Fundamento da Rosa escrita por DarkWasabi


Capítulo 8
Capítulo 8 – A Costura da Princesa dos Trapos


Notas iniciais do capítulo

Oi, leitores! Devo dizer que mesmo com a leve demora desse capítulo, confirmo que o próximo será postado em breve visto que já está mais da metade escrita.



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Outubro, 1930

O corredor estava mais claro, a poeira pairava no ar enquanto Jennifer fechava os olhos e colocava a mão sobre seus olhos para que se acostumasse com as luzes emitidas pelas lâmpadas e candelabros da sala. Na porta dos presentes, a qual ela acabara de sair havia um aviso desenhado com giz de cera forte em um papel de caderno.

Isso é uma emergência. Joshua, o urso, está desaparecido. Times de busca já estão à procura. A pessoa que acha-lo receberá um giz de cera vermelho e será convidado a se juntar ao Clube Aristocrata.

Aristocratas do Giz Vermelho.

Depois de ler o recado, Jennifer sentiu uma presença às sombras da parte obscura daquele corredor luxuoso. Ela podia ouvir seus passos se aproximando cada vez mais, assim como começava a se encolher amedrontada. Então, eclodindo das sombras, Brown aparecia abanando o rabo, fazendo com que seu pelo dourado reluzisse com as lâmpadas da sala. O cachorro pulou no colo de Jennifer, que o afagou e o apertou exultante em vê-lo, enquanto o cão enchia-lhe o rosto de lambidas.

A jovem seguiu, então, junto de Brown à procura do urso Joshua. O primeiro lugar que ela pensou em passar foi o Setor 8. Ao descer as escadarias, ela se deparou com Susan no canto da sala, tremendo apavorada

– Por que alguém roubaria algo tão precioso para a Princesa? Por quê? – perguntou a menina para Jennifer, que acabou não respondendo.

Ela seguiu para o Compartilhamento de Carga do Setor 8 com o Brown. Bem à frente deles estava Gregory curvado olhando para a parede, sem notar a presença dos dois.

– Tenho certeza de que Joshua vai gostar da história que eu escrevi para ele... – sibilou enquanto deixava papéis no chão e saía por outro lado da sala.

Quando Jennifer ousou se aproximar, ela pegou o que Greg deixara e reparou que era outro livro feito à mão pelo mesmo. Havia um desenho de uma menina que aparentava ser Amanda com um pequeno urso costurado do seu lado.

Era uma vez,

Uma menina que costurava trapos,

Dia sim, dia não.

O fedor dos trapos impregnou-se

Às suas roupas.

Suas meias-irmãs vestiam belos vestidos

E foram ao Baile.

A menina ficou em casa

E sua inveja a apodreceu.

Um dia,

A sua fada madrinha veio,

Lançou lhe um feitiço

E disse,

“Costure um vestido acinzentado para si,

Então poderá ir para o

Baile como as suas meias-irmãs!”

A menina remendou os trapos encardidos,

E assim ela tornou-se a Princesa dos Trapos,

Uma princesa deveras hedionda,

Ela fedeu toda a cidade, de fato.

Nenhuma garota que fedia podia ir

Ao baile.

Eu mesma farei com que essa menina vista

Esse horrível vestido!

E, portanto, a Princesa dos Trapos e a garota

No vestido de trapos tornaram-se colegas de brincadeiras.

A história era um pouco macabra, porém Jennifer pensou que fosse melhor leva-la consigo. Ela conseguia escutar um ruído parecido com um maquinário proveniente de uma sala naquela área, como se viesse da “Bagagem da Classe Trabalhadora”, a sala cujas grades geladas usadas como um grande portão assustava a jovem. Ao abrir a porta metálica de correr, ela notou que Amanda estava no centro do recinto de costas para ao portão. A garota parecia muito ocupada, costurando na maquina de fiar enquanto respirava com dificuldade devido aos seus esforços exacerbados. Jennifer foi andando silenciosamente para não desconcentrar a outra. Ao tocar-lhe o ombro, Amanda teve um sobressalto brusco. Ela parou de trabalhar e ficou respirando lentamente com os olhos arregalados e sobrancelhas arqueadas, mas logo começou a bufar irada e berrou empurrando Jennifer para longe. Ela parou de fiar na maquina para descansar apoiando-lhe a cabeça sobre os braços cruzados na mesa. Jennifer, por outro lado, aproveitou que ela estava dormindo para olhar em volta da sala. Havia, em um canto, uma cômoda com uma vidraça cuja continência era um livro.

Há um pequeno diário com estampas floridas.

Entretanto, a caixa estava trancada.

Mesmo que um pouco decepcionada, a jovem acabou saindo da sala. No momento em que ela deu as costas à porta metálica, Amanda surgiu atrás dela, chamando-lhe atenção.

– Você não suspeita que eu o roubei, não é?... Eu sei quem realmente levou Joshua, o urso. É... A... Wendy! Ela sempre está doente e de cama! Tem que ser ela! – proferiu enquanto retornava à sua máquina de costurar.

A possibilidade de ter sido Wendy quem havia pego o urso parecia fora de cogitação para Jennifer. Mas ela pensou que não faria mal em vê-la no Quarto dos Doentes, já que ela ficava a maior parte do tempo lá descansando. Talvez ela pudesse saber sobre alguma informação relacionada ao urso.

Ao chegar ao quarto, que ficava no segundo andar, Jennifer levou um susto com o que testemunhava. Wendy estava abatida, de bruços no chão, imóvel. Sem retirar o seu rosto do chão, a Princesa Solitária sibilava chorando.

– Oh... A Diana e as outras vieram até mim há 1 minuto, e... Elas me acusaram, dizendo que fui eu quem levou o urso Joshua... Como elas poderiam ter pensado nisso?

Sem hesitar, Jennifer apressou-se para colocar Wendy cuidadosamente de volta na cama em que ela descansava. Com a voz ainda fraca, a menina solitária continuou dizendo:

– Obrigada... – disse calmamente fechando seus olhos – Depois de ter prometido tomar conta dele... Sinto muito... Sinto muito mesmo...

Depois de Wendy adormecer, Jennifer pensou em ir atrás de quem havia feito aquilo com a menina. Foi às pressas para a sala em que Amanda estava. Esta não estava mais lá, ao invés disso, Diana estava sentada de lado com as pernas cruzadas na cadeira da máquina de fiar.

– Jennifer, você sabe aonde a Amanda foi? Bom... Eu duvido que você seja de muita ajuda, mas vá lá e junte-se à procura do urso Joshua. Apresse-se e vá!- berrou a ruiva já irritada para a jovem.

Em uma estante ainda naquele quarto, havia uma caixa de madeira aberta, com um interior de estofado repleto de pequenas pérolas e brincos. E também, uma pequena bolinha de pelos acinzentada que parecia ter vindo de um bicho de pelúcia. Assim que Brown cheirou aquilo, ele foi farejando e andando pelo Setor 8, onde Jennifer passara por dois meninos, Xavier e Nicholas, que estavam sem suas espadas de madeira. Os dois suplicaram-lhe que trouxesse algum objeto similar a uma espada para que pudessem continuar o seu jogo. Como Jennifer não tinha nada do tipo, ela ignorou meio desorientada e continuou o seu trajeto com Brown.

Ao chegarem no Compartimento de Carga, era possível ver Amanda carregando alguma coisa acinzentada pelas pernas, que se arrastava pelo chão frio, desaparecendo nas sombras. Jennifer, tendo-as visto por uma fração de segundos, acabou seguindo-as. Passando pelos corredores, bastante extensos, ela conseguiu avistar o elevador fechando-se as portas e içando-se a um patamar superior, com Amanda e a coisa dentro. No entanto, assim que Jennifer tentou apertar o botão para chamar o elevador novamente, as todas as luzes se apagaram e toda a energia do local acabou, de repente. Apenas uma luz vermelha destacava uma pequena placa do lado do elevador, que dizia:

CUIDADO: A ENERGIA DE RESERVA SERÁ ATIVADA NO EVENTO DE FALTA DE ENERGIA

PARA RESTAURAR A ENERGIA DEPOIS DE UMA PERDA, REINICIE O GERADOR 1 NO SETOR 11.

Este setor localizava-se do outro lado do corredor, o qual Jennifer havia vindo, que já estava quase tão obscuro a ponto dela não conseguir enxergar. Regressando, o dirigível parecia um lugar ainda mais sombrio e gélido sem a iluminação. Quando a jovem passava pelo Compartimento de Carga novamente, ela topou com algo que deslizou pelo chão com um som cristalizado. Era a chave para a caixa de vidro do quarto em que Amanda ficava, ela reconhecia. A garota deveria ter deixado cair no seu trajeto ao elevador. Jennifer foi correndo direto, passando por Nicholas sozinho parado no escuro. Foi para esse quarto, onde Diana ainda estava sentada com os braços e rangendo seus dentes irritada. Abrindo a caixa com a pequena chave, ela notou o título do livro com estampas floridas.

Diário da Amanda

Domingo, 2 de março

Eu não sei o que há de errado comigo.

Foi algo que eu fiz?

Mês passado eu fracassei.

O que vai acontecer comigo nesse mês?

Sr. Hoffman disse que uma nova menina virá em breve.

Será que vou perdê-la também e tornar-me tão miserável?

Estou com medo. Odeio pensar no que pode acontecer comigo.

Domingo, 20 de março.

As coisas estão maravilhosas!

Hoje me chamaram para o quintal

Contanto que essa garota esteja aqui

Eu jamais serei a última, Que alívio!

Domingo, 4 de abril

Talvez algo realmente estranho esteja acontecendo comigo.

O que eu fiz de errado?

Eu bisbilhotei no Sr. Hoffman como me pediram , mas eu falhei de novo

Eu ainda sou da classe mais baixa, mesmo depois dessa garota ter vindo.

Estou com medo, Não sei o que fazer.

Domingo, 18 de abril

Estou exultante hoje!

Eles me mostraram o símbolo dos Aristocratas

Se eu conseguir um giz de cera vermelho, eu também poderei juntar-me a eles!

Mas aquela garota NUNCA conseguirá um giz.

Ela é grosseira demais, De qualquer forma.

Eu nunca mais serei a última de novo, tenho certeza disso.

Domingo 1º de junho

NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO

NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO

Aquelas coisas horrendas entraram na minha boca!

Ela vai se arrepender na próxima chance que eu tiver.

Mas por que eu de novo? O que eu fiz?

Domingo, 27 de julho

ODEIO ELA ODEIO ELA ODEIO ELA

ODEIO ELA ODEIO ELA ODEIO ELA

Ah, não! Eu tenho que costurar os meus trapos...

Domingo, 31 de agosto

ODEIO ELA ODEIO ELA ODEIO ELA

ODEIO ELA ODEIO ELA ODEIO ELA

Oh, não! Eu tenho que costurar os meus trapos...

Domingo, 28 de setembro

ODEIO ELA ODEIO ELA ODEIO ELA

ODEIO ELA ODEIO ELA ODEIO ELA

Oh, não! Eu tenho que costurar esses trapos...

Domingo, 5 de outubro

Depois de todo esse tempo que eu passei costurando isso!

Basil, Fanny, George, Hector, Ida, Leo, Paul!

Por que eles sempre têm que me irritar tanto?

Oh, droga, sou eu!

Domingo, 12 de outubro

Oh, por que eles não podem todos ir pro inferno!

Basil vá cochilar nas trilhas do trem!

Fanny mergulhe de cima do telhado!

Geroge vou de pendurar de ponta cabeça!

Hector vai ser atropelado por uma carroça!

Ida, eu tenho uma exótica geléia de veneno para ti!

Leo ande por um bueiro aberto!

Paul vai ser sufocado por um tapete enorme!

E por fim, aquela garota!

Os Aristocratas vão se ver com ela!

Oh, que vida esplendorosa essa é!

Domingo, 19 de outubro

Aquela garota desgraçada vai fazer o trabalho sujo.

Eu fá-la-ei trabalhar até cair!

Oh, me sinto maravilhosa hoje!

Estou tão preocupada, não sei o que vai acontecer.

No final do diário, havia uma serie de desenhos em flip-book, com os desenhos de Amanda sorrindo. E de repente, com seus cachos loiros, a rechonchuda criava asas e começava a voar, mas logo caía e se despedaçava no chão. Chocada com o texto, Jennifer deixou o diário cuidadosamente onde estava e prosseguiu pelos setores em diante.

Ao chegar ao Setor 9, ouviu um ruído das portas se trancando, e o bradar de um suíno torpe e furioso. Uma criança pálida obesa com uma cabeça suína costurada a seu corpo emergiu das sombras farejando incessantemente o local, averiguando para achar algo para comer. E, ao avistar Jennifer, soltou um bramido desesperador de ódio. Brown, por sua vez, correu para a besta para agarrar-lhe a roupa com seus dentes afiados enquanto a jovem o golpeava com o cutelo de antes, derrubando o monstro com um corte. No momento em que a criatura estava moribunda com uma fissura em seu pescoço, derramando o sangue preto e viscoso pelo chão, as portas foram destrancadas. Com isso, uma horda de crianças obesas com cabeças de porco e outras esqueléticas com os olhos escuros cambaleavam atrás de Jennifer e Brown enquanto eles corriam para o Setor 10.

Nesse setor, mais crianças pálidas com extintores de incêndio e machados nas mãos pulando em direção a Jennifer tentando alcança-la. De uma forma que tanto ela quanto o cachorro tiveram que tomar uma rota alternativa virando à direita, pela Manutenção do Setor 11, ao invés de ir diretamente para o próprio setor. Brown guiou-a pelos mais sórdidos corredores do dirigível, até que parou em uma porta em que Jennifer ficou contemplada com o que enxergava pela brecha. Era Xavier arrancando com força uma peça do maquinário que estava na sua frente, como uma alavanca. Depois de remover a peça, foi correndo para outro lado com ela, se escondendo. Quando Jennifer foi abrir a outra porta que ele havia entrado, o rechonchudo empurrou-a e foi correndo com a alavanca consigo, deixando um pedaço de biscoito do seu bolso cair no chão.

Seguindo o rastro do menino, os dois foram seguindo enquanto se desviavam dos diabinhos que apenas aumentavam seu número, indo de volta para o Setor 9, perto de uma sala com uma placa escrita “Despensa”. A sala era úmida e mais escura que as outras, havia uma estranha poça de sangue avermelhado no chão e a alavanca estava jogada lá, em cima do líquido rançoso e o menino havia desaparecido estranhamente. Após agarrá-la, foi para a Sala do Gerador, de onde Xavier havia-lhe arrancada. Mas antes que pudesse, alguém a segurava pelo vestido, outra criança-porco. Assim que a besta abriu sua mandíbula ao máximo para mordê-la, Brown mordeu sua perna gorda e pálida como a de um porco abatido pendurado em um frigorífico de açougue. A besta, então, soltou um urro demoníaco de dor e soltou a jovem para espantar o cachorro de si, dando tempo para ela se despistar do suíno e fugir com Brown.

Chegando na sala do gerador novamente, com todas as crianças pálidas atrás de Jennifer, ela correu e posicionou a alavanca no seu devido lugar do maquinário com pressa para não ser pega. Com isso, em um faiscar latente no gerador e um piscar de olhos, as luzes voltaram ao dirigível, assim como as crianças desapareceram junto das sombras. A jovem e o cachorro foram prontamente de volta para o elevador, sem quaisquer frustrações ou angústias no caminho.

Ao entrar no elevador, havia três botões para os patamares os quais Jennifer poderia chegar. O primeiro, que era o que ela já estava o segundo e o terceiro. A jovem pensou em ir direto para o último, por curiosidade. Assim que chegou nesse andar, havia apenas uma sala pequena sem nada, apenas com uma escada de mão que levava para um lugar ainda mais superior. Ao subir até o topo, chegou a uma espécie de colina enevoada, com a lua cheia brilhando no céu. Havia, também, algumas rochas e árvores como flamboyants na vastidão daquele cenário desolador. Era possível ouvir, também, sons repetidos de batidas e grunhidos oriundos de uma árvore enorme com um buraco no meio. Jennifer notou que era uma garota atarracada que estava de costas para ela, golpeando odiosa alguma coisa com um pedaço de madeira retorcida. Ouvindo o som da respiração de Jennifer, a menina parou o que fazia e foi se virando lentamente, ofegante, segurando o porrete com as duas mãos. Amanda, então vendo quem a espiava, teve um sobressalto e lançou o pau no chão. Fez uma leve reverencia, esboçando um leve sorriso com tiques nervosos.

– Oh, não foi nada. – proferiu calmamente se aproximando de Jennifer – Estou bem, mesmo. Realmente não estou chateada. – agora já segurando a mão da jovem, fazendo com que esta se soltasse assustada.

– Quer saber de uma coisa, Jennifer? Eu tenho algo especial... – disse pegando um objeto que estava em uma sacola no chão – Olha! Ele não é fofo? – inquiriu segurando o urso Joshua com as duas mãos animada. – Aqui, é seu! Dê como um presente, então você poderá ser a Srta. Popular de novo! – berrou enquanto o dava de uma forma agressiva para Jennifer.

Amanda ria freneticamente enquanto voltava para o seu canto, pegou o pedaço de madeira e continuou a golpear, irada, o objeto que, agora que Jennifer percebia, era uma boneca feita de trapos em tamanho real da jovem. Com todos os detalhes, mesmo o cabelo castanho claro feito de lã, o rubi no peito representando o broche dos Aristocratas, e Amanda ia batendo nela tão impetuosamente que a cabeça da boneca se descolava aos poucos do torso. Jennifer, com Joshua na mão, perdeu os sentidos e acabou desmaiando.

Ela se encontrava deitada de bruços no terceiro andar, com o urso de pelúcia ao seu lado, mas alguém que também estava ali o pegou antes que a jovem pudesse acordar. O garoto com o rosto oculto e a camisa social branca desceu pelo elevador para algum andar inferior. Assim que Jennifer acordara, ela se desesperou com a ausência do brinquedo, com isso, mais uma vez, acariciou Brown e o pôs para farejar o urso com o pequeno pedaço que tinha do rabo que tinha. Indo ao segundo andar, o cachorro começou a latir para que ela parasse lá para averiguar. Foram-se, então, os dois no segundo patamar à procura do urso. No corredor com tábuas de madeira antiga, e em meio à escuridão, viam uma forte luz amarelada e incandescente que brilhava no final desse mesmo corredor, onde havia três caminhos pelos quais Jennifer podia ir além do que ela já havia vindo. Lá, estava o menino com o urso, esse mesmo que trouxera a jovem para o Orfanato e dava-lhe ordens.

– Você finalmente chegou aqui, Jennifer... Você quer o urso de volta? – disse audacioso – Desculpa, mas eu realmente gostei dele. É uma pena que ele está sem seu rabo... Pois bem, se cuida! – terminou rindo antes de sair por uma das trifurcações do corredor

Quando ela estava no meio do caminho, mais crianças pálidas vieram de todas as partes tentando cerca-la. Brown latiu para espantar algumas, enquanto tentava farejar o urso por um dos caminhos. Os diabinhos lançavam o que tinhas em suas mãos para acertar a jovem e o cachorro, desde pequenas pedras até facas de cozinha. Jennifer almejava sair o mais rápido o possível daquela situação e não se perder de Brown, ou então estaria condenada a ficar perdida naquele pesadelo. Das sombras mais obscuras, ela conseguiu ouvir um choro do cão, era uma das crianças porco que estava quase mordendo-o, mas antes que pudesse fazê-lo Jennifer lançou seu cutelo em direção à besta, fincando-a à parede, deixando-a imobilizada. Á medida que mais crianças pálidas se aproximavam vagarosamente dos dois, eles foram correndo para o outro elevador, do Setor 13.

Jennifer finalmente desceu até o primeiro andar, e foi andando calmamente com Brown enquanto o cachorro ainda farejava o urso, o caminho era familiar, já que eles regressavam passando por todos os setores tétricos, mesmo que devastados, sem a presença de tanto as crianças pálidas, quanto as outras crianças normais, ela estava quase completamente só, se não fosse por Brown, o dirigível estava devastado, porém sereno. Subindo a escadaria traseira do Setor 8, os dois subiram ao andar do corredor luxuoso o qual ficava a porta dos presentes. Logo em frente à porta, o próprio urso Joshua, que, após ter pego-o, a porta à sua frente se abriu e Susan saiu e foi andando ao menos sem notar a presença de Jennifer. Quando a percebeu com o urso nas mãos, a menina se abalou, juntando-lhe os braços nervosos e foi correndo de volta para a sala soltando um leve guincho. A jovem, então se aproximou mais da porta e ofereceu o urso como presente enquanto alguém a encarava pelo buraco do correio. No momento em que a porta se abriu, duas mãos dos dois lados a puxaram para dentro com um ímpeto.

A jovem, agora caída no chão relativamente perto do altar, que estava um pouco escurecido, conseguia ver as silhuetas das duas meninas que a puxou para dentro, Olivia e Susan, saltitando para perto do altar. Uma mão eclodia das sombras chamando a jovem para perto

– Venha cá, Jennifer – ecoou a voz de puro ressumbrar intrépida e melancólica de Diana – Vamos ter uma conversinha...

Jennifer se erguia aos poucos enquanto as velas do altar e à sua volta acendiam resplandecendo fortemente enquanto todas as crianças do orfanato estavam lá, com exceção de Clara e Wendy. O urso Joshua estava sentado no topo do altar amarrado à boneca de porcelana de outrora, com o seus cachos dourados e vestido avermelhado. Do lado direito, Eleanor com sua gaiola vazia, no centro do altar, Meg com seu grande livro das regras dos Aristocratas, e no lado esquerdo, Diana com seu olhar de altivez, assim como Amanda correu para sussurrar-lhe algo sobre Jennifer.

– Foi ela quem o roubou! – disse enquanto apontava abertamente para Jennifer com um sorriso rancoroso.

Diana foi andando em passos largos, convencida do que Amanda havia acabado de lhe contado. Com as sobrancelhas arqueadas, pegou uma cadeira e colocou na frente de Jennifer para que, subindo nela, pudesse ficar mais alta do que a jovem. Com o queixo erguido, aguardou o discurso de Meg.

– Senhoras e senhores, bem-vindos ao Clube Aristocrata. Uma palavra da Princesa. Jennifer trouxe um presente maravilhoso para o Clube Aristocrata. – proferiu Meg impávida

Diana começou a acariciar a cabeça de Jennifer com pena enquanto a jovem estava confrangida com que havia sido dito.

– Agora você pode ter o seu próprio giz de cera vermelho. – sibilou Diana, enfim.

De repente, todas as crianças se levantaram vagarosamente e começaram a aplaudir Jennifer aos poucos, com olhares maliciosos em seus rostos. Todos diziam calmamente, quase sussurrando: “Tirem seus chapéus a ela.”, com um certo tom de ironia. Conforme elas iam dizendo, suas vozes ficavam cada vez mais baixas, à medida que elas iam se escondendo debaixo das mesas ou meramente se escondendo nas sombras. Até que houve um momento em que todos haviam sumido e apenas uma voz ressoava naquela sala luxuosa porém devastada, a voz do menino de camisa branca, mas Jennifer não sabia o exórdio desta. E nesse momento, ela estava completamente só. Ela se virou para trás à procura de alguém, mas conseguia agora ouvir rumorejos bem baixos. E com o tempo, cada vez mais vozes diziam a mesma coisa.

– Um giz vermelho e brilhante só para ti. Vários e vários deles! Tenha um só para ti!

As vozes ficavam mais altas, à medida que mãos pálidas se seguravam no altar, erguendo-se da escuridão da sala, dos cantos e debaixo das mesas. Jennifer começou a se desesperar com o número de crianças pálidas que crescia cada vez mais e foi correndo para a porta para sair dali, mas já havia dezenas deles nessa direção, e para o outro lado também, estava cercada deles enquanto os diabinhos repetiam as mesmas frases repetidamente com múrmuros. Se rastejando ou correndo, todos se aproximavam cada vez mais dela. Agora tão perto que agarravam-lhe o vestido e tentavam derrubar a jovem. Mesmo que ela tentasse empurrar as crianças pálidas, cujos olhos eram vazios, para longe, eles a agarravam mais forte até que lançavam duas cordas que passavam pelos braços de Jennifer, e então uma que envolvia seu torso, derrubando-a no chão sobre a horda de dezenas das crianças pálidas cujas mãos esguias arrastavam a jovem para a absoluta escuridão enquanto ela se debatia e vociferava continuamente até o momento de uma vertigem e tudo o que via desvaneceu na escuridão.


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