Enjoy the Silence escrita por Meggs B Haloway


Capítulo 27
XXVI. Nunca esquecer.


Notas iniciais do capítulo

Então... oi, pessoas. Eu estava/estou alegremente escrevendo o extra de ES enquanto escutava/escuto On my Sleeve (Creed. Alguém aí conhece?) e pensei "Ah, quer saber? Ferre-se, vou postar" e aqui estou eu. Eu não planejava postar nem tão cedo, mas essa música me animou ♥ enfim, espero que gostem. Esse é o último capítulo "calmo", o outro é um pouco mais tenso... bom, vocês vão ver quando eu postar. É isso aí. Beijos, gente! ♥



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Eu estava pasma o suficiente para apenas a olhar enquanto ela sorria para mim e para Edward que estava um pouco atrás de mim, perto da porta. Alice entrara em minha casa com calma, como se fosse normal a sua presença e todos aqueles sorrisos que ela me soltou. Ela me olhou com tranquilidade, ao contrário de tudo que eu achava. Eu que a conhecia bem, e provavelmente Edward também, podíamos perceber que seus olhos estavam ressentidos. Como no começo.

Ela nos olhou com as sobrancelhas erguidas, esperando alguma reação de nossa parte.

— Você não me respondeu. — Ela observou, impertinente. — Eu te disse “Feliz aniversário” e nem um sorriso amarelo eu ganhei.

— Hum… é, me desculpe. — Franzi meu cenho. — Obrigada. — Pigarreei, desconfortável.

— Edward? Eu posso conversar com a Bella a sós? — Alice perguntou.

Eu me virei para Edward, desesperada para que ele ficasse comigo porque eu não queria ter que lidar com Alice sozinha. Ele percebeu, claro que percebeu o temor que gritava em meus olhos, mas pareceu ignorar isso ao suspirar, me olhar como se estivesse se desculpando e tocar em meu ombro enquanto passava por mim.

Desoladamente, eu o acompanhei com o olhar.

— Cuidado com o que você vai falar. — Ele murmurou.

Alice revirou os olhos e cruzou os braços.

— Ei, Edward — Eu o chamei. Ele parou de subir as escadas e me olhou. —, Renée e Carlisle querem nos encontrar no shopping, então vá se arrumando enquanto isso, sim?

— Claro.

— Vocês vão sair? — Alice perguntou.

— Sim.

Caminhei desconfortavelmente até a cozinha e puxei uma cadeira para poder me sentar nela. Alice me imitou, olhando para todos os lados e mexendo suas mãos de todos os jeitos possíveis, mostrando seu desconforto. Eu ainda me perguntava o porquê de ela ter vindo se estava tão desconfortável assim, talvez ela devesse esperar mais alguns dias até conseguir aceitar o que eu tinha com Edward.

Ela não o fez e me fez contemplar a sua tensão evidente.

Suspirei ao perceber que eu não tinha coragem o suficiente para falar alguma coisa com ela, tentar agir como antes ou começar a me desculpar por estar com seu irmão. Não consegui, claro, eu era covarde quando se tratava de Alice e toda a raiva que ela podia representar.

Comecei a ficar incrédula quando percebi sua atenção no aparelho branco em suas mãos, um celular cujo ela fitava com muito interesse. Depois a incredulidade passou para ressentimento. Eu era tão desinteressante desse jeito? Eu realmente achava que sim.

Observei com uma interrogação estampada em meu rosto quando ela empurrou o aparelho em minha direção na mesa, evitando tocar minha pele. Se eu já estava ressentida antes, piorou naquele momento. Alice agora evitava entrar em contato comigo? Era isso? Para a informação dela, minha pele não queimava, ela não se machucaria se esbarrasse os dedos com os meus.

Que ótimo começo de aniversário, pensei sarcasticamente.

Fiquei surpresa ao me reconhecer na tela de seu celular e logo em seguida perceber Edward também. Estávamos abraçados na varanda do meu quarto e sorriamos. Eu só vestia a camisa dele, deixando metade de minhas coxas aparecendo — o que era bastante sugestivo. Como eu pude ser tão despercebida? Céus, minha burrice chegava a me assustar em algumas vezes.

Reconheci aquela foto como sendo da primeira vez em que dormimos juntos, um dia antes de Alice descobrir sobre nós.

Sem falar nada, ela pegou o celular de minhas mãos, mais uma vez sem encostar-se a minha pele. Mexeu em mais algumas coisas e o entregou de novo para mim, deixando seus olhos baixos como se ainda estivessem ressentidos. Mesmo depois de todo esse tempo.

— Alice — Roguei. —, eu…

— Apenas veja.

Abaixei meus olhos para a foto da vez. Era um pouco menos comprometedora do que a anterior, porém explicitava o tempo em que eu passei com Edward. Daquela vez, estávamos de mãos dadas, saindo do jogo dos Lakers enquanto comentávamos sobre o jogo. Estava datada como sendo de julho, no mesmo dia em que ele foi admitido em seu novo emprego.

Suspirei raivosamente, entregando de novo o celular para Alice que apenas tirou da foto e o colocou do lado de seu braço. Tentei pensar em alguma coisa boa a qual me serviria de justificativa, mas nada me veio a mente. Nada. Era tudo ruim demais para justificar alguma coisa e Alice sabia disso, ela se aproveitou daquela percepção e me encurralou no beco sem saída.

Eu me sentia quase sufocada, sem ar.

— Tem muitas outras que eu poderia te mostrar agora — Ela disse, ainda sem me olhar. Também baixei meus olhos para a mesa, envergonhada. —, mas eu quero ser breve.

— Alice, eu queria te contar. — Disparei, levantando minhas mãos para pegar as suas que sumiram do meu campo de visão para abrigar-se debaixo da mesa. — Apenas não havia como, era complicado e vergonhoso demais simplesmente te falar que eu estava com seu irmão.

— Por vergonhoso — ela fez questão de destacar a palavra — você se refere ao fato de ele ser noivo quando vocês começaram a se encontrar?

Minha dignidade clamou por clemência.

 — Sim. — Sussurrei.

— Você teve uma chance de me contar, Isabella. — Ela jogou na minha cara. — Eu te perguntei, várias vezes e você sempre negou como a perfeita covarde que você é!

Engoli em seco, desistindo de uma vez por todas de tentar reconstruir o meu orgulho que estava sendo cruelmente maltratado. Eu merecia tudo aquilo, por isso não tentei me opor. Ela estava certa, sempre estava.

— Eu não sei, nem muito menos tenho interesse em provar por mim mesma, o quanto você quis tentar me contar. Deve ter sido angustiante mentir na cara dura todas as vezes que você fez. — Ela finalmente levantou o rosto para mim, permitindo-me ver seus olhos marejados. — Eu queria apenas um pouco de confiança, sabe? Seria muito mais fácil se você tivesse me contado antes, na primeira vez que eu te perguntei, se possível, Bella. Eu tentaria não julgar você e Edward, tentaria também te aconselhar, mas… você não me deixou fazer isso!

Eu funguei, forçando minha voz várias vezes a sair. Nada. Minha garganta estava se reprimindo, deixando-me desesperada por tentar respirar e não conseguir. A melhor atitude, então, foi arfar, em busca do ar que não podia ser inspirado pelo nariz. Foi em vão a minha tentativa de não chorar.

— Eu não estou dizendo isso para te machucar. — Pude vê-la balançando o rosto e limpando-o das lágrimas. — Não é minha intenção te machucar logo no dia do seu aniversário. Que tipo de amiga eu seria? Tudo que eu estou tentando é fazer você notar como eu me senti, a frustração que eu senti quando dei de cara com você e com Edward… pela internet, Bella!

— Eu… — Minha voz falhou pateticamente. 

— Posso imaginar o quanto você quis me contar. Confio em você quando diz isso. Até tentei me colocar na sua situação… não funcionou, eu admito, eu sou egoísta demais para conseguir enxergar em uma perspectiva diferente da que tenho.

Ela sorriu amargamente e suspirou.

— Olhe para mim, Bella. — Ela mandou e quando o fiz, com lágrimas transbordando de meus olhos, transformou seu sorriso em um doce e compassivo. — Não quero que chore no seu aniversário.

Suas mãos finalmente apareceram e capturaram as minhas, apertando-as.

— Eu… ouvi as vinte e cinco mensagens que você deixou na minha caixa. Fui forçada, praticamente, você a lotou e me deixou sem opções. Essa foi uma boa tática, se quer mesmo saber…

— Não foi minha intenção.

— De qualquer jeito — Ela sorriu —, eu escutei todas. Saiba que eu também senti sua falta, de verdade. Eu e Edward temos a mesma coisa de precisarmos nos acalmar antes de vir falar com alguma pessoa, ele levou menos tempo que eu porque é o mais passivo de nós dois, o mais parecido com Carlisle. Tenho que aprender isso com ele.

— Você me perdoa? — Minha expressão começou a se tornar esperançosa.

— Está pedindo perdão por uma coisa que não se arrepende? — Ela olhou para baixo e apertou minha mão de novo. — Eu que devo pedir perdão, Bella. Tudo que eu queria era que você tivesse confiado um pouco mais em mim e, claro, me desse alguns dias para eu me acostumar com a ideia de que você e Edward estão… juntos.

— Eu deveria ter pensado nisso. — Murmurei.

— E ainda tem mais! Além de cunhada, você é o quê? Minha meia-irmã de consideração do mal! Céus, se você vendesse essa história para os cinemas, com certeza ganharia muito dinheiro e ficaria… — Ela se parou quando percebeu a minha expressão horrorizada.

Meia-irmã (...) do mal. Eu sabia que Alice não pensava nas coisas antes de falar, por isso minha mente já tinha justificativas para essa sua atitude, não se ressentindo de modo imediato. Tentei levar numa boa o fato de eu ser do mal e ela achar aquilo de mim. Tentei não começar a me culpar de novo por ter destruído a família dela e de Edward…

— Nunca foi minha intenção machucar nenhum dos filhos que Carlisle poderia ter. — Repeti a mesma coisa que disse para Edward algumas semanas atrás.

— Eu sei, agora eu sei. Você era uma criança.

— Sim. — Concordei.

— Me desculpe por tanto fuzuê, Bella. Eu não queria ter te dito tantas coisas como eu falei. Você pode me desculpar?

Mesmo se eu estivesse com raiva de Alice, mesmo se eu a odiasse com todas as forças de meu coração, eu nunca conseguiria me manter indiferente diante a expressão de cachorro abandonado que ela fez. Assim como Edward, ela tinha algum selo anti-ódio que vinha implícito com a sua presença. Não tinha como ficar com raiva dela por muito tempo — prova real era eu que nunca ficara com raiva dela por mais de dois segundos.

— Te desculpar? — Finalmente respondi. — Ah, Alice… você que tem que me desculpar por tudo que eu te fiz.

— Não, shhh. É passado a partir de agora.

Ela empurrou a cadeira para trás e se levantou, abrindo os braços para que eu me jogasse neles. Assim o fiz, abraçando-a com força e percebendo que, sim, aquele era o melhor aniversário de toda a minha vida. Por Edward estar nele e por Alice ter decidido vir falar comigo e dizer que me desculpava por todas as merdas que eu já havia feito

— Então… diga-me — Ela começou, sem me soltar. — você ama o Edward, Bella?

— Claro que sim. — Um sorriso inconsciente foi esmagado pelo ombro magro de Alice.

— Ah, ótimo porque eu nunca vi meu irmão olhar para nenhuma outra pessoa como ele olha para você.

Eu sorri bobamente. Ficava claramente mais tranquila que não fosse somente eu a qual percebesse que Edward gostava mesmo de mim, que alguém percebesse isso também. Era um alívio poder provar a mim mesma que o amor dele não era uma fantasiava da minha mente, que era de verdade.

— Venha conosco para o shopping. — A convidei, soltando-me de seu abraço.

— Não posso, já combinei de almoçar com Jasper.

— Ah é? — Ergui minhas sobrancelhas, sorrindo maliciosamente. — Jasper, é? Quero saber de tudo depois.

— Claro! — Ela estava alegre, voltando a assumir seu saltitar natural e animado. — Podemos nos encontrar no domingo? Ir para o shopping ou qualquer outra coisa que você queira fazer.

— Seria ótimo. — Sorri.

Ela sorriu largamente e me puxou pelo braço até a sala, andando casual e calmamente pelo espaço. Foi por acaso ou intuição que levantei meu rosto até a escada, fitando a parede que possibilitava alguém de escutar toda a conversa sem problemas algum.

Não consegui enxergar ninguém, mas ainda tinha a sensação que minha conversa com Alice tinha sido escutada. E como só tinha Edward e nós dentro da casa, a culpa automaticamente recaiu sobre ele.

— Ah! — Alice exclamou, chamando minha atenção de novo para si. — Eu me esqueci de entregar o seu presente. E, olhe — Ela virou seu rosto para o meu e tentou me persuadir com seus enormes olhos que quase me compeliam a fazer o que ela queria. —, se você não usar isso cada segundo de sua vida, eu nunca mais lhe dou presente de aniversário. Nunca mais — Frisou —, escutou?

Com um sorriso sarcástico nos lábios, assenti.

Ela caminhou até o sofá que abrigava sua bolsa e tirou de lá uma pequena bolsa de veludo escura. Voltou-se em minha direção com um sorriso imprudente nos lábios, estendendo o objeto para mim que peguei sem hesitar, também sorrindo. Tirei de lá uma corrente prateada que, no meio dela, tinha um pingente em forma de gota roseada. As bordas dele eram decoradas com um padrão diamante.

Era lindo, o segundo presente que eu ganhara em meu aniversário.

— Eu o achei a sua cara, Bella. — Alice disse sorrindo. — É simples e lindo. E… quando Edward te der seu presente, não ache que o meu foi plágio do dele. Eu só… hum, casualmente fui curiosa o bastante para achar o dele no mesmo dia em que estava procurando pelo seu em uma loja. Foi uma ótima ideia.

Eu ri, balançando meu rosto em incredulidade.

— Eu acho que eu falei demais.

— Que nada. Se quiser, eu finjo que eu não sei de nenhum presente vindo dele e está tudo bem. — Lhe sorri. — Me ajude a colocar?

Alice foi embora sem muitas delongas, prometendo que voltaria no domingo para que pudéssemos sair. Ela me abraçou, murmurou outros pedidos de desculpas os quais eu fiz questão de ignorar e se foi sorrindo. Aliviava-me que estivéssemos finalmente bem, embora Alice não tenha chegado de uma forma que sugerisse que terminaria desse jeito.

Suspirando e me sentindo mais leve, subi para o meu quarto onde Edward ainda estava com a roupa que dormira, entrando no closet. Culpado!, minha mente gritou em divertimento assim que vi seu olhar travesso para me encarar.

— Sabia, Edward Cullen, que é muito feio escutar a conversa dos outros? — O indaguei erguendo as sobrancelhas.

— Você não tem provas nenhuma que eu estava escutando. — Ele se defendeu.

— Sim, você está certo. — Ponderei por alguns segundos e ri, incrédula, quando ele desapareceu do meu campo de  visão, entrando de uma vez por todas em meu closet. — Mas eu sei que você estava escutando!

— Suas acusações são vazias, Isabella. — Ele assoviou.

Incrédula e rindo, parei na porta do closet, o encarando com as sobrancelhas erguidas.

— Não sei como você pode mentir na cara dura. — Resmunguei.

Ele riu e pegou algo dentro do meu closet e depois se virou para mim. Parei de prestar atenção nele para finalmente olhar para o que ele tinha em suas mãos, franzindo meu cenho quando notei ser uma blusa de botões dourados que eu usara há mil anos. Não sabia como ou quando ele havia me visto com ela, porém definitivamente não era uma de minhas peças favoritas em meu closet.

— Está se candidatando a meu estilista pessoal? — Gracejei, sorrindo.

— Só por enquanto. — Ele disse, aproximando-se de mim e entregando-me o cabide que sustentava a blusa. — Quero que use isso hoje. Fica ótimo em você, já percebeu?

— Hmm… não. — Admiti. — Eu nem gosto tanto dessa blusa.

— Você pode refletir mais sobre esse seu gosto enquanto vamos tomar banho. — Edward murmurou, puxando minha mão junto com ele para fora do closet.

— Não, eu definitivamente não vou tomar banho com você!

Ele interrompeu seus passos e se virou para mim, olhando-me incredulamente.

— Você é tão sem controle assim, Isabella?

— Você que é. Estou prevenindo incidentes no banheiro, somente.

— Eu pensava que, de nós dois, você era a mais controlada. — Balançou o rosto negativamente.

— Estou pensando por você. — Defendi-me. — Então, Edward, pode se desanimar porque não vamos nos atrasar. Eu não estou a fim de ir para o shopping e me demorar lá.

— O que você quer fazer hoje? — Ele perguntou, pondo-se a minha frente para me encarar.

Desviei meus olhos dos dele, sentindo minhas bochechas se esquentarem.

— Não responda, eu já sei.

— Você está muito convencido esses dias, não? — Resmunguei, afastando-me o suficiente para que seu nariz não deslizasse por meu rosto.

Ele estava certo, conseguiu adivinhar o que eu queria fazer somente observando minhas bochechas coradas. Odiava com todas as minhas forças quando aquilo acontecia, odiava o tanto de presunção que aparecia em seu sorriso quando ele notava que eu sequer me dava trabalho de negar.

Ainda sorrindo com soberba, ele colocou um dedo embaixo de meu queixo para levantá-lo. Ainda lutei, tentando afastá-lo com uma mão, mas como sempre, não funcionou. Ele era teimoso, até  mesmo mais do que eu era, e se aproximou de novo, alargando seu sorriso.

Já disse que ele era lindo quando sorria tão largamente quanto estava fazendo naquele momento? Se já disse, queria reforçar.

— Você adora me deixar sem graça. — Reclamei.

— Sim. — Ele concordou.

Eu sorri secamente.

— Mas você está certa. — Ele continuou. — Eu vou tomar banho no banheiro do corredor.

— Eu sei. — Gabei-me. — Sempre estou certa.

— Isso é somente porque você tira o meu controle de uma forma que é possível que, mesmo termos feito amor ontem, eu ainda te deseje. — Sussurrou em meu ouvido como se ele se arriscasse falar muito alto, alguém pudesse escutar.

Eu estremeci, suspirando.

— Não é ético — Comecei a falar, pegando o fôlego que havia me sido roubado. — fazer isso com uma pessoa e simplesmente ir embora depois.

— Quem se preocupa com a ética? — Ele bufou.

Fiquei parada no meio do quarto, sem ar por alguns segundos até notar que eu e Edward estávamos mais que atrasados. Renée normalmente odiava atrasos e eu sabia que ela teria algum de seus resmungos engraçados para murmurar quando nos avistasse. Temendo que aquilo acontecesse de verdade, corri para dar um jeito na minha juba

Isso que dava ir dormir achando esperançosamente que o pobre do cabelo acordasse com um aspecto perfeito e normal. Impossível, realmente. Chegava até à ser um pouco patético pensar daquele jeito.

Por isso, sem paciência, o trancei para que perdesse o volume e estivesse no mínimo aceitável quando estivéssemos saindo. Essa era uma tática horrível que eu usava quando criança, e, as chances de funcionarem eram poucas e estáveis. Tudo dependia do humor do meu cabelo porque, sim, ele até tinha um humor própria que na maioria das vezes era rabugento.

Domingo, eu decidi enquanto olhava meu reflexo terrível no espelho, eu convenceria Alice a me levar para o cabeleireiro e cortar esse terrível monte amarelado por causa do sol.

Vesti a blusa azul-escura que Edward me indicara — ou compelira seria a palavra mais correta? — junto com uma calça jeans e uma sapatilha que estava esquecida por dentro do closet. Somente a usei porque era a mais prática e a mais próxima do alcance de minhas mãos.

Forcei-me a usar maquiagem só por aquele dia, só enquanto as marcas avermelhadas saíssem do meu pescoço. Sabe, eu realmente tinha que falar com Edward sobre aquilo. Não que eu não gostasse — claro que não, eu adorava —, o problema era ter que lidar com a maquiagem e com as pessoas que ficavam encarando caso eu me esquecesse uma mínima vez de colocar.

Aposto que, com toda a petulância que ele possuía, ele me diria para comprar mais blusas de gola alta. E seria uma ótima ideia, realmente, se Los Angeles não fosse tão quente.

Então, impedindo-me de resmungar dentro de minha mente — até porque era uma enorme hipocrisia —, passei a base e o pó compacto por todo o meu pescoço, depois em meu rosto. Claro que para não ficar parecendo uma morta-viva, coloquei um pouco de batom e sombra clara.

Edward entrou no quarto quando eu estava arrumando minha bolsa e para a minha tristeza ou felicidade por eu não estar sendo tentada, ele já estava vestido. Graças aos céus. Como sempre, estava lindo com uma camisa polo que destacava os seus ombros — e que ombros! Seu cabelo era um ninho de perfeição que eu soltei uma risada assim que avistei.

Estava completamente bagunçado com as pontas apontadas em todas as direções. Ele parecia uma criança que não sabia pentear o cabelo direito e pensava que apenas passar a mão resolveria.

— Vem cá — Eu ri. — Me deixa ajeitar o seu cabelo.

— Não está tão ruim assim.

— Não, não está. — O confortei. — Está ótimo, na verdade.

Edward se sentou na cama com as costas relaxadas e deixou que eu penteasse seu cabelo. Não foi uma tarefa difícil, para falar a verdade, já que ele fez questão de bagunçar toda a minha obra de arte com os dedos quando se olhou no espelho e disse que ele parecia patético.

— Claro que — Ele se virou para mim, sorrindo. — não estou desmerecendo seu grande trabalho.

— Sei. — Resmunguei.

Voltando a maravilhosa bagunça, seu cabelo finalmente ficou com o aspecto normal e como em uma forma de agradecimento, Edward ergueu meu rosto para beijar a minha testa. E depois eu o apressei ao perceber, com desespero, que estávamos atrasados por uma hora e meia.

Estávamos descendo as escadas, apressados, quando Edward estacou a minha frente e se virou para trás.

— Esqueci de te dar seu presente! — Ele me puxou escada acima de novo, eu ri com a sua confusão e me deixei ser puxada.

— Não tem problema, você pode me dar depois… — Tentei argumentar.

— Não.

Ele me deixou parada no meio do quarto enquanto ia até a poltrona que tinha no canto do quarto, pegando a sua mochila escura. Sempre soube que ele não tinha paciência alguma para procurar coisas, mas aquela foi a prova real que a capacidade de calma de Edward era quase escassa. Ele jogou tudo que tinha dentro da bolsa em cima da poltrona e depois resmungou algo quando achou a caixinha aveludada.

Embora eu já soubesse parcialmente o que era, não pude impedir meu coração de disparar quando ele caminhou em minha direção. Quando se aproximou o suficiente, pegou minha mão entre a sua e a acariciou, sorrindo para as minhas prováveis bochechas coradas.

— Então… — Ele hesitou. — eu realmente não sabia o que comprar para você.

— Não precisava comprar nada.

— Precisava, sim. — Teimou. — E eu já estou vendo que Alice lhe deu o seu presente, então considere o dela um plágio do meu, sim? Eu que tive a ideia inicial e ela foi mexer em minhas coisas e achou isso.

— Tudo bem. — Concordei. — Foi um irremediável plágio.

Edward sorriu tortamente, abrindo a caixinha e tirando de lá o anel que era idêntico ao colar, a diferença era que a pedra roseada era um pouco menor e mais discreta, distribuindo facetas esbranquiçadas por sua extensão. Era lindo e ficou melhor ainda quando Edward estendeu minha mão direita para encaixar o anel em meu dedo médio.

Terminado tudo, ele puxou-me para seus braços e enterrou seu nariz em meu cabelo já solto e livre.

— Quero que quando você estiver na Inglaterra — Ele se interrompeu para deixar um beijo humilde em meu ombro. —, nunca se esqueça de mim.

— Não esquecerei. — Prometi. — É impossível que eu faça isso.

E de fato foi, nunca me esqueci dele. Não teve uma manhã em que eu me acordasse e minha mente não se voltasse para ele. Como eu o prometi, aquela tarefa me era impossível. Mas ele, por sua vez, nunca me prometeu que não me esqueceria, então o que aconteceu não foi bem uma promessa quebrada. 


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Notas finais do capítulo

" (...) então o que aconteceu não foi bem uma promessa quebrada" Deixei na cara o que vai acontecer. Alguém aí prestou atenção no subtítulo de ES? Pois é... eu ia falar mais umas coisas, mas eu vou deixar para vocês divagarem... Espero que tenham gostado, comentem/recomendem. Beijos ♥