Sara retornou mais cedo do que previa ao Santuário naquele dia. Graças aos cavaleiros vendeu todos os cestos e conseguiu mais do que o esperado para arrumar um pouco sua vida. Porém enquanto seguia em direção à casa com Shion a única coisa em que conseguia pensar era no beijo com Afrodite.

Seu primeiro beijo... Fora muito rápido e ainda sim quente. Os lábios dele eram tão macios e úmidos. E aqueles olhos azuis profundos? Parecia que iam arrancar-lhe todos os segredos de sua alma e levá-la para bem longe.

Estava tão distraída que só percebeu ter chegado quando Kiki a chamou:

- Daniel! Acorda!

- Ah, quem... Oi Kiki. - Respondeu sorrindo. Ele estranhou seu olhar sonhador e o vestido sujo de terra.

- Que houve lá na feira?

- Nada demais... Ih, deixa eu me trocar antes que todos voltem. - E saiu correndo, mudando de roupa no quarto, voltando momentos depois. - Meu amorzinho, agora sim vou dar um jeito nesse lugar feioso. - Dizia ela apertando as bochechas do menino.

- Ai, isso dói! - Reclamava ele, rindo feliz.

- Já pode ir brincar e desculpe ter demorado, viu? - Terminou ela dando-lhe um pequeno selinho. O menino sumiu no ar, corado.

Sozinha, Sara alimentou o burrico e deu-lhe água, deixando-o descansar depois.  Então se sentou no meio do terreno, pensando no que plantaria ali. Alface? Hortaliças? Mais frutas? Cenoura com certeza, Shion ia adorar algumas. Nada porém lhe tirava um certo pesar do coração. Foi quando alisou os cabelos e percebeu a rosa branca que ainda se encontrava ali. Viu também que deixara a rosa vermelha cair descuidadamente no chão. Entendeu no ato o que gostaria de ter naquela horta além de comida.

Procurou no bosque e voltou logo com dois galhos compridos e secos, de sua altura. Com a ajuda da inseparável faca, retirou todas as falhas, deixando-os mais ou menos retos. Postou-os próximos à casa, lado a lado, e no pé de cada um plantou uma das flores. Regou-as delicadamente e rezou para que criassem raízes, sobrevivendo. Saiu por um momento para se limpar e qual foi seu assombro quando, ao retornar, pôde observar galhos crescendo e se desenvolvendo, circundando completamente as hastes de madeira e entrelaçando-se uns nos outros. E logo pequenos botões surgiam e desabrochavam, revelando as mais belas rosas que já vira em vida.

Naquela noite o Santuário foi envolvido por uma estranha sensação. Onde quer que estivessem, homens e mulheres sentiam-se mais felizes, como se seus problemas por um momento tivessem se expirado. Os Cavaleiros de Ouro, reunidos no 13º templo, ponderavam sobre aquilo.

- Que esquisito, me sinto tão leve. - Comentou Aioros.

- E eu mais calmo. - Concordou seu irmão.

- Parece até que Athena despejou sua paz aqui esta noite. - Observou Shaka.

- Não, não é só isso... Há algo mais sutil. - Disse Máscara da Morte. - Tem uma coisa no ar e não consegui identificar o que é.

- Rosas. - Sentenciou Afrodite, tranqüilamente.

- Hã? Rosas? - Questionou Milo. - Tá doido Dite? Sabia que aquelas flores não iam te fazer bem.

- Ah, calado escorpião idiota. - Vociferou o outro. - Aspire mais fundo e sentirá a fragrância.

- Agora que falou... Realmente eu sinto um odor bem leve, Dite... - Falou Mu. - Mas o que poderia ser isso? Que me conste aquele seu caminho das Rosas Demoníacas Reais foi destruído na Batalha contra os Cavaleiros de Bronze e nem foi preciso replantá-las.

- Mas não são minhas! As Rosas Demoníacas liberam um veneno paralisante. Agradável sim, mas letal. Só que esse cheiro é profundo. Os vegetais são capazes de transmitir aquilo que quem cuida deles sente. Quem plantou essas flores tinha um sentimento puro no coração. - Sorria Peixes.

- E qual seria? - Perguntou Saga.

- Amor.