Fundamento da Rosa escrita por DarkWasabi


Capítulo 5
Capítulo 5 – As Irmãs Bode


Notas iniciais do capítulo

Depois de tanto tempo



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Capítulo 5 As Irmãs Bode

Setembro, 1930

Irmãzinha escreveu uma carta, bah bah.

Irmã mais velha mastigava a carta, bah bah.

Irmãzinha estudou suas notas, bah bah.

Irmã mais velha as rasgou em pedaços, bah bah.

Irmãzinha queria a sua carta à irmã mais velha, por isso ela foi buscá-la do estômago de sua irmã.

Mas com a irmã mais velha morta em uma poça de sangue âmbar, quem estria lá para ver a carta? Bah bah.

Quando a menina desafortunada fechou o livro de história, a Princesa sábia aparente estava na sala.

Meg estava sentada em uma cadeira de madeira com uma almofada rosada. Ela apoiava a sua mão esquerda no queixo e sua mão direita no cotovelo esquerdo fazendo uma pose pensativa. Então ela se levantou da cadeira e foi saindo da sala vagarosamente enquanto falava com Jennifer.

A Princesa disse suavemente, ... Também não está aqui. Se alguém achar... Deve haver algo muito importante para você... Por que você não vai procurar?.

Essa sala era parecida com a que Jennifer estava ao chegar ao dirigível, a sala da imundice. Porem, essa sala era mais refinada, com panos de seda cobrindo os buracos da parede. Na sala havia também um saco enorme preso por duas cordas ao teto, tinha um detalhe de stencil escrito Brazil em um dos cantos do saco, e no meio dele, um buraco que daria para alguém passar por ali e entrar dentro dele. O piso da sala também era coberto de panos de seda de cor pastel. Lá também havia o cavaleiro balde com um pequeno quadro e a palavra que a jovem havia escrito, Eterno.

De repente, Brown começava a latir de uma forma tão repentina que assustava Jennifer. O cachorro estava latindo para a cadeira que Meg acabara de se levantar. Havia um objeto brilhando sobre a almofada, notava Jennifer. Era o lápis de Meg. A jovem então pensou em entregá-lo à Meg, então deu para Brown farejá-la.

Enquanto Jennifer andava pelos corredores obscuros do dirigível seguindo o cão, notava que não havia visto ninguém desde que acordara pela última vez, assim como o ambiente parecia estar mais gélido do que anteriormente. A jovem estava sendo guiada às profundezas da embarcação, um lugar onde tanto as paredes quanto o chão era feitos de um rígido e álgido metal que ecoava aos sons de seus passos. Posteriormente, Brown começa a esfolar uma porta de ferro que parecia estar com uma fina camada de gelo rachado na borda, e uma placa em cima escrita: Compartimento de Congelamento. Assim que Jennifer abriu a porta com um pouco de dificuldade, Brown e ela se depararam com um enorme congelador com carnes e outros alimentos congelados. E no meio da sala, no entanto, havia um pequeno boneco de neve que possuía uma corda amarrada aos seus olhos e ao seu torso com força. E no momento que o cachorro notou a presença do boneco, ele avançou com ímpeto, despedaçando o boneco completamente. Com isso, Jennifer descobrira um pedaço de papel resfriado que estava dentro do boneco, uma carta de amor que estava completamente rabiscada com o giz de cera vermelho

Oh, Diana, Diana!

...Amo-te com todo o meu coração.

Meg

Entretanto, assim que a jovem a pegou, uma criança com uma sacola de papel na cabeça a trancara dentro do compartimento de congelamento, e ademais, outra criança surgia das sombras daquela sala. No entanto, essa criança era mais alta do que as outras, usava uma roupa andrajosa preta, e sua cabeça era como de um bode. Esta possuía certa dificuldade para se locomover, já que sua cabeça desproporcional fazia peso para os lados fazendo com que aquele ser perdesse o equilíbrio andando, além de o chão ter uma fina camada de gelo escorregadiço. Assim, a besta correu com um ímpeto descomunal abrindo sua boca enorme com dentes amarelo esverdeados com fiapos de capim presos a eles fazendo moção para morder Jennifer e Brown. Porém a criança bode derrapara no chão e assim, perdendo o equilíbrio total mesmo que ainda fosse desabar sobre a jovem de qualquer maneira. Mas antes que isso pudesse acontecer, Jennifer astutamente pegou o seu cano enferrujado e o acertou na cabeça da criança fazendo com que ela finalmente berrasse da dor aguda que sentira no canto esquerdo do seu rosto e caísse moribunda no chão.

Após o incidente, alguém destrancara a porta e podia-se ouvir o som de pés descalços correndo sobre o chão de carvalho. Jennifer voltava, então, junto de Brown, pelos corredores gélidos e sombrios daquele dirigível de volta às duas meninas que a esperavam ansiosas no Setor 14: Armazenamento. Atrás delas, havia diversos caixotes de madeira e sobre uma dessas caixas, um bode preto descansava ali entre as duas.

A Princesa petulante e a Princesa fria estavam conversando...

A garota desafortunada ouviu silenciosamente.

– ... É por isso que eu não gosto dela. Ela me segue em todos os lugares... É patético. O que você acha, Eleanor?

– Ela estava escrevendo-lhe uma carta de amor. Eu já peguei-a e rasguei ao meio.

– Oh. Eu tentei fazer com que o bode a comesse, mas ele não queria nem olhar para ela. disse suspirando

– Entendo...

– Bem... O que eu deveria fazer com o resto da carta?

Neste momento, Jennifer se aproximou das duas e pode notar um caderno aos seus pés. O caderno com capa dura com flores desenhadas à mão com giz de cera que pertencia a Meg. Lá, havia diversos capítulos de regras de etiqueta ilustrados, como se portar diante da Princesa da Rosa Vermelha e o Príncipe Joshua, algumas formas de castigos e coisas parecidas. E no final daquele caderno, a penúltima página falava sobre um método de tortura em que a pessoa ficava presa dentro de um saco de cebolas amarrado com força e apenas com um buraco grande o bastante apenas para que se pudesse colocar um funil. E no topo da última página podia-se ler: Segredos da Terra dos, mas uma grande parte dessa pagina havia sido rasgado.

Guardando o caderno consigo, Jennifer se aproximou das duas garotas com a intenção de falar com elas.

– Bem cronometrado, Jennifer. Eu tenho um trabalho para ti. Diana articulava com um ar de desdém enquanto pegava um pedaço de papel amassado do bolso Parte dessa carta foi rasgada e desapareceu. Eu preciso que você vá achá-la.

Parecia que aquela carta se dirigia à Diana, mas visto que estava rasgada, estava impossível de lê-la.

Oh, Diana, Diana!

Destarte és tu...?

Então, Jennifer deu aquele poema rasgado ao meio para que Brown pudesse farejar a outra metade. Assim, chegando ao 3º Corredor dos Passageiros, ela avistou Meg com um olhar perdido e com uma expressão pensativa apoiando sua mão no seu queixo enquanto passava andando vagarosamente. Onde poderia estar...? falava consigo mesmo. Seguindo a menina, Jennifer notou a presença das crianças pálidas em sua volta, algumas com sacolas de papel na cabeça e outras cujas cabeças eram de bode. Meg simplesmente sumira dentro da multidão dos pequenos demônios que pareciam ignorá-la enquanto iam correndo com ferocidade para atacar Jennifer e seu cão. Mas parecia que assim que Brown latia e uivava enquanto andava farejando, fazia com que as crianças tapassem o ouvido e bradassem de dor e irritação. Então, com ele latindo, abria um caminho entre as crianças demoníacas e continuava a sua incansável busca.

Chegando precipitadamente a uma porta diferente das outras com uma placa escrita Bagagem Aristocrata, Brown apenas parou e ficou arranhando-a como se quisesse entrar. Era uma pequena e escura sala com o chão de uma madeira escura e no canto um grande relógio de pêndulo que parecia ter algo dentro dele. Porem antes que Jennifer pudesse sequer fazer alguma coisa para chegar até ele, alguém trancara a porta que usara para entras assim como duas crianças bode consideravelmente grandes comparadas com as outras se erguiam das sombras. Uma delas, a de pelugem branca segurava um grande e afiado forcado. E a outra, cujos pelos eram pretos como o breu da noite segurava uma tesoura gigante que reluzia até a única luz da lâmpada pendurada no teto e com chifres rubros e longos.

As duas correram em direção à Jennifer fazendo movimentos frenéticos com seus braços com a única intenção de machucá-la ou até levar-lhe ao seu óbito. Mas antes que pudessem chegar até ela, Brown agarrou com os dentes a criança bode mais clara pela camisa de trapos remendados. Ela soltou um berro de medo e deixou seu forcado cair no chão. Enquanto isso, a outra criança endiabrada de pelugem negra se aproximava de Jennifer assim como esticava seus braços segurando aquela tesoura colossal fazendo-a abrir até o seu limite. Jennifer, pensando rapidamente correu para pegar o forcado que a bode clara deixara cair no chão do lado de si. Ela estapeava Brown tentando fazer com que ele soltasse os dentes de sua roupa. E em uma questão de segundos a criança escura fechou a tesoura violentamente mas antes que pudesse acertar Jennifer, ela saltou para o lado esquerdo caindo deitada no chão praticamente ilesa, fazendo, assim, que a tesoura fechasse na outra criança distraída como cachorro. A tesoura quase a partiu ao meio, mas ficou presa entre os ossos fraturados da criança e de lá, não conseguia sair mais. Assim, a jovem rapidamente pegou o forcado do bode já moribundo que criara uma poça de sangue e apunhalou bruscamente o outro bode nas costas encravando o forcado lá. Logo, as duas irmãs bode imergiam em suas próprias poças de sangue que aos poucos desaparecia junto com elas.

E com estas já mortas, Jennifer se aproximara do relógio de pendulo. Através do vidro translucido e empoeirado, é possível notar algo grande e esbranquiçado dentro do grande relógio. Quando ele foi aberto, ela se deparara com a figura peculiar de um bode branco recentemente morto com um vestido rosa desbotado bem claro, um colar de pérolas cintilantes e um chapéu branco. E assim que Jennifer abriu a portinhola de vidro, ele desabou sobre o chão fazendo com que seu colar arrebentasse e seu chapéu saísse de sua cabeça e, além disso, naquele mesmo instante o relógio badalava meia noite e o som do relógio ecoava de tão alto que era o som. Jennifer, então, cuidadosamente retirou um pedaço de papel amassado e rasgado de dentro da boca do bode falecido. Era exatamente a metade que faltava para completar o poema de amor de Meg.

Alguns instantes depois, antes que Jennifer pudesse começar a ler ao poema completo, ela conseguia ouvir passos vindo do corredor ao lado da sala. Eram de Eleanor e Diana que deram um sorriso de altivez ao verem a jovem.

– Aí estás - disse Eleanor com descaso apontando para Jennifer que segurava os dois pedaços do poema.

– Aí estás... - Repetiu Diana no mesmo tom de voz que a outra.

Então, mais uma vez pode-se ouvir passos vindo daquele corredor. As duas foram ver quem era e descobriram que não era ninguém mais que Meg ainda perambulando pelos corredores do dirigível errante e com a mesma expressão de pensativa e melancólica. Elas chamaram-na para dentro da sala e as três miraram os seus olhos para Jennifer que ainda segurava os dois pedaços de papel sem saber ao certo o que ocorria. Ao perceber que aquele era a sua carta de amor, Meg rapidamente mudou de humor de triste para irada. Ajeitou os seus óculos e avançou para cima de Jennifer

– Por que você o tem?! ralhou com ódio enquanto puxava os papéis das mãos de da jovem violentamente.

Meg logo regressou para as duas meninas e afundou o seu rosto no ombro de Diana, que a consolava afetuosamente acariciando seu cabelo louro e brilhante.

– Como ela pode? Como ela pode fazer isto comigo? O que eu fiz a ela? Eu não posso conviver com garotas como ela... balbuciava enquanto derramava lagrimas na roupa de Diana.

Assim, ela vagarosamente virava o seu rosto avermelhado e escorrendo lágrimas e fitou Jennifer novamente, mas agora com um ar de rancor e ojeriza que ela nunca sentira antes.

– E que ela vá para o saco da cebola... disse Meg aos prantos e soluçando

Mais tarde, todas as crianças do orfanato se organizaram em uma fila indiana no jardim. No começo da fila, havia um saco enorme com uma estampa stencil escrita "BRAZIL" e esse saco possuía apenas um buraco que ficava na parte superior e nele um funil no topo. Cada criança segurava algo de diferente. Havia desde biscoitos infestados de formigas até os mais diversos insetos e animais que passavam pelo funil. Meg foi a primeira criança a colocar um bicho pelo funil, um grande louva-deus. Em seguida, notava-se que algo se mexia e gemia dentro do saco, era Jennifer totalmente apavorada naquela situação e sua angustia apenas aumentava à medida que todos iam colocando os mais diversos insetos lá dentro. Assim, gradualmente, todas as crianças o fizeram, até Eleanor que segurava sua gaiola sem nenhum pássaro dentro. A única, no entanto, que não participara daquele rito de tortura era Wendy, pois todos sabiam que ela estava profundamente doente e também não aceitaria fazer parte daquela crueldade.

Depois de toda aquela tortura impiedosa, Jennifer acordara deitada no chão da sala refinada de outrora com Brown lambendo o seu rosto. A porta de correr desse quarto está fechada e lá na frente havia um boneco de pelúcia de um bode acinzentado feito de trapos e debaixo dele, um pedaço de papel escrito Até o amor verdadeiro pode ser rapidamente retalhado pelo conflito.. Esse fragmento pertencia à última pagina do livro das Irmãs Bode.

A menina desafortunada se recordou de uma promessa que ela fizera à sua querida amiga... então ela a escreveu no quadro de giz, para que jamais pudesse se esquecer dela novamente...

amor verdadeiro

Após escrever essas palavras, ela retornou à sala do altar onde o menino com o rosto oculto se encontrava novamente.

–Como foi, Jennifer? Se lembra agora?... Hmm. Vejo que você se lembra do segundo. Mas isso não é tudo. Você realmente é uma garota tola! bradou o menino debochando de Jennifer Depressa, depressa! Leia outra história, Jennifer!

Agora restava apenas um último livro perto do altar. Ela se aproximou e pegou o livro do canto direito. E na sua capa lia-se "A Princesa Sereia".


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