurt, é muito diferente em Munique? –Diz ele.

–Algumas coisas.

Marco assente, logo após me olha como se dissesse "tudo bem agora?".

Ignoro seu olhar e olho novamente para a porta, esperando impacientemente que Klara apareça. E quando a porta se abre vejo Klara pela fresta, ela sai logo em seguida. Antes de cumprimenta-la digo:

–Klara. Quer ir para biblioteca ou esta ocupada?

–Não, eu estava arrumando meu penteado. Olá rapazes.

Eles retribuem o comprimento.

Durante o caminho até a biblioteca Klara vai me deixando atualizada dos novos boatos que se espalham pela cidade. Os garotos trocam poucas palavras entre si, mas não nos interrompem.

Acho que a voz de Klara é mais agradável que o silêncio perturbador, mesmo que isso signifique estar muito bem informada sobre boatos. Impressionante como em poucas horas Klara consegue tantas informações.

Klara começa falando sobre uma família que acabou de se mudar para Suíça e que seu pai desconfia que na verdade fugiram por ser judeus e que são considerados traidores e altamente perigosos. Eu não encaro dessa forma. Também acho que dificilmente eles conseguiriam sair do país e devem estar escondidos.

A situação é realmente preocupante, não só para eles, mas qualquer estrangeiro ou qualquer outro que eles consideram impuros.

Mas, como sempre, ela muda de assunto e me conta sobre um escândalo que tem sobre o prefeito e uma viúva. Ela diz que isso já está pela cidade inteira e que seu pai está furioso pela reputação da cidade. Eu não me preocuparia tanto com nossos status, vejo que todo esse domínio que a Alemanha conseguiu pode ter resultados catastróficos.

Klara provavelmente escuta seu pai durante as refeições ou pela porta de seu escritório.

Como estávamos andando devagar demoramos alguns minutos para chegar à biblioteca.

Enquanto os garotos entram primeiro eu aproveito para falar com Klara.

–Temos de tentar entrar na sala. –Digo assim que tenho certeza que ninguém nos escuta.

–Você é louca! Dependendo do conteúdo a Gestapo vem nos perseguir.

–Não seja exagerada Klara.

–Primeiro as cartas.

Eu quero invadir a biblioteca...

–Tudo bem Klara... –Digo séria.

–Ótimo.

Não sei se ela pensa que me convenceu ou que por algum acaso vou obedece-la, mas acho que ela deve estar confiante disso.

Klara está agora fazendo as apresentações entre Max e Kurt. E conversa com ambos. Aproveito esse momento em que todos estão distraídos e eu vou até Marco e sussurro em seu ouvido.

–Pode me fazer um favor?

Ele sorri.

Vou até a porta da sala e Marco me segue.

–Preciso que abra essa porta.

Ele assente e pega seu canivete. Depois de girar algumas vezes ele consegue.

Eu entro na sala e procuro por algum livro e logo encontro um que aparentemente pode vir a me ajudar no futuro. "Codificação".

Abro no índice. "Modos". Vou para a página vinte.

“Alguns códigos são usados pela marinha, forças aéreas ou baseados em civilizações antigas e sua cultura. As maiorias dos códigos são em forma de enigmas, para dificultar espiões ou transmitir informações falsas.”

Não era exatamente o que eu procurava, mas acho que tenho que saber alguns códigos que caso venha a encontrar.

Logo coloco o livro no lugar.

–Pode fechar Marco. Obrigada. -Digo ao sair.

–O que queria lá?

– Apenas um livro.

–Mas...

–Por favor, feche.

Ele obedece.

Passamos à tarde na biblioteca e Kurt me mostra alguns de seus livros preferidos. Ele conta sobre a biblioteca de Munique e que seu pai sempre trazia livros de suas viagens.

Depois seguimos para nossas casas. E como Haralda prometeu, não consegui me livrar das aulas de etiqueta.


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