Enjoy the Silence escrita por Meggs B Haloway


Capítulo 28
XXVII. Pare de correr tão rápido.


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todas que comentaram no cap anterior ♥



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— Como assim não há nenhuma consulta para Tanya Denali hoje? — Sibilei para a secretária do consultório o qual Tanya deveria vir às duas horas da tarde.

— Senhor — Ela hesitou. —, eu sinto muito, mas é o que consta aqui.

— Deve ter alguma coisa errada.

— Não se preocupe, há um espaço para uma consulta na terça-feira que vem. — A garota que seu crachá dizia ser Jane sorriu para mim, tentando confortar-me. Do modo errado, eu devo acrescentar. Eu não precisava ser consolado, claro que não, eu estava mais para raiva do que para tristeza.

— Eu não quero nada para terça-feira, quero para hoje.

— Segunda-feira está bom para o senhor? — Ela tentou, esperançosa.

Respirei pesadamente, passando a mão por meus cabelos revoltos ao me endireitar na frente do balcão, parando de me inclinar ameaçadoramente. Jane, em resposta, soltou a respiração que ela prendia e parou de me olhar temerosamente. Eu deveria me acalmar, não era a primeira vez que Tanya fazia aquilo.

O problema era que a situação era completamente diferente e não havia a vida do meu filho correndo perigo. Por causa dela e de seu maldito desleixo.

— Você pode fazer um favor para mim? — A perguntei. Antes de ela ter a oportunidade de responder, continuei: — Confira para mim se tem alguma Tanya Denali marcada para os dias anteriores.

— O senhor poderia ser mais específico?

— Claro. Dia 18 de julho, 25, 5 de setembro.

Eu só queria ter certeza de uma coisa que já estava óbvia. A minha antiga certeza só pareceu crescer na medida em que Jane passava as páginas de sua agenda, parava nos dias que eu a dissera e franzia as sobrancelhas como se estivesse confusa com alguma coisa. Quando ela levantou o rosto, tentei me dizer mentalmente para respirar fundo e não expressar a raiva que eu sentia na frente da coitada que não tinha nada a ver com aqueles problemas.

— Todas as consultas para Tanya Denali foram desmarcadas no dia em que foram feitas. — Ela murmurou, vacilante.

Pressionei meus lábios e respirei antes de respondê-la.

— Obrigado, Jane. Foi muita gentileza sua.

Apesar de meu plano não ser ir para o meu apartamento e sim para a casa da Bella, ter um resto de tarde e noite agradável. Tudo foi por água abaixo quando, achando que ligar seria supérfluo demais para a raiva e a bronca que eu daria em Tanya, tive de ir lá.

Eu não me atrasaria o bastante para ter que avisar a Bella que nosso jantar tinha que ser adiado. Ou pelo menos foi isso que eu pensei, enganando-me.

Quando eu cheguei ao meu apartamento, Alice tinha saído mais uma vez com Jasper — ela dizia isso por um bilhete pendurado por um ímã na geladeira clara — e Carlisle eu sabia estar com Renée. Ele sempre ficava com ela todas as horas do dia que podia, pareciam estar recuperando o tempo perdido ficando juntos todo segundo do dia.

Só restava Tanya, trancada no quarto, como sempre. Esperei que ela estivesse de bom-humor e conseguisse levar na tranquilidade o meu pedido para que ela fosse para as consultas que eu marcara para ela. Minhas esperanças foram falhas, ela estava atacada e parecia não haver em seu dicionário a palavra “calma” do tanto que ela gritou quando eu lhe perguntei — tentando ser passivo — sobre as consultas que ela faltara.

Eu estava estressado quando entrei no carro, admito, porém eu não a dei nenhum motivo para ficar estressada. Fazia mal para o bebê que ela carregava e foi exatamente por aquele motivo que eu evitei uma confusão. Já ela, não, não pensou em nada quando se descontrolou.

Tanya não costumava ser muito controlada mesmo.

— Como eu vou para essas porcarias se eu não tenho ninguém para me levar? — Ela me indagou, gritando a plenos pulmões. — Você passa todo o tempo livre com Isabella e para fingir que se importa comigo, me empurra para essas consultas de merda!

Tive de respirar fundo, olhar para outro lado, evitar pensar em todas as possíveis respostas que eu poderia dar a ela para conseguir me acalmar e falar baixo. Minha passividade tinha melhorado em cem por cento a partir de quando Tanya me falara sobre sua gravidez e eu tivera de me controlar para não gritar.

Era o justo, não era? Gritar com ela assim como ela fazia questão de fazer pelas coisas mais mínimas do mundo. Mas, infelizmente, a vida não praticava a justiça constantemente quando se tratava de Tanya.

Não sei o que aconteceu, eu estava encostado na parede escutando tediosamente todas as suas reclamações quando, do nada, ela desabou na cama, escondendo seu rosto nas mãos enquanto tossia. Foi com desespero que, ao me aproximar, percebi que o lado externo de sua mão tinha um filete de sangue.

Não preciso nem dizer onde foi que eu passei a noite, não é? Em vez de estar no quarto de Bella que se agarraria a mim por estar com frio, eu estava em uma poltrona desconfortável de hospital. Tanya, graças aos céus, dormia tranquilamente e de hora em hora uma enfermeira passava aqui para checar como ela estava.

Gostaria de poder ir embora ou pelo menos ligar para Bella e explicar o que havia acontecido. Apostava que ela estava possivelmente com raiva nesse exato momento e eu não a culpava. Ontem, também por telefone, eu havia prometido que jantaríamos juntos e que eu dormiria lá.

Promessa quebrada. Mais uma vez.

Estava tudo bem com o bebê, foi o que a doutora nos falou com um sorriso ao examinar Tanya que estava sonolenta por ainda serem seis horas da manhã. O sorriso da doutora murchou discretamente ao notar que nenhum de nós tinha sorrisos nos lábios.

Não que eu não estivesse feliz. Eu estava… não estava…

Era complicado. Coisas como aquelas não eram explicadas facilmente a uma pessoa que estava sendo forçada a viver com uma mulher — que todo dia tinha crises de mau-humor dos infernos — somente por causa de um bebê. Tudo bem, eu amava o bebê, ele apenas havia vindo em uma hora muito… impertinente. Eu não queria um filho, muito menos de Tanya.

Mas, o que eu havia falado antes ainda estava valendo. Foi a minha irresponsabilidade e eu tinha que cuidar dos frutos que ela gerou.

— Imagino que não vá ficar em casa. — Murmurou Tanya assim que eu saí do banheiro do meu apartamento.

— Está certa.

— Você ainda volta hoje?

— Não. — Parei ao seu lado, olhando-a impacientemente enquanto esperava a sua boa vontade de sair do quarto. Eu precisava me trocar e ela parecia não notar que estava atrapalhando. — Se precisar de alguma coisa, pode me ligar. Se for algo sério…

— Você vai me atender? — Tanya continuava a olhar fixamente para frente, evitando me olhar.

— Eu deixei de atender suas ligações algum dia?

Ela apenas balançou o rosto para os lados.

Tanya pareceu compreender que já se passara da hora de ela sair do meu quarto e, para a minha alegria, sem dizer mais nada, saiu com o rosto baixo. Fiquei em dúvida se eu havia visto mesmo algo brilhar em sua bochecha quando ela se virou brevemente para fechar a porta. Com Tanya, sempre se duvidava quando via lágrimas nos olhos. Ela não costumava chorar muito.

Não que eu estivesse me sentindo culpado. Talvez só um pouco. Mas querer que eu agisse normalmente depois de tudo que ela havia gritado para mim, já era abusar do bom-senso o qual ela não tinha nenhum pouco.

Vesti-me rapidamente, colocando dentro da bolsa dois pares de roupas que eu usaria lá na casa de Bella. Eu esperava que pudesse ficar lá sem receber nenhuma ligação desesperada de Tanya, ela já estava atrapalhando mais que o normal e seria bom se ela se acalmasse e não causasse mais nenhum problema.

O combinado, afinal, foi que em todos os dias de consultas que eu voltei a marcar para ela, eu a levaria na hora do almoço que eu tinha no hospital. Quando tivesse acabado, ela pegaria um táxi e voltaria para o apartamento. Era o que nós tínhamos combinado e era o único jeito que eu tinha de garantir que ela estava mesmo frequentando as consultas.

Quando estava saindo, ainda fui ao seu quarto falar com ela, entrando sem bater para caso ela estivesse dormindo. Seu corpo magricelo estava encolhido debaixo do lençol grosso e escuro e eu poderia jurar que ela estava dormindo se não conseguisse ver seus olhos abertos, reluzindo de lágrimas que ela nunca se deixaria chorar.

— Estou indo. — A avisei com a voz baixa.

— Tudo bem. — Ela fungou. — Não se preocupe, eu vou ficar bem.

— Pode me ligar caso algo acontecer. — Murmurei, encostando-me desconfortavelmente ao beiral da porta. — É sério, Tanya, qualquer coisa de errado que acontecer, você deve me ligar. Deve, está me entendendo?

Tanya somente assentiu, encolhendo-se mais debaixo de suas cobertas.

Antes de sair, ainda levei para ela os remédios que a médica passara no dia anterior junto com um copo de água. Ela sequer mostrou reação nenhuma quando depositei ambos no criado-mudo, à sua frente. Não fiquei para vê-la tomando-os, confiei em sua responsabilidade somente por aquele momento.

Não tinha muito trânsito pelas ruas de Los Angeles por ser apenas seis horas e meia da manhã e a maioria das pessoas que trabalhavam cedo estarem se arrumando para sair, sonolentamente. E isso era porque todos tinham dormido de noite pelo menos umas quatro horas. Eu, por minha vez, encontrava-me mais que cansado. Era quase impossível manter meus olhos abertos quando estacionei de frente à casa de Bella.

Eu poderia ter dormido em meu apartamento, em meu quarto e depois ter ido procurá-la, mas a minha necessidade de ver Bella e desculpar-me pelos dois dias que eu não aparecia em sua casa era maior do que qualquer sono e cansaço que eu sentia.

Com medo que Bella ainda estivesse dormindo, entrei em sua casa com a chave extra que ela havia me dado no dia de seu aniversário, com um sorriso na voz enquanto murmurava que era para caso ela não estivesse e eu chegasse cedo demais.

Eu estranhei quando a vi deitada no sofá maior, aninhada em seus braços que com certeza ficariam doloridos quando ela se acordasse. Tranquei a porta antes de deixar minha mochila na poltrona, caminhando calmamente até onde ela estava e sentando-me no pequeno espaço que ela deixava disponível.

Minha garota não estava em um sono muito pesado, pois assim que toquei seu braço esquerdo, ela se mexeu confortavelmente para o lado em que eu estava, esbarrando em mim pelo pouco espaço. Logo se acordou, resmungando baixinho alguma coisa que eu não entendi e bocejando, colocando a mão na frente da boca resseca.

— Bom dia, Bella. 

Ela não falou nada, ainda estava despertando. Esperei que ela estivesse de bom-humor, que não reclamasse pela minha enorme displicência quando se tratava de cumprir promessas. Duas vezes, ainda mais. Tentei achar alguma positividade quando eu acariciei seu rosto com a mão espalmada, recebendo um suspiro satisfeito vindo dela e o inclinar de seu rosto.

Bella suspirou mais uma vez, mexendo-se para tentar ficar sentada no sofá. Seus braços pareciam ser feitos de gelatinas já que, mesmo tentando, ela não conseguiu e desistiu. Ergueu as duas mãos e coçou seus olhos, abrindo-os logo em seguida para me olhar.

Não havia nenhum ressentimento em seu olhar.

— Edward! — Ela rapidamente se ergueu nos joelhos e jogou os braços ao redor de meu pescoço, quase me derrubando pela força que ela usou ao fazer aquilo. — Senti sua falta ontem de noite.

Eu sorri e usei o espaço que ela deixara livre para me sentar corretamente no sofá, puxando-a para que ela se sentasse em meu colo. Bella o fez sem hesitar, enterrando o rosto em meu ombro.

— Aconteceu alguma coisa com Tanya?

— Sim — Fiquei grato que ela tivesse deduzido sem muitos problemas. —, mas já está tudo bem de novo. Sinto muito por não ter vindo ontem.

— Não tem problema. — Ela sussurrou e olhou brevemente para cima, franzindo os lábios e me avaliando. — Você parece cansado.

Ergueu sua mão até o meu rosto e tocou a linha do meu maxilar. Eu estava me aproximando de seus lábios quando Bella pulou de meu colo, sorrindo larga e infantilmente enquanto colocava a mão em frente da boca.

— Eu acabei de me acordar, Edward! — Ela exclamou como se aquilo fizesse algum sentido para mim. Continuei sem entender nada, como era de se esperar. — Olhe só, pessoas… se você não sabe, Doutor, quando se acordam elas têm um probleminha que se chama hálito matinal.

— Isso é óbvio.

— Não se beija antes de escovar os dentes pela manhã. — Sua voz era repreensora. — Então fique quieto aí enquanto eu subo e escovo meus dentes para tomarmos café da manhã juntos, sim?

Eu revirei meus olhos com impaciência, observando-a subir as escadas. Seus cabelos estavam um pouco mais curtos — que havia sido objeto de reclamações vindo de minha parte — já que no domingo que ela saiu com Alice, ainda conseguiu encontrar um salão aberto para fazer essa coisa.  Eu nunca reclamei tanto por causa de um mísero cabelo.

Bom, os meus motivos eram óbvios. Eu adorava seus cabelos grandes, principalmente quando eles batiam quase no fim da cintura em vez de agora que estavam mais para perto de seus ombros. Bella, ao escutar meus resmungos, murmurou que em breve ele cresceria de novo. Cabelo sempre crescia, ela falou sorrindo.

Tentei fazer um esforço para me acostumar com seu novo cabelo. Eu sempre o procurava quando tocava  sua cintura, só o achando um pouco mais acima — isso sempre fazia Bella rir e murmurar que um dia eu me adaptaria e veria os pontos positivos. Na minha visão limitada e masculina, não consegui perceber que, com o corte, seu cabelo enchera mais, delineando seu rosto com mais precisão — uma coisa que ela me falara depois de eu ter resmungado mais uma vez a sua enfadonha decisão.

Enfim, eu ainda não havia me habituado e nem o faria tão cedo.

Quando ela voltou, estava com o cabelo — coisa que agora eu não deixaria de notar — preso em um rabo-de-cavalo. Assim que estava perto o bastante, jogou-se em meus braços e pressionou seus lábios contra os meus, deixando-me sentir o seu hálito de creme dental. Ela também estava cheirosa, provavelmente colocara algum perfume antes de descer.

— Tomamos café da manhã e vamos dormir. — Ela beijou meu maxilar, estalando os lábios propositalmente.

— O que vamos fazer de noite? — A indaguei.

Seu riso baixo e malicioso a entregou.

— Depois você me acusa de ser pervertido. — Esfreguei meu nariz contra a sua bochecha e ela riu mais uma vez, encolhendo-se. — Olhe só para você.

— Você não sabe o que eu pensei. — Sua tentativa de defesa foi falha.

— Posso muito bem deduzir. — Suas bochechas coraram e ela abaixou o rosto para suas mãos, mordendo o lábio inferior para impedir um sorriso. — Você é muito previsível também, sabia?

Bella não me respondeu, apenas bufou um riso e saltou de meu colo para andar mais uma vez até a cozinha. Eu esperei sentado no sofá que ela olhasse para trás e demonstrasse as suas bochechas coradas, mas ela não o fez, parecia determinada a não me olhar até que a vermelhidão houvesse passado. Ela era bem determinada quando queria.

Depois de um tempo, a segui para a cozinha, sentando-me no balcão com as costas tortas para não bater no armário que se encontrava a poucos centímetros de minha cabeça. A observei andar pela cozinha e depositar o leite e o cereal em cima da mesa e depois me olhar com as sobrancelhas erguidas. A incredulidade deixava o seu rosto incrivelmente mais bonito.

— Você não está com fome?

— Esses cereais são aqueles de letrinhas?

Sua expressão séria caiu quando um sorriso envergonhado formou-se em seu rosto que ainda tinha sinais de sono. Bella mexeu em seu cabelo, colocando sua franja para o lado de sua orelha direita.

— Hum… — Ela mordeu os lábios. Demorei um pouco para me lembrar sobre o que ela estava falando antes. — esses são os melhores.

— Com certeza.

— Tem bacon e ovos também, se você quiser…

— Prefiro o cereal.  — Resmunguei.

Fomos dormir logo após terminarmos o café da manhã. Eu estava cansado demais para pensar em ter segundas intenções ao ver Bella tirando seu short, ficando somente de calcinha e uma regata cinza. Ela, por sua vez, não facilitou nem um pouco quando se entrelaçou em minha cintura, abraçando-me com os braços e com as pernas longas, macias e alvas.

Claro que eu não desperdicei a ótima oportunidade de passar minha mão por elas, sentindo a textura que já me era conhecida. Em resposta, Bella apenas se aninhou para mais perto de mim, cobrindo-nos com um lençol já que o dia estava milagrosamente frio, um pouco nublado. Perfeito para ficar em casa pelo dia inteiro.

Eu não percebi o quanto estava cansado e com sono até despertar… de três horas da tarde. Bella continuava aninhada a mim, seu nariz quase sendo esmagado pelo meu peito de tão próxima que ela estava. Seu rabo-de-cavalo já havia caído há muito tempo e seus cabelos estavam revoltos pelo travesseiro, adoravelmente bagunçados.

Era meio idiota notar isso agora tendo em vista que eu não costumava notar tão poucas coisas e que eu já havia acordado ao lado de Bella inúmeras vezes, mas ela era incrivelmente bonita quando estava dormindo.

Eu era um babaca apaixonado por uma garota que ia para outro continente por cinco anos. Tinha alguma coisa pior que aquilo? Talvez minhas indagações fossem consideravelmente piores. Mesmo sabendo claramente que Bella me amava, eu ainda me perguntava como e por que ela estava indo embora. Quem ama fica, não é?

Mas aí eu me dava conta de que estava sendo um maldito egoísta com ela. Desde que eu a conheci na casa de seu pai, tudo que ela falava — e ela costumava conversar pouco comigo — era sobre ir para Cambridge. Mesmo querendo que ela ficasse, eu nunca a pediria para fazer isso por mim. Nunca.

Eu esperaria. Esse era meu plano.

— Pra onde você está indo? — A mão de Bella se prendeu na barra de minha camisa, puxando-me de volta para a cama.

Ela nem precisou puxar muito, fui de boa vontade.

— Se você não esqueceu — Toquei curiosamente a sua clavícula, baixando meu olhar e notando que ela não vestia nenhum sutiã por debaixo da regata. Engoli em seco e me concentrei em seus olhos que ainda esperavam uma resposta. —, alguém tem que comprar as entradas para o jogo dos Lakers.

— Vamos para o jogo hoje? — Em um instante, seu torpor pós-sono passou.

— Sim. — Sorri por sua empolgação ao se levantar da cama em um jato.

Ela foi diretamente para o banheiro depois de pegar uma toalha limpa dentro de seu closet, deixando-me incrédulo, ainda na cama.

— Você me prometeu um banho. — Menti. 

Sua gargalhada foi alta o bastante para que eu escutasse.

— Não me lembro disso, hein? E, além do mais, você precisa comprar os ingressos enquanto eu tomo banho, sozinha, numa água confortavelmente quente…

Ela soltou um gritinho histérico e se enrolou na toalha, de olhos arregalados a me ver invadindo o banheiro. O que ela esperava que eu fizesse? Escutá-la me provocando enquanto permanecia sentado sem fazer nada? Claro que não. E Bella sabia muito bem que eu não era muito paciente quando se tratava de suas provocações que sempre funcionavam.

Sempre. Ela sabia disso e usava para me tirar do sério.

— Edward. — Ela repreendeu-me.

Não havia aversão nenhuma em sua voz e nem em seus braços que se agarraram ao meu pescoço quando eu a coloquei em meu colo, deixando a toalha pelo meio do caminho.

— Os ingressos irão acabar. — Ela sussurrou contra meus lábios, segurando um punhado de meu cabelo com força.

Acatar suas palavras era difícil e se tornou quatro vezes mais quando ela inclinou o pescoço para o lado, em um convite mudo para os meus lábios o provar. Decidi, por fim, que pensaria nos ingressos quando Bella não estivesse me tentando tanto quanto estava no começo.

Sabe, eu conseguia ser controlado. Conseguia mesmo. Só era respirar fundo, pensar em cordeiros pulando cercas e eu conseguia me abstrair de qualquer raiva ou excitação por algumas horas. A minha tática, no entanto, era abalada por Bella e sua voz maliciosa murmurando que ia tomar banho. E pelo ato de se banhar, nós podemos deduzir que ela estaria nua. E imaginá-la nua era o que acabava com toda a resistência que eu talvez pudesse ter.

Concluí que tentar se controlar com Bella não era possível. Nem mesmo um pouco.

A boa notícia de tudo era que, quando eu cheguei apressado ao lugar onde comprava os ingressos, ainda tinha meia dúzia. Apesar de ter que tomar banho apressado, sem me permitir desviar os olhos para a garota nua que estava ao meu lado porque, inacreditavelmente, eu ainda a queria, eu consegui pegar o par para mim e para Bella.

Quando eu voltei, ela estava com o sorriso mais cínico do mundo enquanto colocava a mesa e me olhava sob os longos cílios.

— Conseguiu? — Sua voz foi casual, despreocupada.

— Há algo que eu não consigo? — Indaguei convencido, puxando a lateral de sua cintura a meu encontro.

Depositei um beijo no alto de sua cabeça que, a propósito, estava com um cheiro ótimo. Provavelmente algum xampu novo.

Aquele foi o último jogo de basquete que fomos naquele ano. E, só para constar, ainda estávamos em setembro, sendo o mês que mais tinha jogos de Lakers em Los Angeles. O tempo simplesmente sumiu na semana que se seguiu.

Foi minha culpa que toda vez que eu marcasse algo com Bella, não conseguisse cumprir. Eu não estava conseguindo conciliar Tanya + consultas + trabalho + Isabella Swan e eu ainda duvidava que um ser humano conseguisse o fazer sem entrar em um colapso nervoso. Não por Bella, claro, e sim por Tanya que sempre estava exigindo mais. Ela sempre encontrava algo para reclamar.

Bella estava tranquila, parecia não notar toda vez que eu não conseguia chegar rápido o bastante para irmos para o cinema ou para algum jogo dos Lakers. Ela não tocava no assunto, deixando essa tarefa para mim junto com as apologias que eu sempre a pedia. Eu recebia apenas um balançar de rosto e um abaixar de olhos. Embora ela fosse firme nesse quesito, eu podia perceber o ressentimento que ela sempre ocultava da melhor forma que podia.

Eu realmente não sabia quando a paciência de Bella tinha crescido tanto. Não que eu estivesse reclamando, eu não estava, era apenas agoniante o quanto ela parecia se controlar toda vez que eu chegava pedindo desculpas por meu atraso. Sua indiferença involuntária acabava comigo e, se possível, me fazia sentir pior do que eu já me sentia.

Porque, vamos ser francos aqui, Bella merecia algo melhor que um cara que chegava somente os cacos em sua porta. Ela não parecia perceber isso. E se percebia, não ligava. Pelo menos, era o que eu achava e o que ela demonstrava ao passar dos dias.

Com toda essa correria, eu não percebi o quanto os dias se passaram rápidos. Se eu tivesse percebido mais cedo, com certeza daria algum jeito de ficar o máximo de tempo que eu conseguisse com a minha garota. Infelizmente, eu fui displicente para aquilo, agi como se eu e Bella tivéssemos todo o tempo do mundo e depois, quando Tanya tivesse o bebê, ficaríamos juntos o máximo que conseguíssemos.

A minha negligência não pareceu incomodar Bella — não na minha frente. Alice me falava o que ela notava depois, como em uma forma de me dar um sermão sobre o que eu estava fazendo com sua amiga. Sempre que eu a perguntava se Bella a havia falado algo, ela apenas negava com o rosto e dizia que eu era um babaca por não perceber nos pequenos detalhes o quanto ela estava abatida.

E Alice sempre teve razão. Mesmo sendo mais nova que eu. Eu era um babaca e nunca deixaria de ser.

Eu só me dei conta do dia que era quando eu entrei na casa de Bella e percebi que os vários porta-retratos que ela tinha em uma estante média haviam desaparecido. Para mim, a ficha não caiu até chegar a seu quarto, depois de ter jantado, e perceber que, quase metade do seu closet estava vazia. As roupas agora estavam dentro de quatro malas enormes que logo captaram a minha atenção.

Quando eu me virei para olhá-la, não consegui falar nada decente.

— Bella… — A chamei, estendendo minha mão em sua direção.

Ela fungou e se atirou de uma vez só em meus braços.

— Não quero que chore. — Murmurei.

Minha fala só a incentivou mais a soluçar baixinho contra o meu peito, os braços apertados a minha volta. Tentei fazer com que ela se acalmasse, não porque não gostava de consolá-la, e sim porque era horrível saber que ela estava chorando por alguma coisa que me envolvia. Se fosse possível, gostaria que Bella permanecesse com o rosto seco pelo resto de sua vida. Faria de tudo para que aquilo acontecesse.

Beijei o alto de sua cabeça, a sua bochecha, o seu ombro o qual, depois de alguns segundos, encostei a minha testa. Tudo para tentar fazê-la parar de chorar daquele modo desesperado que ela estava fazendo. A última vez que eu a vi chorar como estava fazendo naquele momento foi quando brigamos por causa de Carlisle e eu fui um maldito estúpido com ela.

— Fique calma. — Sussurrei para ela. Outro soluço fez seu corpo estremecer. — Odeio te ver assim.

Puxei-a suavemente até a poltrona e de imediato ela se acomodou em meu colo, escondendo o rosto em meu ombro, ocultando as lágrimas que se envergonhava de derramar. Ela não voltou a soluçar, mas podia bem sentir suas lágrimas quentes molhando a minha pele.

Acariciei suas costas e pouco a pouco suas lágrimas secaram. Tudo que ela fazia agora era fungar baixinho, sua respiração tremulando baixinho.

— Eu não quero ir.

— Bom… — Limpei as bordas de seus olhos quando ela levantou o rosto corado para me olhar. — eu não quero que você vá.

Seus olhos começaram a marejar de novo e mordendo os lábios, ela os baixou para suas mãos.

— Vai ficar tudo bem, Bella. — Sussurrei a ela, acariciando o seu braço. — Então… para onde você quer ir agora? Podemos ir para qualquer lugar que você quiser.

— Podemos ficar em casa hoje? — Ela indagou. — Eu acho que não estou no clima de sair.

— Sem problemas.

Eu odiava aquele ar de despedida que seus beijos tinham, o quanto ela parecia triste após se separar de cada um deles, após me olhar e baixar os olhos, impedindo-me de ver as lágrimas que cintilavam em seus olhos.

Eu estava quase chegando a me detestar por não ter arranjado um tempo a mais para ela, um tempo a mais para beijá-la e rir de suas reações que eram sempre tão receptivas. Eu poderia ter feito alguma coisa a mais para ficar com ela, poderia ter trocado alguns dos meus plantões, poderia ter acordado mais cedo ou talvez ter chamado um táxi para levar Tanya para a consulta. Qualquer coisa seria válida se economizasse meu tempo com a minha garota.

Bem, eu deveria ter pensado naquilo antes. Eu fiz ao contrário, empurrei com a barriga, conformei-me com o pouco tempo que eu teria com ela, fui completamente displicente com o relacionamento que mantínhamos. Ela, com perfeita paciência, pareceu não notar.

Por uma parte, eu queria que ela tivesse gritado como Tanya fazia, queria que ela tivesse me alertado sobre o que eu estava fazendo conosco. Talvez eu pudesse correr atrás do prejuízo enquanto era tempo. Mas ela não fez nada daquilo, ela apenas esperou com sua perfeita tolerância.

— Eu amo você. — Murmurei para ela enquanto beijava-lhe o maxilar e tratava de desabotoar a sua blusa.

Bella se encolheu, rindo levemente e inclinando o pescoço alvo e cheiroso para o lado.

Ela não precisou falar nada para eu saber que era correspondido. Minha garota era bem transparente em seus sentimentos, um dos seus pontos positivos era não ser fria ou tentar esconder o que eu mais gostava de perceber. Ela era na medida certa para mim.

Sempre era. 


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Notas finais do capítulo

No próximo, ela vai embora. Beijos ♥