Lua Sangrenta escrita por Heathcliff


Capítulo 4
Capítulo 4




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Era muito estranho como o clima dentro daquele quarto mudava tão rapidamente. Há pouco tempo uma situação perturbadora, então alegre e depois as palavras de Stephanie deixaram a todos em tensão. É claro que eles já sabiam que eu estava morto, mas para quem estava medindo as palavras e tentando impedir que eu ficasse assustado, aquela frase da mulher dita daquela forma me pareceu um tanto inadequada. Nancy olhava para mim com seu olhar intenso como se quisesse me forçar a aceitar aquilo. Fazia muito sentido o fato de que eu realmente estava morto, a necessidade de respirar já não existia, não havia emagrecido após ficar tanto tempo sem me alimentar, e estava pálido, assim como eram todos eles, assim como... Eles.

 - Vocês todos também estão mortos? – perguntei.

Stephanie ignorou o olhar de dúvida que havia lançado à ela e se virou para Nancy, que entendeu o que a mulher havia pensado e atendeu seu pedido. A garotinha se pôs de pé na minha frente, fechou os olhos e colocou sua mão direita em minha testa. Minha visão ficou clara e tive vários lampejos de cenas um pouco distorcidas, mas apesar disso conseguia entender perfeitamente, era como um sonho.

Eu vestia apenas uma peça de roupa branca que cobria todo meu corpo, estava na cozinha de uma casa muito familiar, a casa onde eu havia passado minha infância. Sentado em uma mesa, um garoto fazia rabiscos com uma caneta num papel, era eu. Aproximei-me para ver o que estava desenhando. Apenas rabiscos. Srta. Appelboom entrou na cozinha cantarolando, retirou do forno uma linda torta de pêssego e sorriu para o garoto que estava animado. Antes que pudesse colocar a torta sobre a mesa deixou-a cair no chão, olhou para o garoto com um olhar de culpa, então ele mostrou a ela o papel, o desenho estava diferente do que eu vi, passou a ser o garoto e Srta. Appelboom em um campo com algumas árvores num dia ensolarado. Era mesmo como os desenhos que eu fazia quando criança, mas se aquela visão fosse sobre um momento que aconteceu no passado, eu não conseguia me lembrar de tê-lo vivido.

A cena mudou, eu me via já adulto caminhando numa noite fria nas ruas de Londres, olhando para o céu admirado. À minha esquerda, estava Anthony Heathstorm com um charuto na boca. Espantei-me ao perceber que aquela visão só podia ser do dia em que tudo mudou para mim. A cena foi prosseguindo exatamente como aconteceu naquele dia. Quando os vi aproximando de uma rua sem iluminação, tentei alertá-los, mas era uma tentativa fracassada, eles não podiam me ver ou me ouvir. Ainda não estava preparado para reviver aquele momento, que continuou a se desenrolar. A ansiedade que eu sentia já era insuportável, estava prestes a ceder para o pranto quando um detalhe me chamou atenção, um detalhe que eu não me lembrava até o momento, aquela luz vermelha que riscava a escuridão de um lado para o outro. Quando ela atingiu o chão e se apagou, corri para ver o que era. Naquele lugar estava um formoso colar de ouro com um rubi. A pedra era grande e muito chamativa, mas não estava completa, bem próximo havia um fragmento daquela joia, que tinha um quarto do seu tamanho. Era uma peça única, porém quebrada, mas mesmo assim tentei pegá-la. Não consegui. De repente a voz delas e a escuridão. Eu já sabia onde estaria o sangue então evitei olhar naquela direção. Foi frustrante me ver caindo após o sumiço de Tony. Aproximei-me um pouco para ver quem seria o dono dos passos que ouvi daquela vez, eis que surgiu a figura.

Despertei da visão de Nancy, que havia retirado sua mão da minha testa e parecia cansada, ainda assim continuou com os olhos fechados, se afastou um pouco abrindo seus braços e senti uma onda se expandindo de seu corpo, envolvendo todos que estavam no quarto. A cena retornou exatamente onde havia parado, mas todos eram expectadores. Eu me via no chão desacordado, e parado próximo a mim estava aquela pessoa. Seria uma mulher ou um homem todo coberto por um capuz negro como a própria escuridão?

Todos que assistiam também participavam da visão. Eles surgiram juntos atrás daquela pessoa. Stephanie se adiantou. Seu cabelo estava num tom de vermelho ardente e parecia estar flutuando. Sua pele estava ainda mais clara que o natural, se é que aquela cor pálida exagerada pode ser chamada de natural. Os seus olhos brilhavam intensamente com o mesmo tom de vermelho do rubi que tinha visto há pouco tempo. Ela parecia furiosa.

- Entregue-a de volta para mim! – ordenou.

- Stephanie Summerwind... Como foi que você percebeu? - A voz delas ecoava por toda parte.

- Isto não importa. Apenas me devolva! – respondeu Stephanie.

- Faça o que ela pede, Executor.

Então o sujeito encapuzado caminhou em direção ao colar e o pegou. Observou-o detalhadamente e o lançou para Stephanie, que ao notar que a joia estava quebrada aumentou sua fúria, seus olhos brilhavam ainda com mais intensidade quando...

- Tenebris, niger manicis carcere.

Correntes negras gigantes surgiram de todas as direções e prenderam Stephanie e o restante do grupo. Aquelas correntes não pareciam reais, pareciam mais uma ilusão, mas eram eficientes, pois eles não conseguiam se soltar.

Há uma testemunha viva, Executor, você sabe o que fazer.

Uma arma deslizou pela manga do braço direito da roupa escura do Executor, era uma pistola modelo flintlock. Com seu pé, rapidamente virou meu corpo para cima e sem hesitar apontou a arma para o meu peito, foram três disparos. Enquanto assistia, desviei meu olhar e vi a fúria de Stephanie aumentar até que ela rompeu as correntes que a prendiam com sua força.

- Vocês vampiros são mesmo assustadores. – novamente a voz delas.

A mulher furiosa surpreendeu o encapuzado com um golpe que fez um corte profundo em seu ombro direito como uma lâmina. Ela preparava o segundo golpe quando...

- Tenebris tenebris, umbra nox turbatorem et magnus effugere.

O braço direito de Stephanie atravessou o peito de Executor, mas não o feriu, era como se tivesse perfurado uma sombra. Lentamente aquele corpo negro foi se dissipando no ar até desaparecer completamente, o mesmo aconteceu com as correntes.

Stephanie começou a se acalmar, seu cabelo se acomodou em seus ombros. Preocupada, observava o meu corpo no chão buscando uma forma de conter o sangramento. Oh, não... Assistir meu assassinato me deixou trêmulo e completamente apavorado então fechei meus olhos.

Naquele momento Nancy percebeu que eu não aguentaria mais e desfez toda aquela cena. Quando abri meus olhos estava de volta à realidade, naquele quarto pequeno escutando a janela ranger novamente. Eu acreditava em tudo que vi, aquela menina tinha um talento incrível. Ela havia se esforçado demais e sentou-se no chão, ali mesmo onde estava, no centro do quarto.

- Creio que isso tenha respondido a maioria de suas dúvidas, Sr. Thompson. – disse Stephanie caminhando até o guarda-roupa.

- Sim... Mas ainda tenho algumas perguntas... – falei.

Stephanie abriu uma gaveta do guarda roupa, tirou de lá o colar dourado com o rubi incompleto e o colocou em seu pescoço antes de se sentar novamente no banco. Se eu ainda tivesse alguma dúvida sobre o que Nancy havia mostrado, aquela seria a prova de que tudo era verdade.

- Pergunte o que quiser saber, e depois encontraremos uma forma para você se alimentar. – foram as palavras de Stephanie.

- Vocês são vampiros?

- Sim.

- Eu sou como vocês?

- Sim.

Poucas vezes eu tinha ouvido histórias e lendas que contavam sobre estes seres, mas não poderia leva-las em consideração. Eu teria que me adaptar à minha nova vida, se pode ser chamada de vida. Estava disposto a aprender o que fosse necessário com aquelas pessoas, mas sabia que de fato demoraria a me acostumar. Precisava de um tempo para assimilar tudo que se passava na minha cabeça. Decidi que pensaria nisso depois porque ainda tinha uma pergunta a fazer.

- Quem são elas?


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