Dragons Cold escrita por Adrielli de Almeida


Capítulo 3
2 - Safe&Sound.


Notas iniciais do capítulo

Safe&Sound - Taylor Swift.
"Eu lembro das lágrimas escorrendo pelo seu rosto
Quando eu disse que nunca deixaria você ir
Quando todas aquelas sombras quase mataram sua luz
Eu lembro de você dizer não me deixe aqui sozinho
Mas tudo isso está morto e enterrado e hoje à noite passou.
...
Ninguém pode feri-lo agora.
Venha luz da manhã,
Você e eu vamos estar são e salvos."



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Rebecca pulou nos ombros da irmã.

- Irmã! – gritou ela.

- E aí, gatinha? Como está? – Alysson perguntou cansada.

- Maravilhosamente bem – respondeu a menina de quatorze anos – Por onde andou? Senti saudades!

- Quanto de dinheiro você precisa? – Becca exibiu um sorriso com um perfeito par de presas.

- Umas cinqüenta pratas. Perdi uma aposta. – Alysson desembolsou o dinheiro e o estendeu; Rebecca a beijou na testa e desceu dos ombros dela.

- Agora é sério – falou uma garota descendo das escadas do casarão – Por onde esteve? Ro está uma fera. Recebemos uma carta. – a garota que descias as escadas encarou Alysson levemente por alguns segundos. Ela tinha cabelos louros ouro que escorriam pelas costas de forma perfeita e natural. Os olhos eram de um tom puro e violeta. Ela era... linda. Ao contrário de Alysson. Ou era isso que Aly pensava toda vez que via a irmã.

- Uma carta? – perguntou Alysson olhando de soslaio para Becca. A menina balançou os ombros.

- Sim, uma carta. Onde esteve Alysson? Rosalinda está muito furiosa com você.

- Por aí. – respondeu Aly caminhando até a enorme e arejada cozinha – Onde Ro está?

- Por aí – repetiu a menina erguendo uma sobrancelha para Aly.

- Certo certo. O que quer saber Sophie? Estive andando pelas florestas.

- Caçando? – os olhos violetas de Sophie brilharam perigosamente.

- Não. – Alysson batucou os dedos na mesa. – Por quê?

- Por que... – Sophie estreitou os olhos. – Você está com uma expressão culpada, garota.

- Estou? – Aly olhou para a geladeira – Desculpe, tentarei não ficar com essa minha cara-de-culpada.

- Engraçadinha. Está mentindo.

- Sophie... Eu não estou mentindo. Isso se chama paranóia. Agrava com os anos, caso não seja tratada.

Sophie fez um movimento brusco e feio com a mão. Alysson franziu o rosto.

- Isso foi feio – ela repreendeu.

- Mas feio ainda é mentir pra suas irmãs – murmurou Sophie. Alysson ergueu o rosto pálido. Sophie 1 X Alysson 0.

 Charles suspirou pesadamente e descansou a testa na parede fria e branca. O saco de areia ainda balançava levemente devido a sova de socos que havia levado –  o suor empapava a blusa dele e seus cabelos negros como óleo estavam espalhados para os lados.

Ele fechou os olhos com força e uma lembrança o invadiu.

Meados de 1780. Europa. E lá estava ela. Seu sorriso brilhante, seu vestido engomado. Olhos doces e bochechas coradas – uma Alysson ainda humana. Que ainda sentia e era dotada da capacidade de amar. Era difícil desviar os olhos dela – quase impossível. Mas Charles não resistiu muito. Entregou-se a sim mesmo. Ela era linda. Precisava falar com ela. A dama de companhia dela era miúda e pequena – com o rosto em forma de coração, olhos dourados e sorriso fechado. Uma doçura. Reunindo coragens Charles se aproximou – o jardim era vasto e ela estava perto das flores. Ah, sim. Belíssimas flores. Tulipas vermelhas. Aproximou-se sorrateiramente, as costas eretas, o os olhos azuis presos nos leves movimentos do cabelo dela, nas palavras murmuradas para a dama de companhia. Até que chegou até ela. Enfim.

- Aproveitando o belo dia, minha dama? – ele sussurrou para ela e Alysson ergueu os olhos castanhos chocolate, surpresa. Então as bochechas dela esquentaram e ficaram de um tom absurdamente rosado e delicado.

- Oh, sim – murmurou ela, em sua voz doce de soprano – temo que tenha feito um belo dia.

Ele deu um sorriso tonto para ela, os olhos azuis de um tom profundo como a noite.

- Gostaria de dar uma volta? – ele pergunta, estendendo a mão, em um sinal claro de convite.

- Adoraria – murmura ela e pega a mão dele... Rezando pra que nunca precisasse solta-la.

Charles abriu os olhos; as lágrimas salgadas lhe invadiram os olhos e escorreram pelas bochechas.

“Sabe Charles, se as coisas tivessem sido diferentes...”

Porque essas palavras dela o afetaram tanto? O que havia nelas? Tirando as luvas de boxe, Charles esfregou a testa e limpou as lágrimas furiosamente – era ridículo estar chorando. Completamente insano. De maneira involuntária outra lembrança invadiu sua memória, mas essa era bem mais recente.

Alysson estava parada perto de algumas árvores caídas. O cabelo estava mais escuro. Os olhos mais densos, como ferro derretido. As mãos brancas nos bolsos do casaco, o rosto pálido sem cor. Alysson vampira.

Era a lembrança daquela mesma noite junto com Alysson e os lobos-homens. Então seu cérebro – maldito – fez uma enorme lista de comparações entre as duas Alyssons. Aly humana era algo bom, algo doce e amável – ela era delicada e tímida. Só. Já a Aly vampira era algo frio e sólido impenetrável. Talvez Alysson tivesse que aprender a se virar nesses duzentos e cinqüenta anos. Talvez essa vida de escravidão dos próprios desejos tivesse tornado Alysson a rainha do gelo que ela era agora. Talvez.

Encarando o chão e com a cabeça cheia de pensamentos vagos e distantes, Charles finalmente se decidiu de algo – ia conversar com ela. Não com Alysson, com a outra. Ah, só Deus sabia o quanto ele vinha adiando aquele encontro... Mas agora não era mais apenas inevitável. Era necessário.

Alysson deu um berro de dor e Rebecca a segurou para trás – as pernas dela deram chutes no ar e ela gemeu e gritou.

- Por favor! – pediu ela – Por favor!

- Só mais um pouquinho... – disse Sophie passando um pano molhado em cima do ombro ferido de Aly. – Pronto. É isso. Desculpe. Tive que usar água benta.

- Deve ter doido como o diabo – comentou Becca.

- Oh... – Alysson deu um suspiro exasperado – Pode apostar que sim, irmãzinha.

 Os cabelos ouro de Sophie penderam sobre o ombro dela e Aly sentiu o cheiro da irmã enquanto esta enfaixava seu ombro – o cheiro era algo como flores silvestres e terra molhada. Algo bom e puro. Como Sophie.

- Pronto – reforçou Sophie novamente – Seu ombro vai sarar logo. Caramba, Alysson. Como deixou um lobisomem arranhar você?

- Dê graças que ele não arrancou partes do meu corpo – resmungou Aly ácida.

Becca deu um pequeno sorriso.

- Então vai ser nosso pequeno segredinho? – murmurou a menina.

Sophie olhou acusadora para Aly e esta encolheu os ombros.

- Por enquanto. Não quero que Jessie ou Ro se preocupem com esse negócio de Diana e o Círculo Perfeito.

- Claro, porque esconder isso delas é realmente muito maduro – Sophie revirou os olhos. Rebecca riu. Alysson franziu os lábios.

- Não esquenta – falou a vampira de quatorze anos, empurrando o ombro bom de Aly – Nossas bocas são uns túmulos. – e piscou.

 Aly deu um sorriso minúsculo.

- Bem... você disse algo sobre uma carta, Sophie... – começou Alysson.

- Ah, sim. Péssimas notícias, devo dizer. – Sophie franziu os lábios perfeitos e os olhos violetas puros se metamorfosearam pela luz da sala – Os Hooke.

- Os Hooke? – o sobrenome antigo e conhecido soou desconfiado pelos lábios de Alysson.

- Sim, eles mesmos – falou Rebecca.

- O que foi dessa vez?

- Ah, bem... Eva está vindo para cá. Com todo o Clã. – o queixo de Alysson caiu. O Clã mais forte, mais antigo e maior, era, sem sombra de dúvida, o dos Hooke. Os Hooke tinham em cerca no momento de vinte elementos. Vampiros formados e maduros – com poderes ou não. Sempre úteis e poderosos... pelo contrário não faziam parte dessa família. Eva e Ro haviam sido criadas e trazidas para esse mundo sombrio e surreal juntas. O mesmo vampiro que havia mordido Eva, havia mordido Rosalinda. Apesar de tudo, ambas decidiram que eram diferentes demais, incompatíveis demais para viverem juntas. E se separaram – cada qual para o seu lado. Nisso, logo depois, Alysson surgiu, mas essa é uma outra história.

- Está brincando comigo – reclamou Alysson – Não quero ver de jeito nenhum à cara da Stella. Aquela... Sádica. – Becca fez uma careta e Sophie encolheu os ombros...

- É só por alguns dias – murmurou Sophie – e você sabe como é importante para Ro.

Alysson franziu as sobrancelhas, os lábios apertados, o rosto encovado de dúvidas maiores; mas ela não disse nada, não demonstrou nada. Apenas permaneceu em silêncio.

- Não deve ser tão ruim – resmungou por fim e Rebecca solou o ar que prendia.

- Não. – concordou Becca, um sorriso divertido pintado no rosto.

- Com certeza não. – apoiou Sophie.

Alysson moveu levemente o ombro ferido e sibilou entre os dentes – o ar escapou assobiando e ela ignorou a dor aguda e latejante.

- Só me prometam uma coisa – pediu Alysson depois de pensar um pouco em silêncio.

Rebecca se adiantou:

- Sim. Qualquer coisa.

- Caso eu tente matar Stella Hooke... não me impeçam. – a risadas das três ressoou pela casa vazia e escura. Elas estavam bem. Sã e salvas da luz do dia. Não podia estar melhor.


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Notas finais do capítulo

Eu estou sozinha, comigo mesma, e isso é tudo o que eu sei. Eu serei forte, eu estarei errada, mas a vida continua. Eu sou apenas uma garota, tentando achar um lugar nesse mundo.
.Taylor Swift.



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