A Primeira Família de Esther escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 6
Escola


Notas iniciais do capítulo

Ahá, uhu, esse capítulo deu mais de 2.000 palavras! Rsrs.
Bem, é o maior capítulo até agora, sim. Espero que gostem!



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Conforme lhe fora permitido que fizesse, Esther dormiu no quarto de Eliza e Rick na sua primeira noite na casa dos Sullivan.

O dia seguinte era domingo. Naquele dia, Esther brincou com Mandy no quintal a manhã inteira, até a hora do almoço.

As meninas entraram na casa pela porta principal, a que dava na sala de estar, ao serem chamadas para a refeição, porque teriam de dar uma bela volta se quisessem entrar na que dava direto na sala de jantar. Sentado no sofá da sala, elas encontraram Leon, com uma expressão concentrada e desenhando numa folha sulfite apoiada num livro em seu colo. Ele nem olhou para as irmãs.

- Leon tem desenhado beeem mais depois que mamãe contou que você é uma ótima pintora. – Sussurrou Mandy para Esther, com as mãos em concha em torno de seu ouvido para que o outro não escutasse.

E era a mais pura verdade. Ele tinha, sim, desenhado bem mais depois daquilo. Não queria perder o título de pintor da família.

Esther olhou para Leon pensativa por um momento, após a afirmação de Mandy, e então foi até o sofá e se sentou ao lado dele. Ficou quieta por algum tempo, observando-o desenhar uma cena de uma jovem jogando um frisbee para um cachorro buscar.

- Faz a garota mais sensual, Leon. – Propôs ela.

- Mais o quê? – Leon franziu o cenho, achando estranho ouvir Esther falar sobre sensualidade, já que Mandy provavelmente nem sabia o que aquilo significava.

- Sensual. Você não sabe o que isso quer dizer? – Ela o estava menosprezando, claramente. Ele não gostou disso.

- Eu sei o que é sensual.

- Então faça.

Leon jogou o livro, a folha e o lápis sobre a mesinha de centro, e se levantou. Foi para a sala de jantar sem olhar para trás.

- O que deu nele? – Mandy perguntou. Ela estava alheia da conversa deles. Esther a ignorou.

Elas também foram almoçar.

Depois da refeição, Esther subiu para o seu quarto. O cheiro de tinta não estava mais tão insuportável, e ela já fora avisada de que teria de dormir lá sozinha a partir daquela noite.

Mandy queria brincar com ela à tarde também, mas Esther disse que queria ficar desenhando. Mal se teve sinal dela novamente até o jantar.

O dia seguinte, segunda-feira, ia ser o primeiro dia de Esther na Lincoln Elementary School, onde ela cursaria a segunda série, e onde Mandy também estudava. Leon também estudara lá até o ano anterior, e agora ele estava na escola secundária, mas se lembrava da escola de ensino básico com carinho. Ele teria aproveitado muito mais os anos que passara lá se soubesse que o que lhe aguardava depois daquela escola era uma bem mais complicada.

Contudo, na manhã de segunda-feira Esther não parecia nem um pouquinho preocupada pelo fato de estar a poucos minutos de entrar num ônibus escolar a caminho de uma escola estranha em um país na qual ela chegara há dois dias. Quando Eliza perguntou-lhe se não estava nervosa, durante o café, Esther deu uma mordida em sua torrada e respondeu com simplicidade:

- Por que eu estaria? Eu vou estar na mesma classe da Mandy, não vou?

Isso era tão estranho. Ela não estava nervosa, e tampouco animada. Como se já estivesse acostumada a trocar de escola. E talvez estivesse, mas havia o acordo de Eliza e Rick de não fazerem perguntas sobre o passado da filha e tudo o mais, então isso deu um ponto final à história.

Leon, como sempre, saiu mais cedo de casa, porque ele gostava de ir e voltar da escola de bicicleta, ao invés de pegar o ônibus como todo mundo. Alguns minutos depois, Eliza saiu com Esther e Mandy, para acompanhá-las até o ponto de ônibus. Beijou as duas filhas no rosto ao que o veículo escolar amarelo parou em frente a elas. Assistiu-as entrando e acenou enquanto o ônibus se afastava.

Desejava toda a sorte do mundo a Esther em seu primeiro dia de aula.

*********

- Claire, Pamela, essa é a minha irmã Esther. Esther, essas são minhas amigas. – Apresentou-me Amanda a duas meninas, uma de cabelos louros e uma ruiva, que estavam sentadas num dos bancos mais na frente, logo após entrarmos no ônibus.

- Oi, Esther! Sou a Claire. A Mandy já estava a semanas falando de você! – Exclamou a garota loira, fazendo a outra dar uma risadinha e concordar:

- É, ela estava mesmo. Sou a Pamela. – Por sua vez, Pamela parecia ser um pouco menos extrovertida que Amanda e Claire, e falou num tom de voz mais calmo que o delas.

- Oi! – Eu disse, sorrindo, e avaliando bem aquelas meninas. Aparentavam serem tão bobas. Bom, elas eram amigas de Amanda, então isso não era surpresa alguma.

Eu senti um profundo desgosto ao olhar em volta e ver todas aquelas crianças. Os Estados Unidos eram bem diferentes dos outros países em que eu havia morado, e eu sabia que a escola seria diferente também, mas as crianças tinham a mesma expressão retardada em qualquer país ou escola do mundo em que eu estivesse.

- Vamos ver se tem um banco em que nós possamos nos sentar mais para o fundo. – Amanda pegou minha mão e começou a me puxar. Deixei-me levar, embora não estivesse gostando disso.

Ela me apresentou a mais uma tonelada de garotas durante o percurso, e a nenhum garoto. Não que eu desejasse conhecer algum, mas era interessante observar o comportamento daquelas crianças, que agiam como se houvesse alguma espécie de barreira dividindo as meninas dos meninos. Isso era outra coisa que sempre acontecia, independentemente do país ou da escola.

Assim, foi por culpa de Amanda que, quando a professora, a Srta. Johnson, me apresentou na frente da classe com um animado “Turma, essa é a Esther Sullivan, a irmã da Mandy que agora estará estudando conosco. Deem as boas-vindas a ela!”, grande parte dos alunos já me conhecia.

A Srta. Johnson apontou-me uma cadeira atrás da em que estava sentada aquela garota ruiva, Pamela, e na frente da em que estava um garoto sardento de cabelos castanhos, que lembrava um pouco Leon, tirando por Leon ser maior e não ter sardas.

- Você pode sentar lá, Esther.

Assenti, e fui me sentar, enquanto ela iniciava a aula.

- Eu não sabia que a Mandy tinha uma irmã. – Disse-me baixinho o garoto moreno atrás de mim, assim que a professora se virou para o quadro negro, dando as costas para a turma.

  - Ela não tinha. – Respondi, num tom duro. Se ele tivesse um mínimo de inteligência, entenderia que eu não queria conversa.

- Como alguém não tem uma irmã e de repente passa a ter? – Ele não entendeu. Rezei silenciosamente por paciência. Eu ia precisar para aguentar tamanha ignorância.

- Eu sou adotada.

- E quem são seus pais?

- Eu não sei.

Ele ficou quieto por um instante, mas eu já não esperava que isso fosse durar. Comecei a copiar os exemplos de onomatopeias que a Srta. Johnson passava, até ele prosseguir:

- Seus pais se vestiam como idiotas como você se veste?

Minha mão travou. Encarei o caderno a minha frente. Se eu virasse para ele agora, seria para enfiar o meu lápis na jugular dele. Por que ele não ficava quieto?

- E então? Vestiam?

Pamela, na minha frente, devia estar escutando tudo, pois levantou a mão e, sem esperar consentimento para falar, disse:

- Professora, o Brian está atrapalhando!

- Brian, troque de lugar com o Kevin. – A Srta. Johnson ordenou, brava, como se o garoto, Brian, já tivesse algum histórico de mau-comportamento.

Ele recolheu seu material e foi se sentar em um lugar no outro canto da classe, enquanto o menino então lá sentado veio para o lugar dele.

O tal Kevin não me perturbou durante a aula.

Na hora do almoço, Amanda, Claire e Pamela fizeram questão de sentarem na mesma mesa que eu, mesmo que eu tenha tentado ficar sozinha num canto do refeitório. Felizmente, elas estavam muito ocupadas conversando sobre o último filme do High School Musical, que estrearia nos cinemas na semana seguinte, e nem prestaram atenção a mim.

Quis pegar minha bandeja com minha comida e ir para outra mesa, porém não fiz isso, pois sabia que aquelas imbecis iam me seguir e ainda ficar perguntando por que eu tinha saído. Estava melhor ficando lá e sendo ignorada.

Depois do almoço, tivemos aula de música. Quisera eu ter continuado com as onomatopeias: Aquelas crianças não sabiam tocar nada, só fazer barulho. Bem que os pais delas podiam ensinar alguma coisa útil para elas, como música.

Parecia que eu era a única pessoa neste mundo que pensava.

O sinal de fim das aulas tocou às 15h. Enquanto saíamos da escola, Amanda perguntou:

- O que achou da escola, Esther?

- Legal. – Respondi, e ela pareceu gostar.

O ônibus escolar já estava lá esperando para nos levar para casa. Eu estava começando a subir nele quando Brian chegou atrás de mim e tentou passar na minha frente, me empurrando dos degraus para abrir-lhe caminho.

Fui rápida o suficiente para me firmar e bloquear a sua passagem.

Ele tentou passar de novo, e eu virei meu rosto para encará-lo, com uma expressão tão cruel que Brian parou.

- Tente fazer isso de novo, e eu vou dar um jeito de fazer a roda desse ônibus esmagar sua cabeça. – Sussurrei, rápida e clara.

- Eu vou contar tudo para a Srta. Johnson! – Ele falou, parecendo então um tanto assustado.

- E ela vai acreditar em você?

Não, ela não ia. Brian sabia disso tanto quanto eu. Uma pequena vitória para mim: A ameaça dele não valia nada diante da minha.

Terminei de subir no ônibus e fui me sentar.

No entanto, aquilo não seria esquecido. Brian ainda teria de pagar, e não ia ser barato.

*********

Eliza foi buscar Mandy e Esther no ponto de ônibus. Estava ansiosa para saber como tinha sido o dia.

- E então? – Ela perguntou, sorrindo, quando o ônibus chegou e as duas meninas saltaram para fora.

- A Esther falou que gostou da escola. – Mandy anunciou, feliz, indo para os braços da mãe.

- Ah, é? Fez muitos amigos? – Eliza abraçou Mandy com força, e olhou com olhos gentis para Esther esperando sua resposta.

A menina assentiu, dessa forma não dando brechas para continuar a conversa.

As três voltaram para casa. Leon ainda não tinha chegado da escola, e Rick, que era médico, estava no trabalho e só voltaria às seis da tarde, de forma que elas estavam sozinhas.

- Mamãe, o que tem para o lanche? – Foi a primeira coisa que Mandy perguntou, correndo para a cozinha.

- Espere o Leon para lanchar, Mandy. – Eliza respondeu. Ela ainda não tinha preparado algo, na verdade. A parte boa de trabalhar à noite era que ela tinha o dia disponível, e era por isso que geralmente ela deixava um lanche pronto para quando seus filhos chegassem da escola, mas aquele dia tinha sido tão corrido! Eliza passara o dia inteiro fora fazendo várias coisas.

Não que isso fosse tão ruim. Mandy e Esther ficaram felizes em ajudar a mãe a preparar o lanche, e quando Leon chegou da escola – balbuciando algo sobre um professor de francês sem noção, com o em todos os dias que ele tinha aula com ele – já estava tudo pronto e eles puderam comer.

- Como foi seu dia, Leon? – Eliza quis saber, já se preparando para ouvi-lo falar de quantas dezenas de páginas de lição de casa de francês que ele teria de fazer para o dia seguinte, mas foi pega de surpresa por outro assunto:

- Vai ter uma exposição de arte no sábado, na escola. Duas obras minhas foram selecionadas.

- Jura? Leon, isso é ótimo!

Leon concordou, e depois acrescentou:

- Mas só posso levar você e papai. Duas pessoas.

Eliza olhou para as meninas. Elas não poderiam ir, então. Era uma pena, pois ela queria demais que todos da família fossem.

- Bom, talvez se eu ligar para a escola...

 - Não! Mãe, você não pode ligar para a escola! Que vergonha! – Leon disse, repentinamente exasperado.

Eliza ergueu as sobrancelhas, e demorou um pouco antes de assentir.

- Certo, certo. Não ligarei, então. – Falou para ele, e depois se dirigiu às meninas: - Eu vou chamar a babá para vocês no sábado, tudo bem?

- Oba! – Mandy comemorou. Ela adorava a babá que seus pais sempre chamavam, Ashley. Chegava a compensar ficar em casa.

Nesse caso, indo à exposição de arte ou não, todos iam aproveitar a tarde de sábado.

No mínimo, quase todos.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo!