O pesadelo de hoje à noite me custou horas significativas de sono. Acordo praticamente me arrastando pelo banheiro. Ao me olhar no espelho arregalo os olhos, estou com olheiras enormes e meus olhos custam a ficarem abertos. Cuido da minha higiene pessoal e sinto um desânimo maior ao ver que ainda tenho que escolher uma roupa. Essa é a parte ruim de ler um closet enorme, você simplesmente se perde dentro dele. Sento na poltrona rosa do meu closet e fico encarando as roupas, em busca de algo para hoje. Escolho por fim uma calça jeans, uma blusa florida e um salto baixo bege. Como sempre, coloco o colar dado por minha mãe e uma de ouro branco que um dia foi da minha avó Esme.

Vou direito à cozinha e Jacob não está lá. A mesa está pronta com o café da manhã, mas intocável. Não sinto tanta fome, por isso só tomo um café puro para ajudar a me manter acordada. Apoio o queixo na mão direita e tento o máximo para não fechar os olhos. A casa está silenciosa e nenhum sinal de que Jacob esteja aqui, nem mesmo seu cheiro. Olho no relógio do meu celular e se Jake não chegar em 10 minutos iremos nos atrasar.

- Bom dia, Nessie! – diz minha mãe se aproximando e me abraçando.

- Oi, mãe. – respondo sem muita animação. – Sabe onde está Jacob?

- Não, querida. Mas, tenho certeza de que logo ele chegará. – ela responde sorrindo. – Você está bem? Parece... cansada.

- Tive pesadelos e mal consegui dormir. – respondo alongando o pescoço.

- Entendo. – ela diz desconfiada.

- Mãe, estou bem. É normal ter pesadelos. – digo sorrindo para reconforta-la.

Minha mãe sorri e me da um beijo na testa. Ficamos sentadas esperando Jake aparecer. Dois minutos. Ou iremos nos atrasar. Começo a ficar nervosa e minhas unhas começam a baterem na mesa. Um minuto...

- Cheguei! – diz Jacob com um ar ofegante. – Desculpe pela demora. Vamos?

- Sim. – respondo pegando minha bolsa e me despedindo da minha mãe.

Jacob dirige apressadamente e ficamos calados durante todo o percurso até o colégio. Meu melhor amigo parece ansioso e nervoso.

- Jake, está tudo bem? – pergunto cautelosamente.

- Claro. – responde ele sorrindo para mim. – Não sou eu que estou com uma cara horrível.

- Não dormi muito bem. – digo sentindo um arrepio por minha espinha ao lembrar do meu pesadelo.

Jacob acena positivamente com a cabeça e não prolonga uma conversa. Ele parece dirigir cada vez mais rápido.

Chegamos ao colégio em menos tempo que o esperado. Jacob está roendo as unhas, hábito que minha mãe também possui e acaba me deixando nervosa.

- Para com isso! – digo impaciente. – O que aconteceu?

- Nessie, acho melhor você escolher outro príncipe, não sei dançar. – sussurra ele sem me olhar.

- É com isso que está preocupado? – pergunto sem tentar esconder o sarcasmo.

- Sim. – ele admite.

- Não precisa se preocupar. Qualquer um consegue andar de um lado para o outro, tenho certeza que vai dar tudo certo. – digo sorrindo.

- Se você diz. – ele responde dando de ombros e entrando na sala de aula.

Entro logo atrás de Jake, agora teremos aula de Matemática, uma das que eu mais gosto. Todos os alunos parecem odiar a matéria, já eu acho-a interessante e, às vezes, um pouco complicada. Números e letras se misturam e é estranho, mas eu gosto.

- Quando teremos aquela conversa? – pergunte Robert quando passo por ele.

- Quando eu tiver sozinha. – respondo.

Ele ri e acena a cabeça positivamente, como se soubesse a minha resposta. Não gosto do sarcasmo dele.

- Então não teremos essa conversa nunca. Jacob sempre está com você. – diz ele sentando na cadeira de frente à minha.

Não conversamos mais nada durante o restante da aula, pois Jacob está ao meu lado e nem Robert, nem eu ficamos a vontade para falar na frente do meu melhor amigo. Também não quero expor o passado de Robert, nem ele parece querer que isso aconteça.

Ao término da aula me afasto de Jacob, agora é uma das aulas em que não estamos na mesma turma. Nos despedimos e eu caminho até a sala com meus novos amigos. Eles conversam e riam de coisas banais, enquanto eu perco em meus pensamentos. Perguntas sobre Robert tomam conta da minha mente. Ele anda quieto ao meu lado, mas me olha em alguns momentos e rapidamente desvia o olhar quando encontra o meu. É como se ele tivesse pensando em mim também. Quando o olho não vejo nenhuma ameaça em seu ser. Ele parece um vampiro calmo e sensato, talvez parecido com meu avô. Mas também é sarcástico e misterioso como meu pai. Ainda assim, há algo que ele esconde, eu sinto isso. É mais do que uma intuição, tenho quase certeza disso.

- Oi, Renesmee! – diz Tiffany ficando entre mim e Robert. – Quero te apresentar as meninas que falei.

- Claro. Mas, pode me chamar de Nessie, meus amigos e família me chamam assim. – respondo.

- Ah, tudo bem. E por sinal, adorei!  – diz ela sorrindo.

Tiffany pega meu braço e me puxa até o fim do corredor, onde cinco meninas estão me encarando com curiosidades. Todas são bonitas e espero que também sejam simpáticas.

- Essa são – em ordem – Melissa, Alanna, Amber, Caitlin e Lily. – apresenta Tiffany com animação. De algum modo ela me faz lembrar minha tia Alice.

As meninas sorriem para mim e sorrio de volta, elas parecem simpáticas, por enquanto. Melissa é a mais alta de todas, sua pele é muito branca, seus olhos são verdes escuros e seu cabelo é castanho escuro, quase preto, lisos e longos.

- Prazer em conhecê-la, Renesmee. – diz Melissa. – Obrigada por me convidar!

- O prazer é meu. – respondo sorrindo.

Alanna tem cabelo castanho claro, seus olhos são cor de mel e seu sorriso é meigo e doce. Ela me cumprimenta com um beijo na bochecha e um sorriso e se junto à suas amigas. Amber é loira de olhos azuis e quase tão alta quanto Melissa. Percebo que quando passam ao seu lado, os meninos param o que estão fazendo para olhá-la. Caitlin também é loira, só que tem cabelos cacheados e seus olhos é castanho médio. Lily me mostra um sorriso encorajador e animado e logo passo a gostar dela. Ela é ruiva e aparentemente a mais baixa de todas.

- Estou tão feliz por ter sido convidada. – diz Lily se aproximando e segurando meu braço. – Gostaria muito de ser sua amiga.

- Claro. – respondo sorrindo.

Apenas Lily e Amber estarão conosco na próxima aula, então nos despedimos das outras e entramos na sala do lado esquerdo do corredor. Lily fala o tempo todo, o que a faz  parecer engraçada. Amber não é de falar muito, mas mostra simpatia com seus sorrisos e algumas perguntas de vez em quando. Ela e Tiffany parecem ser muito amigas.

Passo praticamente a aula toda fazendo anotações, pois o professor diz que a matéria explicada será a que contará como maior parte da nota.

Quando a aula termina Lily e Amber saem animadas a procura de suas amigas, falando sobre a minha festa e como foi difícil conseguir um horário no salão de beleza tão perto da data. Aproveito e digo que hoje a tarde preciso que elas vão à minha casa para experimentar os vestidos para ajustar o tamanho. Pelo preço que custou cada um deles, a costureira não reclamou de que talvez tenha que ajustar algo mais. Todas ficam surpresas e ansiosas com o meu convite, dou o endereço a elas e ficam novamente surpresas ao saber que faço parte da família Cullen.

Tiffany saem com as meninas, me deixando sozinha no meio da multidão de alunos. Quando me viro, dou de cara com Robert. Ele está sorrindo para mim, com as mãos no bolso.

- Oi. – digo sem graça.

- Oi, Renesmee. – ele responde. – Agora que está sozinha acho que podemos finalmente terminar aquela conversa.

Olho ao redor e percebo que o corredor está praticamente vazio. Só tem apenas alguns casais aproveitando  a troca de aula para ficarem juntos e um grupo de meninos com os olhos grudados na tela de um IPad.

De algum modo, não acho que seja uma boa hora para conversar. Jacob, com certeza, sentirá a minha falta e talvez até saia no meio da aula para me procurar. Ele é incrivelmente protetor, como meu pai.

- Não acho que seja uma boa hora. Não posso ficar perdendo aula. – respondo apertando meus cadernos contra o peito.

- Tudo bem. – ele diz dando de ombros. – Só que não teremos outras oportunidades para conversar tão fácil. Não é justo você saber quase tudo sobre mim e eu nada sobre você.

Quando Robert solta essas palavras parece que quem tem o poder de persuasão é ele, não sua irmã. Ele é incrivelmente controlador. Não respondo de imediato, mas sei que tenho que decidir logo. Só restam apenas ele e eu no corredor e logo alguém que trabalha aqui passará e nos questionará.

- Mas encerraremos essa conversa hoje. – digo finalmente.

- Como quiser. – sorri ele e caminha em direção à porta de saída.

Saímos com cautela, para não sermos pegos. Vamos ao mesmo lugar que conversamos anteriormente e nenhum de nós se pronuncia apenas nos encaramos, com certeza esperando o outro falar.