A Primeira Família de Esther escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 2
Os Sullivan


Notas iniciais do capítulo

ATENÇÃO: Para quem leu antes de eu corrigir, eu mudei o sobrenome da família. Eu tinha inventado um porque achava que no filme não citava qual era o nome. Mas eu assisti de novo esses dias e vi que falava, sim. Então, já corrigi o primeiro capítulo. O novo sobrenome é "Sullivan".

Ah, e obrigada pelos comentários no último capítulo. Espero que gostem deste também!



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Não havia dúvidas: Os Sullivan estavam encantados com as crianças do orfanato.

Eliza e Rick Sullivan. Casados há quinze anos. E aquela não era a primeira vez em que eles adotavam uma criança.

O filho mais velho deles, Leon, também fora adotado, mas naquela vez tinha sido diferente. Leon tinha apenas três anos em sua adoção, e era americano. A próxima criança que adotariam seria russa, e ainda por cima, eles haviam decididos que não queriam adotar uma criança pequena, e sim uma mais velha. Decisão por muitos considerada corajosa.

Além de Leon, eles tinham também outra filha, esta sendo biológica. Uma menina de oito anos chamada Amanda, mais conhecida por Mandy. Com cabelos louros encaracolados e sardas no rosto como a mãe, e olhos muito azuis como o pai, ela parecia um anjo fugido do céu. E às vezes também se comportava como um.

O casal se orgulhava muito de seus dois filhos, que naquele momento, enquanto Eliza e Rick estavam na Rússia, estavam em Washington com os avós maternos.

E vendo o quanto as crianças daquele orfanato eram adoráveis, o futuro nunca parecera tão doce para os Sullivan.

– Será que não podemos levar todas? – Eliza disse, brincando, para o marido.

– Precisaríamos de uma casa maior. – Rick riu.

Eles olhavam para todas as crianças, mas iam falar com muito poucas. Mais especificamente, apenas com as que Sra. Titov dizia que sabiam falar inglês. Afinal, Rick falava apenas o básico de russo, e Eliza, nem isso.

– O que estão achando? – Perguntou Sra. Titov a eles, sorridente, satisfeita pelo brilho no olhar não só do casal, mas também nos das crianças por quem eles passavam. Estava indo tudo muito bem.

– Fantástico. – Eliza respondeu prontamente, e Rick concordou.

– Bem, acho que já vimos quase tudo. – A diretora suspirou. – Gostariam de ver também a sala de música e a sala de artes? São as que faltam.

– Claro que sim. Gostaríamos de ver tudo. – Foi o que Rick disse.

Enquanto Sra. Titov guiava os Sullivan pelos corredores vazios para as ditas salas, não pôde deixar de questionar, depois de estarem fora de vista das crianças:

– Interessados em alguém em especial?

Eliza hesitou antes de responder:

– Achei a Ryta uma graça.

– Ah, sim! Ryta. Uma ótima menina, com certeza. Já mora aqui há quatro anos, e nunca deu problemas. Sabe, seus pais morreram num acidente de carro. A pobrezinha não tinha parentes. – Com essas palavras, Sra. Titov abriu a porta da sala de música, revelando o amplo aposento, cheio de instrumentos e de decoração, mas vazio de pessoas.

– Também simpatizei com ela. – Rick comentou enquanto eles entravam na sala.

Viram tudo rapidamente, e depois saíram, ainda conversando sobre a menina Ryta. E a cada palavra mais dita sobre ela, mais o casal gostava da órfã.

Então, eles se encaminharam para a sala de artes, esperando encontrar outro cômodo vazio. Mas, quando Sra. Titov abriu a porta, desta vez, a primeira coisa que viram foi uma menina sentada diante de um cavalete, com um pincel molhado de tinta verde, elaborando uma pintura quase exclusivamente nesta cor, em diversos tons. De longe, não deu para eles verem exatamente do que se tratava. A menina parou o que estava fazendo ao ouvir a porta, e se virou para olhá-los com um sorrisinho.

– Oi! – Ela falou.

– Oi. – Responderam Eliza e Rick em uníssono, ambos sorrindo de volta.

– Ah! Sr. e Sra. Sullivan, esta é a Esther. – Sra. Titov apresentou-os.

– Muito prazer, Esther. – Disse Rick, se aproximando com a mão estendida. A garota colocou o pincel dentro do pote de tinta e se levantou para cumprimentá-lo. Logo em seguida, fez o mesmo com Eliza.

– O prazer é todo meu. – Esther se mostrava muito educada. Ela voltou a se sentar e continuar o quadro.

– Está pintando uma cobra? – Eliza perguntou, visivelmente interessada. – Está ficando muito bonita.

– Obrigada. Gosto de cobras. – O inglês da menina era perfeito. Até a Sra. Titov estava impressionada, pois ela nunca tinha dito algo sobre falar outras línguas. Esther a deixava a cada dia mais surpresa.

– De cobras? – Rick riu-se. – Você se daria bem com o nosso filho. Ele adora cobras. Tem uma de estimação.

– Jura? – A expressão de Esther se iluminou.

– Sim. Ela fica presa num aquário. – Rick confirmou.

A órfã pareceu pensativa por um instante, pintando os olhos do réptil em silêncio.

– Eu gosto mais de cobras soltas, como a do meu desenho. – Declarou, por fim.

– Mas você não acha cobras soltas perigosas?

– Depende. A minha cobra não é perigosa. Veja. – Ela apontou com o pincel para o rosto da cobra. – Ela está triste porque ninguém gosta dela, mas na verdade, ela só está procurando uma família.

– A cobra está procurando uma família? – Eliza perguntou, divertida.

– Sim. Ela não consegue uma porque todos acham que ela é perigosa. Essa é a história deste quadro. Mas no final – Esther pintou um vulto perto da cobra. – Um menininho a encontra e leva para casa. E ela encontra uma família.

– Que lindo. – Eliza estava admirada.

– Você gostou? – Ela perguntou, e Eliza assentiu. – Eu daria o desenho para você. Mas ainda não está pronto.

– Esther é ótima pintando. – Sra. Titov elogiou.

– Eu só treino muito. – E mais uma vez a menina parou o trabalho. Se levantou, atravessou a sala e pegou uma pilha de desenhos que estavam sobre uma mesinha. Então a entregou para o casal. – Fiz estes na última semana.

– Uau. – Eles murmuraram observando todas aquelas pinturas. Apesar de todas terem um traço infantil, eram muito bonitas. Ela com certeza poderia ser uma pintora famosa quando crescesse.

– São incríveis. Mas pintando tanto, que tempo você tem para brincar? – Perguntou Eliza.

– Não tenho muito tempo para brincar, é verdade. Mas não tem problema. As outras crianças não gostam de brincar comigo.

O último comentário de Esther só faltou cortar o coração do casal.

– Por que não? Você é uma menina tão boa. – Rick disse.

– Acho que eu sou diferente. – Ela comentou, mas parecendo não se importar muito.

– Diferente? Tudo o que vejo quando olho para você é uma garotinha muito inteligente. – Rick afirmou.

– Você acha mesmo?

O homem concordou.

– Oh. Dizer isso é tão gentil de sua parte.

Fico

agradecida.

Isso conquistou o casal completamente.

Eles se despediram de Esther e saíram com a Sra. Titov, comentando o quanto eles tinham ficado maravilhados com a garota. Nem se falava mais de Ryta.

*********


Eu não parei de sorrir até os Sullivan saírem da sala. E também continuei sorrindo depois que eles saíram, mas de uma maneira diferente.

Aqueles Sullivan pareciam ser boas pessoas. Um casal feliz vivendo a vida alegremente.

Que patético.

Apaguei meu sorriso. Claro que eu achava engraçado que eles tivessem gostado de mim. Eu estava certa de que tinha grandes probabilidades de que eles me adotassem. Mas sorrir não era algo de meu feitio, e eu também não gostava.

Limpei meu pincel, e deixei-o no copo com os outros. Me levantei e fui até a janela.

Esperei, mas não vi os Sullivan indo embora. Bem, eles deviam estar conversando com a Sra. Titov em algum lugar naquele momento. Mas vi, no pátio, várias crianças correndo e brincando.

Elas eram todas umas imprestáveis, caminhando para um futuro incerto. Por que uma família iria adotar uma criança que nada faz, ao invés de uma que fala inglês, pinta e conta com grande educação?

E apostava que a Sra. Titov iria, ainda, falar mais coisas boas sobre mim para os Sullivan. Afinal, eu não tinha feito nada de errado desde que entrei no orfanato. Não havia coisas ruins sobre mim para ela dizer para eles.

Franzi a testa. Ou talvez houvesse. Aquele episódio com a Katya na primeira noite...

Katya era uma retardada. Eu nem precisei fazer muito para convencê-la de que não me queria como colega de quarto e muito menos como amiga. Foi bem tranquilo para mim. Durante a noite, eu peguei uma tesoura enquanto ela dormia, e foi necessário apenas que ela acordasse com a ponta na garganta para se apavorar.

“Você vai pedir para a Sra. Titov para mudar de quarto, amanhã”, eu havia dito, em voz baixa.

Ela engoliu em seco e concordou.

A fiz prometer que não falaria disso para ninguém, e ela realmente não abriu a boca.

Por isso, pensei que ela não deveria ser tão retardada assim quanto eu imaginava.

Ela sabia que o melhor era me obedecer, se não queria acabar morta.

E isso valia para todos.





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Notas finais do capítulo

Leiam as notas iniciais!

Até o próximo capítulo ;)