Fundamento da Rosa escrita por DarkWasabi


Capítulo 6
Capítulo 6 – A Princesa Sereia


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores! Com a demora desse capítulo de RoR, pude chegar à conclusão de que eu não estava focando muito em escrever. Então, começarei a escrever mais o intuito de postar capítulos mensalmente. Se puderem, escrevam reviews, porque isso ajuda muito. Uma ótima leitura



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Capítulo 6 – A Princesa Sereia

Agosto, 1930

Há muito, muito tempo atrás, a Princesa Sereia se apaixonou por um príncipe humano.·.

Mas durante anos, seu amor não foi correspondido.

Em pouco tempo, ela ficara velha e decrépita, só mesmo no dia de sua morte.

A pobre, pobre Princesa do Reino do Mar...

Quem iria querer se tornar uma mulher feia como ela?

...

A última página do livro havia sido rasgada. Quando a garota desafortunada fechou o livro, a princesa petulante estava naquela sala dizendo amargamente, “Ratos... O peixe sumiu, Sr. Hoffman ficará furioso... Você deveria estar à procura de sua própria coisa preciosa.”.

Diana saia do recinto com um ímpeto descomunal deixando Jennifer lá desamparada com Brown. A pequena alcova estava localizada no âmago tenebroso daquele dirigível. Encontrava-se em um estado abandonado, decrépito e cheirando a mofo oriundo do carpete levemente úmido, e a vista para um céu sombrio e sem estrelas. Também havia um aquário vazio cuja água era opaca e imunda, e que exalava um odor fétido de peixe apodrecido e bolor. Jennifer olhou para os lados procurando pela pequena porta de carvalho que a levava ao corredor. Após andar um pouco, chegou à porta dos brinquedos, na sua frente, Olivia encarava o papel preso à porta enquanto choramingava. “Não pode ser! Não existe tal coisa!”, a placa dizia com letras tortas e escritas com força.

O PRESENTE DESSE MÊS: UMA SEREIA SOLTEIRA

Olivia cambaleava desalentada em busca do presente do mês. Assim Jennifer, um tanto confusa, também fez indo para as escadarias do Setor 8. Debaixo das escadas estavam Meg e Eleanor conversando sigilosamente, Jennifer silenciosamente pôs-se a ouvir a conversa.

– Diana estava deveras enfastiada... Não achas que aquilo foi excessivo?

–... Nós tínhamos que fazer isso. Afinal, sereias não existem. Não concorda, Meg?

–... Estás certa. Aquilo foi a única coisa que podíamos ter feito. – Ao notar a presença de Jennifer, Meg a perguntou – E quanto a ti, Jennifer? Acreditas em sereias?

–... Elas são criaturas tão belas e puras. – suplicou Eleanor antes que Jennifer pudesse responder– Você está à procura de uma sereia também, não está? Então é melhor se apressar... Diana pode achar antes de você.

As duas saíram juntas deixando um objeto aparentemente metálico no chão. Era uma escama de peixe que reluzia como safira. Ao farejar aquele item minúsculo, Brown foi andando para os confins do dirigível, particularmente na parte inferior automóvel. Esse âmbito era formado por uma estrutura metálica enferrujada e era ao ar livre. Mesmo que o céu fosse apenas o breu sufocante e sombrio aclarado com algumas lâmpadas que se encontravam no chão daquele local. Assemelhava-se a um labirinto sem fim e sem paredes, só o chão suportado por vigas de ferro, mas Brown parecia saber o caminho que devia seguir.

Das sombras eclodiam repentinamente duas pessoas razoavelmente próximas. Sr. Hoffman apoiava-se a mão no ombro de Clara e os dois andavam vagarosamente na direção oposta a Jennifer adentrando na escuridão para outra sala. Seguindo os dois, Jennifer se deparava mais frio que o outro. Este se aparentava como o outro, mesmo que neste havia diversas lambadas fosforescentes com uma coloração azulada, alem de que era possível escutar um ruído de fundo do mar, no Setor 2: Manutenção. Brown foi seguindo para a direita, onde havia uma porta que levava a um estreito corredor com paredes de feltro e uma escadaria que ia descendendo a um pequeno patamar com uma mesa manchada de sangue ressecado. Em cima dela, havia um cutelo e uma cabeça de peixe fatiada fora do seu corpo.

Brown rapidamente cheirou o peixe e foi andando enquanto farejava o chão, subindo todas as escadarias que ele via pela frente, dessa forma, já estavam em um andar onde Jennifer se deparava com algo surreal, diversos peixes com uma imensidão formas e cores nadando no ar que divagavam vagarosamente enquanto expeliam bolhas de oxigênio pelas narinas. Estes fizeram com que Brown latisse incansavelmente a um ponto que Jennifer teve que arrastá-lo pela coleira para o patamar superior. Andando sobre o chão de grades metálicas e cortando o vento uivador daquela noite, Diana aproximava-se impaciente.

–... O peixe tem que estar por aqui. Eu sei disso. – ralhou enquanto continuava andando aceleradamente adentrando nas sombras de um dos corredores.

Jennifer tentou segui-la, mas a outra era rápida demais. Ela passou por aquele corredor escuro e sem paredes, suportado apenas por hastes vindas do teto até que uma lâmpada amarelada de teto dando um aspecto menos frio àquele local agora com paredes e tábuas de madeiras límpidas como piso, ainda que Jennifer se sentisse um tanto desolada. Não obstante, Brown parou e começava a latir freneticamente olhando para o chão. Quando a jovem se aproximou para ver o que era, se assustou um pouco notando que eram pernas de uma boneca de pelúcia rasgadas fora do corpo do tórax para baixo. Jennifer pegou deixando alguns tufos de algodão caírem enquanto a colocava perto do focinho de Brown para ver aonde ele poderia leva-la.

O cachorro foi andando em frente seguindo o corredor até virar à esquerda em outro que era mais escuro e continuou andando com o rosto inteiro praticamente encostado no chão e Jennifer atrás com um cutelo não mão direita. Esse corredor era mais escuro e mais estreito que o anterior, inibindo Jennifer de ver o que estava à frente. Em um segundo ela sentiu encostar a pele fria de alguém, assim como ouviu um latido de medo de Brown e um leve sussurro de palavras irreconhecíveis. Então percebeu que não era só uma criança, mas uma multidão delas que foram dos sussurros aos gritos de ansiedade e pulando para agarrar Jennifer. Ela precisava pensar rapidamente antes que não houvesse mais tempo para agir, sendo assim, a jovem fechou os olhos e fez um movimento brusco com o cutelo para golpear a primeira coisa que estivesse à sua frente, visto que não enxergava devido à escuridão daquele corredor. Ela acertara um deles, que fora lançado violentamente contra à parede, derramando uma poça de sangue piche. As outras crianças agora berravam amedrontadas enquanto corriam em disparada para longe dali. Jennifer conseguia notar que o sangue que se espalhava gradualmente no chão chegava a tocar suas sapatilhas rubras. Com ojeriza de tudo aquilo, ela continuou, onde conseguia ver um feixe de luz à frente.

Jennifer conseguia enxergar à direita, no corredor que cortava o que ela estava, Brown arranhando uma porta que tinha uma brecha aberta. Ela se aproximou para poder averiguar o que se escondia adentro. A jovem não conseguia definir muito bem o que estava lá dentro, na alcova ambos os teto e piso metálicos, uma cama e uma mesa de cabeceira suportando um pequeno abajur de luz escassa. Mas havia algo mais, no caso, Sr. Hoffman sentado na borda da cama acariciando monotonamente alguma pessoa que estava deitada e cujo rosto não era reconhecível. Jennifer deu um salto para trás horrorizada deixando com que a porta batesse com força. E agora notava que havia um papel colado nela escrito.

QUARTO DA SEREIA

Entrando naquela sala meio apertada, pode-se perceber que Sr. Hoffman não estava mais lá. E ao se aproximar do leito, via que aquela pessoa ainda estava deitada na cama debaixo das cobertas, deixando apenas os pequenos e finos pés para fora. A serenidade daquela jovem era tanta que chegava a ser mórbido. Uma corda oriunda do teto estava amarrada com força à parte mais inferior da pessoa na cama. Então, enquanto Jennifer observava atentamente ao mecanismo no teto o qual a corda estava presa, ela ouvia uma risada vindo de trás dela, virando-se viu uma criança que se parecia com Joshua que fechara e trancara a porta antes que ela pudesse se mover. Nesse momento, a maquinaria se movia com um ímpeto grosseiro fazendo com que a corda que estava amarrada fortemente às pernas da pessoa subisse à altura do teto levando a garota presa pelas pernas junto. A corda dava diversas voltas desde o seu umbigo até os seus calcanhares, fazendo com que ficasse suspensa no ar de cabeça para baixo retida pela corda do teto. Com impulsos bruscos, ela se contorcia tentando erguer-se enquanto seus finos cabelos louros flutuavam no ar como se estivessem debaixo d’água. Jennifer simplesmente contemplava aquela cena macabra e à medida que segurava seu cutelo com as duas mãos enquanto estremecia assombrada. A sereia, agora com a cabeça para cima, virava-se lentamente para Jennifer, revelando o seu rosto. E esta erguida no ar era Clara. Esta tinha no lugar dos olhos dois buracos negros, seus membros pareciam remendados e sua pele era pálida com uma leve tonalidade pastel semelhante a bege. Encarando a jovem, Clara franziu as sobrancelhas e soltou um berro temível e agonizante tão alto que o seu eco soou nos ouvidos de Jennifer por muito tempo. Então em uma fração de segundo ela se lançou à frente de Jennifer mirando suas garras no pescoço da jovem, porem não a alcançava. Assim, ela ergueu-se ao teto com ajuda da corda sem tirar os olhos de Jennifer. De repente Clara caiu novamente, mas dessa vez, em cima da jovem, fazendo com que ela fosse lançada com força caindo com o rosto no chão deixando o cutelo cair. Brown não parava de latir para a sereia que tentava arranha-lo de qualquer maneira possível, no entanto, ele acabou sendo mais rápido e mordeu a sua mão. Ela urrava de dor enquanto sua mão começava a sangrar, então ela a pôs sobre sua boca devido à ânsia que sentia. E antes que Brown pudesse ter corrido para longe, Clara regurgitou uma pasta verde corrosiva no chão respingando um pouco no cão, que se amedrontou e correu para se esconder debaixo da cama. Sem muito tempo, Jennifer se levantava da queda rapidamente e correu para pegar o cutelo e ao se virar para cima, não achou a sereia no seu campo de visão. Então, Clara se jogou gritando um pouco em cima da cama, com a intenção de assustar e possivelmente machucar Brown novamente. A jovem então viu que o deveria fazer, enquanto Clara se distraia tentando achar o cachorro, Jennifer focou na maquinaria, em especial no vinculo dela com a corda que prendia a sereia e o lançou com força, a lamina que cortava o ar atingiu uma parte da corda. Como Clara se movia com muito ódio e inquietude, a corda foi gradualmente se rompendo. Ao notar que estava prestes a cair, ela gritava atormentada e agora espavorida. E parou quando a corda havia sido rasgada por completo, mas o que caíra levemente sobre a cama era apenas uma pequena boneca de pelúcia, com os cabelos de feltro amarelados, uma cauda de sereia amarrada à parte superior dela com uma pequena corda.

A boneca estava caída de bruços na cama e Jennifer se apressou para pegá-la e examinar seus detalhes. Mas enquanto a segurava, a jovem pode perceber que aquele quarto estava mobiliado com estantes de livros, quadros impressionistas e até um aquário, como um escritório que porventura possuía uma cama. Alem de não ser a única pessoa na alcova.

– O que diabos? – Exclamou Sr. Hoffman sacudindo uma palmatória para Diana - Apenas quem fez isso?! Quem fez essa algazarra?

Ele parecia não notar a presença de Jennifer que estava do lado dele, ou de Meg e Eleanor, que espiavam tudo por trás do aquário imundo.

– Foi você? Ande logo, diga-me – Sr. Hoffman suplicava enquanto se aproximava mais de Diana, que já estava aos prantos, e a afagava em varias partes do corpo. - Responda-me, Diana. Nem pai nem mãe vão te querer se ficar desse jeito. Calma, calma, não vou ficar irado, apenas responda-me. – Ele olhava nos olhos dela apertando o seu ombro e sua mão, mas ela apenas chorava olhando para o chão e o ignorava. – Foi você, não foi? Você estava no comando, afinal.

Com um desalento, ele se foi batendo a porta do quarto. Nesse momento, Diana rapidamente cessou o choro e ficou limpando seu vestido amarrotado nas partes em que Sr. Hoffman havia apalpado.

– Eca! Que nojento! – disse virando-se com um ar de ódio para Jennifer. – Ah, agora eu entendo. Foi você. Foi por sua culpa que eu tive problemas! Dê-me aqui! – disse puxando a boneca sereia das mãos de Jennifer e jogando-a dentro do aquário.

A boneca afundou até a areia suja daquele aquário. Meg e Eleanor ainda observavam tudo sem serem notadas graças ao vidro translucido e imundo. Diana então pegou um pano e o mergulhou no aquário, puxando-o de volta depois.

– Olha só! Estou vendo uma mancha. Eu tenho que limpá-la... Ou então o Sr. Hoffman ficará bravo comigo! – disse se aproximando de Jennifer com o pano encharcado gotejando na mão que logo foi ao rosto da jovem antes dela ter vertigem e desmaiar.

Mais tarde, Jennifer acordava na alcova tenebrosa e decrépita de outrora. Ela se levantou junto de Brown e foi direto ao aquário ver o que havia dentro. De lá, ela retirou a boneca de sereia que agora estava rasgada ao meio novamente. Mas um detalhe notável era que um pedaço de papel enrolado e embolorado saía de sua barriga estufada de pelúcia. Era a última página do livro “A princesa sereia”.

“Eu sou sua, mesmo na morte.”

A menina desafortunada lembrou-se da promessa que fez à sua querida amiga...

Então ela a escreveu no quadro de giz,

Para que jamais pudesse se esquecer dela novamente...

“Eu sou sua,”.

De volta à sala do altar, não havia mais livros ou o garoto. Ela estava lá completamente só. Estranhando aquela situação, Jennifer começava a lembrar aos poucos do que realmente ocorrera há um tempo atrás na época do orfanato. Além disso, ela agora tinha um profundo sentimento de que deveria se reencontrar com alguém naquele dirigível imediatamente. A caminho da porta ela começava a pensar no que ela falaria para essa pessoa querida. E ao abrir a porta, uma mão imensa a segurou pela boca, inibindo Jennifer de gritar e puxou-a para as sombras.


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