Quero Ser Um Cavaleiro escrita por Maia Sorovar


Capítulo 12
Domingo na feira


Notas iniciais do capítulo

Saint Seiya pertence a Masami Kurumada e Toei Company Animation - todos os direitos reservados.



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Os dias que se seguiram foram monótonos e vazios. Sara acordava muito cedo, ia para o refeitório onde limpava o salão, servia a comida e lavava os pratos. Depois voltava para a casa, cuidava do burrico e do terreno - ainda sem nenhum vegetal plantado a não ser as pequenas mudas de árvores que colhera anteriormente - e fazia ainda mais cestos. Logo já tinha o suficiente para encher um dos quartos do templo de Libra. Não seria de todo ruim se não fosse por três motivos: não suportava mais a sujeira e pobreza do lugar; seu estômago ansiava por outros alimentos além dos que vinha comendo; e todo seu corpo continuava a doer pela luta com Rickertt. Pelo menos os hematomas e o inchaço sumiram, assim como os cortes. Aguardava ansiosamente que o domingo chegasse para colocar seu plano em prática.

E o dia tão esperado finalmente chegou. Os aprendizes estavam dispensados dos treinos e de suas tarefas e seus mestres podiam dedicar-se um pouco a eles mesmos. Como era ainda a primeira semana de todos no Santuário, reuniram-se os dozes rapazes ainda no refeitório para planejar algo para fazer.

- E aí, galera, vamos nos divertir hoje? - Um animado Adoh perguntava.

- Não sei, seria bom colocar nossos estudos em dia. - Ponderou Ugo.

- Credo, mas você só sabe estudar? - Reclamou Floriano. - Quantas horas por dia faz isso?

- Umas seis, às vezes mais se meu mestre quiser.

- Melhor estudar que ficar brincando de jardineira né, Flor? - Provocou Enos. O italiano se levantou no ato.

- Não o irrite, nunca acaba bem. - Retorquiu Francis, que apartava um possível confronto entre os dois.

- Apesar de mauricinho, até que você é bem esperto, inglês. Mas vamos continuar, que iremos fazer hoje? - Disse Adonis.

- Que tal passear por Athenas? Quando chegamos não tivemos oportunidade de ver a cidade melhor. - Sugeriu Alexius.

- Boa, maninho! - Exclamou o colega grego, que desde que moravam juntos passou a considerá-lo como um irmão mais novo.

- Eu acho bastante adequado. - Concordou Rickertt.

- Pronto, se até o recruta aqui concorda, eu topo. - Ajuntou Basílio.

- Vamos chamar o Daniel para ir conosco? - Perguntou Yuji.

- Seria uma boa... - Sorriu Damien.

- Câncer, não está pensando em me passar a perna, não é? - Falou Adonis ao ver o sorriso do amigo.

- De modo algum, Gêmeos. Será uma disputa justa.

- E depois eu que sou a florzinha... - Crocitou Floriano sardônico. - Os dois estão disputando um homem?

- Que foi, está com ciúmes, peixinho? - Sugeriu o francês malevolamente. O outro rodou os olhos.

- Vocês são ridículos. Mas vamos ou não até a casa de Libra?

- Vamos todos, assim não haverá problemas para ele. - Finalizou Shan, com receio de que seus colegas aprontassem alguma coisa com o rapaz.

Dirigiram-se para o sétimo templo e lá chegando chamaram pelo seu ocupante diversas vezes, sem resposta. Já iam adentrar a casa - sem permissão - quando ouviram uma voz.

- Ei, eu já vou! - Disse Kiki saindo. - O que querem?

- Tá fazendo o que aqui, moleque? - Perguntou Basílio.

- Moro aqui. Com o Daniel. - Ele apressou-se em acrescentar.

- Viemos falar com ele, onde está?

- Saiu e não disse onde foi.

- Conversa fiada, fala logo tampinha. - Ameaçou Enos.

- Não digo! - Retrucou mostrando-lhe a língua. O aprendiz atirou-se em cima dele, tentando agarrá-lo mas o menino simplesmente sumiu no ar, aparecendo no telhado da casa. - Agora que eu já respondi, vão embora, não são bem vindos.

Retiraram-se resmungando e comentando os feitos do garotinho.

- Como aquele nanico fez aquilo? - Era Damien quem queria saber.

- Ele é discípulo de Mestre Mu. Ambos têm um alto poder de telecinese. E logo, eu também terei. - Respondeu Ugo sorrindo.

Sem poder fazer mais nada, seguiram em direção à cidade de Athenas.

Horas antes

Sara acordou muito cedo naquele dia, antes mesmo o Sol raiar. Seu corpo não doía mais como antes e ela estava ansiosa para dar vida à sua idéia. Acordou Kiki e explicou-lhe suas intenções, obtendo total apoio do amigo. Depois tratou de alimentar seu burrico, que agora se chamava Shion - ela andava com muita raiva do Grande Mestre que nada tinha feito para interceder em seu favor - e colocou-o para fora do barraco; precisaria da sua ajuda para alcançar seus objetivos a contento. Depois prendeu em seu dorso dois cestos fundos unidos nos quais colocou todas as peças de vime que fabricara. Sobraram algumas e estas ela decidiu levar nos braços. Por fim, o mais arriscado: trocou a habitual e já estragada roupa de treinos por um vestido simples e velho, de chita, azul com flores estampadas, sem mangas e de saia nos joelhos. Amarrou os cabelos numa longa trança e cobriu-os, assim como metade do rosto, com um lenço também azul. Estava então pronta para ir à cidade. Amarrou um cabresto em Shion e desceu silenciosamente com ele, alcançando facilmente e sem intercorrências a saída do Santuário.

Momento atual

Os doze aprendizes percorriam as ruas da capital grega. Apesar de ser um dia de descanso, estavam apinhadas de pessoas que corriam apressadas e ansiosas. Depois de várias voltas, encontraram um grande parque e resolveram explorá-lo, descobrindo que ali acontecia semanalmente uma feira de artesanato e utensílios domésticos.

- Olha só, tem umas coisas bem legais vendendo aqui. - Disse Alexius, olhando uma banca com pequenas esculturas dos deuses gregos.

- É, só que eu estou sem dinheiro para comprar nada... - Reclamou Adoh. - Meu mestre é tão pão duro que nem me deixa tomar banho quente. A água está sempre muito gelada.

- O cavaleiro de Aquário não é aquele que foi criado na Sibéria, Adoh? - Perguntou Ugo.

- É ele sim, mas isso não é desculpa pra me deixar pegar um resfriado. - Todos riram da situação do rapaz.

Adonis e Damien ouviam distraidamente uma conversa entre Enos e Basílio sobre as mulheres gregas quando o grego reparou numa banca afastada. Ali, rodeada de cestos de vime, estava uma garota vestida de azul, com o rosto parcialmente encoberto. Observou-a atendendo clientes e notou que todos saíam de lá com pelo menos uma peça e um sorriso no rosto. O francês olhava-a com igual interesse e comentou com o colega sobre o vestido, que apesar de simples, caía-lhe muito bem, modelando as formas perfeitas. Curiosos, ambos se dirigiram até ela, sem notar que eram seguidos.

Sara sorria, estava muito feliz com as vendas, ia conseguir um bom dinheiro e finalmente ter o suficiente para arrumar o templo de Libra. Empilhava alguns cestos quando uma sombra surgiu à sua frente, tapando-lhe o sol. Olhou na direção da mesma e perdeu a fala. Adonis estava à sua frente acompanhado de Damien; ambos lhe sorriam.

- Bonjour, mademosielle. - Disse o francês, segurando a mão pequena da garota e beijando-a. Esta tremeu e fez um aceno de cabeça, muda.

- Senhorita, você quem fez estas peças? - Perguntou o grego afável, como nunca tinha ouvido até então. Ela fez que sim, sem proferir uma palavra. - O que houve, não consegue falar?

- Consigo... - Respondeu num sussurro.

- Hã? Desculpe, não posso ouvi-la. Quem sabe se retirar esse lenço... - E fez menção de puxar o tecido do rosto da morena, que deu um salto para trás.

- O que foi? Não tenha vergonha, alguém que tem mãos tão lindas deve ser ainda mais bela. - Cortejou Damien, fazendo o mesmo movimento do colega. Ela tornou a se desviar.

A esta altura já tinha se afastado da barraca, caminhando de costas, atenta aos passos dos rapazes. Isto, contudo, fez com que não reparasse numa pedra atrás de seus pés e não houvesse tempo paras e desviar. Acabou tropeçando e caindo, de maneira não muito elegante, com as pernas desnudas. O francês soltou um assobio de aprovação, enquanto o grego mordia o lábio, já excitado com a cena. Ambos se debruçaram sobre a garota, cercando-a.

- E agora, vai fugir de novo? - Questionou Adonis, alisando com as pontas dos dedos sua coxa; reparou sem ligar muito numa pequena mancha em formato de coração. Sara arrepiou-se, estimulando o garoto, que subiu com a mão por baixo da saia.

- Vamos, diga algo... Quero ouvir essa voz... - Dizia o canceriano, começando a retirar o lenço de seu rosto.

- O que pensam que estão fazendo? - Perguntou alguém atrás deles; era Floriano.

- Sai daqui florzinha, não é assunto seu. - Vociferou o geminiano.

- Isso é baixo demais até para alguém como você, Adonis. - Retorquiu de volta, num tom mordaz. - Soltem ela agora!

- Ah é? E é você que vamos enfrentar?

- Não, será a nós. - E todos olharam surpresos a chegada de Saga, Kanon, Máscara da Morte e Milo.

- Atitude deplorável, meu pupilo. Considere suspenso seu descanso a partir desse momento. Volte para o Santuário imediatamente. - Sentenciou Saga com a voz dura.

- Damien, acompanhe-o, depois conversaremos. - Disse Máscara.

- Que coisas vocês andam ensinando aos seus alunos, caras? Atacar garotinhas indefesas? - Criticava Milo, indo até Sara e ajudando-a a colocar-se em pé. Ela corou ao sentir o contato com os músculos fortes do mestre de Escorpião. Este reparou em seu embaraço e sorriu sedutoramente. - Não tenha vergonha, não vou te fazer mal.

- Chega, garanhão! - Cortou Kanon, puxando uma orelha do amigo. - Não é hora para cantadas, controle esse gênio.

- Ai, ai! Tudo bem, era só brincadeira! - Reclamou ele, soltando a menina e massageando o machucado que acabara de ganhar.

- O que está acontecendo aqui? - Era Afrodite quem chegava.

- Seu aluno acabou de proteger uma dama de nossos pupilos, Dite. Ah, meus parabéns, garoto. - Congratulou Saga, estendendo a mão ao jovem aprendiz.

- Não foi nada. - Agradeceu de volta.

- Mesmo, Floriano? E onde está a vítima? Ah, é você. - Sorriu o cavaleiro de Peixes. - Bom, mostre a ela aquilo que lhe ensinei ontem.

- Mas mestre...

- Vamos lá, ela vai gostar. - Cochichou Gustav no ouvido do italiano.

Floriano deu-se por vencido e concentrou-se. Seu cosmo intensificou por um momento e um brilho dourado surgiu em sua mão direita, até transformar-se numa bela rosa vermelha. Um pouco ofegante pelo esforço, o rapaz estendeu a flor para a garota que a aceitou sorrindo sob o lenço. Aproximou-se dele e levantando um pouco o véu do rosto, deu-lhe um beijo rápido no canto da boca. O pisciano piscou aturdido e correu para longe, morto de vergonha.

- Ora, seu aluno é bem tímido, Dite. - Comentou Máscara rindo.

- Melhor que ser um pervertido como o seu, Mask. - Devolveu Milo. - Agora, Dite, meu grande amigo! Que truque legal esse o seu! Não quer me ensinar um dia desses?

- Para você sair por aí galinhando com minhas rosas? Não, eu dispenso, senhor Escorpião.

Todos riram momentaneamente esquecidos da presença da menina, que acabara se divertindo também. Quando perceberam, trataram logo de pedir desculpas, sendo estas prontamente aceitas.

- Agora, mocinha, pode me dizer o que faz por aqui? - Perguntou Kanon. Sara apontou a barraca com os cestos e eles entenderam.

- Eu compro metade dos cestos que você tiver ainda. É o mínimo que posso fazer para me desculpar pelas atitudes do meu pupilo. - Disse Saga, deixando a garota extremamente feliz. - Mask? Fará o mesmo, não é?

- Eu? Ah, sim, claro, claro... - Concordou Câncer sob um olhar significativo. Dali a minutos saíam os dois carregados de objetos de vime, ajudados por Kanon e Milo.

- Bom, também me vou. Aceite mais esse presente, minha pequenina flor. - Afrodite fez surgir uma linda rosa branca e colocou-a delicadamente atrás da orelha da jovem, revelando alguns fios negros. - Algo nestes olhos profundos me diz que você é muito bonita, menina. Não quer me mostrar seu rosto? - Ela fez que não com a cabeça. - Desculpe, estava curioso. Mas um beijo eu ganho, não é? - Ela riu e levantou o lenço, indo beijar-lhe a bochecha; porém, num movimento rápido o homem virou o rosto e tomou-lhe os lábios, num beijo doce e cálido. Apesar da brevidade do ato foi o suficiente para a aprendiz se assustar e fugir correndo do parque.

- Seu descarado! Como fez isso? - Milo surgiu às suas costas, tentando esganá-lo. Gustav se desviou rapidamente.

- Que foi? Tá com inveja, veneninho? - Ria o pisciano.

- É Dite, era só uma criança, não tem vergonha na cara? - Perguntava Kanon.

- Estavam todos assistindo é?

- Pode-se dizer que sim. Já guardamos aqueles bagulhos no carro e voltamos a tempo de ver essa cena memorável. E que gosto ela tinha? Mel? - Sugeria Máscara, sorrindo maliciosamente.

- Não, mas era muito bom. Tenho certeza que iria gostar.

- E depois eu que sou o sem vergonha! - Resmungou o Escorpião.

- Ah, deixe isso pra lá e vamos continuar passeando. - Chamou Saga, sendo seguido por todos.

 

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