Redenção escrita por thedreamer


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Bom, muito obrigada a vocês que estão lendo, fico muito feliz, e espero que gostem!



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Capítulo Nove

 Talvez tenha se passado uma hora. Ou duas. Não sei ao certo, pois perdi a conta no momento em que não consegui mais conter as lágrimas e o nervosismo. O desespero conseguiu me invadir. Contei de um até dez. De dez a vinte. De vinte a trinta. Até me acalmar. Mesmo estando sozinha não posso ficar me lamentando pelos cantos. Não posso ser fraca.

 Respiro fundo, e enfim me acalmo. Ainda abraçando minhas pernas comecei a me lembrar fortemente de Perón.

 Após um ano em que eu estava andando sozinha, acabei perdida sem saber onde me encontrava. Eu costumava ajudar papai com a caça e a carpintaria, mas ainda assim a minha sobrevivência estava sendo um milagre. Não pude ficar em casa, pois logo a Capital a invadiu e só pude me esconder, sem nem ao menos ver o rosto de meus pais uma última vez. Houve um dia em que quase morri. Foi esse o dia.

 Eu estava em uma fuga, mas dessa vez a realeza não estava presente, aquele capanga nojento, Gaspar, estava. E foi para escapar dele que acabei me atirando no lago Paranoá. Eu não sabia nadar, e me joguei por puro desespero, e porque eu preferia morrer afogada a estar nas mãos dele. Eu poderia jurar que estava morta após cinco minutos que pareceram anos. Eu pude sentir a água invadindo meus pulmões, o ar cada vez mais escasso, o desespero pintando meu coração. E eu então eu apaguei. A morte pensei.

 Acordei meio zonza e completamente perdida. Por um momento pensei que estivesse morta e me encontrava em outra dimensão, até ver um rosto próximo e uma mão me tocando. Dei um pulo.

 - Quem é você? – Disse amedrontada e tentando juntar forças para correr, fosse lá para onde.

 - Ei, calminha. Eu salvei sua vida, sabia? – Ele ergueu uma sobrancelha e se sentou, pousando os antebraços sobre os joelhos, despreocupadamente.

 - Como? – Disse olhando ao redor, tentando me localizar.

 - Você foi muito corajosa em se atirar lá de cima, principalmente considerando o fato de que você não sabe nadar mais que uma formiga. – Semicerrei meus olhos e abracei minhas pernas.

 - Por que você me salvou? Para me entregar a eles? – Ele sorriu abertamente e fiquei encantada com a beleza de seu sorriso.

 - Preste atenção: Não vou entregar você, nem fazer mal a você. – Respirei um pouco mais fácil após esta afirmação. – Agora me responda, você está sozinha? Você desistiu muito fácil...

 - Não desisti facilmente! – Esbravejei - Eu estava correndo há horas. Já havia cortado minha perna e meu braço na fuga, e eles acabaram me encurralando, pois não conheço muito bem este lado daqui, não tive outra escolha, a não ser me jogar. – Ele assente.

 - Você está sozinha? – ele repete. Fecho os olhos e respiro fundo, lembrando-me de minha família.

 - Estou. – Engulo seco e reabro os olhos. Ele está me encarando compreensivamente.

 - Também não tenho ninguém e estou em busca de sobrevivência. Você ainda precisa curar este corte em sua perna, pode acabar infeccionando, e talvez você não consiga correr. – Levo quase uma hora apenas encarando-o. Após isso assinto.

 Começou então a nossa amizade. Passamos a buscar a sobrevivência juntos, um não seguia sem o outro, até o dia em que decidimos que precisávamos de um local seguro o suficiente para nos fixarmos. Ele seguiu para o norte, enquanto permaneci ao leste, pois “não poderíamos correr o risco de eu me jogar no rio novamente, por falta de conhecimento geográfico”. Ele partiu. As coisas poderiam ter acontecido como planejamos, mas algo deu errado.

 Acaiah me encontrou.

 Solto um suspiro pesado e encosto minha cabeça na parede. Será que Acaiah o matou? Bom, foi o que ele insinuou. E se ele o fez... Ele sabia que nos conhecíamos. Perón deve ter citado em um momento de desespero ou algo assim. Sinto uma pontada no coração. Se Perón está morto, a culpa não é minha. É de Acaiah. E ele terá de arcar com as consequências.

 Levantei e tomei um banho rápido. Vesti uma das roupas que Acaiah havia trazido. Uma calça e uma blusa de algodão. O calor era insuportável, portanto dei um jeito de rasgar as pernas da calça, transformando-as em shorts. Dou um jeito em meu cabelo, penteando-os com os dedos e prendendo-o em um coque.

 Fico em pé, andando de um lado para o outro, pensando em uma vingança fria o bastante. Eu estava bastante concentrada, com demasiadas ideias em minha mente, quando Abraham apareceu, com um rosto desolado.

 - Ei, o que aconteceu? – Digo ajoelhando-me e tentando inutilmente acariciar seus cabelos.

 - É o Acaiah. Tem algo de errado com ele, você precisa ajudá-lo Maria. Por favor. – Ele choramingou, e indo contra todo o meu conhecimento fantasmagórico, ele chorou.

 - Eu adoraria não ter que falar sobre ele agora, mas se for preciso. – Lamento.

 - O que ele fez com você? – Ele pergunta passando a mão nas lágrimas.

 - Não importa. O que houve para que você ficasse nesse estado? – Ele se sentou sobre as pernas.

 - Hoje... Eu falei a você que ele havia parado com as caças às pessoas que não vivem na Capital, mas hoje... Eu sabia que tinha algo errado no momento em que ele saiu de casa. E então ele entrou no jato e seguiu para...

 - Ai meu Deus! – Disse perdendo o ar. Seria possível Abraham ter visto tudo?

 - O que? – Ele perguntou se interrompendo. Acenei negativamente e ele prosseguiu. – Ele foi para o norte, e disse ao Gaspar que estava lá – ele engole seco – para fazer o que sempre faziam. Ele mal desceu do avião e já encontrou um garoto... Ele... Ele citou seu nome Maria.

 - Chega! – Balancei minha cabeça tentando afastar as imagens que pousaram – Não quero mais ouvir, Abraham. Sinto muito.

 - Mas...

 - Não quero ouvir, Abraham! – Ele calou-se e engoliu o choro, mas seus lábios tremiam.

 - Desculpe. Não precisava gritar comigo. Não pensei que você fosse assim!

 - Abraham... – Começo, mas ele não me escuta e desaparece antes que eu possa suspirar.

 - Argh! – Chuto a parede e sento-me uma vez mais.

 Como se o dia não pudesse piorar, vejo uma luz aparecer de repente, e quando estou prestes a pedir desculpas ao Abraham, vejo o rosto antipático de Samira.

 - Ai, o que você quer? – Digo a ponto de explodir.

 - Nervosa querida? – Ela pergunta mexendo em suas unhas coloridas de vermelho.

 - Dê o fora, Samira! – Ela abre um grande sorriso e fica em pé logo a minha frente.

 - Talvez você não saiba, mas eu sei que você anda conversando com outro amiguinho. – Coloco a testa nos joelhos e tento ignorá-la. – Abraham, seu nome. E, oh minha nossa, você está conversando com o fantasma do príncipe!

 - O que você quer? – Pergunto sem levantar a cabeça.

 - Eu passei a observar vocês dois e suas conversas em silêncio, nem mesmo ele me notou – continuou fingindo não escutar minha pergunta – e essa é uma tática que estou aperfeiçoando, porque é impossível não se mostrar para um fantasma – ela gargalha – Quase, impossível. Enfim, aquele garoto não faz nada além de seguir o irmão para cima e para baixo, e você é tola o suficiente para não pedir relatórios.

 - Como? – Não consigo evitar olhá-la, sem entender aonde ela quer chegar com essa história.

 - Você sabia, por exemplo, que ele foi dar um passeio com a princesinha de Portugal? – Reviro os olhos.

 - E o que eu tenho a ver com isso? – Digo.

 - Ah, por favor! Será que você se lembra daquela briga que vocês tiveram, há uns dias? – Permaneci em silêncio – Notou o quão frio ele se tornou desde então?

 - Vamos lá Samira, diga logo aonde você quer chegar! – Perco a paciência.

 - Se você está viva, é porque ele teve algum interesse em você! E hoje eu pude ver nos olhos dele, que ele está a fim de conquistar a princesinha, e se ele se apaixonar por ela... – ela passou o dedo indicador pelo pescoço, indicando morte.

 A minha morte.

 - Vá embora! – Disse meio engasgada.

 - Ah! Até que enfim você percebeu. Agora escute só: Não ficarei dando dicas para você. Essa foi a primeira e última. Porque eu, não estou nem ligando caso você morra. Portanto, acorde! – Ela desaparece.

 Por mais que eu tente evitar, as palavras de Samira fazem total sentido, e ficam perambulando em meus ouvidos. Ele me salvou por se sentir interessado. E agora, deseja conquistar Marie.

 Marie parece ser uma moça bonita, pelo pouco que pude ver por fotos. Seu rosto estava sempre coberto, mas ainda sim, algo me dizia que ela era uma mulher bonita. Se Acaiah se apaixonasse por ela, o que poderia acontecer nesse seu jogo de conquistar a confiança dela, por qual motivo ele me manteria viva?

 Samira está totalmente certa.

 Minha vida só piora. A cada instante. Como farei para que Acaiah não se apaixone por ela? Suspiro. Terei de esquecer toda essa confusão por um momento, esquecer por um momento, até mesmo Perón, para que eu possa sair daqui viva. E nesta situação, só tenho uma escolha.

Conquistar Acaiah.


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Notas finais do capítulo

E então? Mereço reviews? I hope so, beijos



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