Dragons Cold escrita por Adrielli de Almeida
Notas iniciais do capítulo
Quem já ouviu I Need Your love? :33
a linda Ellie Goulding que canta com o Calvin Harris u.u
Londres. Fazia algum tempo que ele planejava visitar Londres. Não conhecia nada nem ninguém por lá – e isso só tornava a viagem ainda mais empolgante. Mas ainda havia alguns detalhes que o atrapalhavam. Na verdade, o detalhe que impedia Charles de partir tinha nome e sobrenome: Dakota D’Black, sua irmã mais velha.
Pela milésima vez ela se colocou entre ele e o baú de viagem.
– Pelo amor de nossa família – pedia ela – Não vá, Charlie.
– Charles - ele corrigiu. Odiava o apelido tolo da irmã – e está na hora de ir, Dakota. Chega de ficar plantado aqui esperando as coisas acontecerem.
– Não sabe nada sobre ser um de nós ainda! O que acha que vai acontecer com você? Olhe pra mim Charles Antony D’Black – ela rosnou o pedido. Charles ergueu os olhos. Dakota ser quase dez centímetros mais altos que ele na época não ajudava nada. – não sabe como é... passar pela... transfase. Não sabe. Não seja tolo. Pelo amor de Deus.
– Desculpe Dakie. É a minha escolha.
– Vai se arrepender – alertou ela.
– Irei – concordou um Charles novo e imaturo – mas não por enquanto. Aguento isso. Aguento isso e mais um pouco.
Como ele estava errado. E o pior de sua decisão se refletia agora. Ele não aguentava aquilo – não tinha como, mas cá estava ele. Firme como uma rocha. O som da boate soou como uma onda de pessoas – uma onda barulhenta e constante. Ali estava ela. Até que enfim. Os olhos dela eram claros, prateados, tão diferentes dos castanhos de Alysson. Definitivamente diferente era a melhor palavra para unir Stella Hooke e Alysson Cherywood na mesma frase. Não que Stella fosse feia – nem chegava perto dessa palavra. Era terrivelmente bela e isso dizia muita coisa. Terrível, de acordo com os pensamentos mais profundos de Charles, era o segundo e verdadeiro nome dela.
– Charles – o sorriso o atingiu como um soco no estômago. Não podia fazer aquilo. Não podia trair a confiança – que já era pouca – de Alysson.
– Stella – um aceno leve de cabeça.
Que Deus o perdoasse – e Aly também.
...
Alysson era esperta o suficiente para aquilo. Nem precisou cantar o segurança; não que ela fosse à mestra das cantadas. Nem de longe. Mas em uma situação de emergência como aquela exigia certos esforços necessários. E cantar o segurança truculento da boate se encaixava na descrição de “esforços necessários”. Mas, como ia dizendo, ela nem ao menos precisou apelar para sua beleza fenomenal para entrar.
– Ei, Joe! – falou um cara grande, estilo o segurança da porta. – Preciso que vá checar uns adolescentes lá nos fundos. Eu cuido da entrada.
O segurança da porta assentiu e entregou uma prancheta para o outro. Com uma única e rápida olhada Alysson captou um nome na lista VIP. Melyssa Sky.
– E aí, boneca? – disse o novo segurança da porta para ela. – VIP ou EC?
Alysson inclinou a cabeça levemente. Fazia um bom tempo que não entrava em uma boate e, bem, uma coisa que vivia mudando constantemente era a linguagem humana. EC, ela entendeu depois de alguns milésimos de segundos, significa Entrada Comum.
– VIP – ela respondeu delicadamente e se permitiu dar um sorriso pequeno e misterioso. O segurança a encarou, um brilho malicioso nos olhos. Hum. Algo que para Alysson seria sempre um incomodo, mesmo que se passassem dez mil anos.
– E seu nome seria...? – ele olhou para a prancheta.
– Melyssa Sky – ela repetiu o nome roubado com o olhar. O segurança chegou e tirou a trava vermelha da frente de Alysson, deu uma olhada para as costas dela – para um lugar mais abaixo, na verdade – e checou o próximo nome da lista. Extremamente fácil.
Próximo passo: encontra-lo naquele labirinto de corpos pulsantes.
As luzes vermelhas, roxas e douradas refletiam na saia de lantejoulas de Alysson, a blusa preta com um decote mínimo fazia com que ela se sentisse apertada. Presa. Ela sentiu a vibração da música pelo lugar. Como era mesmo o nome dela? Scream&Shout. Britney Spears. Will. I. Am.
Os corpos dançantes tumultuavam a pista e ela demoraria mais do que o esperado para achá-lo caso não a visse. Cabelos arruivados compridos. Rosto em formato de coração; lábios finos e vermelhos. Expressão convencida. E um nome associado com aquela aparência: Stella Hooke.
Um chiado escapou dos lábios de Alysson. Charles, com seus ombros enormes e definidos se erguendo sobre ela. Os olhos azuis captavam as luzes coloridas e piscavam se alterando de tonalidade. Se tornando sombrios. Um instinto selvagem fez com que ela desse um passo a frente. A realidade a puxou de volta. Nada de confusão. Ela estava sendo vigiada. Por alguém da guarda de Diana. Ela sentia e sabia disso. Autocontrole. Por isso a peruca loura que ela usava. Era irritante e desnecessária, mas Sophie havia insistido nela. Era a peruca ou ela e Becca na cola de Alysson pela boate. A peruca era de longe melhor – um milhão de vezes melhor.
Com olhos atentos, Alysson se misturou na multidão. Seus instintos a alertavam para onde ir e por onde andar sem esmagar ou pisotear ninguém com aquelas botas de salto fino. Os olhos ficavam pregados em Charles e Stella. Até que Stella olhou em volta e se inclinou para Charles, sussurrando algo em seu ouvido. Depois sumiu no meio das pessoas. Algo disse para Alysson que devia segui-la, mas ela se deteve. Os assuntos pendentes eram com Charles. Já ele, ergueu os olhos direto para Alysson – e fez a coisa que ela mais odiava que ele fizesse: deu um de seus sorrisos tortos.
Desespera para não ser descoberta ela se enfiou no meio da multidão. Poderia correr dali – e quando dizia correr seria algo como virar um borrão de velocidade e desaparecer – mas alguém poderia ver. E ela não podia deixar que ninguém a reconhecesse. Pessoal de Diana atrás dela. Perigo.
– Olá, docinho – ela se chocou contra Charles e ele segurou a cintura dela. – Vem sempre aqui?
– Me solte! Charles!
Ele gargalhou. Ninguém notou nada por ali. Ninguém. Alysson não pode deixar de notar em como as mãos dele eram seguras e firmes.
– Bela peruca – ele ironizou.
Ela socou o peito dele.
– Me solte seu babaca. – ela o empurrou, mas Charles era páreo de força. Agarrou os pulsos dela.
– Quer brincar, Alysson? Vamos brincar. Mas do meu jeito. Feito? – ela o encarou nos olhos.
– Como soube que era eu? – perguntou, soltando os ombros, desistindo de não ser ela.
– Seus olhos – ele ergueu um dedo e acariciou o rosto fino e branco de Alysson – Não existem muitos olhos castanhos nesse tom por aí.
Ela desviou os olhos. Depois de tantos anos... E ele ainda a deixava envergonhada. Ainda parecia a menina britânica doce e tímida que tentava desesperadamente chamar a atenção de Charles. Só que agora ela tinha duzentos e cinqüenta anos de existência. Era um ser das trevas. A personificação da maldade e frieza em um corpo de uma garota eterna de dezessete anos. Essa era ela agora. E sempre. Não havia Charles que pudesse mudar isso.
Em um impulso Alysson o empurrou e Charles foi pego de surpresa. A soltou e a peruca loura voou pela pista de dança. Alysson ergueu os olhos no mesmo momento para Charles e ele fez o mesmo. Durante três segundos eles se encararam. Então ela virou um borrão, mas Charles também tinha truques na manga. Ela girou e com um puxão se libertou novamente de Charles; em menos de um segundo ela estava do outro lado da boate – que era enorme – e empurrava a porta da Saída de Emergência.
...
Charles se desmaterializou. Ah, aquilo o deixava fraco e cansado, mas iria valer a pena. Já podia sentir ela nos braços. Quase gargalhou com aquilo. Ela estava no beco ao lado da boate. Quando ela estava prestes a correr novamente ele a pegou pela cintura e a girou.
– É a terceira vez essa noite, Alysson – ele deu um sorriso de derreter a mais fria.
– Charles – os olhos dela se arregalaram – me solte, pelo amor de Deus, não podemos mais continuar fazendo isso...
Ele a interrompeu:
– Podemos sim. E agora vamos brincar – os olhos azuis dele faiscaram. Ele analisou os lábios dela. Quantos anos não se beijavam? Quantos séculos? Ele ainda teria a mesma sensação de sempre quando o fazia? Hum... Um aperto forte no queixo dela foi o suficiente e como sempre não houve resistência dela.
– Charles...
– Shhh. – ele franziu a testa – não torne mais difícil.
Ela fechou os olhos e sentiu ele por toda a parte. Uma mão na cintura, a outra no queixo. Os lábios quentes com os frios dela. Ele avançou e ela cedeu. Sentiu cada pedra da muralha construída anos a fio desmoronar por ele. Os dedos de Alysson se prenderam nos cabelos negros azulados dele.
– Vamos brincar Aly... do meu jeito – ela abriu os olhos e pode ver o brilho demoníaco nos azuis dele.
– Charles – ela o empurrou e ele fechou os olhos. Ainda a tinha nos braços, ainda a prendia.
Os corvos vieram do nada. Uma massa negra deles e giraram em torno de Alysson e Charles, subindo cada vez mais ao redor de ambos. Ela fincou as unhas nos braços dele. Odiava aqueles bichos. Significavam mau-agouro. Significavam morte.
– Charles – a voz dela subiu uma oitava. Medo. Ela estava com medo.
– Meu jogo – ele sussurrou puxando-a para mais perto – minhas regras, anjo.
Ela ergueu os olhos. Os olhos castanhos eram sólidos e impenetráveis.
– Nunca gostei de regras – ele jogou a cabeça para trás e gargalhou. Uma gargalhada perfeita.
– Nem eu, meu bem. Mas sigo as minhas – os olhos dele escureceram para um azul profundo, um azul noite e a nuvem negra de corvos os cercou. Minutos depois, os corvos pararam de gritar e chiar; ergueram vôo e onde os dois estavam não havia absolutamente nada. Demorou dois segundos pra segunda parte do espetáculo acontecer: os corvos abriram as asas e bateram as asas freneticamente – então explodiram em poeira negra e a terra foi banhada por lágrimas de um feiticeiro apaixonado.
Que bela ironia.
...
O ar morno da cidade entrou no beco sem saída atrás da boate Phenix. O manto negro do menino foi soprado pelo vento e o capuz tombou para trás. Ele apertou os olhos e os lábios. Se inclinou para a murada do prédio, um pé apoiado na beira, um cotovelo descansando no joelho.
A menina Cherywood havia sumido. Com um feiticeiro. Diana iria adorar saber disso. Ele se virou. O manto tremulou e ele puxou o capuz novamente. Hora de ir. Hora de relatar as novidades. Ah, e que novidades maravilhosas. Enquanto a lua era encoberta por uma nuvem branco-giz, um sorriso perverso cruzou os lábios dele e a escuridão reinou. E então... silêncio.
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