Quero Ser Um Cavaleiro escrita por Maia Sorovar


Capítulo 18
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Sara voltou para o templo rindo pela primeira vez em dias. Não conseguia se segurar quando pensava no nome da escola e de como o Grande Mestre ficaria bravo ao ler aquilo. Tomou um bom banho ao chegar em casa e colocou um roupa bem limpinha. Resolveu não amarrar os cabelos deixá-los secando ao léu. Porém, ao passar pelo quarto de Kiki, sentiu um enorme vazio no peito ao ver a cama intacta. Decidiu que com ou sem permissão iria visitá-lo.

Desceu tranquilamente as escadarias sagradas e ia passando sem cerimônia pelo templo de Virgem quando uma figura barrou-lhe o caminho.

- Opa, onde pensa que vai sem pagar o pedágio?

- Pedágio??? - Já ouvira um monte de coisas naquela semana e meia que estava no Santuário mas essa fora sem dúvida a mais disparatada.

- Sim, acha que pode ir passando aqui como e a hora que quiser? - Perguntou Enos. - Pode ir dando a grana.

- Mas eu não tenho dinheiro!

- Então volta pra onde veio!

- ENOS! Me deixa passar, por favor.

- De jeito nenhum. Mestre Shaka é um pão duro que só pensa que o mundo está possuído pelo capitalismo e não investe uma moeda que seja nesse pupilo aqui. Preciso sobreviver né?

- E de quanto é que estamos falando?

- Ah, só umas 100 drakmas.

- TÁ DOIDO? Eu não tenho tudo isso.

- Que pena... Vai ficar onde está então.

- E não posso pagar com outra coisa?

- Não gosto de rapazes, com todo o respeito. - Retorquiu o israelense maliciosamente. Sara sentiu-se enrubescer.

- Não falei disso.

- Ah sim. Bom, posso pensar em algo... Quando eu souber, eu ordenarei. Agora pode ir. - Disse dando passagem à garota, que não aguardou segundo aviso para correr e atravessar que nem um projétil a casa de Leão. Ao chegar em Câncer, resolveu ser mais cautelosa:

- Damien! É o Daniel. Peço passagem.

 - Pois esta lhe é concedida, pivete. - Disse uma sarcástico Máscara da Morte surgindo do templo. - Enfim aprendeu.

- Sim, obrigado senhor. - Murmurou ela cabisbaixa. Então, levantou o olhar e o encarou. - Como está meu colega?

- Está bem, se recuperando. Quer vê-lo?

- Sim, seria de meu agrado.

Ela foi conduzida através da casa que era decorada para um homem solteiro. Havia porém um sentimento intenso de tristeza e melancolia no ar, que não conseguia identificar de onde vinha. Achou por bem não comentar. Ao chegarem a uma porta, o canceriano bateu e introduziu-a sem esperar resposta. Sara se viu pela primeira vez sozinha num quarto de um garoto desconhecido e com um dentro! Olhou em volta, havia pôsteres de bandas de rock e fotos de mulheres nuas nas paredes, uma estante abarrotada de livros, uma escrivaninha muito bem arrumada e uma cama, onde o aprendiz se encontrava lendo distraído. Parou o que fazia para vê-la ser empurrada ao seu encontro.

- Olá, Damien. Estava passando e resolvi ver se já tinha se recuperado. - Disse ela nervosa.

- Boa noite, jovem Daniel... - Murmurou ele malicioso, com aquele sotaque que a fazia estremecer. - Ainda vou entender porque sempre treme quando eu falo. - Comentou rindo.

- Não é por nada não, só esfriou. - Desconversou, suando frio.

- Mesmo? Pois eu acho que está ficando muito quente... - E se levantou, dirigindo-se até ela e mirando-a fundo nos olhos. - O que teme tanto? E o que esconde? - Sussurrou em seu ouvido, fazendo-a se derreter por dentro.

- E-eu? Não escondo nada.

- Mentiroso... Sabe, gosto mais quando solta os cabelos. Fica parecendo uma mulher.

- Mas eu sou homem!

- E continua sendo um dos mais belos que já conheci. Principalmente com esse rosto de anjo... - Falou ele, alisando o rosto da morena com a ponta dos dedos.

- Você e Adonis são dois depravados. - Resmungou, afastando a face da mão dele.

- Não me admira ele ter pirado. És capaz de fazer qualquer um perder o juízo. - E avançou perigosamente, fazendo a brasileira recuar de costas até dar de encontro com a parede, sem saída. - Opa, parece que não tem mais pra onde fugir. - E apoiou os dois braços na parede, com o rosto da menina entre eles. Inclinou-se devagar e já ia juntar os lábios quando notou que ela tremia. Desviou de seu intento e beijou-lhe a face carinhosamente. - Não vou fazer nada que não queira, Dan.

- Está tentando me beijar, isso não deveria acontecer entre dois homens.

- Hahahaha! Homens? Ah, pare de brincar com minha inteligência! Qualquer um com um pouco mais de cérebro perceberia que pertence ao sexo frágil.

- Como se atreve? Não pode sair por aí dizendo essas calúnias, sou tão homem ou até mais que você.

- É mesmo? Prove.

- Provar? Mas provar como?

- Assim. - Finalizou ele, abrindo as calças e deixando-as cair no chão. Estava nu.

Sara se controlou para não gritar mas não pôde deixar de corar furiosamente. Estava completamente muda e não conseguia desviar os olhos do corpo do colega. Apesar de ter um irmão, só o vira sem roupa quando crianças e depois de crescidos ele se recusava a tomar banho junto com ela. Nem notou que o aprendiz voltara a se aproximar e já estava a alcançando quando Angelo abriu repentinamente a porta.

- MAS O QUE ESTÁ FAZENDO PELADO, MOLEQUE?

- Nada demais, mestre, só estava me trocando, não tem problema fazer isso na frente de outro homem, ou tem?

- Ai, se vista logo. E você, Libra, por que essa cara de bobo?

A morena olhou-o e sem conseguir pronunciar uma palavra disparou correndo para fora da casa.

- Afe, que moleque estranho. O que ele tem?

- O que ele NÃO tem, isso sim. - Respondeu Damien enigmaticamente, sorrindo.

- Eu hein? Todos estranhos. - Disse Máscara da Morte, saindo do quarto.

Sara correu dois templos abaixo num só fôlego. Ao chegar em Áries estava sem ar e só conseguia pensar no colega nu. Corou novamente, como podia ter permitido uma coisa daquelas? Fora terrível e fascinante ao mesmo tempo. E nem queria imaginar o que poderia ter acontecido se o mestre de Câncer não tivesse aparecido. Estremeceu com a idéia e concentrou-se em tentar entrar na casa sem ser vista. Rodeou toda sua extensão até descobrir uma janela baixa destrancada, que dava para a sala. Esgueirou-se por ela e caminhou silenciosamente na escuridão que reinava. Avançou pelo corredor, atenta a qualquer movimento e percebeu que só havia paz. Nenhuma luz acesa, nenhuma pessoa acordada. Lembrando-se da noite anterior, foi tateando até aporta do quarto onde estava Kiki e entrou, fechando-a.

O menino estava deitado dormindo, ainda cheio de curativos e suando muito. Havia uma bacia com água limpa no criado mudo ao seu lado e uma compressa. A morena molhou-a e limpou um pouco o rosto do ruivo. Isso pareceu acalmá-lo pois seu semblante se tornou mais leve. Ela tomou-lhe uma das mãos entre a sua, fazendo carinho. Estava triste, não queria tê-lo envolvido naquela briga idiota e muito menos vê-lo sofrer. Só desejava sua recuperação e ter aquele sorriso maroto por perto de novo. E desejou tão ardentemente que sentiu seu corpo todo arder e emanar uma luz rosa fraca que subiu pelo membro o menino envolvendo-o. Quando a energia sumiu, ele abriu os olhos:

- Onde estou?

- Kiki? Sh, está tudo bem, aqui é a casa de Áries.

- Voltei pra cá? Por quê?

- Seu mestre quis assim...

- Mas eu quero ficar com você...

- Eu sei, vamos ficar juntos, prometo. Só que por hora vai ter que ser assim, pelo menos até o Mu se acalmar. Agora durma, vou ficar velando seu sono.

O menino sorriu e logo adormecera, sonhando. Sara alisava sua mão tão distraída que nem sentiu a portas e abrir e alguém se aproximar.

- Não mandei que ficasse longe dele? - Uma voz gelada perguntou atrás de si.

- Me-mestre Mu? Eu só... - Mas foi interrompida bruscamente.

- Saia! E não retorne nunca mais! - Verocificou ele, puxando-a pelos cabelos com força e fazendo-a gritar. Com isso, o ruivo acordou.

- Não! Deixe ele!

- Quieto Kiki. Não se intrometa. - Disse Áries rispidamente enquanto arrastava a mulher para fora e jogava-a nas escadarias entre os templos. - Vou fazer com que nunca mais possa vir aqui. Muro de Cristal! - E ela viu uma enorme barreira translúcida como vidro se erguer em frente à casa. Do outro lado, o ruivo gritava-lhe e socava o muro, tentando em vão quebrá-lo.

- Daniel! Daniel!

- Pare com isso, mocinho, sabe que ninguém a não ser Shion e eu pode quebrar a muralha! Agora vamos! - Pegou-o no colo e levou o pobre garoto para dentro.

Sara olhava em lágrimas seu amigo ir embora contra a vontade. Esmurrou o chão e a parede invisível até que seus punhos começaram a sangrar. Sabia que agora estava realmente sozinha. Levantou-se e limpou o rosto, as palavras de Rickertt na sua mente: “homens não devem ser visto em momentos de fraqueza”. Sem mais o que pudesse fazer, dirigiu-se escadas acima. Ao chegar em frente a Gêmeos, contudo, viu Kanon e Alexius conversando tranquilamente sentados nos degraus. Ia passar por eles discretamente quando o cavaleiro a chamou:

- Daniel, algum problema? Parece tão pálido...

- Eu me desentendi com o mestre de Áries, foi isso.

- Com o Mu? Mas como? Ele é, depois do Shaka, o cavaleiro de ouro mais paciente. O que aconteceu?

- Pontos de vista diferentes. - Respondeu ela simplesmente e dando o assunto por encerrado. - Mas poderiam me dizer o que aconteceu com Adonis? Não soube dele ainda.

- Bom... - Kanon parecia meio incerto ao falar.

- Ele está no templo da Deusa Athena, sob vigilância. E parece que ficou doente depois da batalha. - Disse Alexius.

Aquilo surpreendeu a garota, não esperava que o golpe que lhe fora aplicado tivesse tanta força.

- E ele pode receber visitas?

- Poder pode... Mas acha que será bom se for vê-lo? - Perguntou o gêmeo percebendo suas intenções.

- Não sei. Só que ainda não sei porque ele fez aquilo comigo e queria tirar essa história a limpo. - Afirmou decidida.

- Então vamos juntos, eu já estava indo para lá mesmo. - Sorriu o aprendiz, se levantando e despedindo-se o seu mentor, enquanto guiava a menina para uma passagem lateral. Sara descobriu surpresa que era por ali que todos caminhavam quando queriam passar pelas 12 casas sem pedir permissão. Chegaram sem demora ao seu destino e foram rapidamente levados a uma ala mais afastada. Pararam em frente a uma porta vigiada por dois guardas.

- O que querem? - Questionou um deles grosseiramente.

- Sou o futuro cavaleiro de ouro de Gêmeos e desejo ver o ocupante deste quarto.

- Ele não pode receber visitas. - Retorquiu o outro.

- A minha pode. Ou querem me enfrentar? - Ameaçou Alexius, os olhos mudando rapidamente de cor, de verdes para laranjas, e elevando seu cosmo.

Amedrontados, os homens deram passagem e eles puderam adentrar o recinto. Imediatamente identificaram Adonis, pois este estava deitado adormecido na única cama que havia, coberto de branco com um grande curativo na testa.

- Ei, mano... Sou eu, o Alex... - Cutucou-lhe o garoto.

- Hum... Mano. Que bom que está aqui. Ai, tô todo quebrado, quem foi que me atropelou?

- O Rickertt. Ou já esqueceu? - Disse Sara, saindo de trás do colega e olhando-o.

- Daniel? O que uma florzinha como você faz aqui?

- Vim ver se já tinha morrido. - Respondeu sarcástica.

- Não faria isso até tirar essa sua roupa na frente de todos... - Sorrindo maliciosamente.

- Mas você é impossível, Gêmeos! Primeiro me ofende, depois me ataca e ainda acerta seus próprios amigos. E por fim, quando recebe o que merece, em vez de se acalmar, fica falando essas bobagens!

- Epa, peraí. Eu fiz o quê? Te ataquei? Bati nos caras? Não fiz nada disso! - Reagiu furioso.

- Fez sim! E quando melhorar, vai lá perguntar pra eles. E aproveita pra confirmar com o Rickertt a sua derrota vergonhosa.

- Não estou entendendo mais nada. Que me conste eu só lembro de acordar aqui com uma enorme dor de cabeça.

- Ei mano, realmente não lembra de nada? - Quis saber Alexius.

- Deveria?

Sara ficou desconcertada. Mirara fundo nos olhos do colega e não vira nenhuma sombra de mentira ou trapaça. Ele dizia a verdade.

- E não lembra de nada antes?

- Só de um brilho azul. - Finalizou dando de ombros. - Agora vai embora florzinha, estou cansado e quero ter uma conversa com meu parceiro de homem pra HOMEM. - Falou acentuando bem a última palavra e olhando-a sorrindo.

- Pois faça como quiser, adeus! - A morena virou-se e saiu possessa de raiva.

Fora do templo, ela pensava no que lhe fora dito e tinha certeza que aquela rosa estava envolvida com a súbita alteração do aprendiz. E sobre seu criador... Logo haveria de confirmar aquela hipótese. Olhou o céu e viu sua estrela piscando fracamente. Sorrindo, mandou-lhe um beijo e desceu para a casa de Libra.

 

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